Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1865

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Capítulo XXVII

Abril - Manifestações espontâneas em Marselha

Abril
Manifestações espontâneas em Marselha

As manifestações de Poitiers neste momento têm sua réplica em Marselha. Há de concluir-se que os assim chamados brincalhões que abalaram a primeira cidade sem serem descobertos, se transportaram para a segunda, onde também não os descobrem? É preciso convir que são mistificadores muito hábeis, para assim frustrarem as pesquisas da polícia e de todos quantos se interessaram em descobrilos.

A Gazette du Midi de 5 de março traz a respeito desse assunto esta curta notícia:

“Durante o dia de sexta-feira, o bairro Chave estava abalado, e no boulevard com esse nome, numerosos grupos estacionavam perto da casa n.º 80. Corria o rumor de que naquela casa passavam-se cenas estranhas, que tinham posto em fuga os moradores do imóvel enfeitiçado. Diziam que fantasmas passeavam por ali; a certa hora são ouvidos ruídos estranhos e mãos invisíveis fazem os móveis se entrechocarem, bem como as baixelas e as baterias de cozinha. Foi necessária a intervenção da polícia para manter a ordem no seio desses grupos, que aumentavam a cada instante. A propósito, o que há de razoável para dizer, ao que parece, é que a casa de que se trata não oferece toda a solidez requerida, sobre um terreno minado pelas águas. Alguns estalos ouvidos e transformados pelo medo em artes de feitiçaria, terão motivado rumores que não tardarão a dissipar-se.”

CAUVIÈRE


Eis o relato circunstanciado que nos é transmitido pelo Dr. Chavaux, de Marselha, em data de 14 de março:

“Há uns quinze dias, tive a honra de vos dar alguns detalhes sobre as manifestações que se produzem, há mais de um mês, na casa nº. 80 do Boulevard Chave. Só dizia o que tinha ouvido dizer; hoje venho dizer o que eu mesmo vi e ouvi.

“Tendo obtido permissão de visitar a casa. Lá fui sexta-feira, 10 de março, ao apartamento do primeiro andar, ocupado pela Sra. A... e suas duas filhas, uma de oito anos e outra de dezesseis. Exatamente à uma hora, houve uma viva detonação na própria casa, seguida de nove outras, no espaço de três quartos de hora. À segunda detonação, que parecia partir do interior da peça onde estávamos, vi formarse um leve vapor e depois se fez sentir um pronunciado cheiro de pólvora. Tendo entrado a Sra. R... à oitava detonação, disse que havia um cheiro de pólvora. Isto me deu prazer, porque me provava que não era coisa da minha imaginação.

“Segunda-feira, dia 13, fui novamente à casa, às oito e meia da noite. Às nove horas ouviu-se a primeira detonação, e no espaço de uma hora houve trinta e oito. Disse a Sra. C...: ‘Se estes ruídos são produzidos por Espíritos, que façam mais dois, totalizando quarenta.’ No mesmo momento as duas detonações foram ouvidas, uma seguida da outra, com um barulho assustador. Olhamo-nos todos com surpresa e mesmo pavor. A Sra. C... disse ainda: ‘Começo a compreender que há Espíritos neste negócio; para me convencer completamente, queria que os Espíritos batessem ainda dez vezes, o que faria cinquenta.’ As dez detonações ocorreram em menos de um quarto de hora.

“Esses ruídos por vezes têm a força de um tiro de canhão de pequeno calibre, dado numa casa; as portas e janelas se abalaram, bem como as paredes e o piso; os objetos pendurados nas paredes foram vivamente agitados; dir-se-ia que a casa se abala de todos os lados e vai cair, mas não acontece nada disso. Depois do tiro, não há a menor fenda, nada está estragado e tudo entra na calma ordinária. Esses disparos às vezes se dão com intervalos de um a cinco minutos, outras vezes até seis disparos são feitos um imediatamente após o outro. A polícia fez uma aparição e nada descobriu.

“Eis, caro mestre, toda a verdade e a mais exata verdade. “Recebei, etc.

“CHAVAUX, D. M. P.

“Rua du Petit Saint-Jean, 24.”


Uma outra carta, de 17 de março, contém o seguinte:

“Ontem passamos parte da noite na casa do Boulevard Chave, nº 80. A reunião era composta de sete pessoas. As detonações começaram às onze horas, e no intervalo de dez minutos contamos vinte e duas. Podemos compará-las às de um canhão pequeno. Podia-se ouvi-las a uma grande distância da casa. Essa casa está em muito boas condições de solidez, contrariamente ao que diz a Gazette du Midi.

“Disseram-me que ontem à noite ocorreram quatro detonações numa outra casa do mesmo boulevard, e que eram mais fortes que as primeiras.

“Recebei, etc.

“CARRIER.”


Dirão que a causa está inteiramente descoberta: vê-se a fumaça e sente-se o cheiro da pólvora, e não se adivinham os meios empregados pelos mistificadores?

─ Parece-nos que mistificadores se servem de pólvora para produzir, durante mais de um mês, semelhantes detonações no próprio apartamento onde se encontram as testemunhas; que têm a complacência de repeti-las segundo o desejo que lhes é expresso. Não devem estar nem muito longe nem muito escondidos. Por que, então, não foram descobertos?

─ Mas então, de onde vem esse cheiro de pólvora?

─ Isto é outra questão que será tratada a seu tempo. Enquanto se espera, os ruídos são um fato e o fato tem uma causa. Ireis atribuí-la à malevolência? Então procurai os malfeitores.



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