Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1862
Versão para cópiaCapítulo XCIII
Dezembro - O Espiritismo em Rochefort
Dezembro
Espisódio da vida viagem do Sr. Allan Kardec
Rochefort não é ainda um foco de Espiritismo, posto tenha alguns adeptos fervorosos e numerosos simpatizantes das novas ideias. Mas lá, menos que alhures, há coragem de opinião e muitos crentes se mantêm à margem. No dia em que ousarem mostrar-se, ficaremos muito surpreendidos ao vê-los tão numerosos. Como apenas íamos ver algumas pessoas isoladas, esperávamos demorar apenas algumas horas. Mas, um passageiro que se achava no mesmo carro nos reconheceu por um retrato que vira em Marennes, e preveniu os amigos da nossa chegada. Então recebemos um convite insistente e dos mais delicados, da parte de vários espíritas que nos desejavam conhecer e receber instruções. Nossa partida foi adiada para o dia seguinte e tivemos a satisfação de passar a noite numa reunião de espíritas sinceros e dedicados.
Durante a reunião recebemos outro convite, em termos não menos impositivos, da parte de um alto funcionário e de várias notabilidades da cidade, exprimindo o desejo de uma reunião na noite seguinte, o que determinou novo adiamento de nossa partida. Não teríamos mencionado tais detalhes se não fossem necessários à explicação que nos julgamos obrigados a dar a seguir, em relação a um jornal da localidade.
Nessa última reunião fizemos, ao início da sessão, a seguinte alocução:
“Senhores,
“Posto não tivesse a intenção de passar senão algumas horas em Rochefort, o desejo por vós manifestado para esta reunião me era muito lisonjeiro, sobretudo pela maneira que o convite foi feito, para que dele declinasse.
“Ignoro se todas as pessoas que me honram com sua presença nesta reunião são iniciadas na ciência espírita. Suponho que muitos são ainda noviços na matéria, e poderia, até, encontrar alguns que lhe são hostis.
“Ora, por força da falsa ideia que fazem do Espiritismo aqueles que o desconhecem, ou só o conhecem imperfeitamente, o resultado desta reunião poderia causar algumas decepções àqueles que não encontrassem aquilo que esperavam. Então, devo explicar claramente o meu objetivo, para que não haja mal-entendidos.
“Antes de mais nada, devo informar quanto ao objetivo que me proponho em minhas excursões. Vou unicamente visitar centros espíritas e lhes dar as instruções de que possam necessitar. Entretanto, seria erro pensar que vou pregar a doutrina aos incrédulos.
“O Espiritismo é toda uma ciência que exige estudos sérios, como as outras ciências, e, ainda, numerosas observações. Para desenvolvê-la seria necessário um curso em regra, e um curso de Espiritismo não poderia ser feito em uma ou duas aulas, como não o poderia um curso de Física ou de Astronomia. Para os que ignoram as primeiras noções, sou obrigado a enviá-los à fonte, isto é, ao estudo das obras onde se acham todos os ensinamentos necessários e a resposta à maioria das perguntas que poderiam fazer e que, no mais das vezes, se referem aos princípios mais elementares. É por isso que, em minhas visitas, só me dirijo aos que já sabem, que não necessitam do ABC, mas de ensino complementar.
“Jamais vou fazer o que se chama sessões, nem convocar o público para assistir experiências ou demonstrações e, menos ainda, fazer exibição de Espíritos. Os que esperassem aqui ver coisa semelhante estariam redondamente enganados e devo apressar-me em lhes tirar a ilusão.
“A reunião desta noite é, pois, excepcional e fora de meus hábitos. Pelos motivos acima expostos, não posso ter a pretensão de convencer àqueles que impugnassem as bases dos meus princípios. Só uma coisa desejo: é que, em falta de convicção, compreendam que o Espiritismo é uma coisa séria e digna de atenção, pois atrai a atenção dos homens mais esclarecidos de todos os países.
“Que não o aceitem cegamente e sem exame, é compreensível. Mas seria presunção tomar posição falsa contra uma opinião que conta com seus mais numerosos partidários na elite da Sociedade.
“As pessoas sensatas dizem: Há tantas coisas novas que nos vêm surpreender e que há um século pareceriam absurdas; diariamente assistimos à descoberta de leis novas e à revelação de novas forças da Natureza, que seria ilógico admitir que a Natureza houvesse dito a última palavra. Antes de negar é, então, prudente estudar e observar.
“Para julgar uma coisa é preciso conhecê-la. A crítica só é permissível ao que fala do que sabe. Que seria dito de um homem que, ignorando música, criticasse uma ópera; que ignorando as primeiras noções de literatura, criticasse uma obra literária? Ora! O mesmo se dá com a maioria dos detratores do Espiritismo. Eles julgam com dados incompletos, por vezes até por ouvir dizer. Assim, todas as suas objeções denotam ignorância absoluta da coisa. Só se lhes pode responder: Estudai antes de julgar.
“Como tive a honra de vos dizer, senhores, seria materialmente impossível vos desenvolver todos os princípios da ciência. Quanto a satisfazer à curiosidade de quem quer que seja, há entre vós quem me conheça bastante para saber que jamais representei tal papel. Mas, na impossibilidade de vos expor as coisas em detalhes, talvez seja útil dar-vos a conhecer o fim e as tendências. É o que me proponho fazer. Depois julgareis se o objetivo é sério, e se é permitido censurar.
“Então, peço licença para ler algumas passagens do discurso que pronunciei nas grandes reuniões de Lyon e Bordeaux. Para as pessoas que apenas têm do Espiritismo uma ideia incompleta, sem dúvida a ideia principal fica no estado de hipótese, pois me dirijo a adeptos já instruídos. Esperando, porém, que para vós, as circunstâncias tenham transformado tais hipóteses em verdade, podereis ver as suas consequências, bem como a natureza das instruções que dou, e por aí avaliar o caráter das reuniões a que vou assistir.
“Posso, contudo, dizer do Espiritismo, que nele nada é hipotético. De todos os princípios formulados em O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns, nenhum é produto de um sistema ou de opinião pessoal. Todos, sem exceção, são fruto da experiência e da observação. Eu não poderia reivindicar um só como produto de minha iniciativa. Aquelas obras contêm o que aprendi e não o que criei. Ora, aquilo que aprendi, outros podem aprender, como eu. Mas como eu, devem trabalhar. Eu apenas lhes poupei o esforço dos primeiros trabalhos e das primeiras pesquisas.”
Depois desse preâmbulo, lemos alguns fragmentos do discurso pronunciado em Lyon e Bordeaux, seguidos de algumas explicações, necessariamente muito sumárias, sobre os princípios fundamentais do Espiritismo, entre outras sobre a natureza dos Espíritos e os meios pelos quais se comunicam, preocupando-nos, sobretudo, em ressaltar a influência moral que resulta das manifestações para a conduta na vida futura, e os efeitos dessa certeza durante a vida presente.
Pelo preâmbulo era impossível estabelecer a situação de modo mais claro e melhor precisar o objetivo a que nos propúnhamos, a fim de evitar qualquer equívoco. Tivemos que tomar tal precaução, pois sabíamos que a audiência estava longe de ser homogênea e inteiramente simpática. Isso naturalmente não satisfez aos que esperavam uma sessão do gênero das do Sr. Home.
Polidamente um dos assistentes declarou que não era bem o que ele esperava. Acreditamo-lo sem esforço porque, em vez de exibir coisas curiosas, vínhamos falar de moral. Ele pediu mesmo com tanta insistência que déssemos provas da existência dos Espíritos, que fomos forçado a dizer-lhe que não os tínhamos no bolso para lhe mostrar. Por pouco não nos disse ele: “Procurai bem!”
Um jornalista que assistia à reunião entendeu dever fazer uma reportagem sob o pseudônimo de Tony, no Spectateur, hebdomadário de teatros, número de 12 de outubro. Ele começa assim:
“Seduzido pelo anúncio de um sarau espírita, apressei-me em ir ouvir um dos hierofantes mais acreditados dessa ciência... assim classificam os adeptos o Espiritismo. O numeroso auditório esperava com certa ansiedade o desenvolvimento das bases dessa ciência... pois há ciência. O Sr. Allan Kardec, autor dos livros dos Espíritos e dos Médiuns, iria iniciar-nos em terríveis segredos! Movido por um sentimento de curiosidade muito compreensível, e que nada tinha de hostil, esperávamos sair da sessão com uma meia convicção, se o professor, homem de inconteste habilidade, se tivesse dado ao trabalho de expor sua doutrina. O Sr. Allan pensou de modo diverso, o que é lamentável. Não lhe pediam que evocasse Espíritos, mas que pelo menos desse explicações claras ou mesmo elementares para facilitar a experimentação dos profanos.”
Esse começo caracteriza bem o pensamento de alguns ouvintes, que se julgavam espectadores. O termo seduzido diz mais que o resto. O que queriam eram explicações claras para facilitar a experimentação dos profanos. Por outras palavras, uma receita para que cada um, ao chegar em casa, pudesse divertir-se evocando Espíritos.
Segue-se uma tirada sobre a base da doutrina: a caridade, e outras máximas que, diz ele, vêm diretamente do Cristianismo e nada ensinam de novo. Se um dia aquele senhor se der ao trabalho de ler, saberá que jamais o Espiritismo pretendeu trazer aos homens outra moral senão a do Cristo, e que não se dirige aos que a PRATICAM na sua pureza. Mas, como há muitos que não creem nem Deus nem na alma ou nos ensinamentos do Cristo, ou, pelo menos, duvidam, e cuja moral se resume no Cada um por si, provando a existência da alma e da vida futura, o Espiritismo vem dar uma sanção prática e uma necessidade a essa moral. Queremos crer que o Sr. Tony dela não precise; que tenha uma fé viva, uma religião sincera, pois toma a defesa do Cristianismo contra o Espiritismo, posto algumas más línguas o acusem de ser um pouco materialista. Queremos crer, dizíamos, que ele pratica a caridade como verdadeiro cristão; que, a exemplo do Cristo, é suave e humilde; que não tem orgulho, nem vaidade, nem ambição; que é bom e indulgente para com todos, mesmo para com os inimigos; numa palavra, que tem todas as virtudes do divino modelo, mas que no mínimo não aborrece os outros.
Continua ele:
“O Espiritismo tem a pretensão de evocar os Espíritos. É verdade que eles não se submetem a caprichos e exigências. Eles podem, se necessário, revestir um corpo reconhecível, inclusive roupas, e só entram em relação com os médiuns sob a condição de serem envoltos numa camada de fluidos da mesma natureza... e porque não de natureza contrária, como na eletricidade? A ciência do Espiritismo não o explica.”
Leia e verá.
“Não sei se os adeptos se retiraram satisfeitos. Mas, sem a menor dúvida, os ignorantes desejosos de instruir-se nada colheram nessa sessão, a não ser que o Espiritismo não se demonstra. É falta do professor, ou o Espiritismo só desvenda os seus arcanos aos fiéis? Não vo-lo diremos... é obvio.”
TONY
CONCLUSÃO: ─ O Espiritismo não se demonstra.
O Sr. Tony deveria ter explicado claramente ─ já que gosta das explicações claras ─ por que ele é demonstrado a milhões de homens que não são tolos nem ignorantes. Que se dê ao trabalho de estudar e saberá se, como diz, está desejoso de instruir-se. Mas, desde que se julgou no dever de fazer um relatório público de uma reunião que nada tinha de pública, como se fora uma reportagem de um espetáculo onde se vai seduzido pelos cartazes, deveria, para ser imparcial, referir-se às palavras que dissemos no início da reunião.
Seja como for, só temos que nos felicitar pela polidez que presidiu à reunião e aproveitamos este ensejo para dirigir ao eminente funcionário, Sr. La Maison, os nossos agradecimentos pela acolhida cheia de benevolência e de cordialidade, e pela iniciativa de pôr sua sala de visitas à nossa disposição. Pareceu-nos útil provar-lhe, como à elite reunida em sua casa, as tendências morais do Espiritismo e a natureza do ensino que damos nos centros que visitamos.
O Sr. Tony ignora se os adeptos ficaram satisfeitos. Em seu ponto de vista, a sessão não deu resultado. Quanto a nós, preferimos ter deixado nalguns assistentes a impressão de um moralista cacete que a de um realizador de espetáculos. Um fato incontestável é que nem todos participaram de sua opinião. Sem falar dos adeptos que lá se encontravam, e dos quais recebemos calorosos testemunhos de simpatia, citaremos dois senhores que, ao fim da sessão, nos perguntaram se as instruções lidas seriam publicadas, acrescentando que faziam do Espiritismo uma ideia inteiramente falsa, mas que agora o viam de outro modo, compreendiam o lado sério e útil e se propunham estudá-lo profundamente. Já estaríamos satisfeito se esse fosse o único resultado. É barato, dirá o Sr. Tony. Seja. Mas ele ignora que dois grãos que frutificam se multiplicam. Aliás, temos certeza que todos os que semeamos nessa circunstância não ficarão perdidos, e que o vento soprado pelo Sr. Tony terá levado alguns para um terreno fértil.
O Sr. Florentin Blanchard, livreiro de Marennes, entendeu que deveria responder ao artigo do Sr. Tony, por uma carta que foi publicada no Tablettes des deux Charentes de 25 de outubro.
Replica o Sr. Tony, assim concluindo:
“O Espiritismo superexcita prejudicialmente os espíritos crédulos; agrava o estado das mulheres dotadas de grande irritabilidade nervosa e as enlouquece ou as mata, se persistirem nas suas aberrações.
“O Espiritismo é uma doença, e como uma doença ele deve ser combatido. Além do mais, entra no quadro das coisas... malsãs estudadas pela higiene pública e a moral.”
Aqui pilhamos o Sr. Tony em flagrante delito de contradição. No primeiro artigo, acima referido, disse que vinha à sessão “movido por um sentimento de curiosidade muito compreensível e que não tinha nada de hostil”. Como compreender que não fosse hostil a uma coisa que diz ser uma doença, uma coisa malsã, etc.?
Mais adiante ele diz que esperava explicações claras ou mesmo elementares para facilitar a experimentação dos profanos. Como podia ele desejar que fossem iniciados, ele e os profanos, à experimentação de uma coisa que, com ele diz, pode enlouquecer e MATAR? Por que veio? Por que não evitou que seus amigos viessem assistir ao ensino de coisa tão perigosa? Por que lamenta não tenha o ensino correspondido à sua expectativa, nem sido tão completo quanto desejava? Porque, em sua opinião, essa coisa é tão perniciosa, em vez de nos censurar por termos sido pouco explícito, ele deveria ter-nos felicitado por isso.
Outra contradição. Se ele veio à reunião para saber o que é, o que quer e o que pode o Espiritismo; se nos censura por não o termos instruído, é que não o conhecia. Ora, se ele não o estudou, como sabe que é tão perigoso? Então, ele o julga sem conhecimento. Assim, na sua autoridade privada, decide que é uma coisa má, malsã e que pode MATAR, logo depois de declarar que não sabe o que ela é. Isso é linguagem de um homem sério?
Há críticas que de tal modo se refutam a si mesmas que basta as assinalar, sendo supérfluo ligar-lhes importância. Em outras circunstâncias, uma alegação como a de matar, poderia ser acusada de calúnia, pois é levantar uma acusação de extrema gravidade contra nós e contra uma classe hoje imensamente numerosa de homens honradíssimos.
Isto não é tudo. O segundo artigo foi seguido de outros, onde ele desenvolve sua tese. Ora, eis o que se lê no Spectateur de 26 de outubro, por ocasião da primeira carta do Sr. Blanchard:
“A redação do Spectateur recebeu de Marennes, sob a assinatura de Florentin Blanchard, uma carta em resposta ao nosso primeiro artigo, de 12, quando este já estava composto. A redação lamenta que a exiguidade de seu formato não lhe permita abrir suas colunas para uma controvérsia sobre o Espiritismo. A pedido expresso do Spectateur, as Tablettes a publicaram in-extenso.
“Abstemo-nos de aqui responder tempestivamente, e decidimos não ceder, como seu autor, às inspirações de um Espírito inconveniente.
TONY”
Depois de uma segunda carta do Sr. Blanchard, desta vez publicada do Spectateur, lê-se:
“Concedemo-vos hospitalidade com prazer, Sr. Florentin Blanchard, mas seria preciso não abusar. Vossa carta de hoje me acusa de não ter estudado o Espiritismo. Como sabeis? Por certo não quereis discutir senão com iluminados e, a esse título, estou fora do páreo. De acordo. Por que não respondeis, senhor, a algumas proposições que terminam minha última carta, em vez de me acusar vagamente? Esta correspondência prolongada e sem interesse haveis de permitir-me que não continue.
“Retomarei proximamente minha série de artigos sobre o Espiritismo, mas só de tempos em tempos, porque as pequenas dimensões do Spectateur não permitem longos estudos sobre esse assunto burlesco.
“Por mais que façais, senhor, não tomaremos os espíritas a sério e não poderemos considerar o Espiritismo como uma ciência.
TONY”
Assim, tudo está claro: O Sr. Tony quer atacar o Espiritismo, arrastá-lo na lama, qualificá-lo de malsão, dizer que mata, sem contudo dizer quantas pessoas matou, mas não quer controvérsia. Seu jornal é bastante grande para os seus ataques, mas muito pequeno para as réplicas. Falar sozinho é mais cômodo. Ele esqueceu que, em razão da natureza e do caráter de seus ataques, a lei poderia obrigá-lo à inserção de uma resposta de dupla extensão, a despeito da exiguidade de seu jornal.
Com referência às particularidades de nossa excursão, quisemos mostrar que não buscamos nem solicitamos aquela reunião e que, consequentemente, não seduzimos ninguém a vir escutar-nos, por isso tivemos o cuidado de dizer com todas as letras, logo de começo, qual a nossa intenção. Os que não gostassem tinham liberdade de se retirar.
Agora nós nos felicitamos pela circunstância fortuita, ou antes, providencial, que nos levou a ficar, pois que provocou uma polêmica que apenas serve à causa do Espiritismo, dando-o a conhecer pelo que ele é: uma coisa moral, e não pelo que não quer ser: um espetáculo para satisfação dos curiosos; e por dar à crítica, mais uma vez, ocasião de mostrar a lógica de seus argumentos.
Agora, Sr. Tony, mais duas palavras, por favor. Para sustentar publicamente coisas como as que escrevestes, é preciso estar bem seguro dos fatos, e deveis ter a coragem de prová-los.
É muito cômodo discutir sozinho, contudo, não pretendo estabelecer convosco qualquer polêmica. Não tenho tempo para isso e, por outro lado, vosso jornal é muito pequeno para comportar a crítica e a refutação. Assim, seja dito sem vos ofender, sua influência não vai muito longe. Ofereço-vos coisa melhor: vinde a Paris, ante a Sociedade que presido, isto é, perante cento e cinquenta pessoas, sustentar e provar o que afirmais. Se tendes certeza de estar com a verdade, nada deveis recear, e eu vos prometo, sob palavra de honra, que, através da Revista Espírita, vossos argumentos e os efeitos por vós produzidos irão da China ao México, passando por todas as capitais da Europa.
Notai, senhor, que vos faço uma bela proposta, porque não é com a esperança de vos converter, ─ coisa que absolutamente não faz parte dos meus propósitos, ─ que vos faço essa proposição, pois ficareis inteiramente à vontade para conservar as vossas convicções. É para oferecer às vossas ideias contra o Espiritismo, ocasião para um grande desenvolvimento.
Para que saibais a quem ireis enfrentar, dir-vos-ei que a Sociedade se compõe de advogados, negociantes, artistas, homens de letras, cientistas, médicos, capitalistas, bons burgueses, oficiais, artesãos, príncipes, etc., tudo isso entremeado de um certo número de senhoras, o que vos garante uma atitude irreprochável quanto à urbanidade; mas todos atingidos até a medula, como os cinco ou seis milhões de adeptos dessa coisa malsã estudada pela higiene pública e a moral, e que ardentemente deveis desejar curar.
Durante a reunião recebemos outro convite, em termos não menos impositivos, da parte de um alto funcionário e de várias notabilidades da cidade, exprimindo o desejo de uma reunião na noite seguinte, o que determinou novo adiamento de nossa partida. Não teríamos mencionado tais detalhes se não fossem necessários à explicação que nos julgamos obrigados a dar a seguir, em relação a um jornal da localidade.
Nessa última reunião fizemos, ao início da sessão, a seguinte alocução:
“Senhores,
“Posto não tivesse a intenção de passar senão algumas horas em Rochefort, o desejo por vós manifestado para esta reunião me era muito lisonjeiro, sobretudo pela maneira que o convite foi feito, para que dele declinasse.
“Ignoro se todas as pessoas que me honram com sua presença nesta reunião são iniciadas na ciência espírita. Suponho que muitos são ainda noviços na matéria, e poderia, até, encontrar alguns que lhe são hostis.
“Ora, por força da falsa ideia que fazem do Espiritismo aqueles que o desconhecem, ou só o conhecem imperfeitamente, o resultado desta reunião poderia causar algumas decepções àqueles que não encontrassem aquilo que esperavam. Então, devo explicar claramente o meu objetivo, para que não haja mal-entendidos.
“Antes de mais nada, devo informar quanto ao objetivo que me proponho em minhas excursões. Vou unicamente visitar centros espíritas e lhes dar as instruções de que possam necessitar. Entretanto, seria erro pensar que vou pregar a doutrina aos incrédulos.
“O Espiritismo é toda uma ciência que exige estudos sérios, como as outras ciências, e, ainda, numerosas observações. Para desenvolvê-la seria necessário um curso em regra, e um curso de Espiritismo não poderia ser feito em uma ou duas aulas, como não o poderia um curso de Física ou de Astronomia. Para os que ignoram as primeiras noções, sou obrigado a enviá-los à fonte, isto é, ao estudo das obras onde se acham todos os ensinamentos necessários e a resposta à maioria das perguntas que poderiam fazer e que, no mais das vezes, se referem aos princípios mais elementares. É por isso que, em minhas visitas, só me dirijo aos que já sabem, que não necessitam do ABC, mas de ensino complementar.
“Jamais vou fazer o que se chama sessões, nem convocar o público para assistir experiências ou demonstrações e, menos ainda, fazer exibição de Espíritos. Os que esperassem aqui ver coisa semelhante estariam redondamente enganados e devo apressar-me em lhes tirar a ilusão.
“A reunião desta noite é, pois, excepcional e fora de meus hábitos. Pelos motivos acima expostos, não posso ter a pretensão de convencer àqueles que impugnassem as bases dos meus princípios. Só uma coisa desejo: é que, em falta de convicção, compreendam que o Espiritismo é uma coisa séria e digna de atenção, pois atrai a atenção dos homens mais esclarecidos de todos os países.
“Que não o aceitem cegamente e sem exame, é compreensível. Mas seria presunção tomar posição falsa contra uma opinião que conta com seus mais numerosos partidários na elite da Sociedade.
“As pessoas sensatas dizem: Há tantas coisas novas que nos vêm surpreender e que há um século pareceriam absurdas; diariamente assistimos à descoberta de leis novas e à revelação de novas forças da Natureza, que seria ilógico admitir que a Natureza houvesse dito a última palavra. Antes de negar é, então, prudente estudar e observar.
“Para julgar uma coisa é preciso conhecê-la. A crítica só é permissível ao que fala do que sabe. Que seria dito de um homem que, ignorando música, criticasse uma ópera; que ignorando as primeiras noções de literatura, criticasse uma obra literária? Ora! O mesmo se dá com a maioria dos detratores do Espiritismo. Eles julgam com dados incompletos, por vezes até por ouvir dizer. Assim, todas as suas objeções denotam ignorância absoluta da coisa. Só se lhes pode responder: Estudai antes de julgar.
“Como tive a honra de vos dizer, senhores, seria materialmente impossível vos desenvolver todos os princípios da ciência. Quanto a satisfazer à curiosidade de quem quer que seja, há entre vós quem me conheça bastante para saber que jamais representei tal papel. Mas, na impossibilidade de vos expor as coisas em detalhes, talvez seja útil dar-vos a conhecer o fim e as tendências. É o que me proponho fazer. Depois julgareis se o objetivo é sério, e se é permitido censurar.
“Então, peço licença para ler algumas passagens do discurso que pronunciei nas grandes reuniões de Lyon e Bordeaux. Para as pessoas que apenas têm do Espiritismo uma ideia incompleta, sem dúvida a ideia principal fica no estado de hipótese, pois me dirijo a adeptos já instruídos. Esperando, porém, que para vós, as circunstâncias tenham transformado tais hipóteses em verdade, podereis ver as suas consequências, bem como a natureza das instruções que dou, e por aí avaliar o caráter das reuniões a que vou assistir.
“Posso, contudo, dizer do Espiritismo, que nele nada é hipotético. De todos os princípios formulados em O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns, nenhum é produto de um sistema ou de opinião pessoal. Todos, sem exceção, são fruto da experiência e da observação. Eu não poderia reivindicar um só como produto de minha iniciativa. Aquelas obras contêm o que aprendi e não o que criei. Ora, aquilo que aprendi, outros podem aprender, como eu. Mas como eu, devem trabalhar. Eu apenas lhes poupei o esforço dos primeiros trabalhos e das primeiras pesquisas.”
Depois desse preâmbulo, lemos alguns fragmentos do discurso pronunciado em Lyon e Bordeaux, seguidos de algumas explicações, necessariamente muito sumárias, sobre os princípios fundamentais do Espiritismo, entre outras sobre a natureza dos Espíritos e os meios pelos quais se comunicam, preocupando-nos, sobretudo, em ressaltar a influência moral que resulta das manifestações para a conduta na vida futura, e os efeitos dessa certeza durante a vida presente.
Pelo preâmbulo era impossível estabelecer a situação de modo mais claro e melhor precisar o objetivo a que nos propúnhamos, a fim de evitar qualquer equívoco. Tivemos que tomar tal precaução, pois sabíamos que a audiência estava longe de ser homogênea e inteiramente simpática. Isso naturalmente não satisfez aos que esperavam uma sessão do gênero das do Sr. Home.
Polidamente um dos assistentes declarou que não era bem o que ele esperava. Acreditamo-lo sem esforço porque, em vez de exibir coisas curiosas, vínhamos falar de moral. Ele pediu mesmo com tanta insistência que déssemos provas da existência dos Espíritos, que fomos forçado a dizer-lhe que não os tínhamos no bolso para lhe mostrar. Por pouco não nos disse ele: “Procurai bem!”
Um jornalista que assistia à reunião entendeu dever fazer uma reportagem sob o pseudônimo de Tony, no Spectateur, hebdomadário de teatros, número de 12 de outubro. Ele começa assim:
“Seduzido pelo anúncio de um sarau espírita, apressei-me em ir ouvir um dos hierofantes mais acreditados dessa ciência... assim classificam os adeptos o Espiritismo. O numeroso auditório esperava com certa ansiedade o desenvolvimento das bases dessa ciência... pois há ciência. O Sr. Allan Kardec, autor dos livros dos Espíritos e dos Médiuns, iria iniciar-nos em terríveis segredos! Movido por um sentimento de curiosidade muito compreensível, e que nada tinha de hostil, esperávamos sair da sessão com uma meia convicção, se o professor, homem de inconteste habilidade, se tivesse dado ao trabalho de expor sua doutrina. O Sr. Allan pensou de modo diverso, o que é lamentável. Não lhe pediam que evocasse Espíritos, mas que pelo menos desse explicações claras ou mesmo elementares para facilitar a experimentação dos profanos.”
Esse começo caracteriza bem o pensamento de alguns ouvintes, que se julgavam espectadores. O termo seduzido diz mais que o resto. O que queriam eram explicações claras para facilitar a experimentação dos profanos. Por outras palavras, uma receita para que cada um, ao chegar em casa, pudesse divertir-se evocando Espíritos.
Segue-se uma tirada sobre a base da doutrina: a caridade, e outras máximas que, diz ele, vêm diretamente do Cristianismo e nada ensinam de novo. Se um dia aquele senhor se der ao trabalho de ler, saberá que jamais o Espiritismo pretendeu trazer aos homens outra moral senão a do Cristo, e que não se dirige aos que a PRATICAM na sua pureza. Mas, como há muitos que não creem nem Deus nem na alma ou nos ensinamentos do Cristo, ou, pelo menos, duvidam, e cuja moral se resume no Cada um por si, provando a existência da alma e da vida futura, o Espiritismo vem dar uma sanção prática e uma necessidade a essa moral. Queremos crer que o Sr. Tony dela não precise; que tenha uma fé viva, uma religião sincera, pois toma a defesa do Cristianismo contra o Espiritismo, posto algumas más línguas o acusem de ser um pouco materialista. Queremos crer, dizíamos, que ele pratica a caridade como verdadeiro cristão; que, a exemplo do Cristo, é suave e humilde; que não tem orgulho, nem vaidade, nem ambição; que é bom e indulgente para com todos, mesmo para com os inimigos; numa palavra, que tem todas as virtudes do divino modelo, mas que no mínimo não aborrece os outros.
Continua ele:
“O Espiritismo tem a pretensão de evocar os Espíritos. É verdade que eles não se submetem a caprichos e exigências. Eles podem, se necessário, revestir um corpo reconhecível, inclusive roupas, e só entram em relação com os médiuns sob a condição de serem envoltos numa camada de fluidos da mesma natureza... e porque não de natureza contrária, como na eletricidade? A ciência do Espiritismo não o explica.”
Leia e verá.
“Não sei se os adeptos se retiraram satisfeitos. Mas, sem a menor dúvida, os ignorantes desejosos de instruir-se nada colheram nessa sessão, a não ser que o Espiritismo não se demonstra. É falta do professor, ou o Espiritismo só desvenda os seus arcanos aos fiéis? Não vo-lo diremos... é obvio.”
TONY
CONCLUSÃO: ─ O Espiritismo não se demonstra.
O Sr. Tony deveria ter explicado claramente ─ já que gosta das explicações claras ─ por que ele é demonstrado a milhões de homens que não são tolos nem ignorantes. Que se dê ao trabalho de estudar e saberá se, como diz, está desejoso de instruir-se. Mas, desde que se julgou no dever de fazer um relatório público de uma reunião que nada tinha de pública, como se fora uma reportagem de um espetáculo onde se vai seduzido pelos cartazes, deveria, para ser imparcial, referir-se às palavras que dissemos no início da reunião.
Seja como for, só temos que nos felicitar pela polidez que presidiu à reunião e aproveitamos este ensejo para dirigir ao eminente funcionário, Sr. La Maison, os nossos agradecimentos pela acolhida cheia de benevolência e de cordialidade, e pela iniciativa de pôr sua sala de visitas à nossa disposição. Pareceu-nos útil provar-lhe, como à elite reunida em sua casa, as tendências morais do Espiritismo e a natureza do ensino que damos nos centros que visitamos.
O Sr. Tony ignora se os adeptos ficaram satisfeitos. Em seu ponto de vista, a sessão não deu resultado. Quanto a nós, preferimos ter deixado nalguns assistentes a impressão de um moralista cacete que a de um realizador de espetáculos. Um fato incontestável é que nem todos participaram de sua opinião. Sem falar dos adeptos que lá se encontravam, e dos quais recebemos calorosos testemunhos de simpatia, citaremos dois senhores que, ao fim da sessão, nos perguntaram se as instruções lidas seriam publicadas, acrescentando que faziam do Espiritismo uma ideia inteiramente falsa, mas que agora o viam de outro modo, compreendiam o lado sério e útil e se propunham estudá-lo profundamente. Já estaríamos satisfeito se esse fosse o único resultado. É barato, dirá o Sr. Tony. Seja. Mas ele ignora que dois grãos que frutificam se multiplicam. Aliás, temos certeza que todos os que semeamos nessa circunstância não ficarão perdidos, e que o vento soprado pelo Sr. Tony terá levado alguns para um terreno fértil.
O Sr. Florentin Blanchard, livreiro de Marennes, entendeu que deveria responder ao artigo do Sr. Tony, por uma carta que foi publicada no Tablettes des deux Charentes de 25 de outubro.
Replica o Sr. Tony, assim concluindo:
“O Espiritismo superexcita prejudicialmente os espíritos crédulos; agrava o estado das mulheres dotadas de grande irritabilidade nervosa e as enlouquece ou as mata, se persistirem nas suas aberrações.
“O Espiritismo é uma doença, e como uma doença ele deve ser combatido. Além do mais, entra no quadro das coisas... malsãs estudadas pela higiene pública e a moral.”
Aqui pilhamos o Sr. Tony em flagrante delito de contradição. No primeiro artigo, acima referido, disse que vinha à sessão “movido por um sentimento de curiosidade muito compreensível e que não tinha nada de hostil”. Como compreender que não fosse hostil a uma coisa que diz ser uma doença, uma coisa malsã, etc.?
Mais adiante ele diz que esperava explicações claras ou mesmo elementares para facilitar a experimentação dos profanos. Como podia ele desejar que fossem iniciados, ele e os profanos, à experimentação de uma coisa que, com ele diz, pode enlouquecer e MATAR? Por que veio? Por que não evitou que seus amigos viessem assistir ao ensino de coisa tão perigosa? Por que lamenta não tenha o ensino correspondido à sua expectativa, nem sido tão completo quanto desejava? Porque, em sua opinião, essa coisa é tão perniciosa, em vez de nos censurar por termos sido pouco explícito, ele deveria ter-nos felicitado por isso.
Outra contradição. Se ele veio à reunião para saber o que é, o que quer e o que pode o Espiritismo; se nos censura por não o termos instruído, é que não o conhecia. Ora, se ele não o estudou, como sabe que é tão perigoso? Então, ele o julga sem conhecimento. Assim, na sua autoridade privada, decide que é uma coisa má, malsã e que pode MATAR, logo depois de declarar que não sabe o que ela é. Isso é linguagem de um homem sério?
Há críticas que de tal modo se refutam a si mesmas que basta as assinalar, sendo supérfluo ligar-lhes importância. Em outras circunstâncias, uma alegação como a de matar, poderia ser acusada de calúnia, pois é levantar uma acusação de extrema gravidade contra nós e contra uma classe hoje imensamente numerosa de homens honradíssimos.
Isto não é tudo. O segundo artigo foi seguido de outros, onde ele desenvolve sua tese. Ora, eis o que se lê no Spectateur de 26 de outubro, por ocasião da primeira carta do Sr. Blanchard:
“A redação do Spectateur recebeu de Marennes, sob a assinatura de Florentin Blanchard, uma carta em resposta ao nosso primeiro artigo, de 12, quando este já estava composto. A redação lamenta que a exiguidade de seu formato não lhe permita abrir suas colunas para uma controvérsia sobre o Espiritismo. A pedido expresso do Spectateur, as Tablettes a publicaram in-extenso.
“Abstemo-nos de aqui responder tempestivamente, e decidimos não ceder, como seu autor, às inspirações de um Espírito inconveniente.
TONY”
Depois de uma segunda carta do Sr. Blanchard, desta vez publicada do Spectateur, lê-se:
“Concedemo-vos hospitalidade com prazer, Sr. Florentin Blanchard, mas seria preciso não abusar. Vossa carta de hoje me acusa de não ter estudado o Espiritismo. Como sabeis? Por certo não quereis discutir senão com iluminados e, a esse título, estou fora do páreo. De acordo. Por que não respondeis, senhor, a algumas proposições que terminam minha última carta, em vez de me acusar vagamente? Esta correspondência prolongada e sem interesse haveis de permitir-me que não continue.
“Retomarei proximamente minha série de artigos sobre o Espiritismo, mas só de tempos em tempos, porque as pequenas dimensões do Spectateur não permitem longos estudos sobre esse assunto burlesco.
“Por mais que façais, senhor, não tomaremos os espíritas a sério e não poderemos considerar o Espiritismo como uma ciência.
TONY”
Assim, tudo está claro: O Sr. Tony quer atacar o Espiritismo, arrastá-lo na lama, qualificá-lo de malsão, dizer que mata, sem contudo dizer quantas pessoas matou, mas não quer controvérsia. Seu jornal é bastante grande para os seus ataques, mas muito pequeno para as réplicas. Falar sozinho é mais cômodo. Ele esqueceu que, em razão da natureza e do caráter de seus ataques, a lei poderia obrigá-lo à inserção de uma resposta de dupla extensão, a despeito da exiguidade de seu jornal.
Com referência às particularidades de nossa excursão, quisemos mostrar que não buscamos nem solicitamos aquela reunião e que, consequentemente, não seduzimos ninguém a vir escutar-nos, por isso tivemos o cuidado de dizer com todas as letras, logo de começo, qual a nossa intenção. Os que não gostassem tinham liberdade de se retirar.
Agora nós nos felicitamos pela circunstância fortuita, ou antes, providencial, que nos levou a ficar, pois que provocou uma polêmica que apenas serve à causa do Espiritismo, dando-o a conhecer pelo que ele é: uma coisa moral, e não pelo que não quer ser: um espetáculo para satisfação dos curiosos; e por dar à crítica, mais uma vez, ocasião de mostrar a lógica de seus argumentos.
Agora, Sr. Tony, mais duas palavras, por favor. Para sustentar publicamente coisas como as que escrevestes, é preciso estar bem seguro dos fatos, e deveis ter a coragem de prová-los.
É muito cômodo discutir sozinho, contudo, não pretendo estabelecer convosco qualquer polêmica. Não tenho tempo para isso e, por outro lado, vosso jornal é muito pequeno para comportar a crítica e a refutação. Assim, seja dito sem vos ofender, sua influência não vai muito longe. Ofereço-vos coisa melhor: vinde a Paris, ante a Sociedade que presido, isto é, perante cento e cinquenta pessoas, sustentar e provar o que afirmais. Se tendes certeza de estar com a verdade, nada deveis recear, e eu vos prometo, sob palavra de honra, que, através da Revista Espírita, vossos argumentos e os efeitos por vós produzidos irão da China ao México, passando por todas as capitais da Europa.
Notai, senhor, que vos faço uma bela proposta, porque não é com a esperança de vos converter, ─ coisa que absolutamente não faz parte dos meus propósitos, ─ que vos faço essa proposição, pois ficareis inteiramente à vontade para conservar as vossas convicções. É para oferecer às vossas ideias contra o Espiritismo, ocasião para um grande desenvolvimento.
Para que saibais a quem ireis enfrentar, dir-vos-ei que a Sociedade se compõe de advogados, negociantes, artistas, homens de letras, cientistas, médicos, capitalistas, bons burgueses, oficiais, artesãos, príncipes, etc., tudo isso entremeado de um certo número de senhoras, o que vos garante uma atitude irreprochável quanto à urbanidade; mas todos atingidos até a medula, como os cinco ou seis milhões de adeptos dessa coisa malsã estudada pela higiene pública e a moral, e que ardentemente deveis desejar curar.
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