Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1862
Versão para cópiaCapítulo LIX
Agosto - O planeta Vênus
Agosto
(Ditado espontâneo - Médium: Sr. Costel)
O planeta Vênus é o ponto intermediário entre Mercúrio e Júpiter. Seus habitantes têm a mesma conformação física que vós. A maior ou menor beleza e idealidade nas formas é a única diferença entre os seres criados. Em Vênus, a sutileza do ar, comparável à das altas montanhas, o torna impróprio aos vossos pulmões. As doenças aí são ignoradas. Seus habitantes só se nutrem de frutas e laticínios. Eles ignoram o bárbaro costume de alimentar-se de cadáveres de animais, ferocidade só existente nos planetas inferiores. Em consequência, as grosseiras necessidades do corpo são aniquiladas e o amor se reveste de todas as paixões e de todas as perfeições apenas sonhadas na Terra.
Como na aurora, em que as formas se revestem indecisas e envoltas no vapor da manhã, a perfeição da alma, quase completa, tem os desconhecimentos e os desejos da infância feliz. A própria Natureza reveste a graça da felicidade velada. Suas formas moles e arredondadas não têm a violência e a agressividade dos sítios terrenos; o mar, profundo e calmo, ignora as tempestades; as árvores jamais se curvam sob a pressão da tempestade e o inverno não as despoja de sua verdura; nada é ruidoso; tudo sorri, tudo é suave. Os costumes, marcados de quietude e ternura, não necessitam de repressão para se manterem puros e fortes.
A forma política reveste a expressão da família. Cada tribo ou aglomeração de indivíduos tem seu chefe, eleito por faixa de idade. A velhice aí é o apogeu da dignidade humana, porque se aproxima do fim desejado. Isenta de doenças e feiúra, é calma e radiante como bela tarde de outono.
A indústria terrena, aplicada à inquieta busca do bem-estar material, é simplificada e quase desaparece nas regiões superiores, onde não tem razão de ser. As artes sublimes a substituem e adquirem um desenvolvimento e uma perfeição que os vossos sentidos grosseiros não podem imaginar.
A vestimenta é uniforme. Grandes túnicas brancas envolvem o corpo com suas pregas harmoniosas, mas não o desnaturam. Tudo é fácil a esses que só desejam a Deus e que, despojados de interesses grosseiros, vivem com simplicidade e são quase luminosos.
GEORGES
PERGUNTAS SOBRE O DITADO PRECEDENTE
SOCIEDADE DE PARIS, 27 DE JUNHO DE 1862 MÉDIUM: SR. COSTEL
Como na aurora, em que as formas se revestem indecisas e envoltas no vapor da manhã, a perfeição da alma, quase completa, tem os desconhecimentos e os desejos da infância feliz. A própria Natureza reveste a graça da felicidade velada. Suas formas moles e arredondadas não têm a violência e a agressividade dos sítios terrenos; o mar, profundo e calmo, ignora as tempestades; as árvores jamais se curvam sob a pressão da tempestade e o inverno não as despoja de sua verdura; nada é ruidoso; tudo sorri, tudo é suave. Os costumes, marcados de quietude e ternura, não necessitam de repressão para se manterem puros e fortes.
A forma política reveste a expressão da família. Cada tribo ou aglomeração de indivíduos tem seu chefe, eleito por faixa de idade. A velhice aí é o apogeu da dignidade humana, porque se aproxima do fim desejado. Isenta de doenças e feiúra, é calma e radiante como bela tarde de outono.
A indústria terrena, aplicada à inquieta busca do bem-estar material, é simplificada e quase desaparece nas regiões superiores, onde não tem razão de ser. As artes sublimes a substituem e adquirem um desenvolvimento e uma perfeição que os vossos sentidos grosseiros não podem imaginar.
A vestimenta é uniforme. Grandes túnicas brancas envolvem o corpo com suas pregas harmoniosas, mas não o desnaturam. Tudo é fácil a esses que só desejam a Deus e que, despojados de interesses grosseiros, vivem com simplicidade e são quase luminosos.
GEORGES
PERGUNTAS SOBRE O DITADO PRECEDENTE
SOCIEDADE DE PARIS, 27 DE JUNHO DE 1862 MÉDIUM: SR. COSTEL
l. ─ Por vosso médium predileto fizestes uma descrição de
Vênus. Estamos encantados com a sua concordância com o que já nos foi dito,
posto que com menor precisão. Rogaríamos que a completásseis, respondendo a
algumas perguntas. Para começar, dizei como tendes conhecimento desse mundo.
─ Sou errante, mas inspirado por Espíritos superiores. Fui
mandado a Vênus em missão.
2. ─
Os habitantes da Terra podem lá encarnar diretamente, ao saírem daqui?
─ Ao deixar a Terra, os mais adiantados passam por uma
erraticidade mais ou menos longa, que os despoja completamente
dos laços carnais imperfeitamente rotos pela morte.
OBSERVAÇÃO: A questão não era saber se os habitantes da
Terra podem lá encarnar-se imediatamente após
a morte, mas diretamente, isto é, sem passar por mundos intermediários. A
resposta foi que é possível aos mais adiantados.
3. ─
O estado de adiantamento dos habitantes de Vênus permite que se lembrem de sua estada
em mundos inferiores e que se estabeleça uma
comparação entre as duas situações?
─ Os homens olham para trás com os olhos do pensamento, que
reconstitui de relance o passado extinto. Assim, o Espírito adiantado vê com a
mesma rapidez com que se move, rapidez mais fulminante
que a da eletricidade,
bela descoberta que se liga estreitamente à revelação espírita. Ambas contêm em
si o progresso material e intelectual.
OBSERVAÇÃO: Para estabelecer uma
comparação, não é absolutamente necessário saber a posição pessoal
que se ocupou. Basta conhecer o estado material e moral dos mundos
inferiores por onde se passou para lhes notar a diferença. Assim, conforme o
que nos dizem de Marte, devemos felicitar-nos por não mais lá
estarmos, e, sem sairmos da Terra, basta considerarmos os povos
bárbaros e ferozes para sabermos que já devemos ter passado por esse
estado, para nos sentirmos mais felizes. Sobre outros mundos, temos apenas informações
hipotéticas, mas é possível que nos mais adiantados que nós esse conhecimento
tenha um grau de certeza que não nos é dado.
4. ─
Aí a duração da vida é proporcionalmente mais longa ou mais curta que na Terra?
─ Em Vênus a reencarnação é muitíssimo mais longa que a
prova terrena. Despojada das violências humanas, expandida
e impregnada da vivificante influência que a penetra, a
alma experimenta as asas que a transportam
a planetas gloriosos como Júpiter e outros semelhantes.
OBSERVAÇÃO: Conforme fizemos já notar, a duração da
vida corpórea parece ser proporcional ao progresso dos mundos. Em sua bondade,
quis Deus abreviar as provas nos mundos inferiores. A essa razão junta-se uma
causa física: quanto mais adiantados os mundos, tanto menos são os corpos
devastados pelas paixões e pelas doenças, que são a sua consequência.
5. ─
O caráter dos habitantes de Vênus, conforme a vossa descrição, faz-nos pensar
que entre eles não haja guerras, disputas, ódios e inveja.
─ O homem só se torna aquilo que as palavras exprimem, e seu
pensamento limitado é privado do infinito. Assim
atribuís até aos planetas superiores as vossas paixões e os vossos motivos
inferiores, vírus depositados em vossos seres
pela grosseria do ponto de partida, dos quais só vos curais lentamente. As
divisões, as discórdias e as guerras são desconhecidas em Vênus, tão desconhecidas quanto entre vós a antropofagia.
OBSERVAÇÃO: Com efeito, por seus vários níveis sociais, a
Terra nos apresenta uma infinidade de tipos, que nos podem dar uma ideia dos
mundos nos quais cada um desses tipos é o estado normal.
6. ─
Qual o estado da Religião nesse planeta?
─ A Religião é a adoração constante e ativa do Ser Supremo.
Mas adoração despojada de qualquer erro, isto é, de qualquer culto idólatra.
7. ─
Os seus habitantes estão todos no mesmo nível, ou, como na Terra, uns são mais
adiantados que outros? Nesse caso, a quais habitantes da Terra correspondem os
menos adiantados?
─ A mesma desigualdade proporcional existe entre os
habitantes de Vênus, como entre os seres terrenos. Os menos adiantados são as
estrelas do mundo terrestre, isto é, os vossos gênios e os homens virtuosos.
8. ─
Há senhores e servos?
─ A servidão é o primeiro degrau da iniciação. Os escravos
da Antiguidade, como os da América moderna, são seres destinados a progredir
num meio superior ao que habitavam na última encarnação. Por toda parte os
seres inferiores estão subordinados aos superiores, mas em Vênus tal
subordinação moral não se compara à subordinação
corpórea que existe na Terra, pois os superiores
não são
senhores, mas pais dos inferiores. Em vez de
explorá-los, ajudam-nos a progredir.
9. ─
Vênus chegou gradualmente ao estado em que se encontra? Passou anteriormente
pelo estado em que se encontram a Terra e Marte?
─ Reina uma admirável unidade no conjunto da obra divina.
Como as criaturas, como tudo o que é criado, animais ou plantas, os planetas
progridem, inevitavelmente. Nas suas variadas expressões, a vida é uma perpétua
ascensão para o Criador. Numa imensa espiral, ela desenvolve os graus de sua
eternidade.
10. ─
Tivemos comunicações concordantes sobre Júpiter, Marte e Vênus. Por que sobre a
Lua só temos coisas contraditórias e que não permitem se fixe uma opinião?
─ Essa lacuna será preenchida e em breve tereis sobre a Lua
revelações tão claras e precisas quanto as obtidas sobre os planetas. Se ainda
não vos foram dadas, mais tarde compreendereis o motivo.
OBSERVAÇÃO: Certamente essa comunicação sobre Vênus não tem os caracteres de autenticidade absoluta, razão por que a damos a título condicional. Contudo, o que já foi dito sobre esse mundo lhe dá, ao menos um certo grau de probabilidade, e, seja como for, não deixa de ser o quadro de um mundo que necessariamente deve existir para quem quer que não tenha a orgulhosa pretensão de que seja a Terra o apogeu da perfeição humana: é um elo na escala dos mundos e um grau acessível aos que não se sentem com forças para atingir diretamente a Júpiter.
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