Atendimento Fraterno

Versão para cópia
CAPÍTULO 9

ESTUDOS DE CASOS

CASO 1 - DESAJUSTE PSICOLÓGICO AGRAVADO POR COMPONENTE OBSESSIVO.


José Ferraz

—NARRATIVA: Um pai procura o Atendimento Fraterno para solicitar orientação espírita para um filho.

Depois de acolhido, o apelante expõe o problema, falando espontaneamente: "Estou desesperado. O meu filho, que está no 2o ano de Engenharia Química, está prestes a perder o semestre em decorrência de desajustes psicológicos intermitentes, de certa gravidade.

Depois de muita persuasão, consegui encaminhá-lo ao psicoterapeuta. Já se passaram vários meses de tratamento sem um resultado satisfatório. Os sintomas continuam: melancolia, inibição, depressão nervosa, com momentos de agressividade.

Depois dessas crises volta ao normal e passa a ter comportamento adequado. Mas as crises retornam deixando a família aflita.

Somos de família católica, e não temos preconceito religioso.


Estou recorrendo ao Espiritismo como uma tábua de salvação"
—ORIENTAÇÃO:

— "Naturalmente que é para o seu filho, em primeiro lugar, que o senhor está pedindo ajuda, pois não fora a situação que ele está vivendo e o senhor estaria bem.

E está certo em buscar ajuda, lutar o quanto pode por aquele a quem ama. "Pelo exposto, seu filho está acometido de uma problemática cujas raízes se encontram na mente, agravada por um componente obsessivo — influência de Espíritos doentes.

Pormenor este que não lhe deve ser passado, por enquanto, para não o inquietar, piorando ainda mais a situação. "Devo dizer-lhe que o ideal seria que ele mesmo viesse ao Atendimento Fraterno para que nós o ouvíssemos, inteirando-nos de detalhes e impressões que, esclarecidos, poderão ajudá-lo a libertar-se da constrição que o oprime e a se predispor para o tratamento espiritual que precisa fazer.

Ainda porque, em todo e qualquer processo de ajuda, não se pode prescindir da boa-vontade da pessoa carente, que deve caminhar nesse sentido. "O mais importante, no momento, é que o senhor se empenhe, como fez antes para levá-lo ao terapeuta, a fim de trazê-lo aqui.


Nesse sentido, poderia o senhor mesmo frequentar algumas reuniões públicas em nossa Casa,

conhecer melhor o nosso trabalho e, assim, passar para ele, nos momentos de lucidez, as suas impressões. Afianço-lhe, todavia, que o seu esforço de persuasão tem um limite, pois não haveria benefício algum em trazê-lo sob um estado de tensão intensa decorrente da resistência em vir, o que determinaria dificuldades outras para ele ser ajudado. "Eu me permito a liberdade de sugerir que invista no próprio crescimento, porque assim poderá ajudá-lo. E ninguém melhor do que um pai para ajudar um filho. Uma providência importante a ser tomada, seria intensificar a prática da oração no lar. Embora eu saiba que, como católico, o senhor ora, há uma metodologia que nós, espíritas, chamamos Evangelho no Lar, que é muito valiosa para pacificar o ambiente doméstico facilitando o retorno do equilíbrio.

Leve esses apontamentos para a sua reflexão e, se decidir, mais adiante, implantar o Evangelho em sua casa, nós teremos o prazer de ensinar-lhe como fazer. "Deixe o nome de seu filho para as vibrações espirituais a distância, para que o incluamos em nossas orações.

Conserve a sua paz. "

—COMENTÁRIO: Na questão do Atendimento Fraterno, o atendente funciona como um facilitador, redirecionando a mente da pessoa com as informações preciosas do pensamento espírita e dos ensinamentos evangélicos, para estimular o desejo, que deve prevalecer, de encontrar o caminho de uma construção de ajuda mediante a iniciativa própria.

A orientação espírita é bem realista: não se pode arrastar ou obrigar ninguém a submeter-se a um processo de aconselhamento psicológico se o interessado não deseja ser ajudado. Aliás, essa é a opinião da psicoterapeuta Hanna Wolff, afirmando no seu livro Jesus Psicoterapeuta, que nunca conseguiu êxito fazendo terapias de análise com pacientes induzidos por terceiros a procurála.

Todas as orientações prodigalizadas foram sempre infrutíferas.

Talvez, no fato de o filho do consulente ter ido àterapia psicológica com grande resistência, esteja a causa do insucesso do tratamento a que ele foi submetido.

Nesse particular, recorrendo ao Psicólogo por Excelência, Jesus Cristo, conforme os registros evangélicos, sempre que O buscavam para a solução de problemas do corpo e da alma, Ele sempre inquiria: — "Queres ser ajudado?" Isso significa que o primeiro passo exige iniciativa, vontade e fé, valores que não se podem transferir a outrem.

Fundamental, portanto, que haja uma decisão voluntária, um mínimo de compromisso pessoal. É preciso o estritamente necessário, um sentido íntimo, dizendo: "Eu quero ser ajudado. "


CASO 2 - CONCLUSÃO SURPREENDENTE: "A CULPA É MINHA"


José Ferraz

- NARRATIVA
Estava casada há cerca de 15 anos; sempre vivera em clima de compreensão e entendimento com o marido.

Tinham 3 filhos menores que completavam a felicidade relativa possível de conquistar-se na Terra.

E acrescentava: — "Meu casamento foi estruturado dentro de uma amizade sólida e recíproca. Subitamente continuou a narrativa começaram a surgir os desentendimentos e discussões por assuntos de somenos importância, grosserias inoportunas de parte a parte. Os atritos se intensificaram de tal forma que as ameaças de separação começaram a surgir. Eu estava mais do que convencida de que tudo que vinha acontecendo era culpa do meu esposo. Foi nessas circunstâncias que procurei esta Casa e o atendente fraterno que me recebeu, ouviu-me atentamente, iluminou minha consciência, salvando-me de desastre iminente. Ele me orientou mais ou menos nestes termos, prescrevendo-me, verdadeiramente, uma medicação de efeito moral surpreendente: "O Espiritismo ensina que durante a existência corporal poderemos adquirir um hábito muito saudável para o autoconhecimento. No final do dia, antes do sono reparador, fazermos uma revista nos acontecimentos diários para uma avaliação do nosso comportamento pessoal de referência aos semelhantes. E quando tivermos dúvidas quanto ao mérito de algumas de nossas atitudes ou ações, nos colocarmos no lugar do outro, nosso interlocutor ou da pessoa com quem nos relacionamos, invertendo os papéis, ficando ele no nosso lugar e nós no dele. e perguntarmos: "Como eu gostaria que ele procedesse em relação a nós?" Essa técnica ajuda-nos, e muito — afirmou-me o atendente fraterno — "a afastarmos as máscaras de nossa personalidade, os disfarces do ego, nem sempre verdadeiro e coerente, ajudando-nos a assumir um comportamento psicológico mais saudável. Tente — disse-me ele fazer a sua auto análise, colocando em foco o relacionamento com seu marido e descubra por si mesma quem está concorrendo para essa situação preocupante, e até que ponto. Vou encaminhála para a terapia pelos passes e, se for do seu agrado, frequente as reuniões doutrinárias do Centro, onde encontrará o apoio e a inspiração para ajudá-la nessa transição difícil". "Pois bem — rematou aquela senhora: coloquei em prática a orientação recebida, na sua totalidade, e obtive um resultado magnífico. Com o exercício de auto análise comecei a perceber a presença, em minha mente, de pensamentos desagregadores, hostis, ficando surpresa, sobretudo diante daquele desejo mórbido, compulsivo de acabar com o casamento, fato inadmissível para mim, em sã consciência. Tudo isso acompanhado de mal-estar físico e emocional; à medida que recebia os benefícios dos passes e ouvia as palestras doutrinárias ia, gradativamente, percebendo que a maior culpa cabia a mim, em decorrência de reações emocionais incontroladas que, não sei como, se instalaram em mim.

Passei a fiscalisar os pensamentos, procedi a mudanças de atitude na forma de tratar o marido e, no momento oportuno, pedi que me perdoasse, pois descobri que não estive procedendo corretamente.

Diplomaticamente, para aliviar o constrangimento reinante, o esposo também se desculpou e selamos o término do desajuste conjugal de uma forma muito carinhosa. "Eu estou exultante de felicidade.

Aqui venho para agradecer as graças recebidas nesta Casa.

Muito obrigada, de coração. " Eu só ouvia.

E, agora, estava ali participando daquele momento feliz, sem ter nada a dizer, nada a orientar, agradecendo, também, a Deus, a bênção do serviço.

- COMENTÁRIO
Nesse episódio familiar diagnostica-se com facilidade a presença da indução obsessiva, aparecendo sem a percepção da hospedeira, caracterizada por indisposição agressiva contra o próprio marido, sem motivo aparente.

O Atendimento Fraterno se insere perfeitamente como terapia desobsessiva eficiente para esses casos.


CASO 3 - PRESSENTIMENTO FALSO


João Neves da Rocha

—NARRATiVA Era casada, o marido ficara paralítico e tinha 5 filhos para criar. Defrontava-se, agora, com um problema grave de saúde: estava com um câncer ovariano e, no último exame, fora detectada a metástase.

Estava desesperada, antevendo a possibilidade de morrer deixando os entes queridos em dificuldade econômica.

Para acrescer a sua ansiedade, estava vivendo um instante de grande tristeza e amargura, pois, no dia seguinte, seria submetida à cirurgia e tivera um pressentimento de que não sairia com vida da mesa de operação.

- ORIENTAÇÃO
As nossas primeiras palavras foram de estímulo, de enaltecimento pela forma corajosa como aquela mulher assumira as suas responsabilidades até ali. "Que ela confiasse em Deus e se entregasse à Sua providência, de forma total, naquele momento de tanta expectativa e tensão.

O Pai saberia amparála, nada acontecendo de ruim, pois Ele só para o bem age, em proveito de seus filhos arrematei. "Naturalmente — explicamos — nos momentos de grande tensão, ante provas excruciantes, a nossa mente perde o contato com o Divino e se envolve no manto do pessimismo, pensando só no pior. É por essa razão que você está assimilando a ideia de morrer.

Não se trata de pressentimento algum. É consequência da tristeza e do medo que lhe invadem a alma neste momento de dificuldade. " Então, dissemos: "Você, que tem sido uma batalhadora, infundindo ânimo em seus familiares em prova, acudindo o marido enfermo, será que Deus a deixaria desamparada nesta hora? Renove-se na oração para asserenar-se e enfrentar a cirurgia com coragem e bem disposta".

Ela esboçou um discreto sorriso, prenunciador de mudanças positivas na paisagem dos sentimentos, agradeceu, e se dispôs a sair, quando lhe propusemos: — Deixe o seu nome para as vibrações, nós oraremos por você, e aproveite as horas que antecedem a cirurgia para tomar passes e se preparar, mental e emocionalmente, para a intervenção...

E, lembre-se, quando estiver restabelecida, retorne para dar notícias.

- COMENTÁRIOS
É comum, em momentos de grande tensão emocional, pessoas menos resistentes se deixarem envolver pela dúvida, desânimo, depressão, fatos de que, muitas vezes, se servem Espíritos maus e ignorantes para incutirem ideias pessimistas, gerando um quadro de obsessão simples, de graves consequências, terminando por minar a mente, em momentos decisivos em que as mesmas precisam do máximo de forças para vencer os obstáculos.

Cabe ao atendente fraterno sacudir aquela tristeza (pelo menos concorrer para isso) sendo animado e estimulador.

Analisando especificamente o caso apresentado, imaginemos que o pressentimento que passava pela mente da consulente fosse uma realidade, e que se tratasse, de fato, de um presságio de desencarnação. De nada adiantaria o atendente fraterno reforçar aquela ideia que tanto a inquietava, pois isso só causaria mais desânimo quando, o que a pessoa precisava era de força, energia, confiança para continuar a sua trajetória, fosse onde fosse.

Por outro lado, uma orientação dúbia, do tipo: "Devemos estar preparados para o que quer que nos aconteça, conforme a vontade de Deus... " Estaria indiretamente reforçando a ideia do óbito, conduzindo aos mesmos resultados de desestímulo e pessimismo que a consulente apresentava.

Ainda que racionalmente saibamos ser a morte uma possibilidade em casos de tal complexidade, não podemos matar o momento de esperança de ninguém, ainda porque ante a falta de tempo para uma conscientização demorada optamos pelo incentivo, pela superação do conflito.

No caso, a providência era de emergência.

O comando único que se impunha era estimular e estimular. O que não se pode fazer, de modo algum, é dar garantias absolutas, prometer curas e maravilhas.


CASO 4 - ORIENTAÇÃO EQUIVOCADA

João Neves da Rocha

- NARRATIVA
Casada, trabalhava fora do lar, tinha três filhos e um marido alcoólatra que a espancava periodicamente.

Frequentava um Centro Espírita onde participava de um grupo de estudos da mediunidade para a educação da faculdade de que era portadora.

Impossibilitada de continuar o compromisso assumido, por não conseguir conciliar os seus afazeres domésticos e profissionais com as tarefas de educação da mediunidade, pediu licença ao dirigente do grupo para se afastar, não sabendo se temporária ou definitivamente.

A resposta foi que teria de desenvolver a mediunidade de qualquer forma, senão seria uma pessoa fadada à infelicidade.

Posteriormente, passou a ter, durante o sono, pesadelos angustiantes.

Sonhava com a filha caçula sofrendo vários tipos de acidentes.

Pedia orientação para as suas dificuldades no lar e, também, queria saber se a afirmativa de seu dirigente tinha sustentação doutrinária.

- ORIENTAÇÃO
Fomos direto ao problema mais grave dentre os que afligiam aquela mulher: as agressões de que era vítima por parte do marido ébrio.

Ela estava amedrontada e, ao mesmo tempo, conflitada por reconhecer chegado o momento de tomar providências. "Em casos dessa natureza — dissemos-lhe — a situação se agrava a cada hora, caminhando para um ponto insustentável. "Você não acha que já é hora de agir? Quanto mais rápido o fizer, menos riscos correrá e mais chances terá de ajudar o companheiro enfermo. Aproveite-Lhe um instante de sobriedade e de calma, quando o lar estiver harmonizado, para conversar claramente. Diga-lhe, bondosa, mas com austeridade: "Não devo suportar mais esta situação para o bem de nós dois. Caso se repitam as agressões, terei que procurar um advogado para me orientar nas medidas que devo tomar, a fim de que não mais passemos por tais constrangimentos. Eu gostaria, sinceramente, que a situação não chegasse a esse ponto. Estou disposta a dar os passos necessários para ajudá-lo e para salvar o nosso casamento.

O que eu mais desejo é que você volte a ser o braço forte e amigo com que eu sempre sonhei, a me proteger. "

— Mas, eu já me ofereci para essas providências e ele não deu crédito, não se interessou nem um pouc o — Então só lhe restam duas alternativas: tentar mais uma vez ou fazer como lhe orientamos. Analise e decida. Independente dessa decisão, cuide de você mesma: continue, na medida do possível, frequentando as reuniões doutrinárias, procure tomar passes, ore o quanto puder, a fim de se manter em sintonia com os Bons Espíritos. "Vamos, agora, à questão não menos grave da orientação que você recebeu sobre a obrigatoriedade do desenvolvimento mediúnico, para que não lhe adviessem desgraças. Devo afiançar-lhe que esta orientação é equivocada, pois não existem registros entre os postulados espíritas de que a mediunidade seja fator de desgraça ou infelicidade por ser a mesma, pelo contrário, um caminho de crescimento espiritual. Os fatores que preponderam no cômputo de nossos infortúnios são o passado espirituai e a conduta moral na vida presente; amar, servir, praticar o bem são a forma ideal de reparar erros praticados contra o próximo e as Leis Cósmicas. "Tranquilize-se e ore, pois os pesadelos que vêm ocorrendo podem desaparecer se feita uma preparação mental cuidadosa antes do repouso noturno.

Faça leituras edificantes, meditação sobre o conteúdo lido, oração afervorada. "Antes de sair, deixe o nome de seu marido para as vibrações a distância e pedido de orientação espiritual".

- COMENTÁRIOS
O alcoolismo é, sem dúvida, um dos maiores inimigos da criatura humana.

A generalização do uso de álcool vem acarretando circunstâncias dolorosas, dificultando a convivência entre os casais, desfazendo lares e promovendo toda sorte de danos à sociedade.

O Espiritismo veio revelar um componente agravante desse terrível flagelo: a obsessão. Ao desencarnar, o alcoólico permanece vitimado pelo vício, buscando sintonia com pessoas frágeis, temperamentais, violentas, que vivem no trânsito corporal utilizando-se do processo da sintonia mental e emocional para prosseguir no consumo do álcool, aspirando os seus vapores e emanações fluídicas, deleitando-se com o prazer mórbido da embriaguês.

Essa parasitose obsessiva toma-se muito dificil de combatida, considerando-se a perfeita identificação de interesses e prazeres entre o encarnado e o desencarnado.

Analisando os pesadelos que a nossa consulente passou a experimentar a partir da orientação que recebera do seu dirigente, vemos aí uma perfeita projeção de seu inconsciente, revelando qual seria o objeto perfeito para as ameaças imaginadas. Que desgraças maiores poderiam advir da interrupção da mediunidade senão através da filha caçula, o afeto principal e suporte emocional daquela mulher sofrida? Uma "fantasia" do inconsciente nascida do conflito, do medo imposto pela sugestão negativa e equivocada do orientador despreparado.

Por outro lado, não podemos descartar, nesses pesadelos, a influência espiritual de caráter obsessivo, pois émuito bem sabido que, durante o sono, o Espírito encarnado, liberto do corpo, encontra os desafetos, que passam a atormentá-lo ostensivamente por meio da sugestão hipnótica, promovendo distúrbios inquietantes.


CASO 5 - PROBLEMA PSÍQUICO OU OBSESSÃO?


Suely Caldas Schubert

—NARRATIVA: Apresentou-se, na Sociedade Espírita Joanna de Ângelis, de Juiz de Fora - MG, um casal com o filho de 16 anos, para o qual pediam orientação e ajuda, visto que o jovem estava com depressão e muito angustiado.

O atendimento foi realizado com a presença da mãe, através da qual ficamos sabendo que Lincoln (nome fictício) tinha vida normal, era estudioso e praticava esportes. "No início do ano em curso, meu marido resolveu tirá-lo do colégio onde cursava o segundo grau e matriculá-lo em outro. No primeiro dia, no novo colégio, meu filho passou mal em plena sala de aula, tendo que se retirar apressadamente, sentindo uma aflição inexplicável, medo e sensação que iria desmaiar. A partir desse dia, embora tentasse, não conseguiu ir às aulas. O estado de angústia tornou-se intenso e não teve mais condições de sair com os colegas antigos, fechando-se em casa, tendo crises de choro, insegurança, medo e profundo abatimento. " Voltou a mãe a ressaltar as qualidades de Lincoln: excelente filho, estudioso, bom gênio, muito educado e de relacionamento normal com os pais e a irmã mais nova.

A senhora, prosseguindo, comentou que, ao surgirem os primeiros sintomas, foram aconselhados a levar o filho a um Centro Espírita.


Isto não seria difícil, pois já

estavam frequentando o Espiritismo há algum tempo, assistindo palestras em Casas diversas e lendo obras espíritas.

Durante o seu relato, Lincoln também forneceu alguns detalhes, porém com certa dificuldade pois emocionava-se até às lágrimas. Era evidente que se tratava de um rapaz dócil, fino, muito educado, de bons sentimentos (inclusive, já participara de reuniões de jovens numa das Instituições Espíritas da cidade) sem vícios, e de excelente conduta. "Fomos eu, meu marido e Lincoln — continuou a senhora — ao Centro Espírita que nos indicaram e levamos o caso ao conhecimento das pessoas incumbidas desse trabalho, sendo por elas orientados de que se tratava de obsessão grave. A convite, participamos de reunião de desobsessão, na qual diversos Espíritos comunicaram-se, dizendo-se inimigos ferrenhos do nosso filho e da família. Ele ficou ainda mais apavorado. Resolvemos tentar outro local e o fato se repetiu de forma semelhante por mais duas vezes.

Invariavelmente ouvíamos esclarecimentos de que eram obsessores terríveis e foram feitas "revelações"do passado da família".

Após o relato da mãe, pedimos ao próprio Lincoln que narrasse, se fosse possível, os sintomas que o acometiam desde a primeira vez.

Ele o fez, com algum esforço.

Ao procurarmos saber se haviam recorrido a um médico ou psicólogo responderam que não, pois devido àafirmativa de que era obsessão julgaram que só através do Espiritismo teriam solução para o problema.

—ORIENTAÇÃO: Procuramos explicar que existem certos sintomas que podem ser confundidos com obsessão, e que, no caso de Lincoln, tudo indicava ser outro o diagnóstico, embora pudesse haver também um componente de ordem espiritual negativa (instintivamente pensávamos tratar-se de síndrome do pânico, mas não o mencionamos para não ferir a ética, já que não temos formação profissional nessa área). Aos poucos, procuramos evidenciar que deveriam consultar um médico, no que concordaram, informando-nos que já estavam pensando em fazê-lo. Acrescentamos que se poderia realizar um tratamento espiritual simultâneo. E porque ambos, mãe e filho, insistissem em saber se era um caso de obsessão grave, respondemos que, a nosso ver, tratava-se de outro problema, coisa que só o médico poderia afirmar. Outro ponto importante foram as perguntas que fizeram sobre as orientações que receberam para participarem de reuniões de desobsessão. Esclarecemos que não eram indicadas, explicando que, infelizmente, existem pessoas, embora bem intencionadas, que por falta de estudo da Doutrina Espírita, levam outras a cometerem enganos.

—COMENTÁRIOS: Lincoln foi a um psiquiatra e teve o diagnóstico de síndrome do pânico, sendo-lhe prescrita a medicação. Por outro lado, passou a frequentar a instituição, três vezes por semana, ouvindo as palestras e recebendo fluidoterapia.

Ao fim de um ano Lincoln estava com a vida normalizada. A medicação foi sendo reduzida até a suspensão. Voltou aos estudos, aos esportes e ao convívio com os amigos.

Prossegue participando das atividades espíritas. Hoje toda a família é profundamente agradecida à Doutrina pelos benefícios recebidos.

Algumas lições importantes a tirar desse fato:
1) Nem tudo é obsessão;
2) O perigo de se fazer afirmativas nesse campo tão complexo;
3) A inconveniência de se levar pessoas totalmente despreparadas — e o que é pior: enfermas — para as reuniões de desobsessão.


CASO 6 - INDUZIDA AO ABORTO


Tánia Hupsel

- NARRATIVA
Adolescente de 13 anos, grávida, muito pobre, pensando em abortar. Baixo nível sócio-econômico, e sem qualquer conhecimento da Doutrina Espírita. O namorado e familiares querem que aborte, fazendo bastante pressão nesse sentido.

Os pais chantageiam-na, dizendo que se não abortar, não irão ajudá-la, e a colocarão para fora de casa.

—ORIENTAÇÃO: Tentando tocá-la pela afetividade, falamos do relacionamento mãe-filho e que a criança que trazia no ventre deveria estar sofrendo com ela, mas que ambos sofreriam muito mais se ela o expulsasse. Introduzimos a noção de reencarnação, do Espírito eterno, que sobreviveria, porém, com as marcas do fato.

Esse filho talvez viesse a ser o seu único arrimo no futuro e, em último caso, ela poderia encaminhá-lo para adoção. "É um Ser vivo, pensante, não um objeto".

Relatamos casos de mães que abortaram e se arrependeram, de outras que experimentaram complicações, até mesmo a morte, e enaltecemos o exemplo daquelas que, resistindo às pressões, conseguiram modificar as posturas radicais dos familiares e demais pessoas envolvidas.

Enfatizamos que ela não estaria só, por pior que fosse a situação e a orientamos para que viesse às reuniões doutrinárias, recorresse ao auxílio da prece e dos passes.

Sugerimos que convidasse os pais e o namorado para que, também, viessem conversar conosco.

Após recomendar-lhe o pré-natal, indicamos os respectivos departamentos de auxílio do nosso Centro que a poderiam ajudar (consulta médica, setor de distribuição de enxovais, etc.) .

Pedimos que se tranquilizasse, em seu próprio benefício e no de seu filho, pois, sendo menor de idade, estava sob o amparo da Lei, não podendo, portanto, ser expulsa de casa.

Mesmo esclarecendo quanto às medidas de proteção legal disponíveis (Juizado de Menores e Conselho Tutelar), demos maior ênfase à afetividade, oração e confiança na Divindade para o encaminhamento do problema, pois que o nosso intuito principal era substituir o medo pela confiança na paisagem de seus sentimentos.

—COMENTÁRIOS: As estatísticas mostram alto índice de gestação entre as adolescentes que, sem maturidade espiritual, emocional e física desejadas para esta condição e sem apoio familiar ou da sociedade, recorrem, com frequência, ao aborto, marcando suas vidas de tal forma que nem imaginam.

A Casa Espírita pode atuar em vários níveis diante desse grave problema social — assistencial, educacional e preventivo.

O serviço de Atendimento Fraterno, por ser o primeiro porto de recepção, orientação e encaminhamento dos casos, tem uma grande responsabilidade, não se devendo desviar do caminho indicado pela bússola da Doutrina Espírita.


CASO 7 - COMPROMISSO AMEAÇADO Tânia Hupsel


—NARRATIVA: "Nem sei como começar. Não estou mais suportando a situação em casa: meu marido bebe e se enche de dívidas. Ele já prometeu, várias vezes, parar de beber e não consegue. Estou desesperada. Meus filhos estão vivenciando todo o problema, mas tenho medo de me separar e me complicar espiritualmente.


Já me disseram que é meu carma e devo aguentar até o fim. O que eu faço?"

—ORIENTAÇÃO: Falamos da Doutrina Espírita e do conceito de carma, que é dinâmico e não determinista, ou fatalista, como erroneamente se pensa.

Demos a visão espírita do Deus-Amor e não Deus-punição e explicamos que a responsabilidade dos nossos atos, através do livre-arbítrio, é uma das maiores provas desse amor. Falamos da colheita a partir da sementeira, que se dará de acordo com a nossa capacidade, limites e nível evolutivo; do reencontro de Espíritos através da reencarnação para novas oportunidades de reparação e crescimento; da finalidade essencial da vida, que é aprendermos a nos amar, à medida que evoluimos.

No casamento o compromisso é mútuo — disse-lhe. Sugerimos que se perguntasse: — "Eu quero, realmente, manter, ou salvar este relacionamento (e, ou, ajudar o marido)? — Já investi tudo o que podia para que isso aconteça? — O que eu poderia fazer além do que já fiz, com esse objetivo?" E lhe orientamos que antes de tomar uma decisão, procurasse harmonizar-se mais através da oração, frequência às reuniões doutrinárias, passes; que realizasse o Evangelho no lar e procurasse envolver o companheiro e a família em vibrações de paz e mentalizações positivas.

Tentasse o diálogo carinhoso e evitasse o conflito. Pensasse nele como um doente (sem rancor, mas sim, com piedade) e propusesse-lhe a terapia médica e espírita.

Caso ele não aceitasse, auxiliasse-o, da maneira possível, independente da decisão de manter ou não o casamento.

—COMENTÁRiOS: É importante termos sempre em mente durante o atendimento uma de suas diretrizes: que não nos compete induzir ou tomar qualquer decisão pelo assistido, respeitando o livre-arbítrio de cada um, fator preponderante na evolução individual.


Devemos oferecer a palavra espírita,

inclusive esclarecendo quanto a conceitos errôneos, ampliando assim a visão do problema e oferecendo alternativas de reflexões, que auxiliarão na escolha (individual e intransferível).


CASO 11- ESTÁ BLOQUEADO, MAS QUER AJUDA


Tânia Hupsel


—NARRATIVA:
— "Estou passando por problemas muito difíceis, mas não gostaria de relatá-los.


São muito pessoais. Eu nem sei por que vim aqui, nunca fui muito religioso. Será que mesmo assim eu receberia algum tipo de ajuda?"

—ORIENTAÇÃO: Observando a sua ansiedade, procuramos, inicialmente, tranquilizá-lo, afirmando que respeitaríamos a sua opção de não relatar o problema, e depois o felicitamos por ter recorrido à Casa Espírita, num momento de aflição. Orientamo-lo sobre como a Doutrina Espírita poderia auxiliá-lo, e, em particular, esta Casa. E acrescentamos: Não há necessidade que saibamos o que se passa com você; o importante é que você saiba, da maneira mais completa possível, pois só então poderá realizar as transformações necessárias em si próprio e, consequentemente, em sua vida.

Você não está só, e, assim como a Divindade soube trazê-lo até aqui, saberá como auxiliá-lo. Procure dar um crédito de confiança a você mesmo e à sua fonte interna de sabedoria, conectada com Deus.

—COMENTÁRIOS: Aproveitamos o caso acima, para recordar, nos atendimentos habituais, que precisamos evitar expor as pessoas a constrangimentos desnecessários, e, para isso, devemos até desestimular revelações de determinados detalhes que não seriam úteis para o aconselhamento. Lembremos que muitos dos que nos procuram são ou passarão a ser frequentadores da mesma Casa Espírita e, alguns, poderão sentir-se incomodados ao nos reencontrarem em outras circunstâncias, arrependendo-se por certas confidências, mesmo sabendo da nossa diretriz de sigilo.

Durante atendimentos semelhantes ao presente caso, se por algum motivo sentirmos a necessidade de um melhor esclarecimento para o aconselhamento, podemos solicitar ao assistido que relate o seu problema de uma maneira genérica, contudo respeitando sempre a sua decisão.




Acima, está sendo listado apenas o item do capítulo 9.
Para visualizar o capítulo 9 completo, clique no botão abaixo:

Ver 9 Capítulo Completo
Este texto está incorreto?