Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1866
Versão para cópiaCapítulo II
Janeiro - Considerações sobre a prece no Espiritismo
Janeiro
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Considerações sobre a prece no Espiritismo
Cada um é livre de encarar as coisas à sua maneira, e nós, que reclamamos essa liberdade para nós, não podemos recusá-la aos outros. Mas, porque uma opinião é livre, não se segue que não se possa discuti-la, examinar o seu lado forte e o fraco, pesar suas vantagens e inconvenientes.
Dizemos isto a propósito da negação da utilidade da prece, que algumas pessoas gostariam de erigir em sistema, para transformá-lo em bandeira de uma escola dissidente. Essa opinião pode assim resumir-se:
“Deus estabeleceu leis eternas, às quais todos os seres estão submetidos; nada podemos pedir-lhe e não temos que lhe agradecer nenhum favor especial, portanto, é inútil orar.
“A sorte dos Espíritos está traçada, portanto, é inútil orar por eles. Eles não podem mudar a ordem imutável das coisas, portanto, é inútil pedir-lhes.
“O Espiritismo é uma ciência puramente filosófica; não só não é uma religião, mas não deve ter qualquer caráter religioso. Toda prece dita nas reuniões tende a manter a superstição e a beatice.”
A questão da prece foi suficientemente discutida, motivo pelo qual consideramos inútil repetir aqui o que já se sabe a respeito. Se o Espiritismo proclama a sua utilidade, não é por espírito de sistema, mas porque a observação permitiu constatar a sua eficácia e seu modo de ação. Desde que, pelas leis dos fluidos, compreendemos o poder do pensamento, também compreendemos o da prece, que é, também ela, um pensamento dirigido para um fim determinado.
Para algumas pessoas, a palavra prece só desperta a ideia de pedido. É um grave erro. Em relação à Divindade, a prece é um ato de adoração, de humildade e de submissão que não se pode refutar sem subestimar o poder e a bondade do Criador. Negar a prece a Deus é reconhecer Deus como um fato, mas é recusar-se a prestar-lhe homenagem; é, ainda, uma revolta do orgulho humano.
A respeito dos Espíritos, que não passam de almas dos nossos irmãos, a prece é uma identificação de pensamentos, um testemunho de simpatia. Repeli-la é repelir a lembrança dos seres que nos são caros, porque essa lembrança simpática e benevolente é, por si mesma, uma prece. Aliás, sabemos que aqueles que sofrem a reclamam com insistência, como um alívio às suas penas. Se eles a pedem, é porque dela necessitam. Recusá-la é recusar um copo d’água ao infeliz que tem sede.
Além da ação puramente moral, o Espiritismo nos mostra, na prece, um efeito de certo modo material, resultante da transmissão fluídica. Em certas moléstias, sua eficácia é constatada pela experiência, como demonstrado pela teoria. Rejeitar a prece é, pois, privar-se de poderoso auxiliar para alívio dos males corporais.
Vejamos agora qual seria o resultado dessa doutrina, e se ela tem alguma chance de prevalecer.
Todos os povos oram, do selvagem ao civilizado. Eles são levados a isso pelo instinto, e é isso que os distingue dos animais. Sem dúvida eles oram de maneira mais ou menos racional, mas, enfim, oram. Aqueles que, por ignorância ou presunção, não praticam a prece, formam, no mundo, insignificante minoria.
A prece é, pois, uma necessidade universal, independente das seitas e das nacionalidades. Depois da prece, se a pessoa é fraca, sente-se mais forte; se está triste, sente-se consolada. Tirar a prece é privar o homem de seu mais poderoso suporte moral na adversidade. Pela prece ele eleva sua alma, entra em comunhão com Deus, identifica-se com o mundo espiritual, desmaterializa-se, condição essencial de sua felicidade futura. Sem a prece, seus pensamentos permanecem na Terra e se ligam cada vez mais às coisas materiais. Daí um atraso no seu adiantamento.
Contestando um dogma, a gente não se põe em oposição senão com a seita que o professa. Negando a eficácia da prece, fere-se o sentimento íntimo da quase unanimidade dos homens. O Espiritismo deve as numerosas simpatias que encontra às aspirações do coração, nas quais as consolações obtidas na prece têm grande participação. Uma seita que se fundasse na negação da prece, privar-se-ia do principal elemento de sucesso, a simpatia geral, porque em vez de aquecer a alma, ela rebaixá-la-ia. Se o Espiritismo deve ganhar em influência, é aumentando a soma de satisfações morais que proporciona. Que aqueles que a todo custo querem novidades no Espiritismo para ligar o seu nome a uma bandeira, se esforcem para dar mais do que ele. Mas não é dando menos que o suplantarão. A árvore despojada de seus frutos saborosos e nutritivos será sempre menos atraente do que a que deles está carregada. É em virtude do mesmo princípio que sempre temos dito aos adversários do Espiritismo: O único meio de matá-lo é dar algo de melhor, mais consolador, que explique mais e mais satisfaça. É o que ninguém ainda fez.
Podemos, portanto, considerar a rejeição da prece por parte de alguns crentes nas manifestações espíritas como uma opinião isolada que pode atrair algumas individualidades, mas que jamais reunirá a maioria. Seria erro imputar tal doutrina ao Espiritismo, porquanto ele ensina positivamente o contrário.
Nas reuniões espíritas a prece predispõe ao recolhimento, à seriedade, condição indispensável, como se sabe, para as comunicações sérias. É dizer que devam ser transformadas em assembleias religiosas? De modo algum. O sentimento religioso não é sinônimo de profissionalismo religioso; deve-se mesmo evitar o que poderia dar às reuniões este último caráter. É com este último objetivo que temos desaprovado constantemente as preces e os símbolos litúrgicos de um culto qualquer. Não se deve esquecer que o Espiritismo deve tender à aproximação das diversas comunhões; já não é raro ver nessas reuniões se confraternizarem representantes de diferentes cultos, razão pela qual ninguém deve arrogar-se a supremacia. Que cada um em particular ore como entender, é um direito de consciência; mas em uma assembleia fundada sobre o princípio da caridade, devemos abster-nos de tudo o que poderia ferir suscetibilidades e tendesse a manter um antagonismo que, ao contrário, devemos esforçar-nos por fazer desaparecer. Preces especiais no Espiritismo não constituem um culto distinto, porque elas não são impostas, e porque cada um é livre para fazer as que lhe convêm, mas elas têm a vantagem de servir para todos e de não chocar ninguém.
O próprio princípio de tolerância e respeito pelas convicções alheias nos leva a dizer que toda pessoa razoável que uma circunstância leva ao templo de um culto de cujas crenças não partilha, deve abster-se de qualquer sinal exterior que possa escandalizar os assistentes; que ela deve, se necessário, renunciar aos usos de pura forma, que em nada podem comprometer a sua consciência. Que Deus seja adorado em um templo de uma maneira mais ou menos lógica, não é motivo para chocar os que não acham boa essa maneira.
Dando o Espiritismo ao homem uma certa soma de satisfações e provando um certo número de verdades, dissemos que ele não poderia ser substituído senão por qualquer coisa que desse mais e provasse mais que ele. Vejamos se isto é possível.
O que faz a principal autoridade da Doutrina é que não há um só de seus princípios que seja produto de uma ideia preconcebida ou de uma opinião pessoal; todos, sem exceção, são resultado da observação dos fatos; só pelos fatos é que o Espiritismo chegou a conhecer a situação e as atribuições dos Espíritos, assim como as leis, ou melhor, uma parte das leis que regem as suas relações com o mundo visível. Isto é um ponto capital. Continuando a apoiar-nos na observação, fazemos filosofia experimental e não especulativa. Para combater as teorias do Espiritismo, não basta, pois, dizer que são falsas: é preciso opor-lhes fatos cuja solução elas são impotentes para dar. E mesmo nesse caso ele manter-se-á sempre à altura, porque seria contrário à sua essência obstinar-se numa falsa idéia, e esforçar-se-á sempre por preencher as lacunas que possam apresentar-se, pois não tem a pretensão de ter chegado ao apogeu da verdade absoluta. Esta maneira de encarar o Espiritismo não é nova; pode-se vê-la em todos os tempos, formulada em nossas obras. Considerando-se que o Espiritismo não se declara estacionário nem imutável, ele assimilará todas as verdades que forem demonstradas, venham de onde vierem, ainda que de seus antagonistas, e jamais ficará na retaguarda do progresso real. Assimilará essas verdades, dizemos nós, mas apenas quando forem claramente demonstradas, e não porque agradaria a alguém apresentá-las como seus desejos pessoais ou o produto de sua imaginação. Estabelecido este ponto, o Espiritismo não poderia perder, a não ser que se deixasse ultrapassar por uma doutrina que desse mais do que ele. Nada tem a temer das que dessem menos e subtraíssem o que constitui a sua força e a sua principal atração.
Se o Espiritismo ainda não disse tudo, há, entretanto, uma certa soma de verdades constatadas pela observação e que constituem a opinião da maioria imensa dos seus adeptos; e se essas verdades hoje conquistaram o status de artigos de fé, para nos servirmos de uma expressão por alguns empregada ironicamente, não foi nem por nós nem por ninguém, nem mesmo por nossos Espíritos instrutores que elas assim foram postas, e menos ainda impostas, mas pela adesão de todo mundo, porquanto todos podem constatá-las.
Se, pois, se formasse uma seita em oposição às ideias consagradas pela experiência, e geralmente admitidas em princípio, ela não poderia conquistar simpatias da maioria, cujas convicções ela chocaria. Sua existência efêmera extinguir-se-ia com seu fundador, talvez mesmo antes, ou, pelo menos, com os poucos adeptos que tivesse conseguido reunir. Suponhamos o Espiritismo dividido em dez ou vinte seitas. A que terá a supremacia e mais vitalidade será naturalmente a que der maior soma a de satisfações morais; a que encher o maior número de vazios da alma; a que se basear nas provas mais positivas, e que melhor se posicionar em uníssono com a opinião geral.
Ora, tomando como ponto de partida de todos esses princípios a observação dos fatos, o Espiritismo não pode ser derrubado por uma a teoria; mantendo-se constantemente no nível das ideias progressistas, ele não poderá ser superado; apoiando-se no sentimento da maioria, ele satisfaz às aspirações da maioria; fundado sobre essas bases, ele é imperecível, porque aí está a sua força.
Também aí está a causa do insucesso das tentativas feitas para obstaculizá-lo. No caso do Espiritismo, há ideias profundamente antipáticas à opinião geral, e que ela rechaça instintivamente. Construir sobre tais ideias, como ponto de apoio, um edifício ou esperanças quaisquer, é pendurar-se desastradamente em galhos podres. Eis a que estão reduzidos aqueles que, não tendo podido derrubar o Espiritismo pela força, tentam derrubá-lo por ele mesmo.
Dizemos isto a propósito da negação da utilidade da prece, que algumas pessoas gostariam de erigir em sistema, para transformá-lo em bandeira de uma escola dissidente. Essa opinião pode assim resumir-se:
“Deus estabeleceu leis eternas, às quais todos os seres estão submetidos; nada podemos pedir-lhe e não temos que lhe agradecer nenhum favor especial, portanto, é inútil orar.
“A sorte dos Espíritos está traçada, portanto, é inútil orar por eles. Eles não podem mudar a ordem imutável das coisas, portanto, é inútil pedir-lhes.
“O Espiritismo é uma ciência puramente filosófica; não só não é uma religião, mas não deve ter qualquer caráter religioso. Toda prece dita nas reuniões tende a manter a superstição e a beatice.”
A questão da prece foi suficientemente discutida, motivo pelo qual consideramos inútil repetir aqui o que já se sabe a respeito. Se o Espiritismo proclama a sua utilidade, não é por espírito de sistema, mas porque a observação permitiu constatar a sua eficácia e seu modo de ação. Desde que, pelas leis dos fluidos, compreendemos o poder do pensamento, também compreendemos o da prece, que é, também ela, um pensamento dirigido para um fim determinado.
Para algumas pessoas, a palavra prece só desperta a ideia de pedido. É um grave erro. Em relação à Divindade, a prece é um ato de adoração, de humildade e de submissão que não se pode refutar sem subestimar o poder e a bondade do Criador. Negar a prece a Deus é reconhecer Deus como um fato, mas é recusar-se a prestar-lhe homenagem; é, ainda, uma revolta do orgulho humano.
A respeito dos Espíritos, que não passam de almas dos nossos irmãos, a prece é uma identificação de pensamentos, um testemunho de simpatia. Repeli-la é repelir a lembrança dos seres que nos são caros, porque essa lembrança simpática e benevolente é, por si mesma, uma prece. Aliás, sabemos que aqueles que sofrem a reclamam com insistência, como um alívio às suas penas. Se eles a pedem, é porque dela necessitam. Recusá-la é recusar um copo d’água ao infeliz que tem sede.
Além da ação puramente moral, o Espiritismo nos mostra, na prece, um efeito de certo modo material, resultante da transmissão fluídica. Em certas moléstias, sua eficácia é constatada pela experiência, como demonstrado pela teoria. Rejeitar a prece é, pois, privar-se de poderoso auxiliar para alívio dos males corporais.
Vejamos agora qual seria o resultado dessa doutrina, e se ela tem alguma chance de prevalecer.
Todos os povos oram, do selvagem ao civilizado. Eles são levados a isso pelo instinto, e é isso que os distingue dos animais. Sem dúvida eles oram de maneira mais ou menos racional, mas, enfim, oram. Aqueles que, por ignorância ou presunção, não praticam a prece, formam, no mundo, insignificante minoria.
A prece é, pois, uma necessidade universal, independente das seitas e das nacionalidades. Depois da prece, se a pessoa é fraca, sente-se mais forte; se está triste, sente-se consolada. Tirar a prece é privar o homem de seu mais poderoso suporte moral na adversidade. Pela prece ele eleva sua alma, entra em comunhão com Deus, identifica-se com o mundo espiritual, desmaterializa-se, condição essencial de sua felicidade futura. Sem a prece, seus pensamentos permanecem na Terra e se ligam cada vez mais às coisas materiais. Daí um atraso no seu adiantamento.
Contestando um dogma, a gente não se põe em oposição senão com a seita que o professa. Negando a eficácia da prece, fere-se o sentimento íntimo da quase unanimidade dos homens. O Espiritismo deve as numerosas simpatias que encontra às aspirações do coração, nas quais as consolações obtidas na prece têm grande participação. Uma seita que se fundasse na negação da prece, privar-se-ia do principal elemento de sucesso, a simpatia geral, porque em vez de aquecer a alma, ela rebaixá-la-ia. Se o Espiritismo deve ganhar em influência, é aumentando a soma de satisfações morais que proporciona. Que aqueles que a todo custo querem novidades no Espiritismo para ligar o seu nome a uma bandeira, se esforcem para dar mais do que ele. Mas não é dando menos que o suplantarão. A árvore despojada de seus frutos saborosos e nutritivos será sempre menos atraente do que a que deles está carregada. É em virtude do mesmo princípio que sempre temos dito aos adversários do Espiritismo: O único meio de matá-lo é dar algo de melhor, mais consolador, que explique mais e mais satisfaça. É o que ninguém ainda fez.
Podemos, portanto, considerar a rejeição da prece por parte de alguns crentes nas manifestações espíritas como uma opinião isolada que pode atrair algumas individualidades, mas que jamais reunirá a maioria. Seria erro imputar tal doutrina ao Espiritismo, porquanto ele ensina positivamente o contrário.
Nas reuniões espíritas a prece predispõe ao recolhimento, à seriedade, condição indispensável, como se sabe, para as comunicações sérias. É dizer que devam ser transformadas em assembleias religiosas? De modo algum. O sentimento religioso não é sinônimo de profissionalismo religioso; deve-se mesmo evitar o que poderia dar às reuniões este último caráter. É com este último objetivo que temos desaprovado constantemente as preces e os símbolos litúrgicos de um culto qualquer. Não se deve esquecer que o Espiritismo deve tender à aproximação das diversas comunhões; já não é raro ver nessas reuniões se confraternizarem representantes de diferentes cultos, razão pela qual ninguém deve arrogar-se a supremacia. Que cada um em particular ore como entender, é um direito de consciência; mas em uma assembleia fundada sobre o princípio da caridade, devemos abster-nos de tudo o que poderia ferir suscetibilidades e tendesse a manter um antagonismo que, ao contrário, devemos esforçar-nos por fazer desaparecer. Preces especiais no Espiritismo não constituem um culto distinto, porque elas não são impostas, e porque cada um é livre para fazer as que lhe convêm, mas elas têm a vantagem de servir para todos e de não chocar ninguém.
O próprio princípio de tolerância e respeito pelas convicções alheias nos leva a dizer que toda pessoa razoável que uma circunstância leva ao templo de um culto de cujas crenças não partilha, deve abster-se de qualquer sinal exterior que possa escandalizar os assistentes; que ela deve, se necessário, renunciar aos usos de pura forma, que em nada podem comprometer a sua consciência. Que Deus seja adorado em um templo de uma maneira mais ou menos lógica, não é motivo para chocar os que não acham boa essa maneira.
Dando o Espiritismo ao homem uma certa soma de satisfações e provando um certo número de verdades, dissemos que ele não poderia ser substituído senão por qualquer coisa que desse mais e provasse mais que ele. Vejamos se isto é possível.
O que faz a principal autoridade da Doutrina é que não há um só de seus princípios que seja produto de uma ideia preconcebida ou de uma opinião pessoal; todos, sem exceção, são resultado da observação dos fatos; só pelos fatos é que o Espiritismo chegou a conhecer a situação e as atribuições dos Espíritos, assim como as leis, ou melhor, uma parte das leis que regem as suas relações com o mundo visível. Isto é um ponto capital. Continuando a apoiar-nos na observação, fazemos filosofia experimental e não especulativa. Para combater as teorias do Espiritismo, não basta, pois, dizer que são falsas: é preciso opor-lhes fatos cuja solução elas são impotentes para dar. E mesmo nesse caso ele manter-se-á sempre à altura, porque seria contrário à sua essência obstinar-se numa falsa idéia, e esforçar-se-á sempre por preencher as lacunas que possam apresentar-se, pois não tem a pretensão de ter chegado ao apogeu da verdade absoluta. Esta maneira de encarar o Espiritismo não é nova; pode-se vê-la em todos os tempos, formulada em nossas obras. Considerando-se que o Espiritismo não se declara estacionário nem imutável, ele assimilará todas as verdades que forem demonstradas, venham de onde vierem, ainda que de seus antagonistas, e jamais ficará na retaguarda do progresso real. Assimilará essas verdades, dizemos nós, mas apenas quando forem claramente demonstradas, e não porque agradaria a alguém apresentá-las como seus desejos pessoais ou o produto de sua imaginação. Estabelecido este ponto, o Espiritismo não poderia perder, a não ser que se deixasse ultrapassar por uma doutrina que desse mais do que ele. Nada tem a temer das que dessem menos e subtraíssem o que constitui a sua força e a sua principal atração.
Se o Espiritismo ainda não disse tudo, há, entretanto, uma certa soma de verdades constatadas pela observação e que constituem a opinião da maioria imensa dos seus adeptos; e se essas verdades hoje conquistaram o status de artigos de fé, para nos servirmos de uma expressão por alguns empregada ironicamente, não foi nem por nós nem por ninguém, nem mesmo por nossos Espíritos instrutores que elas assim foram postas, e menos ainda impostas, mas pela adesão de todo mundo, porquanto todos podem constatá-las.
Se, pois, se formasse uma seita em oposição às ideias consagradas pela experiência, e geralmente admitidas em princípio, ela não poderia conquistar simpatias da maioria, cujas convicções ela chocaria. Sua existência efêmera extinguir-se-ia com seu fundador, talvez mesmo antes, ou, pelo menos, com os poucos adeptos que tivesse conseguido reunir. Suponhamos o Espiritismo dividido em dez ou vinte seitas. A que terá a supremacia e mais vitalidade será naturalmente a que der maior soma a de satisfações morais; a que encher o maior número de vazios da alma; a que se basear nas provas mais positivas, e que melhor se posicionar em uníssono com a opinião geral.
Ora, tomando como ponto de partida de todos esses princípios a observação dos fatos, o Espiritismo não pode ser derrubado por uma a teoria; mantendo-se constantemente no nível das ideias progressistas, ele não poderá ser superado; apoiando-se no sentimento da maioria, ele satisfaz às aspirações da maioria; fundado sobre essas bases, ele é imperecível, porque aí está a sua força.
Também aí está a causa do insucesso das tentativas feitas para obstaculizá-lo. No caso do Espiritismo, há ideias profundamente antipáticas à opinião geral, e que ela rechaça instintivamente. Construir sobre tais ideias, como ponto de apoio, um edifício ou esperanças quaisquer, é pendurar-se desastradamente em galhos podres. Eis a que estão reduzidos aqueles que, não tendo podido derrubar o Espiritismo pela força, tentam derrubá-lo por ele mesmo.
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