Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1863

Versão para cópia
Capítulo XCIV

Outubro - Sermões sobre o Espiritismo

Outubro
Pregados na Catedral de Metz, a 27, 28 e 29 de maio de 1863, pelo rev. Pe. Letierce, da Companhia de Jesus. Refutados por um Espírita de Metz e precedidos de considerações sobre a loucura espírita. *

Sentimo-nos sempre felizes ao ver adeptos sérios entrando na liça quando à lógica da argumentação aliam a calma e a moderação, das quais nunca nos devemos afastar, mesmo contra os que não usam os mesmos processos a nosso respeito. Felicitamos o autor deste opúsculo por ter sabido reunir essas duas qualidades em seu trabalho muito interessante e muito consciencioso, que será, não temos dúvida, acolhido com a consideração que merece. A carta inserida na introdução da brochura é um testemunho de simpatia que não poderíamos reconhecer melhor do que a transcrevendo textualmente, pois é uma prova da maneira pela qual ele compreende a doutrina, bem como os pensamentos seguintes, que toma por epígrafe:

“Cremos que há fatos que não são visíveis ao olho nem tangíveis à mão; que nem o escalpelo nem o microscópio podem atingir, por mais perfeitos que os suponhamos; que igualmente escapam ao gosto, ao olfato e ao ouvido e que entretanto são susceptíveis de constatação com uma certeza absoluta. (Ch. Jouffroy. Prefácio das Esquisses de philosophie morale, pág. 5).

“Não creiais em todo Espírito, mas ponde-os à prova, para ver se são de Deus.” (Evangelho).



“Senhor e caro mestre,

“Dignar-vos-íeis aceitar a dedicatória desta modesta defesa do Espiritismo, deste grito de indignação contra os ataques dirigidos contra nossa sublime moral?

“Seria para mim o mais evidente testemunho de que estas páginas são ditadas com o mesmo espírito de moderação que diariamente admiramos em vossos escritos, e que deveria guiar-nos em todas as nossas lutas. Aceitai-o como o ingênuo ensaio de um dos vossos recentes adeptos; como a profissão de fé de um verdadeiro crente.

“Se meus esforços forem felizes, atribuirei o seu sucesso ao vosso alto patrocínio; se minha voz inábil não encontrar eco, ao Espiritismo não faltarão outros defensores, e eu terei para mim, com a satisfação da minha consciência, a felicidade de ter sido aprovado pelo apóstolo imortal de nossa filosofia.”

Extraímos da brochura a passagem seguinte, de um dos sermões do Rev. Pe. Letierce, a fim de dar uma ideia da força de sua lógica.

“Nada há de chocante para a razão em admitir, num certo limite, a comunicação dos Espíritos dos mortos com os vivos. Tal comunicação é perfeitamente compatível com a natureza da alma humana, do que numerosos exemplos seriam encontrados no Evangelho e na Vida dos Santos. Mas eles eram santos, eram apóstolos.

“Para nós, pobres pecadores que, na rampa escorregadia da corrupção, muitas vezes só teríamos necessidade de uma mão socorrista para nos reconduzir ao bem, não é um sacrilégio, um insulto à justiça divina ir pedir aos bons Espíritos que Deus espalhou em redor de nós, conselhos e preceitos para a nossa instrução moral e filosófica? Não é uma audácia ímpia pedir ao Criador que nos envie anjos guardiães para incessantemente nos lembrarem a observação de suas leis, a caridade, o amor aos nossos semelhantes e nos ensinar o que devemos fazer, na medida de nossas forças, para chegar o mais rapidamente possível a esse grau de perfeição que eles próprios atingiram?

“Esse apelo que fazemos às almas dos justos, em nome da bondade de Deus, só é ouvido pelas almas dos maus, em nome das potências infernais. Sim, os Espíritos se comunicam conosco, mas são os Espíritos dos condenados. Suas comunicações e seus preceitos são, é verdade, tais que nos poderiam ditar os anjos mais puros. Todos os seus discursos respiram as mais sublimes virtudes, das quais as menores devem ser para nós um ideal de perfeição que dificilmente podemos atingir nesta vida, mas é apenas uma cilada para melhor nos atrair; um o mel cobrindo o veneno com que o demônio quer matar nossa alma.

“Com efeito, as almas dos mortos, segundo Allan Kardec, são de três classes: as que chegaram ao estado de puros Espíritos, as que estão no caminho da perfeição e as almas dos maus.

“As primeiras, por sua própria natureza, não podem vir ao nosso apelo. Seu estado de pureza impossibilita qualquer comunicação com as dos homens, encerradas em tão grosseiro envoltório. Aliás, que viriam fazer na Terra? Pregar exortações que não poderíamos compreender?

“As segundas têm muito que trabalhar o seu aperfeiçoamento moral para perder tempo vindo conversar conosco. Também não são elas que nos assistem em nossas reuniões.

“O que resta, então, para nós? Como eu disse, restam as almas dos condenados, e estas pelo menos não se fazem de rogadas para vir. Inteiramente dispostas a aproveitar o nosso erro e a nossa necessidade de instrução, elas vêm em multidão junto a nós, para nos arrastar com elas ao abismo onde as mergulhou a justa punição de Deus.”


______________________________________
* Brochura in-18. – Preço 1 franco; pelo correio 1,10 franco – Paris: Didier & Cia., Ledoyen; - Metz: Linden, Verronnais, livrarias.






Acima, está sendo listado apenas o item do capítulo 94.
Para visualizar o capítulo 94 completo, clique no botão abaixo:

Ver 94 Capítulo Completo
Este texto está incorreto?