Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1869
Versão para cópiaCapítulo III
Janeiro - Proporção relativa dos Espíritas
Janeiro
I. ─
Em relação às nacionalidades: - Não existe, por assim dizer, nenhum
país civilizado da Europa e da América onde não haja espíritas. Eles são mais
numerosos nos Estados Unidos da América do Norte. Seu número aí é calculado,
por uns, em quatro milhões, o que já é muito, e por outros em dez milhões. Esta
última cifra evidentemente é exagerada, porque compreenderia mais de um terço
da população, o que não é provável. Na Europa a cifra pode ser avaliada em um
milhão, e a França figura com seiscentos mil. Pode-se estimar o número dos
espíritas do mundo inteiro em seis ou sete milhões. Mesmo que fosse a metade, a
História não oferece nenhum exemplo de uma doutrina que em menos de quinze anos
tivesse reunido tal número de adeptos disseminados por toda a superfície do
globo. Se aí incluíssemos os espíritas inconscientes, isto é, os que só o são
por intuição, e mais tarde se tornarão espíritas de fato, só na França
poder-se-iam contar vários milhões.
Do ponto de vista da difusão das ideias espíritas e da
facilidade com que são aceitas, os principais países da Europa podem ser
classificados como se segue:
1º França. ─ 2º Itália. ─ 3º Espanha. ─ 4º Rússia. ─ 5º
Alemanha. ─ 6º Bélgica.
─ 7º Inglaterra. ─ 8º Suécia e
Dinamarca. ─ 9º Grécia. ─ 10º Suíça.
II. ─
Em relação ao sexo: 70% homens e 30%
mulheres.
III. ─ Em relação à idade: de 30 a 70 anos, máximo; de 20 a 30, médio; de 70 a 80, mínimo.
IV. ─ Em relação à instrução: O grau de instrução é muito fácil de
avaliar pela correspondência. Instrução cuidada, 30%; simples letrados, 30%;
instrução superior, 20%; ─ semiletrados, 10%; ─ iletrados, 6%; ─ sábios
oficiais, 4%.
V. ─
Em relação às ideias religiosas: católicos romanos, livres-pensadores,
não ligados ao dogma, 50%; ─ católicos gregos, 15%; ─ judeus, 10%; ─
protestantes liberais, 10%; ─ católicos ligados aos dogmas, 10%; ─ protestantes
ortodoxos, 3%; ─ muçulmanos, 2%.
VI. ─ Em relação à fortuna: mediocridade, 60%;
─ fortunas médias, 20%; ─ indigência 15%; ─ grandes fortunas, 5%.
VII.
─ Em
relação ao estado moral, abstração feita da fortuna: aflitos, 60%; ─ sem
inquietude, 30%; ─ felizes do mundo, 10%; ─ sensualistas, 0.
VIII.
Em relação
à classe social: Sem poder
estabelecer qualquer proporção nesta categoria, é notório que o Espiritismo
conta entre os seus aderentes vários soberanos e príncipes regentes; membros de
famílias soberanas e um grande número de personagens tituladas.
Em geral, é nas classes médias que o Espiritismo conta mais
adeptos. Na Rússia é mais ou menos exclusivamente na nobreza e na alta
aristocracia. Na França o Espiritismo se propagou na pequena burguesia e na
classe operária.
IX. ─ Estado militar, segundo o grau: l.º ─
tenentes e subtenentes; 2.º ─ suboficiais;
3.º ─ capitães; 4.º ─ coronéis; 5.º ─ médicos e cirurgiões; 6.º ─ generais; 7.º
─ guardas municipais; 8.º ─ soldados da guarda; 9.º ─ soldados de linha.
OBSERVAÇÃO; Os tenentes e subtenentes espíritas estão
quase todos na ativa; entre os capitães há cerca de metade na ativa e outra
metade na reserva; os coronéis, médicos, cirurgiões e generais, em sua maioria
estão na reserva.
X. ─
Marinha: 1º. ─ marinha militar; 2º. ─ marinha mercante.
XI. ─ Profissões liberais e funções diversas. Agrupamo-los em dez categorias, classificadas segunda a proporção
dos aderentes que elas forneceram ao Espiritismo:
1.º ─ Médicos homeopatas. ─
Magnetistas[1]
2.º ─ Engenheiros. ─ Professores: diretores e
diretoras de internatos. ─ Professores livres.
3.º ─ Cônsules. ─ Padres católicos.
4.º ─ Pequenos empregados. ─ Músicos. ─ Artistas
líricos. ─ Artistas dramáticos.
5.º ─ Meirinhos. ─ Comissários de
polícia.
6.º ─ Médicos alopatas. ─ Homens de
letras. ─ Estudantes.
7.º ─ Magistrados. ─ Altos funcionários. ─ Professores
oficiais e de liceus. ─ Pastores protestantes.
8.º ─ Jornalistas. ─ Pintores. ─
Arquitetos. ─ Cirurgiões.
9.º ─ Notários. ─ Advogados. ─
Procuradores. ─ Agentes de negócios.
10.º ─ Agentes de câmbio. ─
Banqueiros.
XII. ─ Profissões industriais, manuais e
comerciais, igualmente grupadas em dez categorias.
1º ─ Alfaiates. ─ Costureiras.
2º ─ Mecânicos. ─ Empregados de
estradas de ferro.
3º ─ Tecelões. ─ Pequenos negociantes.
─ Porteiros.
4º ─ Farmacêuticos. ─ Fotógrafos. ─
Relojoeiros. ─ Viajantes comerciais.
5º ─ Plantadores. ─ Sapateiros.
6º ─ Padeiros. ─ Açougueiros. ─
Salsicheiros.
7º ─ Marceneiros. ─ Tipógrafos.
8º ─ Grandes industriais e chefes de
estabelecimentos.
9º ─ Livreiros. ─ Impressores.
10º ─ Pintores de casas. ─ Pedreiros. ─ Serralheiros. ─
Merceeiros. ─ Domésticos.
Deste levantamento resultam as
seguintes consequências:
1.º ─ Que há espíritas em todos os
graus da escala social.
2.º ─ Que há mais homens que mulheres espíritas. É
certo que nas famílias divididas por suas crenças, no tocante ao Espiritismo,
há mais maridos contrariados pela opinião das esposas do que mulheres pela dos
maridos. Não é menos evidente que, em todas as reuniões espíritas, os homens
são maioria.
É portanto erradamente que a crítica pretendeu que a
Doutrina recruta principalmente entre as mulheres, em virtude da sua inclinação
para o maravilhoso. É precisamente o contrário, porquanto essa inclinação para
o maravilhoso e para o misticismo em geral as torna mais refratárias que os
homens; essa predisposição faz com que elas aceitem mais facilmente a fé cega,
que dispensa qualquer exame, ao passo que o Espiritismo, não admitindo senão a
fé raciocinada, exige reflexão e a dedução filosófica para ser bem
compreendido, para o que a educação estreita dada às mulheres torna-as menos
aptas que os homens. Aquelas que sacodem o jugo imposto à sua razão e ao seu desenvolvimento
intelectual, muitas vezes caem num excesso contrário; elas tornam-se o que
chamam de mulheres fortes e são de uma incredulidade mais tenaz.
3.º ─ Que a grande maioria dos espíritas se acha entre
as pessoas esclarecidas e não entre as ignorantes. Por toda parte o Espiritismo
se propagou de alto a baixo da escala social, e em parte alguma se desenvolveu
primeiro nas camadas inferiores.
4.º ─ Que a aflição e a infelicidade predispõem às
crenças espíritas, em consequência das consolações que elas proporcionam. É a
razão pela qual, na maioria das categorias, a proporção dos espíritas está na
razão da inferioridade hierárquica, porque é aí que há mais privações e
sofrimento, ao passo que os titulares das posições superiores em geral
pertencem à classe dos satisfeitos; daí há que excluir o estado militar, onde
os simples soldados figuram em último lugar.
5.º ─ Que o Espiritismo encontra mais fácil acesso
entre os incrédulos em matéria religiosa do que entre os que têm uma fé
consolidada.
6.º ─ Enfim, que depois dos fanáticos, os mais
refratários às ideias espíritas são os sensualistas e as pessoas cujos únicos
pensamentos estão concentrados nas posses e nos prazeres materiais, seja qual
for a classe a que pertençam, o que independe do grau de instrução.
Em resumo, o Espiritismo é acolhido como um benefício
pelos que ele ajuda a suportar o fardo da vida, e é repelido ou desdenhado por
aqueles a quem prejudicaria no gozo da vida. Partindo deste princípio,
facilmente se explica a posição que ocupam, no quadro, certas categorias de
indivíduos, malgrado as luzes que são uma condição de sua posição social. Pelo
caráter, os gostos, os hábitos, o gênero de vida das pessoas, pode-se julgar
antecipadamente sua aptidão para assimilar as ideias espíritas. Em alguns a
resistência é uma questão de amor-próprio, que segue quase sempre o grau do
saber. Quando esse saber os fez conquistar uma certa posição social que os põe
em evidência, eles não querem concordar que podiam ter-se enganado e que outros
podem ter visto melhor. Oferecer provas a
certas pessoas é oferecer-lhes o que elas mais temem. Com medo de achá-las,
eles tapam os olhos e os ouvidos, preferindo negar a priori e abrigar-se atrás de sua infalibilidade, de que estão
muito convencidas, digam-lhes o que disserem.
É mais difícil compreender a posição que ocupam, nesta
classificação, certas profissões industriais. Pergunta-se, por exemplo, por que
os alfaiates aí ocupam a primeira posição, enquanto livreiros e impressores,
profissões bem mais intelectuais, estão quase na última. É um fato constatado
há muito tempo e do qual ainda não percebemos a causa.
Se, no levantamento acima, em vez de não abranger
senão os espíritas de fato, tivéssemos considerado os espíritas inconscientes,
aqueles nos quais essas ideias estão no estado de intuição e que fazem
Espiritismo sem o saber, várias categorias certamente teriam sido classificadas
diversamente: por exemplo, os literatos, os poetas, os artistas, numa palavra,
todos os homens de imaginação e de inspiração, os crentes de todos os cultos
estariam, sem dúvida nenhuma, no primeiro lugar. Certos povos, nos quais as
crenças espíritas de certo modo são inatas, também ocupariam outra posição. Eis
por que essa classificação não poderia ser absoluta, e modificarse-á com o tempo.
Os médicos homeopatas estão à frente das profissões
liberais porque, com efeito, é aquela que, guardadas as proporções, conta nas
suas fileiras o maior número de adeptos do Espiritismo: em cem médicos
espíritas, há pelo menos oitenta homeopatas. Isto se deve ao fato que o próprio
princípio de sua medicação os conduz ao espiritualismo. Os materialistas são
muito raros entre eles, se é que existem, ao passo que são numerosos entre os
alopatas. Melhor que estes últimos, eles compreenderam o Espiritismo, porque
acharam nas propriedades fisiológicas do perispírito, unido ao princípio
material e ao princípio espiritual, a razão de ser de seu sistema. Pelo mesmo
motivo, os espíritas puderam, melhor que outros, compreender os efeitos desse
modo de tratamento. Sem serem exclusivos a respeito da homeopatia, e sem
rejeitar a alopatia, eles compreenderam a sua racionalidade e a sustentaram
contra ataques injustos. Achando novos defensores entre os espíritas, os
homeopatas não tiveram a inabilidade de lhes atirar pedras.
Se os magnetistas figuram na primeira linha, logo após
os homeopatas, malgrado a oposição persistente e por vezes acerba de alguns, é
que os oponentes não formam senão uma pequeníssima minoria ao lado da massa dos
que são, pode-se dizer, espíritas por intuição. O magnetismo e o Espiritismo
são, com efeito, duas ciências gêmeas, que se completam e se explicam uma pela
outra, e, das duas, a que não quer imobilizar-se
não pode chegar ao seu complemento sem se apoiar na sua congênere; isoladas
uma da outra, detêm-se num impasse; são reciprocamente como a Física e a
Química, a Anatomia e a Fisiologia. A maioria dos magnetistas compreende de tal
modo por intuição a relação íntima que deve existir entre as duas coisas, que
geralmente se prevalecem de seus conhecimentos em magnetismo como meio de
introdução junto aos espíritas.
Em todos os tempos os magnetistas estiveram divididos
em dois campos: os espiritualistas e
os fluidistas. Estes últimos, muito
menos numerosos, pelo menos fazendo abstração do princípio espiritual, quando
não o negam absolutamente, atribuindo tudo à ação do fluido material, estão,
por conseguinte, em oposição de princípios com os espíritas. Ora, é de notar
que, se nenhum magnetistas é espírita, todos os espíritas, sem exceção, admitem o magnetismo. Em todas as circunstâncias eles
se fizeram seus defensores e baluartes. Eles devem ter-se admirado de encontrar
adversários mais ou menos malévolos nesses mesmos cujas fileiras acabavam de
reforçar; que, depois de terem sido, durante mais de meio século, vítimas de
ataques, de troças e de perseguições de toda espécie, por sua vez atirem
pedras, sarcasmos e por vezes injúrias aos colaboradores que lhes chegam e
comecem a pesar na balança, por seu número.
Ademais, como dissemos, essa oposição está longe de
ser geral, muito pelo contrário; pode-se afirmar, sem se afastar da verdade,
que ela não chega a mais de 2% a 3% da
totalidade dos magnetistas. Ela é muito menor ainda entre os da província e do
estrangeiro do que de Paris.
[1] O Vocábulo magnetizador desperta
a ideia de ação; o de magnetista uma
ideia de adesão. O magnetizador é o que exerce por profissão ou outra coisa.
Pode-se ser magnetista sem ser magnetizador. Dir-se-á; um magnetizador experimentado
e um magnetista convicto.
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