Quando Voltar a Primavera

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CAPÍTULO 1

ANTE JESUS

Nenhum outro rei que se Lhe semelhasse.

Os transitórios mandatários do mundo envergavam as roupagens da nobreza, não poucas vezes, mediante as arbitrárias mãos da guerra que lhes confeccionavam os mantos. Estabeleciam as bases dos seus impérios sobre cadáveres insepultos e proclamavam suas primeiras leis assinaladas pela ordem da matança tornada legal, ao som ultrajante dos suplícios inenarráveis que impunham aos vencidos e aos fracos.

Enquanto seguravam o cetro e sustentavam a coroa, crianças e velhos indefesos padeciam cativeiro cruel, em que consumiam as forças e desgastavam a vida.

Cercados pela bajulação, deslizavam sobre ódios recalcados, respirando as maldições que inspiravam, soberbos, impiedosos.

Fomentando a prepotência, não raro se tornavam vítimas inermes da própria sandice em que sucumbiam, vencidos pela fraqueza de que se constituíam, disfarçados na força esmagadora da insensibilidade que impunham às suas vítimas.

Muitos deles alçados à glória como heróis e vencedores, não se liberaram, após o túmulo, dos episódios da loucura demorada em cuja trilha passaram ignóbeis, e renasceram assinalados, repetidas vezes, pelas ulcerações que produziram nos tecidos sutis do Espírito rebelde e insensível.

Um sem-número de príncipes, em todos os quadrantes da Terra, encetaram a vida física, embalados pelas expectativas emocionadas das cortes e pelas esperanças que se desvaneciam, logo após, na aturdida plebe e nos camponeses que se lhes submetiam, infelizes.

Festas intermináveis anunciavam-lhes a chegada e, todavia, os sons da alacridade quase sempre eram substituídos pelos gemidos dos súditos esmagados por impostos absurdos e regulamentos desumanos.

Todos eles, porém, fruindo as grandezas e os tesouros da Terra, entregaram o corpo ao túmulo e não fugiram à abjeção dos tecidos em decomposição, muitas vezes sepultos apressadamente, a fim de não espalharem o horror consequente à degenerescência das células em putrefação.

Dario, que levantou o mais grandioso Império da Antiguidade, não se eximiu à derrota e à morte, com ele sucumbindo a grandeza pérsica.

Marco Antônio suicidou-se para evitar a humilhação no Fórum de Roma, sob a grilheta de Otávio...

Os asseclas de Alarico, o visigodo, desviaram o curso do rio Busanto, a fim de guardarem os despojos do vândalo, que falecera em Cosenza, e impedirem que os inimigos lhe profanassem mais tarde as vestes destruídas...

Filipe I, de Espanha, o Formoso, exalava insuportável cheiro fétido antes que a morte o conduzisse à realidade da vida...

Isabel I, da Inglaterra, que a engrandeceu e a governou com mão de ferro, inutilmente suplicou mais alguns minutos antes de atravessar o pórtico do túmulo, como qualquer criatura vencida.

Catarina de Médici, que desencadeou a terrível matança religiosa, não se furtou ao mesmo destino das suas vítimas.

Luís XIV, que governou por mais de 70 anos a França e foi o último exemplo do absolutismo monárquico, elaborador do "direito divino dos reis", sucumbiu envelhecido, deixando a França esgotada...

Monarcas e reis provaram a grandeza do mando, todavia, acompanharam, exauridos, a inevitável marcha pelas hórridas trilhas da pusilanimidade e da morte.

Com Jesus, no entanto, uma singela estrebaria foi elevada a berço de luz para o seu primeiro contato com os homens.

Aguardado carinhosamente para a salvação de todos, deu a vida sem a tirar de qualquer daqueles que O esperavam.

Utilizando-se do incomparável espetáculo da Natureza em festa, iniciou o ministério acolitado por anjos, cercado por animais e pastores.

Voz alguma que à Sua jamais se equiparasse.

Amor nenhum, igual ao Seu amor.

Rei da Terra, cujas fronteiras se perdem no sistema que a sustenta, foi o servo dos mais infelizes.

Em ocasião nenhuma acusou, perseguiu, gerou vítima...

Sem qualquer título de ostentação. Somente aceitou o de Mestre por ser, em verdade, Aquele que ultrapassou as dimensões do pensamento humano.

O único a saber, sem recear, a destinação que Lhe estava reservada em duas traves de madeira, até então símbolos da suprema humilhação, em forma de hediondo suplício. "Filho do Homem", alçou todos os homens a Deus.

Transformou os abjetos madeiros da cruz na horizontalidade que recebe e afaga a Humanidade toda e na verticalidade com que a levanta na direção de Deus.

Nunca, porém, receou, justificou-se ou se evadiu à imposição relevante.

E colocado numa cova recém-aberta, sem detritos nem cadáveres que a inaugurassem, deixou-a vazia, em desafio, por ser a Ressurreição e a Vida.

Testemunhas insuspeitas reencontraram-nO: amigos, desconhecidos e duvidosos...

Duas portas de acesso que Ele dignificou: berço e túmulo.

Dois símbolos de libertação: entrada e saída da vida, na direção da Vida.




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