Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1865
Versão para cópiaCapítulo LXXXII
Novembro - O Espiritismo e a cólera
Novembro
O Espiritismo e a cólera
Sabemos de que acusações eram vítimas os primeiros cristãos em Roma. Não havia crimes de que não fossem capazes, nem desgraças públicas de que, no dizer de seus inimigos, eles não fossem os autores voluntários ou a causa involuntária, porque sua influência era perniciosa. Daqui a uns séculos teremos dificuldade em crer que espíritos fortes do século dezenove tenham tentado ressuscitar essas ideias a respeito dos espíritas, declarando-os autores de todas as perturbações da Sociedade, comparando sua doutrina à peste, e estimulando a persegui-los. Isto é história impressa; estas palavras caíram de mais de um cátedra evangélica, mas, o que é mais surpreendente, é que as encontramos nos jornais, que dizem falar em nome da razão e se arvoram em campeões de todas as liberdades e, em particular, da liberdade de consciência. Já possuímos uma curiosíssima coleção de amenidades desse gênero, que nos propomos mais tarde reunir em volume, para maior glória de seus autores e edificação da posteridade. Seremos, pois, reconhecido aos que nos ajudarem a enriquecer essa coleção, enviando-nos tudo o que, em seu conhecimento, apareceu ou aparecer a respeito. Comparando esses documentos da história do Espiritismo com os da história dos primeiros séculos da Igreja, ficaremos surpresos de aí encontrar pensamentos e expressões idênticas. Só falta uma coisa: as feras do circo, o que, não obstante, é um progresso.
Sendo, pois, o Espiritismo uma peste eminentemente contagiosa, porquanto, segundo a confissão de seus adversários, ela invade com terrível rapidez todas as classes da Sociedade, ele tem uma certa analogia com a cólera. Assim, nesta última batalha, certos críticos facciosamente o chamaram de Spirito-morbus; nada haveria de surpreendente se o acusassem de haver importado o flagelo, porque observa-se que dois campos diametralmente opostos se dão as mãos para combatê-lo. Em um, ao que nos disseram, mandaram cunhar uma medalha com a efígie de São Bento, que basta usar para se preservar do contágio espírita. Não nos disseram se tal meio cura os que foram contagiados.
Certamente há uma analogia entre o Espiritismo e a cólera. É o medo que ambos causam a certas pessoas. Mas consideremos a coisa de um ponto de vista mais sério. Eis o que nos escrevem de Constantinopla:
“...Os jornais vos informaram do rigor com que o terrível flagelo acaba de açoitar nossa cidade e seus subúrbios, já atenuando sua devastação. Algumas pessoas, dizendo-se bem informadas, elevam o número dos coléricos mortos a 70 mil, e outros a quase cem mil. De qualquer modo, fomos rudemente provados, e podeis imaginar as dores e o luto geral de nossas populações. É sobretudo nestes tristes momentos de epidemia espantosa que a fé e a crença espírita dão coragem. Acabamos todos de dar a mais verídica das provas. Quem sabe se não devemos a essa calma da alma, a essa persuasão da imortalidade, a essa certeza das existências sucessivas, em que os seres são compensados segundo o seu mérito e seu grau de adiantamento; quem sabe, digo eu, se não é por essas crenças, bases de nossa bela doutrina, que nós todos, espíritas de Constantinopla, que somos, como sabeis, bastante numerosos, devemos ter sido preservados do flagelo que se espalhou e ainda se espalha em torno de nós! Digo isto principalmente porque foi constatado, aqui e alhures, que o medo é o predisponente mais perigosos da cólera, como a ignorância infelizmente se torna uma fonte de contágio...
“REPOS FILHO, advogado.”
Sendo, pois, o Espiritismo uma peste eminentemente contagiosa, porquanto, segundo a confissão de seus adversários, ela invade com terrível rapidez todas as classes da Sociedade, ele tem uma certa analogia com a cólera. Assim, nesta última batalha, certos críticos facciosamente o chamaram de Spirito-morbus; nada haveria de surpreendente se o acusassem de haver importado o flagelo, porque observa-se que dois campos diametralmente opostos se dão as mãos para combatê-lo. Em um, ao que nos disseram, mandaram cunhar uma medalha com a efígie de São Bento, que basta usar para se preservar do contágio espírita. Não nos disseram se tal meio cura os que foram contagiados.
Certamente há uma analogia entre o Espiritismo e a cólera. É o medo que ambos causam a certas pessoas. Mas consideremos a coisa de um ponto de vista mais sério. Eis o que nos escrevem de Constantinopla:
“...Os jornais vos informaram do rigor com que o terrível flagelo acaba de açoitar nossa cidade e seus subúrbios, já atenuando sua devastação. Algumas pessoas, dizendo-se bem informadas, elevam o número dos coléricos mortos a 70 mil, e outros a quase cem mil. De qualquer modo, fomos rudemente provados, e podeis imaginar as dores e o luto geral de nossas populações. É sobretudo nestes tristes momentos de epidemia espantosa que a fé e a crença espírita dão coragem. Acabamos todos de dar a mais verídica das provas. Quem sabe se não devemos a essa calma da alma, a essa persuasão da imortalidade, a essa certeza das existências sucessivas, em que os seres são compensados segundo o seu mérito e seu grau de adiantamento; quem sabe, digo eu, se não é por essas crenças, bases de nossa bela doutrina, que nós todos, espíritas de Constantinopla, que somos, como sabeis, bastante numerosos, devemos ter sido preservados do flagelo que se espalhou e ainda se espalha em torno de nós! Digo isto principalmente porque foi constatado, aqui e alhures, que o medo é o predisponente mais perigosos da cólera, como a ignorância infelizmente se torna uma fonte de contágio...
“REPOS FILHO, advogado.”
Certamente seria absurdo crer que a fé espírita seja um atestado de garantia contra a cólera. Mas como está cientificamente reconhecido que o medo, enfraquecendo, ao mesmo tempo, o moral e o físico, torna mais impressionável e mais susceptível de ser atingido pelas moléstias contagiosas, é evidente que toda causa tendente a fortificar o moral é um preservativo. Isto hoje é tão bem compreendido que se evita, tanto quanto possível, quer nos relatórios, quer nas disposições materiais, aquilo que pode ferir a imaginação por um aspecto lúgubre.
Sem dúvida os espíritas podem morrer de cólera, como todo mundo, porque seu corpo não é mais imortal que o dos outros e porque, quando chega a hora, há que partir, por esta ou aquela causa. A cólera é uma das causas que só tem de particular levar um maior número de pessoas ao mesmo tempo, o que produz maior sensação. Parte-se em massa, em vez de isoladamente, eis a diferença. Mas a certeza que eles têm do futuro, e sobretudo o conhecimento desse futuro, que responde a todas as suas aspirações e satisfaz à razão, fazem que absolutamente não lamentem deixar a Terra, onde se consideram como em passageiro exílio. Enquanto em presença da morte o incrédulo só vê o nada, ou pergunta o que vai ser de si, o espírita sabe que, se morrer, apenas será despojado de um envoltório material sujeito aos sofrimentos e às vicissitudes da vida, mas que continuará sendo ele mesmo com um corpo etéreo inacessível à dor; que desfrutará de percepções novas e de maiores faculdades; que vai reencontrar os que amou e que o esperam no sólio da verdadeira vida, da vida imperecível. Quanto aos bens materiais, sabe que deles não mais necessita, e que os prazeres que eles proporcionam serão substituídos por outros mais puros e invejáveis, que não deixam atrás de si nem amarguras nem pesares. Assim, abandona-os sem esforço e com alegria, e lamenta aqueles que, ficando depois de si na Terra, ainda vão deles precisar. É como aquele que, tornando-se rico, deixa seus trapos velhos aos infelizes. Assim, ao deixar os amigos, lhes diz: Não me lastimeis; não choreis minha morte; antes felicitai-me por me ver livre das preocupações da vida e por entrar no mundo radioso onde vos esperarei.
Quem quer que tenha lido e meditado nossa obra O Céu e o Inferno segundo o Espiritismo, sobretudo o capítulo sobre as apreensões da morte, compreenderá a força moral que os espíritas adquirem em sua crença, em presença do flagelo que dizima as populações.
Segue-se que vão negligenciar as precauções necessárias em casos semelhantes e baixar a cabeça diante do perigo? Absolutamente não. Eles tomarão todas aquelas que são aconselhadas pela prudência e por uma higiene racional, porque não são fatalistas e porque, se não temem a morte, sabem que não devem procurá-la. Ora, desprezar as medidas sanitárias que podem preservá-los seria um verdadeiro suicídio, cujas consequências conhecem muito bem para a ele se exporem. Consideram como um dever velar pela saúde do corpo, porque a saúde é necessária à realização dos deveres sociais. Se buscam prolongar a vida corporal, não é por apego à Terra, mas para ter mais tempo para progredir, melhorar-se, depurar-se, despojar-se do homem velho e adquirir maior soma de méritos para a vida espiritual. Mas se, a despeito de todos os cuidados, devem sucumbir, tomam o seu partido sem queixa, sabendo que todo progresso tem os seus frutos, que nada do que se adquire em moralidade e em inteligência fica perdido, e que se não se desmereceram aos olhos de Deus, serão sempre melhores no outro mundo do que neste, mesmo que não tenham o primeiro lugar. Eles apenas dizem: Vamos um pouco mais cedo para onde iríamos um pouco mais tarde.
Crê-se que com tais pensamentos não se esteja em melhores condições de tranquilidade de espírito recomendadas pela ciência? Para o incrédulo ou para aquele que duvida, a morte tem todos os seus terrores, porque ele perde tudo e nada espera. Que pode dizer um médico materialista para acalmar nos doentes o medo do morrer? Nada senão o que um dia dizia um deles a um pobre diabo que tremia à simples palavra cólera: “Bah! Enquanto não estamos mortos, há esperança; depois, em definitivo, só morremos uma vez, e logo a coisa passa; quando estamos mortos, tudo está acabado; não sofremos mais.” Tudo está acabado quando se está morto, eis o supremo consolo que ele dá.
Ao contrário, o médico espírita diz ao que vê a morte à sua frente: “Meu amigo, vou empregar todos os recursos da Ciência para vos restabelecer a saúde e vos conservar o maior tempo possível. Nós conseguiremos, assim espero. Mas a vida do homem está nas mãos de Deus, que nos chama quando terminada nossa prova aqui em baixo. Se a hora de vossa libertação tiver chegado, rejubilai-vos, como o prisioneiro que vai sair da sua prisão. A morte nos desembaraça do corpo que nos faz sofrer e nos leva à verdadeira vida, vida isenta de perturbações e misérias. Se deveis partir, não penseis que estejais perdido para os vossos parentes e amigos que ficam depois de vós. Não, não estareis menos no meio deles; vê-los-eis e os ouvireis melhor do que podeis fazê-lo neste momento. Vós os aconselhareis, os dirigireis, os inspirareis para o bem. Se, pois, aprouver a Deus vos chamar a si, agradecei-lhe por vos dar a liberdade; se ele prolongar a vossa estada aqui, agradecei-lhe por vos dar tempo de acabar a vossa tarefa. Na dúvida, submetei-vos sem murmúrio à sua santa vontade.”
Tais palavras não são adequadas a trazer serenidade à alma, e esta serenidade não secunda a eficácia dos remédios, ao passo que a perspectiva do nada mergulha o moribundo na ansiedade do desespero?
Além desta influência moral, o Espiritismo tem outra mais material. Sabe-se que os excessos de toda sorte são uma das causas que mais predispõem aos ataques da epidemia reinante. Assim, os médicos recomendam sobriedade em tudo, prescrição salutar à qual muita gente tem dificuldade de submeter-se. Admitindo que o façam, é sem dúvida um ponto importante, mas acredita-se que uma abstenção momentânea possa reparar instantaneamente as desordens orgânicas causadas por abusos inveterados, degenerados pelo hábito, que estragaram o corpo e, por isso mesmo, o tornaram acessível aos miasmas deletérios? Fora da cólera, não se sabe quanto o hábito da intemperança é pernicioso nos climas tórridos, e naqueles onde a febre amarela é endêmica? Pois bem! Por força de suas crenças e da maneira de encarar o objetivo da vida presente e o resultado da vida futura, o espírita modifica completamente os seus hábitos. Em vez de viver para comer, come para viver; não pratica excessos; não vive como cenobita; assim, usa de tudo, mas não abusa de nada. Isto deve ser, certamente, uma consideração preponderante a acrescentar à que faz valer o nosso correspondente de Constantinopla.
Eis, pois, um dos resultados desta doutrina, sobre a qual a incredulidade lança a injúria e o sarcasmo, escarnece, taxa de loucura e, segundo ela, traz a perturbação à Sociedade. Mantende a vossa incredulidade, se ela vos apraz, mas respeitai uma crença que torna felizes e melhores os que a possuem. Se é uma loucura crer que nem tudo acaba com a vida; que depois da morte vivemos uma vida melhor, isenta de preocupações; que voltamos ao meio daqueles que amamos; ou ainda crer que depois da morte não somos mergulhados nas chamas eternas sem esperança de sair de lá, o que não valeria mais do que o nada, nem perdidos na ociosa e beata contemplação do infinito, aprouvesse a Deus que todos os homens fossem loucos desta maneira, pois haveria entre eles muito menos crimes e suicídios.
Numerosas comunicações foram dadas sobre a cólera; várias o foram na Sociedade de Paris ou no nosso círculo íntimo. Apenas reproduzimos duas, fundidas numa só, para evitar as repetições, e porque resumem o pensamento dominante da maioria.
(Sociedade de Paris ─ Médiuns: Srs. Desliens e Morin)
Sem dúvida os espíritas podem morrer de cólera, como todo mundo, porque seu corpo não é mais imortal que o dos outros e porque, quando chega a hora, há que partir, por esta ou aquela causa. A cólera é uma das causas que só tem de particular levar um maior número de pessoas ao mesmo tempo, o que produz maior sensação. Parte-se em massa, em vez de isoladamente, eis a diferença. Mas a certeza que eles têm do futuro, e sobretudo o conhecimento desse futuro, que responde a todas as suas aspirações e satisfaz à razão, fazem que absolutamente não lamentem deixar a Terra, onde se consideram como em passageiro exílio. Enquanto em presença da morte o incrédulo só vê o nada, ou pergunta o que vai ser de si, o espírita sabe que, se morrer, apenas será despojado de um envoltório material sujeito aos sofrimentos e às vicissitudes da vida, mas que continuará sendo ele mesmo com um corpo etéreo inacessível à dor; que desfrutará de percepções novas e de maiores faculdades; que vai reencontrar os que amou e que o esperam no sólio da verdadeira vida, da vida imperecível. Quanto aos bens materiais, sabe que deles não mais necessita, e que os prazeres que eles proporcionam serão substituídos por outros mais puros e invejáveis, que não deixam atrás de si nem amarguras nem pesares. Assim, abandona-os sem esforço e com alegria, e lamenta aqueles que, ficando depois de si na Terra, ainda vão deles precisar. É como aquele que, tornando-se rico, deixa seus trapos velhos aos infelizes. Assim, ao deixar os amigos, lhes diz: Não me lastimeis; não choreis minha morte; antes felicitai-me por me ver livre das preocupações da vida e por entrar no mundo radioso onde vos esperarei.
Quem quer que tenha lido e meditado nossa obra O Céu e o Inferno segundo o Espiritismo, sobretudo o capítulo sobre as apreensões da morte, compreenderá a força moral que os espíritas adquirem em sua crença, em presença do flagelo que dizima as populações.
Segue-se que vão negligenciar as precauções necessárias em casos semelhantes e baixar a cabeça diante do perigo? Absolutamente não. Eles tomarão todas aquelas que são aconselhadas pela prudência e por uma higiene racional, porque não são fatalistas e porque, se não temem a morte, sabem que não devem procurá-la. Ora, desprezar as medidas sanitárias que podem preservá-los seria um verdadeiro suicídio, cujas consequências conhecem muito bem para a ele se exporem. Consideram como um dever velar pela saúde do corpo, porque a saúde é necessária à realização dos deveres sociais. Se buscam prolongar a vida corporal, não é por apego à Terra, mas para ter mais tempo para progredir, melhorar-se, depurar-se, despojar-se do homem velho e adquirir maior soma de méritos para a vida espiritual. Mas se, a despeito de todos os cuidados, devem sucumbir, tomam o seu partido sem queixa, sabendo que todo progresso tem os seus frutos, que nada do que se adquire em moralidade e em inteligência fica perdido, e que se não se desmereceram aos olhos de Deus, serão sempre melhores no outro mundo do que neste, mesmo que não tenham o primeiro lugar. Eles apenas dizem: Vamos um pouco mais cedo para onde iríamos um pouco mais tarde.
Crê-se que com tais pensamentos não se esteja em melhores condições de tranquilidade de espírito recomendadas pela ciência? Para o incrédulo ou para aquele que duvida, a morte tem todos os seus terrores, porque ele perde tudo e nada espera. Que pode dizer um médico materialista para acalmar nos doentes o medo do morrer? Nada senão o que um dia dizia um deles a um pobre diabo que tremia à simples palavra cólera: “Bah! Enquanto não estamos mortos, há esperança; depois, em definitivo, só morremos uma vez, e logo a coisa passa; quando estamos mortos, tudo está acabado; não sofremos mais.” Tudo está acabado quando se está morto, eis o supremo consolo que ele dá.
Ao contrário, o médico espírita diz ao que vê a morte à sua frente: “Meu amigo, vou empregar todos os recursos da Ciência para vos restabelecer a saúde e vos conservar o maior tempo possível. Nós conseguiremos, assim espero. Mas a vida do homem está nas mãos de Deus, que nos chama quando terminada nossa prova aqui em baixo. Se a hora de vossa libertação tiver chegado, rejubilai-vos, como o prisioneiro que vai sair da sua prisão. A morte nos desembaraça do corpo que nos faz sofrer e nos leva à verdadeira vida, vida isenta de perturbações e misérias. Se deveis partir, não penseis que estejais perdido para os vossos parentes e amigos que ficam depois de vós. Não, não estareis menos no meio deles; vê-los-eis e os ouvireis melhor do que podeis fazê-lo neste momento. Vós os aconselhareis, os dirigireis, os inspirareis para o bem. Se, pois, aprouver a Deus vos chamar a si, agradecei-lhe por vos dar a liberdade; se ele prolongar a vossa estada aqui, agradecei-lhe por vos dar tempo de acabar a vossa tarefa. Na dúvida, submetei-vos sem murmúrio à sua santa vontade.”
Tais palavras não são adequadas a trazer serenidade à alma, e esta serenidade não secunda a eficácia dos remédios, ao passo que a perspectiva do nada mergulha o moribundo na ansiedade do desespero?
Além desta influência moral, o Espiritismo tem outra mais material. Sabe-se que os excessos de toda sorte são uma das causas que mais predispõem aos ataques da epidemia reinante. Assim, os médicos recomendam sobriedade em tudo, prescrição salutar à qual muita gente tem dificuldade de submeter-se. Admitindo que o façam, é sem dúvida um ponto importante, mas acredita-se que uma abstenção momentânea possa reparar instantaneamente as desordens orgânicas causadas por abusos inveterados, degenerados pelo hábito, que estragaram o corpo e, por isso mesmo, o tornaram acessível aos miasmas deletérios? Fora da cólera, não se sabe quanto o hábito da intemperança é pernicioso nos climas tórridos, e naqueles onde a febre amarela é endêmica? Pois bem! Por força de suas crenças e da maneira de encarar o objetivo da vida presente e o resultado da vida futura, o espírita modifica completamente os seus hábitos. Em vez de viver para comer, come para viver; não pratica excessos; não vive como cenobita; assim, usa de tudo, mas não abusa de nada. Isto deve ser, certamente, uma consideração preponderante a acrescentar à que faz valer o nosso correspondente de Constantinopla.
Eis, pois, um dos resultados desta doutrina, sobre a qual a incredulidade lança a injúria e o sarcasmo, escarnece, taxa de loucura e, segundo ela, traz a perturbação à Sociedade. Mantende a vossa incredulidade, se ela vos apraz, mas respeitai uma crença que torna felizes e melhores os que a possuem. Se é uma loucura crer que nem tudo acaba com a vida; que depois da morte vivemos uma vida melhor, isenta de preocupações; que voltamos ao meio daqueles que amamos; ou ainda crer que depois da morte não somos mergulhados nas chamas eternas sem esperança de sair de lá, o que não valeria mais do que o nada, nem perdidos na ociosa e beata contemplação do infinito, aprouvesse a Deus que todos os homens fossem loucos desta maneira, pois haveria entre eles muito menos crimes e suicídios.
Numerosas comunicações foram dadas sobre a cólera; várias o foram na Sociedade de Paris ou no nosso círculo íntimo. Apenas reproduzimos duas, fundidas numa só, para evitar as repetições, e porque resumem o pensamento dominante da maioria.
(Sociedade de Paris ─ Médiuns: Srs. Desliens e Morin)
Considerando-se que a cólera é um assunto de atualidade e cada um traz o seu remédio para afastar o terrível flagelo, eu me permitirei, se o quiserdes, dar também o meu conselho, se bem que me pareça pouco provável que tenhais que temer sua ação de maneira cruel. Contudo, como é bom que na ocasião não faltem os meios, ponho minha pouca luz à vossa disposição.
Essa afecção, apesar do que dizem, não é imediatamente contagiosa, e aqueles que se acham numa região onde ela grassa, não devem temer prestar socorro aos doentes.
Não existe um remédio universal contra essa moléstia, seja preventivo, seja curativo, visto que o mal se complica de várias maneiras que ora se devem ao temperamento dos indivíduos, ora ao seu estado moral e aos seus hábitos, ora às condições climáticas, o que faz que tal remédio dê resultado em certos casos e não em outros. Pode-se dizer que a cada período de invasão, e conforme as localidades, o mal deve ser objeto de estudo especial e requer uma medicação diferente. É assim que, por exemplo, o gelo, a triaga, etc., que puderam curar casos numerosos nas cóleras de 1832 e 1849, e em certas regiões, poderiam dar apenas resultados negativos em outras épocas e em outros países. Há, pois, uma porção de remédios bons, e nenhum que seja específico. É essa diversidade nos resultados que desnorteou e desnorteará ainda a Ciência, e faz com que nós mesmos não possamos dar um remédio aplicável a todos, porque a natureza do mal não o comporta. Há, entretanto, regras gerais, frutos da observação, das quais importa não se afastar.
O melhor preservativo consiste nas precauções de higiene sabiamente recomendadas em todas as instruções dadas a respeito, que consistem na limpeza, no afastamento de toda causa de insalubridade e dos focos de infecção, e na abstenção de todo excesso. Além disto, deve-se evitar a mudança de hábitos alimentares, salvo para evitar as coisas debilitantes. É preciso igualmente evitar os resfriados, as transições bruscas de temperatura e abster-se, ao menos por necessidade absoluta, de toda medicação violenta que possa trazer perturbação à economia.
Sabeis que muitas vezes, em casos semelhantes, o medo é pior que o mal. Infelizmente o sangue-frio não se impõe, mas vós, espíritas, não necessitais de conselhos sobre este ponto, pois encarais a morte sem receio e com a calma dada pela fé.
Em caso de ataque, importa não negligenciar os primeiros sintomas. O calor, a dieta, uma transpiração abundante, as fricções, a água de arroz com algumas gotas de láudano, são medicamentos pouco custosos e cuja ação é muito eficaz, se a energia moral e o sangue-frio a tudo isso se vierem juntar. Como às vezes é difícil conseguir láudano, por falta de médico, pode-se dar, em casos de urgência, qualquer outra composição calmante, e em particular o suco de alface, mas em dose fraca. Aliás, pode-se apenas ferver algumas folhas de alface em água de arroz.
A confiança em si e em Deus é, em tais circunstâncias, o primeiro elemento da saúde.
Agora que a vossa saúde material está ao abrigo do perigo, permiti-me pensar em vosso temperamento espiritual, ao qual uma epidemia de outro gênero parece querer atacar. Nada temais por esse lado, pois o mal só poderia atingir os seres a quem falta a vida verdadeiramente espiritual e já mortos na haste. Todos os que se votaram sem retorno e sem segundas intenções à Doutrina, ao contrário, nela encontrarão novas forças, para fazer frutificar o ensino, que consideramos um dever transmitir-vos. A perseguição, seja qual for, é sempre útil. Ela põe à luz os corações sólidos, e se destaca do tronco alguns galhos mal fixados, os jovens rebentos, amadurecidos pelas lutas nas quais triunfarão, segundo nosso conselho, tornar-se-ão homens sérios e refletidos. Assim, pois, muita coragem. Marchai sem medo pelo caminho que vos é traçado, e contai com aquele que jamais vos faltará, na medida de suas forças.
Doutor DEMEURE
Essa afecção, apesar do que dizem, não é imediatamente contagiosa, e aqueles que se acham numa região onde ela grassa, não devem temer prestar socorro aos doentes.
Não existe um remédio universal contra essa moléstia, seja preventivo, seja curativo, visto que o mal se complica de várias maneiras que ora se devem ao temperamento dos indivíduos, ora ao seu estado moral e aos seus hábitos, ora às condições climáticas, o que faz que tal remédio dê resultado em certos casos e não em outros. Pode-se dizer que a cada período de invasão, e conforme as localidades, o mal deve ser objeto de estudo especial e requer uma medicação diferente. É assim que, por exemplo, o gelo, a triaga, etc., que puderam curar casos numerosos nas cóleras de 1832 e 1849, e em certas regiões, poderiam dar apenas resultados negativos em outras épocas e em outros países. Há, pois, uma porção de remédios bons, e nenhum que seja específico. É essa diversidade nos resultados que desnorteou e desnorteará ainda a Ciência, e faz com que nós mesmos não possamos dar um remédio aplicável a todos, porque a natureza do mal não o comporta. Há, entretanto, regras gerais, frutos da observação, das quais importa não se afastar.
O melhor preservativo consiste nas precauções de higiene sabiamente recomendadas em todas as instruções dadas a respeito, que consistem na limpeza, no afastamento de toda causa de insalubridade e dos focos de infecção, e na abstenção de todo excesso. Além disto, deve-se evitar a mudança de hábitos alimentares, salvo para evitar as coisas debilitantes. É preciso igualmente evitar os resfriados, as transições bruscas de temperatura e abster-se, ao menos por necessidade absoluta, de toda medicação violenta que possa trazer perturbação à economia.
Sabeis que muitas vezes, em casos semelhantes, o medo é pior que o mal. Infelizmente o sangue-frio não se impõe, mas vós, espíritas, não necessitais de conselhos sobre este ponto, pois encarais a morte sem receio e com a calma dada pela fé.
Em caso de ataque, importa não negligenciar os primeiros sintomas. O calor, a dieta, uma transpiração abundante, as fricções, a água de arroz com algumas gotas de láudano, são medicamentos pouco custosos e cuja ação é muito eficaz, se a energia moral e o sangue-frio a tudo isso se vierem juntar. Como às vezes é difícil conseguir láudano, por falta de médico, pode-se dar, em casos de urgência, qualquer outra composição calmante, e em particular o suco de alface, mas em dose fraca. Aliás, pode-se apenas ferver algumas folhas de alface em água de arroz.
A confiança em si e em Deus é, em tais circunstâncias, o primeiro elemento da saúde.
Agora que a vossa saúde material está ao abrigo do perigo, permiti-me pensar em vosso temperamento espiritual, ao qual uma epidemia de outro gênero parece querer atacar. Nada temais por esse lado, pois o mal só poderia atingir os seres a quem falta a vida verdadeiramente espiritual e já mortos na haste. Todos os que se votaram sem retorno e sem segundas intenções à Doutrina, ao contrário, nela encontrarão novas forças, para fazer frutificar o ensino, que consideramos um dever transmitir-vos. A perseguição, seja qual for, é sempre útil. Ela põe à luz os corações sólidos, e se destaca do tronco alguns galhos mal fixados, os jovens rebentos, amadurecidos pelas lutas nas quais triunfarão, segundo nosso conselho, tornar-se-ão homens sérios e refletidos. Assim, pois, muita coragem. Marchai sem medo pelo caminho que vos é traçado, e contai com aquele que jamais vos faltará, na medida de suas forças.
Doutor DEMEURE
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