ESCALADA DE LUZ

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CAPÍTULO 44

Muito obrigada, papai!

Escrevo-lhe esta cartinha, papai, apenas para lhe dizer que estou infinitamente agradecida pela casa bonita da praça que o senhor construiu para nós. As vezes eu mesma fico horas a pensar no seu imenso sacrifício, nas suas noites mal dormidas, no seu excesso de trabalho, enfim, para nos dar tão lindo presente.

Sim! certamente não há no lugar nenhuma construção semelhante; no seu interior a gente vive num dilúvio de cores, o piso todo atapetado, nas paredes formosos arabescos, painéis de indescritível beleza!

Eu não me canso de observá-la, enamorada; saber que em cada tijolo, em cada centímetro de parede há uma gota de seu suor, um pouco de suas lágrimas. No colégio onde estudo as colegas não comentam outra coisa, chegaram mesmo a dizer que a nossa casa é o cartão de visita da cidade, no entanto, paizinho, peço-lhe permissão para confessar uma coisa: dentro da mansão que o senhor edificou para nossa felicidade, sem nenhuma ingratidão de minha parte, não sou feliz!

Mamãe, de repente, se tornou escrava da casa, mal tem tempo para atender aos compromissos sociais; passa horas e horas na passarela da vaidade.

Sim, paizinho! É triste, mas a casa está em primeiro lugar. O senhor, por sua vez, é um hóspede raro: adentra-a horas mortas e se retira quase de madrugada. E eu me perco por entre criados e lacaios, numa azáfama terrível. Encontro um pouco de alegria, paizinho, quando vou visitar minha amiga Josefina, em sua casinha simples e modesta. E como a gente fica diferente, D. Maria tem sempre estórias para nos contar, enquanto o Sr. Juca, pai de Josefina, toca um pouco de violão antes de retornar ao trabalho. Foi ele quem me disse para ir ao médico para ver o que existe de mais sério nesta febre que me atormenta.

Sabe, paizinho, esta não é uma carta de acusação, mas de esclarecimento.


Será que o senhor teria jeito de construir, com a mamãe, dentro daquela casa, um lar para nós? Lar onde se fale de amor, onde a gente possa andar

descalço, até mesmo com os pés sujos, que tenha sol, sorriso, prece, vida enfim, onde a mãezinha, ao seu lado, forme comigo um triângulo de profunda afetividade? Obrigada, paizinho, pelo bangalô mais lindo da praça, ele foi destacado como sendo a Mansão do Ano. Mas digo-lhe com lágrimas nos olhos: - Eu gosto muito da casinha da Josefina, por que será, papai?

Mil beijos da filha que o ama muito, muito.


Lucinha


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