Os mensageiros

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Capítulo III

No Centro de Mensageiros

No dia seguinte, após ouvir longas ponderações de Narcisa, demandei o Centro de Mensageiros, no Ministério da Comunicação. Acompanhava-me o prestimoso Tobias, não obstante os imensos trabalhos que lhe ocupavam o círculo pessoal.

Deslumbrado, atingi a série de majestosos edifícios de que se compõe a sede da instituição. Julguei encontrar algumas universidades reunidas, tal a enorme extensão deles. Pátios amplos, povoados de arvoredo e jardins, convidavam a sublimes meditações.

Tobias arrancou-me do encantamento, exclamando:

— O Centro é muito vasto. Atividades complexas são desempenhadas neste departamento de nossa colônia espiritual. Não creia esteja resumida a instituição nos edifícios sob nossos olhos. Temos, nesta parte, tão somente a administração central e alguns pavilhões destinados ao ensino e à preparação em geral.


— Mas esta organização imensa restringe-se ao movimento de transmissão de mensagens? perguntei, curioso.

O companheiro sorriu significativamente e esclareceu:

— Não suponha se encontre aqui localizado o serviço de correio, simplesmente. O Centro prepara entidades a fim de que se transformem em cartas vivas de socorro e auxílio aos que sofrem no Umbral, na Crosta e nas Trevas. Acreditaria, porventura, que tanto trabalho se destinasse apenas a mera movimentação de noticiário? Amplie suas vistas. Este serviço é a cópia de quantos se vêm fazendo nas mais diversas cidades espirituais dos Planos superiores. Preparam-se aqui numerosos companheiros para a difusão de esperanças e consolos, instruções e avisos, nos diversos setores da evolução planetária. Não me refiro tão só a emissários invisíveis. Organizamos turmas compactas de aprendizes para a reencarnação. Médiuns e doutrinadores saem daqui às centenas, anualmente. Tarefeiros do conforto espiritual encaminham-se para os círculos carnais, em quantidade considerável, habilitados pelo nosso Centro de Mensageiros.


— Que me diz? — Interroguei, surpreso. — Segundo seus informes, os trabalhos de esclarecimento espiritual devem estar muitíssimo adiantados no mundo!…

Fixou Tobias expressão singular, sorriu tranquilamente e explicou:

— Você não ponderou, todavia, meu caro André, que essa preparação não constitui, ainda, a realização propriamente dita. Saem milhares de mensageiros aptos para o serviço, mas são muito raros os que triunfam. Alguns conseguem execução parcial da tarefa, outros muitos fracassam de todo. O serviço legítimo não é fantasia. É esforço sem o qual a obra não pode aparecer nem prevalecer. Longas fileiras de médiuns e doutrinadores para o mundo carnal partem daqui, com as necessárias instruções, porque os benfeitores da Espiritualidade Superior, para intensificarem a redenção humana, precisam de renúncia e de altruísmo. Quando os mensageiros se esquecem do espírito missionário e da dedicação aos semelhantes, costumam transformar-se em instrumentos inúteis. Há médiuns e mediunidade, doutrinadores e doutrina, como existem a enxada e os trabalhadores. Pode a enxada ser excelente, mas, se falta espírito de serviço no cultivador, o ganho da enxada será inevitavelmente a ferrugem. Assim acontece com as faculdades psíquicas e com os grandes conhecimentos. A expressão mediúnica pode ser riquíssima; entretanto, se o dono não consegue olhar além dos interesses próprios, fracassará fatalmente na tarefa que lhe foi conferida. Acredite, meu caro, que todo trabalho construtivo tem as batalhas que lhe dizem respeito. São muito escassos os servidores que toleram as dificuldades e reveses das linhas de frente. Esmagadora percentagem permanece a distância do fogo forte. Trabalhadores sem conta recuam quando a tarefa abre oportunidades mais valiosas.


Algo impressionado, considerei.

— Isto me surpreende sobremaneira. Não supunha fossem preparados, aqui, determinados mensageiros para a vida carnal.

— Ah! Meu amigo, — falou Tobias sorridente, — poderia você admitir que as obras do bem estivessem circunscritas a simples operações automáticas? Nossa visão, na Terra, costuma viciar-se no círculo dos cultos externos, na atividade religiosa. Cremos, por lá, resolver todos os problemas pela atitude suplicante. Entretanto, a genuflexão não soluciona questões fundamentais do Espírito, nem a mera adoração à Divindade constitui a máxima edificação. Em verdade, todo ato de humildade e amor é respeitável e santo, e, incontestavelmente, o Senhor nos concederá suas bênçãos; no entanto, é imprescindível considerar que a manutenção e limpeza do vaso, para recolhe-las, é dever que nos assiste. Não preparamos, pois, neste Centro, simples postalistas, mas Espíritos que se transformem em cartas vivas de Jesus para a Humanidade encarnada. Pelo menos, este é o programa de nossa administração espiritual…

Calei, emocionado, ponderando a grandeza dos ensinamentos. Meu companheiro, após longa pausa, prosseguiu observando:

— Raros triunfam, porque quase todos estamos ainda ligados a extenso pretérito de erros criminosos, que nos deformaram a personalidade. Em cada novo ciclo de empreendimentos carnais, acreditamos muito mais em nossas tendências inferiores do passado, que nas possibilidades divinas do presente, complicando sempre o futuro. É desse modo que prosseguimos, por lá, agarrados ao mal e esquecidos do bem, chegando, por vezes, ao disparate de interpretar dificuldades como punições, quando todo obstáculo traduz oportunidade verdadeiramente preciosa aos que já tenham “olhos de ver”. (Ez 12:2)


A essa altura, alcançamos enorme recinto.

Centenas de entidades penetravam no vasto edifício, cujas escadarias galgamos em animada conversação.

Os aspectos do maravilhoso átrio impressionavam pela imponente beleza. Espécies de flores, até então desconhecidas para mim, adornavam colunatas, espalhando cores vivas e delicioso perfume.

Quebrando-me o enlevo, Tobias explicou:

— As diversas turmas de aprendizes encaminham-se às aulas. Procuremos Aniceto no departamento de instrutores.

Atravessamos galerias vastíssimas, sempre defrontados por verdadeiras multidões de entidades que buscavam as aulas, em palestras vibrantes.

Em pequeno grupo que parecia manter conversação muito discreta, encontramos o generoso amigo da véspera, que nos abraçou sorridente e calmo.

— Muito bem! — Disse, alegre e bondoso, — esperava o novo aluno, desde a manhãzinha.

E em virtude de Tobias alegar muita pressa, o nobre instrutor explicou:

— Doravante, André ficará aos meus cuidados. Volte tranquilo.

Despedi-me do companheiro, comovidamente.

Notando-me o natural acanhamento, Aniceto determinou a um auxiliar de serviço:

— Chame o Vicente em meu nome.

E, voltando-se para mim, esclareceu:

— Até agora, Vicente é o meu único aprendiz médico. Vocês ficarão juntos, em vista da afinidade profissional.

Não haviam decorrido três minutos e tínhamos 5icente diante de nós.

— Vicente, — falou Aniceto sem afetação, — André Luiz é nosso novo colaborador. Foi também médico nas Esferas carnais. Creio, pois, que ambos se encontrarão à vontade, partilhando a mesma experiência.

O interpelado abraçou-me, demonstrando extrema generosidade, e, após encorajar-me com belas palavras de estímulo, perguntou ao nosso orientador:

— Quando deveremos procurá-lo para os estudos de hoje?

Aniceto pensou um instante e respondeu:

— Esclareça ao novo candidato os nossos regulamentos e venham juntos para as instruções, após o meio-dia.




André Luiz
Francisco Cândido Xavier


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Ezequiel 12:2

Filho do homem, tu habitas no meio da casa rebelde, que tem olhos para ver e não vê, e tem ouvidos para ouvir e não ouve; porque é casa rebelde.

ez 12:2
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