Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1860

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Capítulo XXXVII

Junho - O Espírito e o cãozinho

Junho


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O Sr. G. G..., de Marselha, nos transmite este fato:

“Um rapaz faleceu há oito meses e sua família, na qual há três irmãs médiuns, o evoca quase que diariamente, servindo-se de uma cesta. Cada vez que o Espírito é chamado, um cãozinho, do qual ele gostava muito, salta sobre a mesa e vem cheirar a cesta, soltando ganidos. A primeira vez que isto aconteceu, a cesta escreveu: “Meu valente cachorrinho, que me reconhece.”

“Eu não vi o fato, mas as pessoas de quem o ouvi várias vezes o testemunharam, e são bons espíritas e muito sérias, de modo que não posso pôr em dúvida a sua veracidade. Eu me perguntei se o perispírito conservava suficientes partículas materiais para afetar o olfato do cão, ou se esse seria dotado da faculdade de ver os Espíritos. É um problema que me pareceria útil aprofundar, caso ainda não esteja resolvido.”

1.º Evocação do Sr..., falecido há oito meses, do qual acabamos de falar.
─ Eis-me aqui.

2.º ─ Confirmais o fato relativo ao vosso cão, que vem cheirar a cesta que serve às vossas evocações e que parece reconhecer-vos?
─ Sim.

3.º ─ Poderíeis dizer a causa que atrai o cão para a cesta?
─ A extrema finura dos sentidos pode levar a adivinhar a presença do Espírito e até a vê-lo.

4º ─ O cão vos vê ou vos sente?
─ O olfato, sobretudo, e o fluido magnético.

CHARLET

OBSERVAÇÃO: Charlet, o pintor, deu à Sociedade uma série de comunicações muito notáveis sobre os animais, e que publicaremos proximamente.
Foi certamente por esse motivo que interferiu espontaneamente na presente evocação.

5.º ─ Considerando-se que Charlet quer mesmo intervir na questão que nos ocupa, nós lhe pedimos que dê algumas explicações a respeito.
─ De boa vontade. O fato é perfeitamente verossímil e, consequentemente, natural. Falo em geral, pois não conheço o caso de que tratais. O cão é dotado de uma organização muito particular. Ele compreende o homem: basta isso. Sente-o, segue-o em todas as suas ações com a curiosidade de uma criança; ama-o, e chega mesmo ao ponto de ─ e disto tem-se exemplos para confirmar o que adianto ─ ao ponto, dizia eu, de a ele se dedicar. O cão deve ser ─ não tenho certeza, entendei bem ─ mas o cão deve ser um desses animais vindos de um mundo já adiantado para sustentar o homem em seu sofrimento, servi-lo, guardá-lo. Acabo de falar das qualidades morais que, positivamente, possui o cão. Quanto às suas faculdades sensitivas, são extremamente delicadas. Todos os caçadores conhecem a sutileza do faro do cão. Além dessa qualidade, o cão compreende quase todas as ações do homem; compreende a importância de sua morte. Por que não adivinharia a sua alma e por que, mesmo, não a veria?

CHARLET

No dia seguinte a Sra. Lec..., médium, membro da Sociedade, recebeu em particular a seguinte explicação sobre o mesmo assunto:

“O fato citado na Sociedade é verídico, embora o perispírito destacado do corpo não tenha nenhuma de suas emanações. O cão farejava a presença de seu dono.

Quando digo farejava, entendo que seus órgãos percebiam sem que os olhos vissem, sem que o nariz sentisse; mas todo o seu ser estava advertido da presença do dono, e essa advertência lhe era dada principalmente pela vontade que se desprendia do Espírito dos que evocaram o morto. A vontade humana atinge e adverte o instinto dos animais, sobretudo o dos cães, antes que algum sinal exterior o tenha revelado.

Por suas fibras nervosas, o cão é posto em relação direta conosco, Espíritos, quase tanto quanto com os homens. Ele percebe as aparições; dá-se conta da diferença existente entre elas e as coisas reais ou terrenas, e lhes tem muito medo. O cão uiva à Lua, conforme a expressão vulgar; uiva também quando sente vir a morte. Nestes dois casos, e em muitos outros mais, o cão é intuitivo. Acrescentarei que seu órgão visual é menos desenvolvido que as suas sensações. Ele vê menos do que sente. O fluido elétrico o penetra quase que habitualmente. O fato que me serviu de ponto departida nada tem de admirável, porque, no momento do desprendimento da vontade que chamava o seu dono, o cão sentia sua presença quase tão depressa quanto o próprio Espírito escutava e respondia ao chamado que lhe era feito.”

Georges (Espírito familiar)


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