Nos Bastidores da Obsessão - Novo Projeto

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CAPÍTULO 5

Elucidações valiosas

Guilherme, adormecido, fora trasladado para local apropriado, na própria Terra, de modo a aguardar em refazimento espiritual o novo encontro com os antigos cômpares, para as bênçãos da paz e, consequentemente, desobsessão do Sr.

Mateus e de Mariana.

O lúcido mentor esclareceu que oportunamente seria realizada outra entrevista com o perseguidor da fanília Soares, de modo a serem recolhidos esclarecimentos que facultassem as operações socorristas com o êxito que todos desejávamos. Sugeriu-nos igualmente justo repouso, e que, antes das tarefas em programação, buscássemos a serenidade da oração a fim de podermos cooperar com mais firmeza e melhor entendimento dos problemas que afetam a marcha da evolução espiritual dos seres, embora, ao retornarmos ao corpo, não nos recordássemos, com a nitidez que seria de desejar.

Antes do horário habitual, congregamo-nos na Sede da União Espírita Baiana, no recinto destinado aos labores mediúnicos, e seguramente inspirado por Saturnino, o irmão Petitinga tomou de "O Evangelho segundo o Espiritismo", iniciando a leitura de comovedora página sobre a epígrafe: "Amar o próximo como a si mesmo", conforme se encontra no Capítulo 11.

As palavras, vibrando na tônica da compaixão, chegavam-nos à alma como mensagem de amor que a todos nos irmanava em perfeita comunhão espiritual. Logo depois, a reunião teve começo.

Incorporando o médium Morais, Saturnino elucidou que traria Guilherme à psicofonia para melhor mergulho nos fluídos do sensitivo de modo a diminuir-lhe a carga psíquica e o envolvimento nas faixas do ódio de que se via possuido desde há muitos anos.

Silenciada a voz do Instrutor Amigo, o médium foi dominado por estertores angustiantes e, como se despertasse de pesado sono, em que as imagens evocassem cenas muito dolorosas, o aflito perseguidor identificou o recinto em que se encontrava e, acometido de repentina ira, pôs-se a deblaterar.

Acalmado com passes magnéticos aplicados pelo Doutrinador, lentamente recobrou o equilíbrio e indagou a razão do constrangimento de que se via objeto, estando novamente ali.

Muito calmamente Petitinga explicou-lhe a necessidade do intercâmbio, a seu benefício mesmo, esclarecendo a inadiável urgência de voltar-se para o exame mais ponderado dos problemas que o infelicitavam e dos quais somente o amor possui a tônica de poder conseguir a libertação.

Guilherme esclareceu quanto à necessidade que nutria de retornar ao corpo, para dar prosseguimento à insidiosa cobrança, ressarcindo a injustiça de que se acreditava objeto. Elucidou que, numa das últimas reuniões do Anfiteatro, o Dr. Teofrastus apresentara o caso dele à multidão, que o aclamara delirantemente, exaltando a ética da "justiça com as próprias mãos", nele vendo a vitória dos cometimentos que ali tinham curso. Como poderia, agora, recuar?

A Entidade apresentava os sinais do desespero e da frustração da criança caprichosa que se vê colhida no engodo da leviandade pela observação ponderada dos genitores.

— Ignoramos a que Anfiteatro se refere — iniciou, com habilidade e delicadeza, o Evangelizador.

— Que poderia ter ocorrido num Anfiteatro, que lhe trouxesse responsabilidades, especialmente em se tratando da prática inominável de crime cobarde?

— Crime? — revidou, Guilherme, visívelmente transtornado. — O relho da Justiça, que arde e fere nas mãos do regularizador de leis, passa, na sua cartilha, a ser um crime? E o nefando suicídio a que fui levado, pela deserção do lar, o adultério infame praticado por aqueles a quem você chama vítimas?...

Esquece as minhas dores e...


Interrompendo-o, com muita destreza mental, redarguiu Petitinga, a essa hora semi-incorporado por Saturnino que lhe apoiava a destra no centro coronário, irrigando a glândula pineal com altas doses de energia positiva:

— Não voltemos ao exame das razões do sofrimento que o macera — falou com gentileza. — Não ignoramos que há Leis Soberanas que se encarregam de encontrar o devedor onde se encontre. Para tanto, porém, não se faz necessário que novos devedores ou infratores apareçam, criando, desse modo, um círculo de viciações lamentáveis.

A Lei, não desconhecemos, é de Justiça. Mas a Justiça Divina nasce nas fontes sublimes do Amor e se manifesta por meios de misericórdia.

Ao amparo do nobre Instrutor todo o cérebro do encarnado se fazia radioso à clarividência, dando a impressão de que o sangue conduzia poderosa substância luminosa a impregnar-se de cores suaves que o inundavam de dentro para fora...


E prosseguindo, aduziu:

— A qual Anfiteatro se refere o irmão Guilherme?

— Ora, ao reduto em que nos reunimos para a aprendizagem de lições com o Dr. Teofrastus.


E estimulada a mais amplos detalhes, a Entidade, exteriorizando uma satisfação até então não revelada, elucidou:

—Surpreende-me a sua surpresa! Acredita você que nós estamos aqui desarmados? Técnicos verdadeiramente poderosos estão organizados a serviço da Disciplina, junto aos fugitivos que se escondem no corpo de carne, na Terra.

É interessante observar como são ignoradas as realidades do lado de cá, mesmo por aqueles que se aventuram a excursionar além das muralhas do corpo.

— Já que somos tão ignorantes — aventou Petitinga — rogaríamos que você nos esclarecesse melhor.


Envaidecido, retrucou o perseguidor da família Soares:

—Ora, como narrei antes, quando na minha amargura solicitei ao Dr. Teofrastus a sua interferência segura, que me não foi negada. Paulatinamente, tomei conhecimento das suas ricas possibilidades, inclusive do espetáculo do Anfiteatro, que ele promove, semanalmente, para os que deambulam livre dos corpos, porém algemados à ignorância, sem saberem como revidar o mal que receberam dos seus inimigos que ainda não venceram as barreiras do túmulo. Assim, convidado por amigos, numa quinta-feira, aos primeiros minutos após zero hora, acorri ao local, que regorgitava de pessoas de ambos os lados para ouvirem e aprenderem com o mestre suas preciosas lições. Mais tarde, tomado como exemplo, foi o meu caso narrado publicamente, e, após apresentadas as linhas centrais da justiça que me compete realizar, fui aclamado e, na última semana, apresentei despedidas. Do Chefe recebi elogios, a promessa do seu auxílio e ajuda constante, durante os longos anos de afastamento do grupo, enquanto dure o meu mergulho...

Alimentou-me a satisfação de que, embora separado pelo corpo, eu serei regularmente levado lá, mantendo os vínculos com a Organização, para não permanecer ao desamparo...


E depois de expressiva pausa, asseverou:

— Como vê, além do meu caso pessoal, conduzo agora a responsabilidade de agir em nome dos nossos, que vêem em mim uma das representações dos vigilantes e defensores da verdade.

Estávamos estarrecidos!

Como não poderia ser legítimo o depoimento de um membro ativo da Organização? Não havia dúvidas, sim, eu pensava. No entanto, como entender um Anfiteatro, nos moldes dos da Terra, a funcionar além do túmulo? Havia lógica, porém.

Não é o mundo físico o representante dos efeitos? Assim sendo, quanto existe do lado de cá, ôbviamente há do lado de lá. Quantas lições, todavia, Deus meu, aguardando por nós! O "orai e vigiai" sempre comandando os nossos destinos...

Com a serenidade que lhe era habitual, Petitinga não se fez surpreso; antes, referiu-se a Jesus, que preferira o apupo das massas à conivência com o crime e com a discriminação do poder temporal. A Sua grandeza fora a Sua suprema humildade e o Seu revide a todo mal foi a Sua doação total aos perseguidores e afugentes, com os braços abertos na Cruz, como se transformados em asas de amor esperassem por toda a Humanidade, para amparar os infelizes e trânsfugas do dever, renovando-lhes as esperanças e sustentando-os na luta, amoroso e forte até ao fim.

Os conceitos emitidos na mais pura emotividade pareciam sensibilizar o comunicante que, repentinamente, pareceu aflito, desejando libertar-se dos liames da incorporação, no que foi atendido por Petitinga e Saturnino que lhe aplicaram passes balsâmicos, fazendo-o adormecer.

Os trabalhos prosseguiram normalmente até a hora do encerramento, quando o Instrutor, retornando à incorporação, explicou que naquela noite mesmo o grupo voltaria a reunir-se, em desdobramento parcial pelo sono, para prosseguimento das tarefas.

As bênçãos da caridade e os tesouros decorrentes da comunhão fraternal, somente os conhecem aqueles que exercitam a solidariedade!

Todos demandamos o lar com o espírito lenido por esperanças consoladoras.

Embora os membros da família Soares não houvessem participado do trabalho da noite, grande parte da tarefa fora desenvolvida objetivando a saúde e a paz daquelas pessoas.

Conforme planejado, reencontramo-nos na sala singela do socorro espiritual os que participavam da assistência ao irmão Guilherme, conduzidos por Saturnino e os seus auxiliares.

Embora parte considerável dos presentes fosse constituída de encarnados parcialmente desprendidos pelo sono, registrava-se em todos uma lucidez espiritual bem expressiva, o que facilitava o labor dos Benfeitores.

Guilherme, anestesiado pelo sono hipnótico, fora trazido antes e, no mesmo compartimento, assistido por dois enfermeiros da Esfera Maior, jazia inconsciente, velado, todavia, pelo carinho que lhe era indispensável para apaziguar as forças desconexas da ira e da decepção que lhe martelavam o espírito rebelde e infeliz.

Após aplicados recursos magnéticos de despertamento em todos os desprendidos parcialmente pelo sono físico, para melhor lucidez (lucidez relativa de que deveriam estar possuidos os encarnados para as tarefas em programa, como explicou o Instrutor), e quando todos nos encontrávamos com melhores possibilidades de registro nos centros perispirituais, elucidou Saturnino que, naquela oportunidade, fora planejada uma incursão aos domínios do Dr. Teofrastus, para coleta de informes seguros, no que tangia ao processo de desobsessão dos membros da família Soares, e, mais em particular, de Mariana. Expondo quanto ao imperativo do equilíbrio e da manutenção do estado de oração, equivalente à vigilância e à fé, informou que somente ele, Ambrósio, Guilherme, o irmão Glauco — que já conhecíamos desde a ocasião da mensagem sobre Hipnotismo, que tanto nos sensibilizara —, Petitinga e nós seguiríamos às observações no Anfiteatro enquanto os demais assistentes espirituais e o médium Morais ali se demorariam em leitura evangélica e oração, contribuindo, desse modo, para os resultados almejados.

Despertado Guilherme e esclarecido quanto ao programa em pauta, este não se pôde furtar a uma expressão de horror.

— Como se atreverão a adentrar-se no reduto do Chefe? Quais os objetivos que levarão em mente? — inquiriu, assombrado. — Ignoram que o espetáculo terá a direção pessoal do Dr. Teofrastus, que se faz acompanhar invariavelmente de mais de uma vintena de cooperadores e guardas pessoais? Essa temeridade poderá redundar em lamentável punição para todos, inclusive eu.

Não, ninguém intente a realização de ideia tão louca quanto essa. Recuso-me terminantemente à aquiescência.

— Você, no entanto, meu amigo — retrucou Saturnino —, não se encontra em posição de escolha. As forças hipnológicas ali aplicadas não são a nós outros desconhecidas. Dispomos de larga experiência na questão e nos faremos acompanhar de um técnico em recursos que tais, como eficiente cooperador para qualquer circunstância menos feliz.

Além disso, estamos a serviço de Jesus Cristo, o Supremo Chefe da Terra, e poder algum é superior às forças que Ele nos outorga para a prática do bem e a libertação de consciências ainda mergulhadas nas sombras do crime.


Após uma pausa necessária, em que Guilherme se debatia entre as lembranças dos pensamentos que lhe eram habituais e a nobre austeridade de Saturnino, que embora amoroso sabia conduzir a questão com a energia que não permitia discussão, prosseguiu:

— Como já lhe informamos, o nosso desejo é ajudá-lo a encontrar a diretriz da paz interior...

— Recuso-a — bradou colérico.

— Sinto-me perfeitamente feliz e a realização dos meus planos é o coroamento de todos os meus esforços e sofrimentos. Esta imposição desagradável e coercitiva me surpreende e enfurece. Não conte comigo.

Como se aguardasse a explosão da revolta, Saturnino acercou-se do revel e, orando em silêncio, se foi transfigurando diante de todos nós, enquanto uma aura de safirina e profusa claridade o envolvia. Vibrações sublimes a todos nos dominavam. Tínhamos a impressão de que o reduto modesto se transformava em recinto de luz. Suave música chegava de longe e, surpreendentemente, começamos a ver, além do que seriam as paredes materiais, diversas Entidades Espirituais que participavam das tarefas, embora sem que nós, os encarnados, soubéssemos, mergulhadas em profunda oração, ajudando Saturnino que se nos afigurava, agora, veneranda figura ancestral ressurgida das páginas comovedoras da Boa Nova, nos seus primeiros séculos na Terra, quando homens afervorados se deixavam vencer pelas feras, em inolvidáveis testemunhos de amor a Jesus...

As lágrimas nos aljofravam abundantes e ignotas emoções nos venciam docemente.


O Mensageiro da Vida envolveu Guilherme paternalmente, transmitindo-lhe os suaves recursos do reconforto e da esperança, e falou-lhe com inimitável tom de voz:

— Meu filho, Jesus é Vida, e a vida é inevitável caminho de todos nós, viandantes da evolução. Ninguém se furtará indefinidamente ao progresso, ao amor, à felicidade que a todos nós estão reservados. Só existe, soberana, no Universo, a Lei do Amor que rege os mundos e comanda todas as manifestações existentes, porque o Nosso Pai é o Amor, O ódio a que muitos nos entregamos, quando inermes caímos na rebeldia, ódio sempre transitório, resulta da ausência do amor que entorpecemos e envenenamos com as emanações mefíticas do nosso desequilíbrio. Não receie, portanto, amar. O amor oferece felicidade a quem ama, produzindo no espírito emoções transcendentes que o enobrecem e vitalizam. Enquanto o ódio desagrega, macera e enlouquece, o amor sublima e liberta... Os que desrespeitam as Leis da Harmonia sofrem-lhes as consequências, sem que nos convertamos nos seus justiçadores, tornando-nos, igualmente, celerados.

E ninguém fruirá de paz ou experimentará alegria, vitimado em si mesmo pelo ódio. Há aqueles que na volúpia do desequilíbrio dizem não se importarem com o próprio estado... Todavia, a realidade é outra. Lucigênitos, temos todos a destinação da Luz Divina...

Silenciou, momentaneamente, para dar ensejo a que Guilherme se impregnasse das sutis vibrações, deixando-se penetrar pelos argumentos e pelo amor que dele se irradiava.


Prosseguindo, acrescentou:

— Esqueça, filho, todo o mal, para lembrar-se do infinito bem com que Nosso Pai nos felicita as horas. O mal somente faz mal a quem o pratica, tornando-o mau. O perdão que se doa é semente de misericórdia que lançamos na direção do futuro, a benefício próprio... Não recalcitre. Não adie a oportunidade da renovação. A vida a todos nos aguarda com a ação benigna ou severa com que nos conduzirmos em relação ao nosso próximo. Verdadeiramente infeliz é aquele que não perdoa, não olvida o mal, não oferece oportunidade de redenção. Todo perseguido resgata e se liberta, enquanto o verdugo se amarra à dívida e se deixa arrastar aos vigorosos potros do sofrimento, vencido, mais tarde, pelos vírus que alimentar nos escaninhos da mente atormentada.

Recorde, desse modo, Jesus, que não carregava nenhuma culpa, e no entanto...

O ex-obsessor de Mariana, dominado por súbita emotividade, prorrompeu em copioso pranto, no qual extravasava toda a angústia retida por longos decênios, causando compaixão a todos nós, que acompanhávamos o labor socorrista, valorizando o poder incomparável do amor.

Encolhido nos braços generosos de Saturnino, parecia uma criança muito crescida, porém absolutamente vulnerável.

Cessada a ira, que é verdugo cruel, o espírito se deixara descontrair, retomando a condição dele mesmo.

— Chore, filho — acentuou, igualmente comovido, Saturnino. — As lágrimas de justo arrependimento e de necessária dor são como chuva preciosa em terra crestada, oferecendo a oportunidade para que medrem as sementes da esperança e da paz, que padecem, até então, esmagadas na esterilidade do solo. Não permita, no entanto, que o pranto refazente se transforme em tormenta ululante e destruidora... Agora começa vida nova para você, para todos nós. Jesus é sempre a porta, a nova oportunidade. Vadeemos os rios das paixões que nos retêm e avancemos na direção do porvir promissor. Se o passado se nos afigura fantasma que nos impossibilita a paz, o futuro, através da utilização do presente, em sabedoria e nobreza, nos enseja a bênção da alegria e a dádiva da paz.

Todos nos encontramos enleados em reminiscências dolorosas. O nosso «Ontem» é qual sombra esperando o sol do «hoje» para a perene claridade do amanhã...


Silenciando, momentaneamente, o Benfeitor Espiritual parecia recordar longínquas lembranças, e, tomado por sublime modulação que nos parecia ter origem em distantes sítios, prosseguiu:

— Diante dos infelizes, o Mestre vez alguma teve palavras de aspereza: não os reprochou, nem os acicatou. Envolveu-os, todos, na cariciosa esperança de melhores horas, oferecendo-lhes a dádiva do trabalho, nas oportunidades de mil recomeços para o burilamento íntimo.

No entanto, diante dos que se compraziam na miséria alheia, pseudodominadores do mundo efêmero, aplicou o corretivo da palavra severa, advertindo-os com singular austeridade, não os poupando ao peso das responsabilidades que preferiam..... .

«Raros, porém, temos sabido valorizar o impositivo da informação cristã.

A diretriz evangélica, ainda hoje, parece a muitos «loucura», conforme informava o apóstolo Paulo, em seu tempo.

«Tudo nos fala do amor, desde as paisagens felizes da Natureza às emoções superiores da vida; das sensações primitivas nos seres inferiores às expressões de felicidade nos homens...


Todavia, o amor, para muitos de nós, não passa de arrematado egoísmo, no qual asfixiamos as esperanças dos outros nas redes estreitas e apertadas do nosso personalismo infeliz... » Relanceou o olhar pela sala clareada fortemente pelas fulgurações que dele irradiavam, enquanto Guilherme, que buscava assimilar as lições com expressão de compreensível surpresa e ansiedade, se transformava em «homem novo», abandonando a carcaça sofrida do «homem velho» imanado ao ódio, agora renovado pelas sucessivas vibrações do amor. E como se desejasse fixar em todos nós os conceitos ali emitidos, continuou, lúcido:

—Nascemos, vivemos no corpo e perdemos a indumentária, retornando ao palco das mesmas lutas, vezes inúmeras, sem conseguirmos melhorar as condições espirituais, repetindo a «roda das paixões» escravizantes em que nos comprazemos. Muitos, em incontável número, entramos na carne e dela saímos sem nos apercebermos do fenômeno, aferrados às vibrações mais primárias da vida. Todos sonhamos com os Céus, sim. Raros, todavia, estamos construindo as asas da evolução com os materiais da iluminação íntima, nas linhas severas do trabalho fraterno, da renúncia, da caridade e do perdão. Semeamos pouca luz e colhemos aflições danosas; por essa razão, nossa arca de esperança permanece vazia de alento.

«Sejamos prudentes, pois, utilizando os recursos da hora presente a benefício próprio.

«Verdadeiramente felizes são aqueles que perdoam, que cedem, que doam, doando-se, também.

«Jesus é ainda e sempre a nossa lição viva, o nosso exemplo perene.

Busquemo-Lo!» Silenciou, invadido por emoções transcendentes.

Tínhamos a impressão de encontrar-nos em outro plano vibratório, que não a Terra, nossa genitora sofrida e portadora de sofrimentos.


Recompondo-se com as características habituais, disse a Guilherme, que o fitava, algo atoleimado:

— E agora, filho, está disposto a seguir conosco ao recinto das experiências do irmão Teofrastus?

— Sim.

Tenho medo, porém. Em toda a minha desdita, sonhei, não poucas vezes, com a paz longínqua...

As lágrimas impediram-no de prosseguir.


Pondo-lhe a destra sobre a cabeça banhada de úmido suor, Saturnino estimulou-o:

— Este é o seu momento de libertação.

Não o adie. O Senhor nos ajudará. Sigamos!




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