Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1861
Versão para cópiaCapítulo XII
Fevereiro - Questões e problemas
Fevereiro
1. ─ Em um mundo superior, como Júpiter ou outro, tem o
Espírito encarnado a lembrança das existências passadas, bem como a do estado
errante?
─ Não. Desde que o Espírito reveste o envoltório
material, perde a lembrança de suas existências anteriores.
─ Entretanto, em Júpiter o envoltório material é
muito pouco denso e, por isto, não é o Espírito mais livre?
─ Sim, mas é suficientemente denso para extinguir no
Espírito a lembrança do passado.
─ Então os Espíritos que habitam Júpiter e que se
comunicaram conosco ali se encontravam mergulhados no sono?
─ Certamente. Naquele mundo, sendo o Espírito muito
mais elevado, melhor compreende Deus e o Universo, mas o seu passado se apaga
nesse momento, do contrário tudo obscureceria a sua inteligência; ele não se
reconheceria a si mesmo; seria ele o homem da África, o da Europa ou da
América? O da Terra, o de Marte ou o de Vênus? Não se recordando mais, é ele
mesmo, o homem de Júpiter, inteligente, superior, compreendendo Deus, eis tudo.
Observação: Se é necessário o esquecimento do passado
num mundo mais adiantado, como o é Júpiter, com mais forte razão deve sê-lo em
nosso mundo material. É evidente que a lembrança de nossas existências
precedentes lançaria uma penosa confusão em nossas ideias, sem falar de todos os
outros inconvenientes já assinalados a respeito. Tudo quanto Deus faz traz a
marca de sua sabedoria e de sua bondade. Não nos cabe criticá-lo, até mesmo
porque não compreendemos o objetivo.
2. ─ A Srta. Eugênia, um dos médiuns da Sociedade,
oferece a notável particularidade, de certo modo excepcional, que é a
prodigiosa facilidade com que escreve e a incrível prontidão com que os mais
diversos Espíritos se comunicam por seu intermédio. Há poucos médiuns com tão
grande flexibilidade. A que se deve isto?
─ Deve-se antes ao médium que ao Espírito. Este
escreveria menos velozmente por um outro médium, pela razão de que a natureza
do instrumento já não seria a mesma. Assim, há médiuns desenhistas, outros mais
aptos para a Medicina, etc. Conforme a mediunidade, age o Espírito. É, pois,
uma causa física, antes que uma causa moral. Os Espíritos se comunicam tanto
mais facilmente por um médium, quanto mais rapidamente se dá a combinação entre
os fluidos deste e os do Espírito e mais que os outros ele se presta à rapidez
do pensamento, de que se aproveita o Espírito, como vós vos aproveitais de um
carro veloz quando tendes pressa. Esta vivacidade do médium é puramente física.
Seu próprio Espírito nisto não tem nenhuma influência.
─ Não haverá influência das qualidades
morais do médium?
─ Elas têm uma grande influência nas simpatias dos
Espíritos, pois é necessário saberdes que alguns têm uma tal antipatia por
certos médiuns, que só vencendo grande repugnância se comunicam por intermédio
deles.
São Luís
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