Quando Voltar a Primavera

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CAPÍTULO 8

EM CAFARNAUM...

O Sol esplende acima e reflete-se em pó de ouro sobre as águas calmas.

A cidade regurgitante encaminha-se para a Sinagoga, no dia reservado ao Senhor.

As vozes da movimentação silenciam enquanto a morna prostração da hora estuante se abate sobre o cenário bucólico em que a Natureza e o homem confraternizam em doce entretenimento.

Cafarnaum, ao lado Noroeste do mar da Galileia, é famosa...

Suas praias largas contrastam com os outeiros do fundo, e a singeleza do poviléu, que margina a orla do grande lago, difere da opulência dos negociantes e transeuntes que atulham as ruas de pavimentação larga, onde surgem palacetes entre ciprestes oscilantes, abetos esguios e rosais desatando perene perfume...

A cidade, sob a influência romana, ostenta luxo, a arquitetura se harmoniza com as linhas clássicas do Império dominador.

Ali sucedem as coisas mais importantes da região, na parte superior ou na orla do mar.

Viajam da zona rica para as casas baixas dos pescadores, para as vilas modestas, as notícias e informações multifárias que mantêm a população a par de todos os sucessos...

Naquelas cercanias, Jesus cantou a epopeia eterna do Evangelho.

Entre suas gentes simples e ardentes, ingênuas e emotivas, trabalhou a coroa de bênçãos com que pretendia ornar os corações vitoriosos nas refregas apaixonantes do dia a dia de todos.

Ali atendeu às necessidades renovadas dos aflitos e dos atormentados de toda espécie, neles insculpindo, com o fogo da verdade, a mensagem de consolação e advertência com que instaurou a Boa-nova na Terra.

O sábado, caracterizado pelo "repouso do Senhor", era, então, dedicado à adoração, ao culto e ao descanso.

Qualquer atitude deveria ser antes examinada e pensada, todo esforço era submetido às medidas permitidas, de modo que não violassem as disposições legais sempre abundantes em detalhes insignificantes.

O temperamento judeu, minudente e vigoroso, não obstante, temesse Deus antes que O amasse, fazia de cada homem um infeliz perseguidor do próximo, sob o amparo da lei arbitrária e mesquinha em que se apoiava.

Amigos facilmente se transformavam em adversários arrimados a contendas, intermináveis e fúteis, nas quais se exaltavam as paixões, e o orgulho se abria em feridas purulentas, demoradas.

Dava-se mais importância à aparência do que à legitimidade dos fatos. A criatura se credenciava à superioridade graças à opinião dos outros, não raro inverídica quanto à correspondência ao comportamento pessoal.

O delito se caracterizava pelo desvelar do crime, não pelo haver-se praticado. Enquanto jazia oculto, a consciência em falha adormecia, desvelada, e as injunções econômicas e sociais trabalhavam por diminuir-lhe a gravidade.

Também era assim com referência ao Estatuto para com o Senhor... Oferendas e sacrifícios objetivavam a purificação, as primícias e os dízimos reestruturavam as bases comunitárias, readmitindo os infratores à sociedade, a instância da habilidade da classe sacerdotal, sempre complacente para com aqueles que possuem os haveres do mundo e gravemente severa para com os deserdados da Terra, não, porém, dos Céus...

A Sinagoga, em razão disso, era o centro ativo da cultura, da religião e da lei nas cidades interioranas, fazendo o papel de igreja, assembleia, corte e academia.

Para lá afluíam, por impositivo religioso e social, todos os homens válidos, como alguns enfermos que, além de exporem as misérias orgânicas e psíquicas com a escudela distendida para as esmolas, exibiam nas carnes e na mente a "ira do Deus" que os marcara indelevelmente.

O Senhor se manifestava mediante o ódio, o horror, a vindita...

Naquele recinto se discutiam e se celebravam os cultos permitidos fora do Templo de Jerusalém...

Várias vezes Jesus esteve nas sinagogas, enfrentando as vaidades humanas e exprobrando a hipocrisia, fundamentado nos livros sagrados.

Aplausos e apupos, não raro, em controvérsia, dominavam os recintos em que Sua voz se alteava para ensinar.


Quando Ele se adentrou na sinagoga de Cafarnaum, naquele sábado luminoso, um obsesso conhecido, identificando-O, pôs-se a clamar:

— Jesus de Nazaré, que tens tu contra nós? Deixa-nos. Vieste perder-nos?... (Lucas 4:31-37) Há um estupor na multidão.

Todos sabem que aquele homem alienado, é incapaz de raciocinar. Carregando as pesadas cangas que o jugulam à loucura, era objeto de escárnio geral. E certo que se não tornava furioso, mas indubitavelmente fora expulso da comunidade dos sadios por ser dominado pelos seres infernais.

A obsessão era, então, epidemia geral a grassar reparadora nas consciências reprocháveis, provocando ironia e indiferença.

Possivelmente hoje é quase similar a atitude do homem moderno, na sua vacuidade disfarçada de cultura e civilização...

Atenazados pelos adversários desencarnados, sobreviventes ao túmulo e sequiosos de desforços, sincronizavam em processos vigorosos os opositores, que se mancomunavam em lamentáveis processos de interdependência psíquica, às vezes orgânica, em inditosas parasitoses espirituais...

A entidade perversa e ignorante, que se locupletava no processo vampiresco, identifica o Justo e teme-O. Deseja produzir o escândalo, apresentando-O à multidão fanática, soberba e covarde, a fim de vê-lO expulso da assembleia, enquanto prosseguiria no consórcio desditoso.

— Sabemos que és o Santo de Deus — brada o áulico da Treva, enquanto esparze o bafio tóxico dos receios.

Antes, porém, que os ouvintes despertem do estupor e se deem conta do que se passa, desde que não era chegada a hora da revelação, o impoluto Mestre se aproxima e repreende o obsessor com austeridade, exortando-o à elevação e impondo-lhe a expulsão pura e simples...

Ao império da augusta vontade, sob o comando das forças superiores que distende, o obsessor se retira, enquanto o enfermo estertora e desperta...

A vigorosa voz do Mestre conduz a carga da energia que se sobrepõe aos fluidos maléficos do atormentador em si mesmo aturdido. Sua autoridade deflui da Sua procedência e da Sua conduta.

Várias vezes exercê-la-á em nome do amor, da justiça, demonstrando a elevação do Seu ministério.

Os homens necessitam de testemunhar fatos, a fim de poderem crer nas palavras.

E Jesus é a vida em abundância, espalhando alegria.

Nunca deixará de sê-lo.

Jamais diminuirá o impacto da Sua força onde se apresente.


* * *

Cessada a bestial, horrenda alienação, o paciente se recompõe, levanta-se, constata o fenômeno da restauração da saúde, exulta e corre a levar a notícia aos que ali não se encontram...

Liberado da dívida, após concluída a provação, ao amparo do Cristo, renasce.


A entidade odienta, que se passava como o adversário de Deus -

demônio, na acepção pejorativa, sabe-se tão somente um desditoso e, por isso, não enfrenta o Senhor.

Não ficará, porém, à mercê do abandono ou do tempo. Também será lenida. Libertando a vítima, de si mesma se liberta. Atendida por Jesus, desperta para novas conquistas...

E o bem abençoando a bondade...

Ao clarim da gratidão e entre os acordes dos júbilos, o ministério cresce.

Descendo ao abismo em sombras das consciências entenebrecidas de um e do outro lado da vida, Ele atesta a excelência dos Seus propósitos e afirma a Sua perfeita identificação com o Pai.

Não obstante, os homens despeitados e invejosos recusam-nO, desdenham-nO.

Têm início as primeiras hosanas, prenunciadoras das futuras perseguições implacáveis.

No sábado, porém, na sinagoga de Cafarnaum, do lado noroeste do mar, ante o Sol que doura a Terra, Jesus liberta o endemoninhado, simbolizando a grande libertação que propiciaria à Humanidade de todos os tempos, dominada pelos demônios dos vícios, fâmulos dos desencarnados em perturbação.




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Lucas 4:31

E desceu a Capernaum, cidade da Galileia, e os ensinava nos sábados.

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Lucas 4:32

E admiravam a sua doutrina porque a sua palavra era com autoridade.

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Lucas 4:33

E estava na sinagoga um homem que tinha um espírito de um demônio imundo, e exclamou em alta voz,

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Lucas 4:34

Dizendo: Ah! que temos nós contigo, Jesus Nazareno? vieste a destruir-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus.

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Lucas 4:35

E Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te, e sai dele. E o demônio, lançando-o por terra no meio do povo, saiu dele sem lhe fazer mal.

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Lucas 4:36

E veio espanto sobre todos, e falavam entre si uns e outros dizendo: Que palavra é esta que até aos espíritos imundos manda com autoridade e poder e eles saem?

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Lucas 4:37

E a sua fama divulgava-se por todos os lugares, em redor daquela comarca.

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