Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1865

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Capítulo XXXVI

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O fumo e a loucura

Lê-se no Siècle de 15 de abril último:

“Os casos de paralisia e de alienação mental aumentam na França, em razão direta da arrecadação de impostos sobre o tabaco. De 1812 a 1832, os recursos trazidos ao orçamento pelo imposto sobre o fumo chegava a 28 milhões, e os hospícios de alienados contavam 8:000 insanos. Hoje a cifra do imposto atinge 180 milhões e contam-se 44.000 alienados ou paralíticos nos hospitais especiais.

“Essas comparações, fornecidas pelo Sr. Jolly na última sessão da Academia de Ciências, devem fazer refletir os amantes dos vapores nicotinizados. O Sr. Jolly terminou seu estudo por esta frase ameaçadora para a geração atual: “O uso imoderado do tabaco, sobretudo do cachimbo, ocasiona uma debilidade no cérebro e na medula espinhal, de onde resulta a loucura.”

Se ainda fosse preciso refutar, depois de tudo quanto foi dito, as alegações dos que pretendem que o Espiritismo enche as casas de alienados, estas cifras forneceriam um argumento sem réplica, porque não só repousam sobre um fato material e um princípio científico lógico, mas constatam que o crescimento do número de alienados remonta a mais de vinte anos antes que se cogitasse do Espiritismo. Ora, não é lógico admitir que o efeito tenha precedido a causa. Os espíritas não estão ao abrigo das causas materiais que podem afetar o cérebro, como dos acidentes que podem quebrar braços e pernas. Não é, pois, de admirar que haja espíritas entre os loucos. Mas, ao lado das causas materiais, há causas morais. É contra estas que os espíritas têm um poderoso preservativo, em suas crenças. Se, pois, um dia for possível ter uma estatística exata, conscienciosa, feita sem prevenções, dos casos de loucura por causas morais, ver-se-á incontestavelmente o número diminuir com o desenvolvimento do Espiritismo. Ele diminuirá igualmente o número dos casos ocasionados pelos excessos e abuso de bebidas alcoólicas, mas não impedirá a febre ardente acompanhada de delírio e muitas outras causas de distúrbios da razão.

É notório que tais homens de letras de renome morreram loucos em consequência do uso imoderado do absinto, cujos efeitos deletérios sobre o cérebro e a medula espinhal estão hoje demonstrados. Se esses homens se tivessem ocupado do Espiritismo, não deixariam de afirmar que ele teria sido responsável por isso. Quanto a nós, não receamos afirmar que se dele se tivessem ocupado seriamente, teriam sido mais moderados em tudo, e não se teriam exposto a essas tristes consequências da intemperança. Um paralelo semelhante ao que faz o Sr. Jolly poderia, com tanta razão, e talvez mais, ser feito entre a proporção de alienados e o consumo de absinto.

Mas eis outra causa assinalada pelo Siècle de 21 de abril, no fato seguinte. Lê-se no Droit:

“Joséphine-Sophie D..., de dezenove anos, operária polidora, residente com os pais na Rua Bourbon-Villeneuve, dava-se com ardor incrível à leitura de romances que encerram as publicações ditas populares a cinco cêntimos. Os sentimentos exagerados, os caracteres arrebatados, os acontecimentos inverossímeis de que geralmente essas obras estão cheias, tinham influído de maneira prejudicial sobre sua inteligência. Ela se julgava chamada aos mais altos destinos. Seus pais, que, numa posição pouco folgada, tinham feito sacrifícios para lhe dar instrução, aos seus olhos não passavam de pobres criaturas, incapazes de compreendê-la e de elevar-se até a esfera que ela aspirava.

“Há muito tempo Sophie entregava-se a esses pensamentos romanescos. Vendo, enfim, que nenhum ser sobrenatural se ocupava dela e que sua vida devia escoar-se, como a das outras operárias, em meio ao trabalho e aos cuidados da família, ela resolveu pôr fim aos seus dias, sem dúvida esperando que no outro mundo os seus sonhos se realizassem.

“Ontem pela manhã, como se admirassem de não vê-la aparecer à hora em que devia entrar no trabalho, sua jovem irmã foi chamá-la. Abrindo a porta, foi tomada de um tremor nervoso, ao ver Sophie enforcada, pendurada no gancho que sustentava o espaldar de seu leito. Chamou os pais, que correram e se apressaram em cortar a corda, mas todas as tentativas para chamar a filha à vida foram infrutíferas.”

Eis, pois, um caso de loucura e suicídio causado por aqueles mesmos que acusam o Espiritismo de povoar os hospícios. Os romances podem, pois, exaltar a imaginação a tal ponto que a razão fique perturbada? Poder-se-ia citar bom número de casos semelhantes, sem contar os loucos feitos pelo medo do diabo sobre os espíritos fracos. Mas veio o Espiritismo e cada um se apressou em fazer dele o bode expiatório de seus próprios malefícios.



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