Pelos Caminhos de Jesus

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CAPÍTULO 8

A ERA DO AMOR

O dia fora especialmente cálido.

Mesmo ao declinar da tarde, permaneciam no ar as correntes tórridas que sopravam desagradáveis.

A mensagem de libertação espraiava-se por toda parte, já impossível de ser detida.

O Mestre conseguira tornar-se a esperança das multidões saturadas pelos sofrimentos e sem mais amplas aspirações em relação ao futuro.

Todos O viam como a resposta de Deus às inumeráveis necessidades da criatura humana.

Ao tempo, no entanto, que o Seu verbo derramava as bênçãos de paz e alento entre os sofredores, os que se permitiam a dominação arbitrária das consciências e do comportamento do povo, se levantavam contra Ele, tentando embaraça-Lo, denegrir-Lhe o conteúdo da palavra, lança-Lo contra a rigidez da Lei Mosaica.

Na oportunidade, leniam os corações, os ensinamentos a respeito do amor, do perdão das ofensas e da compreensão das faltas do próximo, provocando acirrados debates entre os Seus adversários gratuitos, que O acusavam de contrariar o estatuto legal vigente, herança enfermiça dos princípios de Talião.


Foi tomado pelo rancor, em face da serenidade do Senhor, que Nathan mês Assad, fariseu conhecido pela impiedade nos julgamentos e pela conduta excessivamente austera, procurou o Amigo dos infortunados e Lhe indagou, arrogante, em plena praça, na risonha e bela Cafarnaum:

—Tu ensinas — perguntou-Lhe com desdém — o amor irrestrito e o perdão incessante, em quaisquer circunstâncias e a todas as pessoas?

A interrogação direta recebeu uma resposta imediata e clara.

— Sim. Do contrário não é legítimo o amor que se limita a circunstâncias e se circunscreve a indivíduos especiais. O verdadeiro amor é uma atitude interior que se expande como acontece com o ar, que a tudo e a todos vitaliza.

— Mesmo àqueles que fomentam o ódio, que se tornam execrandos pelos crimes que perpetram?

— Sem dúvida. A todos estes, porquanto mais do que outros, eles se encontram enfermos e necessitados, carecendo da terapia do amor, a fim de se recuperarem do mal que os aflige, tornando-se, então, cidadãos úteis ao conjunto social.

— E o criminoso insensível — retrucou com fácies congestionada pela cólera surda que o dominava - não deve ser justiçado pelas cortes encarregadas de preservar a paz e a ordem, defendendo os fracos?

— Justiçar - redarguiu Jesus, sereno - não significa punir, revidar com o mal o mal que foi feito, tripudiar sobre as suas misérias e ulcerações morais... Justiça deve ser, antes de tudo, propiciar a oportunidade da reparação, de educação do revel para a vida digna. "Na raiz de muitos males encontramos a ignorância como geratriz de todos esses infortúnios. "O criminoso é um enfermo, vitimado em si mesmo por desequilíbrios que ignora. Adicionados a essa causa, há os fatores sociais, econômicos, emocionais, que fomentam a alucinação a desbordar no crime, na delinquência... "

— Não será justo, então, segundo o teu código, matar legalmente aquele que mata, cobrar olho por olho e dente por dente, daquele que desgraçou outrem, roubou-lhe a vida, dilapidou o patrimônio alheio?

— A Lei de Amor procede do Pai, Causa Incausada do Universo, que estabelece o equilíbrio nas leis naturais como regra de felicidade e de ordem no Cosmo... Punir é reagir com ódio; cobrar erro com vingança é ser pior do que o delinquente, pois que este é infeliz, enquanto o Juiz, em nome da sociedade e graças ao conhecimento que possui, deve ser sadio emocionalmente e equilibrado nas suas decisões, a fim de ser melhor do que o criminoso. "Somente o ódio é vingador; e como a vingança expressa o estágio de primitivismo da criatura, esta não pode ser trazida ao código das leis em nome da Justiça. "

— Será, então, lícito deixar o criminoso à solta, afim de que ele prossiga na sua carreira destrutiva?

— Não chegaremos a tanto. A técnica do amor receita para o delinquente a terapia do afastamento temporário da sociedade, qual ocorre com um doente portador de contágio, afim de ser devidamente tratado, para posterior reintegração na comunidade dos sadios.


E olhando fixamente o inquiridor, com doçura mesclada de sabedoria, o Mestre tentou encerrar a entrevista, dizendo:
— Matar o assassino não restitui a vida à vítima; amputar os dedos ou as mãos ao ladrão não devolve o furto ao seu dono; arrancar a língua do caluniador, de forma alguma repara os males que a acusação falsa causou ao outro... "O amor reabilita moralmente o caído, oferecendo-lhe os recursos para a própria recuperação, após a qual reparará os males praticados e seguirá além, abençoando as vidas pelo caminho, com os tesouros da sua boa vontade, graças à consciência dos novos deveres. "Quando o amor penetrar o íntimo dos homens, o ódio, que é a doença do egoísmo, cederá lugar à fraternidade e à compreensão…"

— E o perdão deverá ser sempre e constante, seja qual for o erro perpetrado?


Jesus relanceou o olhar amigo pela multidão ansiosas, que acompanhava o diálogo, e arrematou:

— O dever é perdoar setenta vezes sete vezes... cada erro da criatura, a fim de que aquele que perdoa sinta-se realmente em condições de ser irmão do seu próximo e saber que o seu é o amor por excelência, que procede do Pai e nada lhe pode entorpecer a grandiosidade.

Nathan mês Assad meneou a cabeça, arrogante, e, lançando sobre o ombro parte do talit de orações, que lhe caía da cabeça ao longo das costas, bateu as sandálias no solo, levantando pó, e retirou-se, vociferando, sem querer entender a preciosa lição do amor.


Como se nada tivesse acontecido, mantendo o mesmo tom de bondade na voz e gentileza nos atos, Jesus prosseguiu, explicando:

— O amor, em qualquer expressão, é a presença do Pai Criador sustentando a vida e dignificando as Suas criaturas. Um dia triunfará sobre todas as conjunturas e regerá todas as vidas.

Iniciava-se ali a era do amor sem limite, único antídoto contra o ódio, que remanesce das paisagens morais primitivas do homem e que cederá lugar, oportunamente, à fraternidade e à paz nos dias do futuro.




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