Leis Morais da Vida

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CAPÍTULO 34

ABNEGAÇÃO

Mais profunda do que a ação de solidariedade, pura e simplesmente.

Mais nobre do que o gesto asceta de desprezo e indiferença pelo mundo. Mais elevada do que o altruísmo no seu sentido sociológico.

A abnegação é a oferenda de amor ao próximo que leva ao sacrifício como forma inicial de caridade relevante.

Tem origem nos pequenos cometimentos do auxílio fraternal, com renúncia pessoal, mediante a qual a imolação reserva para quem a exerce a alegria de privar-se de um prazer, em prol do gozo de outrem.

Uma noite de sono reparador trocada pela vigília junto a um enfermo não vinculado diretamente aos sentimentos, quer pela consanguinidade ou por interesses de outra procedência;

A cessão de um bem que é preciso e quiçá faça falta, desde que constitua alegria de outra pessoa;

A paciência e a doçura na atitude, com esforço e sem acrimônia interna, na desincumbência de um grave mister, dirigido às criaturas humanas;

A jovialidade, ocultando as próprias dores, de nodo a não afligir aqueles com os quais se convive;

A perseverança discreta no trabalho mortificante, sem queixa nem enfado, desde que resultem benefícios para os demais;

A ação não violenta, o silêncio ante a ofensa, a não defesa em face de indébitas acusações, considerando, com esse esforço sacrificial, não comprometer nem ofender a ninguém, são expressões de renúncia ao amorpróprio, dando lugar à abnegação, que ora escasseia entre as criaturas, e, no entanto, é essencial para a construção do bem entre os homens da Terra.

Um gesto de abnegação fala mais expressivamente do que brilhantes páginas escritas ou discursos de alta eloquência e rebuscada técnica retórica.

A abnegação felicita quem a recebe, mas santifica quem a exercita.

O utilitarismo e o imediatismo modernos encontram soluções eufemistas, por meio de processos de transferência para as realizações que recomendam a abnegação de cada um.

Nesse sentido o egoísmo é um entrave dos mais impeditivos para a consecução do sacrifício com que se pode enflorescer de bênçãos a cruz da abnegação.


* * *

Diante de um esforço que te cabe brindar a alguém que sofre, não transfiras a oportunidade de ser abnegado.

Sob pretexto algum te poupes à operosa produção da felicidade, se o cometimento te exige abnegação.

Melhor ser o sacrificado pelo bem e pelo progresso dos seres do que o usufrutuário das coisas.

No ato de espalhar o conforto moral, não entre teças opiniões desairosas, nem te apresentes na condição de mártir a fim de inspirares simpatia. Sê autêntico no dever.

O abnegado se desconhece.

Ama com devotamento, e a flama do amor que lhe arde no íntimo raramente dá-lhe tempo para pensar primeiro em si, porquanto os problemas e as dores dos seus irmãos em Humanidade têm para ele regime de prioridade.

Se, todavia, desejares um protótipo que te expresse com mais veemência a grandeza da abnegação, recorre a Jesus que, em se esquecendo de si mesmo, abraçou a cruz do sacrifício, a tudo renunciando, a fim de, por essa forma, testemunhar o seu afeto e devoção por todos nós.

Oxalá, assim, a abnegação te dulcifique o ser e te faça realmente cristão.




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