Nos Bastidores da Obsessão - Novo Projeto

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CAPÍTULO 4

Estudando o hipnotismo

Fôramos informados pelo irmão Saturnino de que, no processo de desobsessão, em que nos empenhávamos ao lado da família Soares, seria necessário colher melhores lições em torno do problema da hipnose espiritual praticada por Entidades Vingadoras da Erraticidade, antes de tomarmos conhecimento detalhado das tarefas que se realizavam no Anfiteatro.

Para tanto, receberíamos, ao primeiro ensejo, a visita de sábio Mensageiro Espiritual que viria aos nossos trabalhos e, utilizando-se da mediunidade do irmão Morais, dar-nos-ia elucidativa mensagem sobre a Hipnologia.

Anunciada a noite dos trabalhos em que receberíamos o abençoado Instrutor, preparamo-nos convenientemente e, chegado o momento, após a abertura dos trabalhos, que foi procedida pelo irmão Petitinga, e as instruções normais, o médium, em transe sonambúlico, começou a falar.


Feitas as saudações iniciais e costumeiras, a Entidade, que irradiava bondade e simpatia, começou a expressar-se com inesquecível inflexão de voz:

— Irmãos na fé restaurada: «que Jesus, o Divino Benfeitor, nos abençoe e nos guarde, dando-nos a Sua paz e inspiração!

«Desde tempos imemoriais que são conhecidas algumas das práticas do Hipnotismo moderno, que ocupava nas religiões dos povos da antiguidade oriental lugar de relevo, embora com nomenclatura diversa. "O Egito faraônico, através dos seus sacerdotes, que pesquisavam os mais variados fenômenos psíquicos com os recursos de que dispunham, dedicou diversos templos ao sono, nos quais se realizavam as experiências hipnológicas de expressivos resultados. Os taumaturgos caldeus praticavam-no com finalidades terapêuticas, lobrigando respeitável soma de benefícios.

E as diversas literaturas referentes à hipnologia conservam ainda hoje fragmentos históricos da sua viagem multissecular através de civilizações incontáveis que ficaram no passado...

«Deve-se, porém, a Frederico Antônio Mesmer o grande impulso que o trouxe aos tempos modernos. Todavia, merece considerado que Paracelso, autor do conceito e teoria do fluído, anteriormente já se interessara por experiências magnéticas, que seriam posteriormente desdobradas por Mesmer. Considerava Mesmer o fluído como sendo o meio de uma influência mútua entre os corpos celestes, a terra e os astros», afirmando que esse fluído se encontra em toda a parte e enche todos os espaços vazios, possuindo a propriedade de «receber, propagar e comunicar todas as impressões do movimento». E elucidava: «O corpo animal experimenta os efeitos desse agente: e é insinuando-se na substância dos nervos que ele os afeta imediatamente».

«Formado pela Universidade de Viena, o ilustre médico defendeu a tese que intitulou: «Influência dos astros na cura das doenças», através da qual expunha a sua teoria do fluído, inspirada, sem dúvida, no tradicional conceito do fluidismo universal.

«Fixado em tal opinião, concluía que as enfermidades decorrem da ausência desse fluído no organismo, fluído que passa, então, a ser a alma da vida. "Utilizando-se de 27 proposições ou aforismos, estabeleceu as bases do seu pensamento e transferiu-se de Viena para Paris, nos fins do século 18, dando início, conquanto o forte preconceito acadêmico então reinante, às suas práticas, que tinham de certo modo um caráter burlesco, tendo em vista a forma bizarra com que se apresentava, sem a preocupação de atender à seriedade de um labor de ordem científica. "Compreensivelmente, o aparato algo teatral conseguia influenciar os pacientes que lhe buscavam o auxílio ».


Fazendo uma pausa, como a coordenar históricamente os conceitos, prosseguiu, com expressiva ênfase:
— "Avançando de surpresa a surpresa, nas experiências magnéticas ao lado de portadores de distúrbios nervosos, criou Mesmer a (tina das convulsões» (*), em redor da qual podiam ser atendidas simultâneamente até 130 pessoas. "Ali se reuniam paralíticos, nevropatas de classificação complexa que, em contacto com o fluído magnético, eram acometidos de convulsões violentas das quais saíam com nervos relaxados, libertados das enfermidades que os consumiam

* A "Tina das convulsões" ou baquet (em francês) se constituia de ampla caixa de madeira com dimensões gigantes, de forma circular e entulhada de limalhas de ferro. Sobre as limalhas eram colocadas garrafas cheias de água adredemente magnetizadas. Essas garrafas semelhavam-se a vasos comunicantes, por estarem interligadas e o líquido passar através de todas. Da tina, por aberturas assimétricas, saiam inúmeras barras delgadas e longas de ferro, móveis, que os pacientes aplicavam sobre os órgãos enfermos. Os pacientes formavam diversas fileiras em torno do baquet, de modo a poderem a um só e mesmo tempo beneficiar-se dos resultados magnéticos.

Além disso, deixavam-se atar à cintura por uma corda, uns aos outros, e se davam as mãos com a finalidade de formarem um anel de força, a fim de ampliarem a ação do fluído. "Acatado por uns, perseguido por outros, Mesmer terminou por abandonar Paris e transferiu-se para Nursburg, no lago de Constança, algo combalido e desprestigiado.

«As suas experiências, porém, chamaram a atenção de homens ilustres e interessados na busca de métodos capazes de diminuírem as aflições humanas. Entre esses, o Marquês De Puységur, (1) em 1787; enquanto magnetizava um camponês de nome Vítor Race, foi surpreendido por estranha ocorrência: o paciente adormeceu e nesse estado apresentou admirável lucidez, sendo capaz de produzir eficiente diagnóstico a respeito de males orgânicos que o afligiam e sugerir segura terapêutica.

O sono era ameno, sem convulsão nem tormento, ensejando o início do período denominado então sonambulismo.

«O fato, digno de estudos, tornou-se de súbito instrumento de charlatanismo e foi denominado como maravilhoso, dando margem a especulações naturalmente ridículas e indignas.

Todavia, estava-se no caminho certo, apesar das veredas falsas.

A Academia, convocada a opinar através de inquéritos conduzidos com má fé, chegou à conclusão de que tudo não passava de burla, e cerrou, desde então, «olhos e ouvidos» aos aventureiros, relegando-os ao mais amplo desprezo.

(1) O Marquês De Puységur, dominado por sentimentos humanitários, magnetizou uma árvore em sua propriedade de Busancy com o objetivo de auxiliar os pobres que, tocando no vetusto vegetal, se diziam melhorar através dos seus recursos benéficos. Mesmer, por sua vez, interessado igualmente na mais ampla difusão do magnetismo, bem como na coleta de resultados espetaculosos, instruiu um seu empregado, tornando-o seu cooperador para atender à clientela em crescimento espantoso.

Além do baquet que atendia a número coletivo, havia a aplicação do magnetIsmo individualmente, feito de maneira bastante grosseira, mas, ainda assim, de resultados surpreendentes... "Pesquisadores conscientes, no entanto, não desanimaram e, dentre esses, o Barão Du Potet e Carlos Lafontaine se fizeram os mais notórios pelos livros que escreveram e os espetáculos públicos em que se apresentaram, exibindo os resultados das suas investigações, embora não fossem realmente cientistas.

«No entanto, a descoberta de De Puyøégur veio influenciar poderosamente o sacerdote português José Custódio de Faria, nascido em Concolim de Bardez, na África Portuguesa e residente em Paris, que, graças ao seu notável trabalho, passou a ser chamado em França l’abbé de Faria, que conseguiu, com inauditos esforços, libertar-se de todas as práticas e formas até então vigentes, estabelecendo que o fenômeno procedia da sugestão, dependendo, evidentemente, do paciente.

Desconsiderou as apresentações ridículas, sem conseguir, no entanto, despertar a atenção dos sábios e acadêmicos... "As experiências de De Puységur conduziram o fenômeno ao campo da transposição dos sentidos, visão a distância e através de corpos opacos, etc... "Todavia, ao cirurgião inglês James Braid se deve a introdução do termo hipnotismo em lugar de magnetismo e novas conclusões surpreendentes no setor das pesquisas, tendo-se em vista ser ele espiritualista.

Assistia ele a uma sessão de Lafontaine, para averiguar o que havia de real no debatido problema da magnetização, quando se sentiu despertado para alguns dos fenômenos mais modestos, o que o levou a realizar, ele mesmo, incontáveis experiências, no decurso das quais, após conseguir o sono provocado em seus «sujets», deparou com os estados de catalepsia e letargia, encontrando novo campo para experimentações valiosas.

Estávamos fascinados.

Era uma síntese histórica do Hipnotismo, então aplicado em nossos trabalhos espirituais, e que hoje tem amplo curso entre médicos e odontólogos, reflexologistas e psiquiatras, constituindo preciosa disciplina credora de estudos profundos e complexos.


O Instrutor, após ligeira reflexão, deu curso à exposição fluente e clara:

—"No ano de 1878, porém, o Professor João Martinho Charcot proferiu uma série de conferências no Hospital da Salpêtriére, modificando na Academia a reabilitação do desdenhado Magnetismo, agora apresentado com nomenclatura diferente: Hipnotismo, expressão compatível, sem dúvida, com as experiências em curso. Todavia, o eminente professor Charcot, lidando exclusivamente com histéricas internadas no Hospital da Salpêtriére, chegou à conclusão apressada de que o hipnotismo é uma nevropatia de caráter automatista, que se manifesta no enfermo através de três fases distintas: catalepcia, letargia e sonambulismo, relegando o fenômeno hipnótico a um plano de descrédito e mesmo de abjeção. "Enquanto o Professor Charcot pontificava na Universidade da Salpêtriére, acusado pelo Professor Pedro Janet de apenas ter hipnotizado sensitivas já condicionadas por estudantes que praticavam o sonambulismo na ausência do mestre, criando nas percipientes um estado de automatismo patológico lamentável (2), destaca-se na Escola de Nancy o Dr. Liébault, que desde 1860 aplicava os recursos hipnológicos diariamente em sua clínica, com resultados expressivos, discordando terminantemente da conceituàção histeropata dos mestres da Salpêtriére...


A Escola de Nancy reuniu homens notáveis, dentre os quais o professor Bernheim, que fora atraído ao

(2) Esse mesmo Professor Pierre Janet publicara, em 1889, um livro Intitulado "Automatismo psicológico", através do qual, entre diversas conclusões, tenta desmoralizar os médiuns, situando-os entre os histéricos, na condição de simples automatistas.

Hipnotismo, através de um seu cliente para o qual falharam todos os recursos, e se curara com uma única sessão de hipnose na clínica do Dr. Liébault. (3) A partir desse momento, ficaram definitivamente estabelecidas as duas correntes preponderantes na Hipnologia: a de que o fenômeno hipnótico encontra melhor campo e é específico nos histéricos, e aquela que afirma o oposto, estabelecendo que as pessoas portadoras de cérebro normal, capazes de melhor concentrarem nas ideias que se lhes sugiram, são as realmente hipnotizáveis.

Correntes de pensamentos diversos, padronizadas segundo os múltiplos experimentadores, têm sido apresentadas, criando opiniões esdrúxulas e não poucas vezes ridículas.

A verdade, porém, é que as duas Escolas francesas, a da Salpêtriére, na qual pontificavam os conceitos da histeropatia, e a de Nancy, afirmando a legitimidade da sugestão em todos os indivíduos, mereceram da posteridade estudos mais acentuados e melhor consideração, embora a grande maioria dos pesquisadores haja discordado de Charcot, Pedro Jauet, Babinski, seus mais ilustres representantes.

(3) Allan Kardec, o eminente Codificador, acentuou que: "São extremamente variados os efeitos da ação fluídica sobre os doentes, de acordo com as circunstâncias. Algumas vezes é lenta e reclama tratamento prolongado, como no magnetismo ordinário; doutras vezes é rápida como uma corrente elétrica. Há pessoas dotadas de tal poder que operam curas instantâneas nalguns doentes, por meio apenas da imposição das mãos, ou até exclusivamente por ato de vontade. Entre os dois pólos extremos dessa faculdade há infinitos matizes. Todas as curas desse gênero são variedades do magnetismo e só diferem pela intensidade e pela rapidez da ação. O princípio é sempre o mesmo: o fluído, a desempenhar o papel de agente terapêutico e cujo efeito se acha subordinado à sua qualidade e a circunstâncias especiais".

A Gênese, de Allan Kardec, 14a edição — Capitulo XIV —Item 32 — FEB.

— Nota, do Autor espiritual.

«O Professor Carlos Richet, a cujo trabalho tanto devem as ciências fisiológicas e psicológicas, o eminente catedrático da Universidade de Paris, realizou estudos sistematizados, expôs com lealdade os resultados obtidos e conseguiu interessar os mais eminentes estudiosos do seu tempo, entre os quais o próprio Professor Charcot, que após as conclusões do mestre fisiologista resolveu estudar em profundidade o Hipnotismo»...


E dando diversa inflexão à voz, o Benfeitor, no qual se alinhavam conhecimentos valiosos e experiências de alto realce, aduziu:

— «O que nos importa, entretanto, considerar, é o mecanismo como se efetuam as intervenções hipnológicas entre os indivíduos encarnados, e mais particularmente entre desencarnados e encarnados, nos processos dolorosamente obsessivos, tanto quanto na reciprocidade do intercâmbio entre os despidos da indumentária carnal.

«As ondas mentais exteriorizadas pelo cérebro mantêm firme intercâmbio em todos os quadrantes da Terra e fora dela. Pensamentos atuam sobre homens e mulheres desprevenidos e a sugestão campeia vitoriosa aliciando forças positivas ou negativas com as quais sintonizam, em lacerantes conúbios dos quais nascem prisões e surgem alvarás de liberdade, por onde transitam opiniões, aspirações, anseios...

«Merece relembrado o conceito do Nazareno: Onde estiver o tesouro aí o homem terá o coração», o que equivale dizer que cada ser respira o clima da província em que situa os valores que lhe servem de retentiva na retaguarda óu que se constituem asas de libertação para o futuro.

«Pensamento e vontade — eis as duas alavancas de propulsão ao infinito e, ao mesmo tempo, os dois elos de escravidão nos redutos infelizes e pestilenciais do «inferno» das paixões.

«Pensar e agir, identificando-se com os fatores da atenção, constituem a fórmula mágica do comportamento individual a princípio, e coletivo logo depois, em que, ora por instinto gregário, ora por afinidade psíquica, se reúnem os comensais desta, ou daquela ideia.

«Céu ou inferno, portanto, são dependências que construímos em nosso íntimo, vitalizadas pelas aspirações e mantidas a longo esforço pelas atitudes que imprimimos ao dia a dia da existência. "Por tais processos, províncias de angústia e regiões de suplício, oásis de ventura e ilhas de esperança nascem no recôndito de cada mente e se multiplicam ao império de incontáveis vontades que se reúnem, em todos os departamentos do planeta. Inicialmente, o homem se converte no anjo ou no demônio, que ele próprio elabora por força da ideia superior ou viciada em que se compras, sintonizando, por um processo natural de afinidades, com outras mentes encarnadas ou não, que vibram nas mesmas faixas-pensamento, produzindo processos de hipnose profunda que se despersonalizam e se nutrem, sustentados, reciprocamente, por forças vitais de fácil manipulação inconsciente, que gravitam em toda a parte.

Nesse sentido, convém considerar as lições superiores do Espiritismo, que oferece panorama de elevada estrutura mental e moral, facultando registos de ideias superiores capazes de manterem uma higiene psíquica libertadora de toda conexão com as Entidades infelizes do Mundo Espiritual Inferior ou com as vibrações que pairam na Terra mesma, e que procedem de vigorosas mentes ainda agrilhoadas, que se imantam umas às outras, realizando intercâmbio danoso, de longo curso e de imprevisíveis consequências.

«Em todo processo hipnológico, pois, convém examinar a questão da sintonia e da sugestão, com razões poderosas, senão imprescindíveis para a consecução dos objetivos: a fixação da ideia invasora.

«O Professor José Grasset, por exemplo, o excelente mestre de Montpeliier, inspirado nas observações realizadas em torno do polígno cerebral que também servira de base a Wundt e Charcot, afirmava ter descoberto ali o centro da consciência, o núcleo da vontade, colocando, imediatamente abaixo, o centro de Broca, responsável, pelos encargos da linguagem e os responsáveis pela visão, audição, gustação, etc... Imaginava, então, um ponto de referência que passava a ser o centro do psiquismo superior, encarregado dos fenômenos conscientes e no polígono propriamente dito o campo do pensamento e da vontade, encarregado de todas as tarefas do automatismo psicológico. Elucidava, em consequência, que toda sugestibilidade que dimana do operador se transmite inconscientemente tomando posse do campo cerebral, no polígono do hipnotizado.

A vontade dominante se encarrega de conduzir a vontade dominada, como se a alma de quem hipnotiza substituísse momentaneamente a alma do que foi hipnotizado». Dessa forma, o hipnotismo pode ser denominado, como querem alguns experimentadores, «O anestésico da razão». "Já o psicólogo inglês Guilherme Mac-Dougall, igualmente fascinado pelo assunto, asseverava, examinando o problema da sugestão na hipnose, que esta é um meio de transmissão do pensamento, tendo como resultado a convicta aceitação de qualquer mensagem proposta independendo de análise pelo paciente com exame lógico para a sua aquiescência. Isto é: o operador impõe-se ao sujeito, que o recebe sem reação proveniente de exame prévio. "Em bom vernáculo, sugestão é «o ato ou efeito de sugerir.

Inspiração, estímulo, instigação. Ideia provocada em uma pessoa em estado de hipnose ou por simples telepatia".

«A sugestão é, portanto, a inspiração incidente, constante, que atua sobre a mente, provocando a aceitação e a automática obediência.

«Por essa razão, Forel informa que os cérebros sadios são mais fáceis de aceitar a sugestão, e Emilio Coué, discípulo de Liébault, prefere considerar que os pacientes capazes de autossugestionar-se são melhores para que com eles se lobriguem resultados mais explícitos e imediatos.

«Outros autores, como é o caso do insigne Pavlov, o «pai» dos reflexos nos animais e no homem, elucidam que o sono natural hipnótico e a inibição constituem a mesma coisa, deixando transparecer que, no momento em que essa inibição se generaliza, permanecendo a causa preponderante, tende a espalhar-se, facultando ao hipnotizando aceitar a sugestão que prepondera.

«Ocorre, entretanto, que todos os seres têm uma tendência ancestral, natural, para a obediência, o que se transforma num condicionamento inconsciente para aceitar toda ordem exterior, quando não se tem uma lucidez equilibrada e firme capaz de neutralizar as ideias externas que são sugeridas.

«No fenômeno hipnológico há outro fator de grande valia que é a perseverança, a constância da ideia que se sugere naquele que a recebe.

Lentamente a princípio tem início a penetração da vontade que, se continuada, termina por dominar a que se lhe submete.

«Os modernos psicanalistas e reflexologistas situam as suas observações, os primeiros nos reflexos condicionados, que pretendem ser um «estado de inibição difusa somática cortical» com a presença de um ponto de vigília, enquanto os segundos se referem a um «processo regressivo particular que pode ser iniciado por privação senso-motora ideativa ou por estimulação de uma relação arcaica com o hipnotista».


Os conceitos emitidos com sabedoria e em síntese prodigiosa, considerando-Se a imensa variedade de opiniões em torno do Hipnotismo, nos deslumbravam. Que mundo estranho e imenso, o da mente! Quantas paisagens desconhecidas para nós! Os próprios estudiosos dos fenômenos psíquicos, na Terra e além da vida física, encontravam-Se empenhados milenarmente na elucidação das questões palpitantes da vida mental, encontrando, só agora, alguns pontos vígeis para elucidações dos processos de intercâmbio entre homens e homens, espíritos desencarnados e encarnados. Deixava-me arrastar em considerações, na pausa que se fizera espontanea, quando a Entidade Abnegada prosseguiu:

— «Isto posto, meus irmãos, examinemos o problema das obsessões entre os desencarnados e encarnados, na esfera física.

«Em todo processo de imantação mental, do qual decorrem os sucedâneos da obsessão simples, da fascinação e da subjugação — conforme a classificação perfeita de Allan Kardec —, há sempre fatores predisponentes e preponderantes que se perdem no intrincado das reencarnações.

«Toda vítima de hoje é algoz de ontem, tomando o lugar que lhe cabe no concerto cósmico.

«Assim considerando, em quase todos os processos de loucura — exceção feita não somente aos casos orgânicos de ataque microbiano à massa encefálica ou traumatismo por choques de objetos contundentes — defrontamos com rigorosas obsessões em que o amor desequilibrado e o ódio devastador são agentes de poderosa atuação.

«Quando há um processo de obsessão desta ou daquela natureza, o paciente possui os condicionamentos psíquicos — lembranças inconscientes do débito através das quais se vincula ao perseguidor —, que facultam a sintonia e a aceitação das ideias sugeridas e constringentes que chegam do plano espiritual.

Se o paciente é experimentado nas disciplinas morais, embora os compromissos negativos de que padece, consegue, pela conquista de outros méritos, senão contrabalançar as antigas dívidas pelo menos granjear recursos para resgatá-las por outros processos que não os da obsessão. "As Leis Divinas são de justiça, indubitàvelmente; no entanto, são também de amor e de misericórdia.

O Senhor não deseja a punição do infrator, antes quer o seu reajuste à ordem, ao dever, para a sua própria felicidade.

«Desse modo, quando a entidade perseguidora, consciente ou não, se vincula ao ser perseguido, obedece a impulso automático de sintonia espiritual por meio da qual estabelece os primeiros contactos psíquicos, no centro da ideia, na região cortical inicialmente e depois nos recônditos do polígono cerebral, donde comanda as diretrizes da vida psíquica e orgânica, produzindo ali lesões desta ou daquela natureza, cujos reflexos aparecem na distrofia e desarticulação dos órgãos ligados à sede atacada pela força-pensamento invasora.

«Desse centro de comando, em que o hóspede se sobrepõe ao hospedeiro, as alienações mentais e os distúrbios orgânicos se generalizam em longo curso, que a morte do obsidiado nem sempre interrompe.

«A consciência culpada é sempre porta aberta àinvasão da penalidade justa ou arbitrária.

E o remorso, que lhe constitui dura clave, faculta o surgimento de ideiasfantasmas apavorantes que ensejam os processos obsessivos de resgate das dívidas.

«Invariàvelmente, na obsessão, há sempre o aproveitamento da ideia traumatizante — a presença do crime praticado —, que é utilizada pela mente que se faz perseguidora revel, apressando o desdobramento das forças deprimentes em latência, no devedor, as quais, desgovernadas, gravitam em torno de quem as elabora, sendo consumido por elas mesmas, paulatinamente.

Nas atividades da obsessão de espíritos a espíritos desencarnados, aqueles verdugos, conhecedores das limitações e dos erros dos recém-chegados da jornada carnal, após os terem acompanhado anos a fio, com sicários implacáveis, utilizamse de ardis com que apavoram os desassisados, e por processos de sugestão, aplicados com veemência nos centros perispirituais, conseguem produzir lamentáveis condicionamentos de alteração na forma das vítimas que se lhes demoram nas garras, dominando-as, por fim, em demorado curso de vingança ultriz e devastadora.

«As ideias plasmadas e aceitas pelo cérebro, durante a jornada física, criam nos painéis delicados do perispírito as imagens mais vitalizadas, de que se utilizam os hipinotizadores espirituais para recompor o quadro apavorante, em cujas malhas o imprevidente se vê colhido, derrapando para o desequilíbrio psíquico total e deixando-se revestir por formas animalescas grotescas — que já se encontram no subconsciente da própria vítima — e que estrugem, infelizes, como o látego da justiça no necessitado de corretivo.

«No sentido oposto, as ideias superiores, alimentadas pelo espírito em excursão vitoriosa, condicionam-no à libertação, concedendo «peso específico» ao seu perispírito, que pode, então, librar além e acima das vicissitudes grosseiras do liame carnal.


«Com muita sabedoria, Allan Kardec enunciou que:

«Relativamente às sensações que vêm do mundo exterior, pode-se dizer que o corpo recebe a impressão; o perispírito a transmite e o Espírito, que é o ser sensível e inteligente, a recebe. Quando o ato é de iniciativa do Espírito, pode dizer-se que o Espírito quer, o perispírito transmite e o corpo executa — elucidando, em admirável síntese, o poder do pensamento na vida orgânica e das sensações no Espírito (4).


Amplo silêncio se espraiou pela sala. Todos mergulhamos em meditações, enquanto o angélico Instrutor propiciou uma pausa para reflexão dos ouvintes. E como fazendo as elucubrações para finalizar, arrematou:

— "Por essa razão, a vitalização de ideias edificantes constrói o céu generoso da felicidade, tanto quanto a mentalização deprimente gera o inferno da aflição que passa a governar o comportamento do espírito.

«É nesse particular que se avultam as lições soberanas do Mestre Galileu, conclamando o homem ao ajustamento à vida, respeitando-lhe as diretrizes abençoadas, através das medidas da mansuetude, da compaixão, da misericórdia, do amor indistinto e do perdão incessante.

«Reverenciamos hoje na Terra, felizmente, o Espiritismo com Jesus, verdadeira fonte de ideias superiores e enobrecidas que libertam õ espírito e o conduzem às verdadeiras causas em que devem residir os seus legítimos interesses, fazendo que a dúvida seja banida, no que diz respeito à vida verdadeira, e trabalhando contra o egoísmo, fator infeliz de quase todos os males que afligem a Humanidade.

«Se alguém incide em erro, que se levante do equívoco e recomece o trabalho da própria dignificação.

(4) "Obras Póstumas" — Allan Kardec — 11a edição —"Manifestações dos Espíritos" — Item 11 — FEB.

— Nota do Autor espiritual.

O erro representa lição que não pode constituir látego, mas ensejo de enobrecimento pela oportunidade que faculta para a reparação e o refazimento. «O intercâmbio permanente dos Espíritos de uma com outra esfera da vida objetiva, seguramente, oferece ao homem a visão porvindoura do que, desde já, lhe está reservado. No entanto, para dizer-se alguém espírita não basta que se tenha adentrado nos conceitos espiritistas ou participado de algumas experiências práticas da mediunidade...

É imprescindível incorporar ao modo de vida os ensinamentos dos Espíritos da Luz, tomando parte ativa na jornada de redenção do homem, por todos os modos e por todos os meios ao alcance, para que triunfem os postulados da paz, da justiça e do amor entre todas as criaturas.

«Nesse particular, o amor, conforme nos legou Jesus Cristo, possui a força sublime capaz de nos preservar de nós mesmos, ainda jornaleiros do instinto, ensinando-nos que a felicidade tem as suas bases na renúncia e na abnegação, ensejando-nos mais ampla visão de responsabilidade e dever na direção do futuro.

«Dia virá, não muito longe, em que a dor baterá em retirada, definitivamente, e o intercâmbio do bem, pela força criadora do amor que se origina nos Dínamos Mentais da Divina Providência, envolverá vigorosamente todos os seres e os conduzirá à direção da tranquilidade plena, em cujo caminho já nos encontramos desde agora...

«Confiemos, pois, na vitória final do bem e desde logo nos entreguemos ao Sumo Bem que cuidará do nosso próprio bem».

Calou-se o Amigo Espiritual.

Suaves vibrações como que carreadas por mãos invisíveis invadiram a sala, e ondas de imensa tranquilidade nos dominavam a todos.

Proferindo expressões de despedida carinhosa e deixando-nos com lágrimas que fluíam abundantes dos olhos, o Venerando Mentor desligou-se do médium e a sessão foi encerrada Um silêncio de emoções indescritíveis nos acompanhou a todos de retorno ao lar, para o necessário repouso, enquanto a noite serena salmodiava canções em fios estelares, estuando no Infinito.




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