Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1861

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Capítulo LXXI

Novembro - Bibliografia

Novembro
O LIVRO DOS MÉDIUNS

SEGUNDA EDIÇÃO[1]

A primeira edição do Livro dos Médiuns, publicada no começo deste ano, esgotou-se em alguns meses, o que não é um dos traços menos característicos do progresso das ideias espíritas. Nós mesmo constatamos, em nossas excursões, a influência salutar que essa obra exerceu sobre a direção dos estudos espíritas práticos. Assim, as decepções e mistificações são muito menos numerosas do que outrora, porque ela ensinou os meios de descobrir as astúcias dos Espíritos enganadores. Esta segunda edição é muito mais completa que a precedente. Ela encerra numerosas instruções novas muito importantes e vários capítulos novos. Toda a parte que concerne mais especialmente aos médiuns, à identidade dos Espíritos, à obsessão, às questões que podem ser dirigidas aos Espíritos, às contradições, aos meios de discernir os bons e os maus Espíritos, à formação de reuniões espíritas, às fraudes em matéria de Espiritismo, recebeu desenvolvimentos muito notáveis, frutos da experiência. No capítulo das dissertações espíritas adicionamos várias comunicações apócrifas acompanhadas de observações adequadas a dar os meios de descobrir a fraude dos Espíritos enganadores que se apresentam com falsos nomes.

Devemos acrescentar que os Espíritos reviram a obra inteiramente e trouxeram numerosas observações do mais alto interesse, de sorte que se pode dizer que é obra deles, tanto quanto nossa.

Recomendamos com instância esta nova edição, como o guia mais completo, quer para os médiuns, quer para os simples observadores. Podemos afirmar que seguindo-a pontualmente evitar-se-ão os escolhos tão numerosos contra os quais se vão chocar tantos neófitos inexperientes. Depois de a ter lido e meditado atentamente, os que forem enganados ou mistificados certamente não poderão queixar-se senão de si mesmos, porque tiveram todos os meios para se esclarecerem.

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O ESPIRITISMO OU ESPIRITUALISMO EM METZ

PRIMEIRA SÉRIE DAS PUBLICACÕES DA SOCIEDADE ESPÍRITA DE METZ[2]

Em nosso último número mencionamos esta publicação apenas a título de lembrete, propondo-nos voltar ao assunto. Lemo-la com atenção e só podemos felicitar a Sociedade dos espíritas de Metz por seus resultados. Ela conta, em seu seio, com um grande número de homens esclarecidos que, esperamos, saberão mantê-la em guarda contra os embustes dos maus Espíritos, que não deixarão de tentar desviá-la da boa rota em que se colocou.

A publicação não é periódica. A Sociedade de Metz se propõe fazer outras semelhantes, de tempos em tempos, em datas indeterminadas, e nelas inserir as melhores comunicações que houver obtido. Tal modo é vantajoso porque não obriga a assumir nenhum compromisso com assinantes, aos quais se deve servir apesar de tudo, e porque os gastos são sempre proporcionais.

Todas as comunicações contidas nesta primeira brochura têm um cunho eminentemente sério e uma moralidade irreprochável. Nada notamos que não se pudesse chamar de ortodoxo, do ponto de vista da Ciência e de acordo com o ensino do Livro dos Espíritos. Se os senhores espíritas de Metz nos permitem um conselho, nós os estimularíamos a continuar a trazer, em publicações ulteriores, a prudente circunspeção que notamos nesta; que se persuadam de que as publicações intempestivas podem ser mais nocivas do que úteis à propagação do Espiritismo. Contamos com a sabedoria e a sagacidade dos que as dirigem, para não cederem ao entusiasmo de adeptos mais zelosos que refletidos. Que eles se lembrem sempre desta máxima: Não adianta correr; é preciso partir na hora.

As duas comunicações seguintes, extraídas deste primeiro lançamento, podem dar uma ideia do espírito no qual são feitas.


[1] No original: agencement, que equivale a disposição, organização, arranjo, seguido da nota “sic”.

Observe-se o respeito de Kardec pelas expressões dos Espíritos. (N. da Eq. Rev. Edicel).




[2] Brochura, grande in-18, preço, 1 franco. Livraria Dentu, Palais-Royal, Galeria d’Orléans.




O FLUIDO UNIVERSAL

(29 DE SETEMBRO DE 1860)

O fluido universal liga entre si todos os mundos, e conforme os impulsos que lhe são dados pela vontade do Criador, dá origem a todos os fenômenos da Criação. Ele é a própria vida, e liga as diferentes matérias do nosso globo. É ele que, por propriedades subordinadas a leis, regula as diferentes nuanças das afinidades físicas e morais, tão misteriosas para vós. É ele que vos faz ver o passado, o presente e o futuro, sobretudo quando a matéria que obstrui a vossa alma é anulada ou enfraquecida por uma causa qualquer. Então, essa dupla vista (embora menos desenvolvida do que após a morte), vê, sente e toca tudo, nesse meio fluídico que é o seu elemento e o espelho exato do que foi, é e será, porque apenas as partes mais grosseiras desse fluido sofrem sensíveis modificações de composição.


HENRY, antigo magnetizador.



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EFEITOS DA PRECE

(15 DE OUTUBRO DE 1860)

A prece é uma aspiração sublime, à qual Deus concedeu um poder tão mágico que os Espíritos a reivindicam constantemente. Orvalho suave como um refrigério para o pobre exilado na Terra e um arranjo[1] fecundo para a alma em prova. A prece age diretamente sobre o Espírito para o qual é dirigida. Ela não transforma seus espinhos em rosas, mas modifica sua vida de sofrimentos (nada podendo sobre a vontade imutável de Deus) imprimindo-lhe esse impulso de vontade que levanta a sua coragem, ao dar-lhe força para lutar contra as provas e dominá-las. Por esse meio, é abreviado o caminho que conduz a Deus e, como efeito maravilhoso, nada pode ser comparado à prece.

Aquele que blasfema contra a prece não passa de Espírito inferior, de tal modo terreno e atrasado que nem mesmo compreende que deve apegar-se a essa tábua de salvação.

Orai, pois a prece é uma palavra descida do Céu; é a gota de orvalho no cálice de uma flor; é o sustentáculo do caniço durante a borrasca; é a tábua do pobre náufrago na tempestade; é o abrigo do mendigo e do órfão; é o berço para a criança dormir. Emanação divina, a prece nos liga a Deus pela linguagem, chamando sua atenção para nós. Orar por nós é amá-lo. Suplicar-lhe por um irmão é um ato de amor dos mais meritórios. A prece que vem do coração é a chave dos tesouros da graça; é o ecônomo que dispensa benefícios em nome da misericórdia infinita. A alma que se eleva para Deus por um desses impulsos sublimes da prece, desprendida de seu envoltório grosseiro, parece apresentar-se cheia de confiança perante ele, certa de obter o que pede com humildade. Orai! Orai! Fazei um reservatório de vossas santas aspirações, que será aberto no dia da justiça. Preparai o celeiro da abundância, tão precioso durante a carestia. Escondei o tesouro de vossas preces até o dia escolhido por Deus para distribuir o rico depósito. Acumulai para vós e para os vossos irmãos, o que diminuirá as vossas angústias e vos fará transpor mais rapidamente o espaço que vos separa de Deus. Reflete em tua miserável natureza; conta as tuas decepções e teus riscos; sonda o abismo profundo para onde podem arrastar-te as paixões; olha em torno de ti os que caem, e sentirás a necessidade imperiosa de recorrer à prece. É âncora de salvação que impedirá o esfacelamento do teu navio, tão sacudido pelas tormentas do mundo.

Teu Espírito familiar.

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O ESPIRITISMO NA AMÉRICA

FRAGMENTOS TRADUZIDOS DO INGLÊS PELA SRTA. CLÉMENCE GUÉRIN[2]

O Espiritismo conta, na América, com homens eminentes que desde o princípio lhe avaliaram o alcance e nele viram algo mais do que simples manifestações. Nesse número está o juiz Edmonds, de Nova York, cujos escritos sobre tão importante assunto são justamente apreciados e muito pouco conhecidos na Europa, onde não foram traduzidos. Devemos ser gratos à Srta. Guérin por nos dar uma ideia deles por alguns fragmentos publicados em sua brochura, levando-nos a lamentar não tenha ela acabado sua obra por uma tradução completa. Ela junta alguns extratos não menos notáveis do Dr. Hare, da Filadélfia, que, também ele, foi um dos primeiros a ter coragem de afirmar a sua fé nas novas revelações.

A Srta. Guérin, que residiu muito tempo na América, onde viu se produzirem e se desenvolverem as primeiras manifestações, é uma dessas espíritas sinceras, conscienciosas, que tudo julgam com calma, sangue-frio e sem entusiasmo. Tivemos a honra de conhecê-la pessoalmente e sentimo-nos feliz por lhe dar aqui um testemunho merecido de nossa profunda estima. Pelo fragmento de seu prefácio que transcrevemos abaixo, pode-se ver que nossa opinião é justamente motivada.

“Como os americanos, temos a fé profunda, a esperança radiosa de que esta doutrina, tão eminentemente baseada na caridade ─ não esmola, mas amor ─ seja bem aquela que deve regenerar e pacificar o mundo. Nunca a solidariedade fraterna foi mais claramente demonstrada, nem de maneira mais sedutora. Vindo consolar-nos, ajudar-nos, instruir-nos, indicar-nos, enfim, o melhor uso a ser feito de nossas faculdades, em vista do futuro, os Espíritos são tão evidentemente desinteressados, que o homem não os pode ouvir muito tempo sem experimentar o desejo de imitá-los; sem procurar ao seu redor alguém para participar dos benefícios que lhe dispensam tão generosamente. Ele o faz com muito mais boa vontade porque compreende, enfim, que é esse o preço do seu próprio progresso, e que no grande livro de Deus não são levados a seu crédito senão os atos praticados com vistas ao bem-estar material ou moral de seus irmãos. O que os Espíritos fazem com sucesso neste momento foi tentado muitas vezes na Terra por corações nobres e almas corajosas, mas que foram e são ainda desconhecidos e ridicularizados. Suspeitam de seu devotamento e só quando desaparecerem é que têm chance de ser julgados com imparcialidade. Eis por que Deus lhes permite continuem a obra após aquilo a que chamamos morte.

É o caso de repetir com Davis: “Não temais, irmãos; sendo mortal, o erro não pode viver; sendo imortal, a verdade não pode morrer!”

Clémence Guérin.

A passagem seguinte, do juiz Edmonds, mostrará com que justeza tinha ele entrevisto as consequências do Espiritismo. Não se deve esquecer que ele escrevia em 1854, época em que o Espiritismo ainda era novo na América, como na Europa.

“Outros julgarão se minhas deduções são verdadeiras ou falsas. Meu objetivo será atingido se, falando do efeito produzido em meu espírito por essas revelações, fiz brotar em alguns o desejo de também pesquisar e assim levar novas luzes ao estudo desses fenômenos, porque até aqui os mais veementes adversários, os que, na sua indignação, gritam contra a impostura, são também os mais obstinados na sua resolução de nada ver ou ouvir sobre este assunto; os mais decididos a permanecer na ignorância completa da natureza dos fatos. Homens com reputação de saber, senão de Ciência, não temem comprometê-la dando explicações que a ninguém satisfazem, baseadas em observações superficiais, feitas com uma leviandade que faria corar um estudante.

“Entretanto, não é uma coisa indiferente esse novo poder inerente ao homem (connected with man) e que, sem a menor dúvida, terá sobre o seu destino uma considerável influência para o bem ou para o mal.

“E já podemos ver que desde a origem, apenas há cinco anos, a ideia espiritualista se propagou com uma rapidez que a religião cristã não havia igualado em cem anos. Ela não procura os lugares desertos, não se cerca de mistérios, mas vem abertamente aos homens, provocando um minucioso exame, não pedindo uma fé cega, mas, em todas as circunstâncias, recomendando o exercício da razão e do julgamento livre.

“Vimos que os ataques dos filósofos não conseguiram desviar um só crente; que os sarcasmos da imprensa e os anátemas da cátedra são igualmente impotentes para deter o progresso, e, sobretudo, já podemos constatar sua influência moralizadora. O verdadeiro crente torna-se sempre mais prudente e melhor (a wise and better man), porque lhe foi demonstrado que a existência do homem após a morte está positivamente provada. Todos quantos, séria e sinceramente, conduziram suas investigações sobre o assunto, tiveram suas provas irrecusáveis. Como poderia ser diferente? Eis uma inteligência que nos fala todos os dias. É um amigo. (Em geral os americanos começam conversando com parentes ou amigos). Ele prova a sua identidade por mil circunstâncias que não deixam a menor dúvida, por meio de recordações que só ele pode conhecer. Ele nos fala das consequências da vida terrena e nos pinta a vida futura em cores tão racionais que nós sentimos que diz a verdade, pois é conforme à ideia íntima que tínhamos da Divindade e dos deveres que ela nos impõe.

“Aqueles que amamos não são separados de nós pela morte, mas muitas vezes estão juntos de nós, ajudam-nos e nos consolam pela esperança de uma reunião certa. Quantas vezes os ouvi, por mim mesmo ou através de outros! Quantas pessoas desoladas vi acalmadas pela suave certeza de que o ser querido “trazido pelos laços do amor, volteia em torno delas, fala-lhes ao ouvido, contempla sua alma, conversa com seu Espírito!”

“Assim, a morte está despojada do cortejo de terrores misteriosos e indefinidos com que foi cercada por aqueles que esperam mais da degradante paixão do medo que do nobre sentimento de amor.

“Notemos de passagem que, sejam quais forem as nuanças no ensino da nova filosofia, todos os seus discípulos entendem que a morte não é um espantalho, mas um fenômeno natural; a passagem a uma existência em que, livre de mil males da vida material e dos entraves que o confinam num só planeta, o Espírito pode percorrer a imensidade dos mundos e alçar voo para regiões onde a glória de Deus é realmente visível.

“Está igualmente demonstrado que nossos mais secretos pensamentos são conhecidos pelos seres que, tendo sido amados, continuam a velar por nós. É em vão que a gente tentaria subtrair-se a essa inquisição, terrível por sua própria benevolência. Não é possível duvidar disto, como eles queriam. Muitas vezes fiquei estupefato e tive arrepios a esta revelação, imprevista mas irrecusável, de que os mais íntimos refolhos da consciência podem ser examinados por aqueles mesmos aos quais queríamos ocultar nossas fraquezas.

“Não está aí um freio salutar contra os maus pensamentos, os atos criminosos, na maioria das vezes cometidos porque o culpado se garantiu por estas palavras: “Não o saberão...?” Se algo pode confirmar esta verdade tão terrificante para alguns, é a lembrança do que cada um experimenta após uma boa ação, mesmo quando ficou secreta: um contentamento íntimo a nenhum outro comparável. Esses o sabem bem, pois a mão esquerda ignora o que dá a direita. É, pois, racional crer que se nossos amigos nos podem felicitar, também nos podem censurar; se veem nossos atos meritórios, veem também nossos erros.

“A isto não hesitamos em atribuir o fato incontestável e incontestado de que não há verdadeiro crente que não se tenha tornado melhor.

“De nossa conduta depende nosso destino futuro. Não de nossa adesão a esta ou àquela seita religiosa, mas de nossa submissão a este grande preceito: AMAR A DEUS E AO PRÓXIMO... Não devemos adiar nossa conversão. Nós próprios devemos trabalhar por nossa salvação, não mais tarde, mas agora; não amanhã, mas hoje.

“Nada há de mais consolador, de mais fortificante para a alma virtuosa, através das provas e vicissitudes desta vida, que a certeza completa de que sua felicidade futura depende de suas ações, que ela pode dirigir.

“Por outro lado, o vicioso, o mau, o cruel, o egoísta, especialmente o egoísta, sofrerá por si e pelos outros (self and mutual torments), tormentos mais terríveis que os do inferno material, tal qual a imaginação mais desordenada jamais conseguiu pintar.”



ALLAN KARDEC



[1] 1 vol. in-12, preço: 3,50 francos. Pelo correio: 4 francos.


[2] 12 Brochura in-8.°; preço 1 franco, em Paris, na Livraria Didier et Compan., quai des Augustins, 35 ; Ledoyen, Palais-Royal, galeria d'Orléans, 31; em Metz, na Verronnais, Rua des Jardins, 14, e na Warion, Rua du Palais, 8.






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