Nos Bastidores da Obsessão - Novo Projeto
Versão para cópiaReencontro com o passado
Cercado por acólitos paramentados estranhamente, que se faziam secretários e selecionavam os casos para o Chefe, também se apresentava resguardado por entidades ferozes, em cujos semblantes, sulcados por fundos sinais de perturbação íntima, a hipnose produzira estados de alucinação e truculência.
Incapazes de qualquer raciocínio, tais seres exteriorizavam a acuidade do animal que resguarda o sino e agride os menos vigilantes.
Dentre eles se destacavam os que foram vítimas de transformações nas sedes do perispírito, ali presentes possívelmente com a finalidade de criarem condicionamentos psicológicos de medo, nos consulentes menos avisados.
O irmão Glaucus, muito sereno, concitou-nos à prece muda e à preservação do estado espiritual de equilíbrio, fossem quais fossem os acontecimentos que, porventura, viessem a ocorrer, e nos manteve imediatamente atrás dos pequenos magotes que eram interrogados pelos acólitos.
O nosso grupo, unido, aguardava, enquanto o Sacerdote, a pequena distância, tomava atitudes e decisões, utilizando-se sempre do pavor de que se fazia fâmulo avaro para dominar e influir consulentes.
Uma Entidade de aparência cruel se destacou dentre os fâmulos atuantes, acercou-se do irmão Glaucus e indagou dos motivos da entrevista, e quem eram os participantes do conjunto.
O venerando Benfeitor elucidou com simplicidade que se tratava de Espíritos dos dois planos da vida, necessitados de ouvir o Dr. Teofrastus a respeito de grave problema de obsessão em andamento e para o qual somente ele possuía os recursos necessários. Aduziu que fora indicado por Guilherme, o moço holandês que antes era membro daquela agremiação.
Repassando o olhar de quase alucinado, fiscalizando-nos, como tentando descobrir além das palavras os motivos reais da entrevista, sacudido por espasmos da face, sucessivos, colocou-nos de lado, e prosseguiu no mister a que se dedicava.
Só então me foi possível reparar o Dr. Teofrastus, considerando a pequena distância que nos separava.
O rosto cruel, adornado de barba rala, à oriental, em torno de lábios grossos em rito de permanente ira, nos olhos avermelhados e grandes, algo fora das órbitas, ameaçadores, zigomas salientes, testa larga e cabeleira abundante, era a encarnação clássica do pavor.
Como se adivinhasse a minha observação discreta, ele desviou o olhar da chusma que atendia e cravou nos meus os seus olhos, com interrogação forte e dura, fazendo-me baixar a vista, perturbado. O irmão Glaucus, que observava o acontecimento, advertiu-me, delicado:
— Estamos em tarefa do Senhor.
Todo o cuidado é indispensável para o êxito do empreendimento. Curiosidade agora é, também, desconsideração ao compromisso. Tenhamos tento!
Com a oportuna observação, convocou-me, caridoso, ao recolhimento, à prece.
Atendidos os que se encontravam à frente, foi chegada a nossa vez. Ficamos um pouco mais atrás, enquanto o irmão Glaucus, representando a equipe, humilde e nobre, falou sem preâmbulos:
— Senhor, aqui estamos indicados por Guilherme, o neerlandês que há pouco tempo se despediu desta Organização, rumando em direção do corpo.
O mago ergueu o sobrolho carrancudo e penetrou com dura expressão os olhos do Benfeitor, procurando devassar-lhe o íntimo do espírito.
Um dos asseclas aproximou-se e confidenciou alguma observação.
A pausa oportuna, proposital, era dirigida no sentido de criar melhor recepção no ouvinte silencioso, de expressão ferina.
Prosseguindo, elucidou o nosso condutor:
— Ocorre que nos encontramos em perfeita identificação com Guilherme, que vos tem servido com dedicação, buscando-vos nesta oportunidade para falar-vos sobre Henriette, que sabemos vinculada ao vosso coração, desde há muito...
— Henriette Marie de Beauharnais? — Inquiriu, quase fulminado por forte raio de ódio.
— Sim, Senhor — confirmou, imperturbável o Irmão Glaucos.
A entidade levantou-se do trono ridículo e avançou furioso, como se fosse aniquilar o informante, que continuou sereno, confiante. Em chegando ao lado do Instrutor, que revelava no semblante marmórea palidez, estancou o passo e, erguendo o simulacro de cetro, golpeou o piso reiteradas vezes, ameaçando com voz soturna, atitude essa que impôs alarmante silêncio no Anfiteatro, que ainda se mantinha com alguma algaravia.
Todas as atenções se concentraram em volta dos dois parlamentadores e as Entidades mais infelizes da coorte aproximaram-se em atitude ameaçadora, cercando o Chefe dolorosamente vitimado pela irascibilidade.
— E que deseja informar-me que porventura eu não saiba? Ignora quem sou? — Esbravejou, compreensivelmente revoltado.
—Sabemos, sim, Senhor — prosseguiu o Mensageiro.
— Ocorre, porém, que considerando a magnitude do assunto, que viemos tratar, muito agradeceríamos se pudéssemos ser ouvidos a sós, sem os circunstantes... Somos portadores de notícias que somente à vossa autoridade devemos confiar...
Depois de expressivo silêncio, arrematou:
— Henriette necessita do vosso socorro...
O Espírito ferido pela inesperada surpresa, estrugiu cruas exclamações e gritos, dando ordens diversas, simultâneas, e segurando o irmão Glaucus violentamente, ordenou, rouquenho:
— Venha comigo!
O Benfeitor não opôs qualquer resistência e o seguimos.
Os demais membros do grupo foram cercados pelos sequazes do Chefe e conduzidos à parte dos fundos do Anfiteatro, para onde ele rumara com o nosso Mentor.
A sala de amplas proporções era decorada em tons fortes e sombrios em que bruxuleavam luzes de tonalidades chocantes - Aquele era o gabinete do vigoroso espírito das sombras, temido e detestado.
Sentando-se em cadeira colocada em posição de destaque, ordenou:
— Estou aguardando as informações.
Imprimindo à voz inflexão nobre, sem qualquer afetação, o Instrutor esclareceu: —Dedicamo-nos ao serviço de socorro aos padecentes, em nome de Jesus, e...
— Jesus? Esta é minha casa — estrugiu o truculento Espírito.
— Aqui, esse nome é maldito, detestado.
Como se encoraja a dizer-me que se dedica a socorrer os padecentes diante do Chefe da Casa da Justiça?
Avançou feroz, espumejante, como se desejasse destruir aquele que o enfrentava, sentindo-se, no entanto, impossibilitado de fazê-lo.
— Não desejamos desafiar a força do nobre doutor T eofrastus, que conhecemos, e a quem aprendemos a respeitar como sendo instrumento da Vida e da Verdade — evidenciou o Mensageiro humilde.
— Ocorre, no entanto, que não poderíamos trair os objetivos desta entrevista, se falamos ao Comandante destes sítios, em nome da Verdade mesma, sim, mas sobretudo da Misericórdia e do Amor.
Erguendo o olhar lúcido, o Instrutor, concentrado em Jesus e utilizando todo o potencial das suas forças magnéticas e hipnológicas, enfrentou a vibração em crispas exteriorizadas pelo interlocutor, como se naquele entrechoque de forças a corrente do amor vencesse as descontroladas energias do ódio e da animosidade, dando continuidade à narração:
— Visitando perturbados espirituais, encarcerados no corpo, identificamos, há pouco tempo, Henriette, em doloroso processo de vampirização, vítimada por elementos desta Organização, e por isso...
— Desta Casa? Estarei ouvindo corretamente? —Indagou, interrompendo, abrupto — Henriette, vítima de nossa Organização? E que o induz a pensar que me interessa a vida de qualquer pessoa, da Terra, somente porque é supostamente Henriette-Marie de Beauharnais? Quem o informou de que eu poderia ter algo a ver com essa personagem?
—Ela mesma — redarguiu o Mentor, tranquilo. —Assistindo-a com recursos magnéticos, conseguimos fazê-la recordar o passado, para fixar-lhe socorros, e, enquanto narrava o próprio drama, evocou o imenso amor que dedicou à sua pessoa, nos idos do século 15, antes de funesto acontecimento. .
O Dr. Teofrastus, colhido intempestivamente pela informação segura e indiscutível, ergueu-se outra vez, de um salto, e, apoplético, segurou com mãos de aço o narrador, indagando, descontrolado:
— Onde se encontra ela? Que lhe aconteceu? Que foi feito da sua vida? Leveme até à sua presença imediatamente.
Desejo averiguar.
— Não posso, amigo. Não depende de mim e sim de vós.
Esta a razão da entrevista que estamos mantendo. Desejamos concertar o meio de conciliar os objetivos elevados a que todos nos propomos, de modo a regularizar situações em desalinho, de cujo labor resultem os benefícios de que temos necessidade.
— Mas eu sou um dos Gênios do Mal, e as minhas medidas diferem das suas — estrondou, ofegante. — Represento a Justiça e odeio a Misericórdia. Desperto cada consciência criminosa para o relho da punição.
Nunca defrontei nem usei a piedade ou a comiseração. Sou vítima do Cordeiro e O odeio... Não há, pois, termo de conciliação entre nós. Sinto-me, portanto, obrigado a extirpar-lhe a confissão através dos meus métodos, que certamente não lhe são desconhecidos.
—Sim, certamente os conhecemos — assentiu, o Benfeitor. — Convém, todavia, considerar que, antes de tomarmos a atitude de procurar-vos o local de dominação, examinamos as diversas possibilidades de vitória e fracasso, concluindo pela primeira hipótese, tendo em vista que não vimos aqui solicitar, mas oferecer em nome do Doador Supremo da Vida, de Quem não nos evadiremos indefinidamente. Afirma o Dr. Teofrastus que foi vítima do Cordeiro, e sabe que a informação não confere com o fato. As diretrizes do Cordeiro jamais foram compatíveis com os processos da Inquisição Católica, como não são concordes com os métodos da Justiça de Deus esses da justiça aplicados pelas vossas mãos. Quanto à ameaça de arrancar-me as informações que deseja, por métodos incompatíveis com os intuitos deste encontro, concluímos pela inexequibilidade, já que a nossa presença informa do interesse que temos de ofertar os esclarecimentos sem qualquer pugna que gere uma situação infeliz entre nós ambos.
— Mas eu posso reter os participantes da sua embaixada nos meus domínios, nos quais sou senhor absoluto — baldoou, soberbo.
—Não discuto a posição relativa do Chefe — clarificou o irmão Glaucus. — Desejamos, porém, lembrar-vos de que o poder, de que falais, vem todo ele do Alto, de Deus, desde que ninguém é o dono da vida, senão Ele.
Quanto a ficarmos retidos em vossas mãos, isto somente viria a acontecer se essa for a vontade dEle, e, sendo, submetemo-nos humildemente, tendo em vista poder servi-Lo em qualquer lugar e em toda situação, por mais embaraçosa nos pareça.
Lágrimas nos orvalharam os olhos.
A linguagem desataviada e franca do Benfeitor, a atitude firme e humilde testemunhavam as mil necessidades de porfiarmos na verdade sempre, em nome do Senhor.
O Dr. Teofrastus, vencido pela lógica irrefutável do visitante, dissimulou a ira que o empolgava e, embora continuasse arrogante, inquiriu:
— Que deseja, afinal, de mim?
— Que me ajudeis a libertar Henriette.
— Como eu poderia fazê-lo?
Se nos acompanhásseis ao recinto de provações e dor em que se encontra, vencida e arquejante sob implacável revel, que a dilacera, vencedor...
— Sigamos, então, sem delongas.
—Recordamos ao nobre Dr. Teofrastus que seguiremos em missão de misericórdia e que os métodos junto ao verdugo que a infelicita serão os vigentes nas leis de amor, conforme ensinados por Jesus Cristo...
— Não percamos tempo com discussão inútil.
Adiante!
Convocando dois guardas que se encontravam postados fora do recinto, confidenciou algumas instruções.
As demais entrevistas foram suspensas, e, abrindo caminho entre os sofredores que ainda se encontravam no recinto, acompanhamos o antigo Mago na direção dos veículos que nos aguardavam à porta.
Transcorridos 15 minutos, aproximadamente, chegamos a velho casarão, de aspecto apavorante pelo abandono a que se encontrava relegado, e penetramos pelo imenso portão de entrada. O trânsito de desencarnados de aparência lastimável era muito grande. Encarnados em desprendimento parcial pelo sono apresentavam-se agitados, semiloucos. Saturnino que nos assistia mais de perto, a mim, a Petitinga e ao médium Morais, informou que nos encontrávamos num Lazareto, que albergava mais de 200 portadores do mal de Hansen.
Odor nauseante e forte empestava o ar e densas nuvens originadas pelas vibrações carregadas de revolta e desespero ofereciam o aspecto das regiões infelizes do Mundo Espiritual Inferior, em que muitos se reeducam pelo sofrimento.
O irmão Saturnino, interessado em esclarecer-nos, explicou:
— O sofrimento, sob qualquer forma em que se apresente, é bênção. Para que, no entanto, beneficie aquele que o experimenta, faz-se indispensável ser acompanhado pela resignação, pela humildade, pela valorização da própria dor. Não basta, portanto, sofrer, mas bem sofrer, libertando-se das causas matrizes da aflição. É muito comum encontrar-se o homem experimentando o impositivo do resgate, sob nuvens de ira e desesperação, com as quais aumenta, graças à rebeldia e à queixa injustificáveis, o fardo das dívidas. Por essa razão, há redutos de reeducação no Além da carne, como dentro das paredes carnais: regiões em que se aglutinam os comparsas.
dos diversos departamentos do crime para resgatarem, em clima de afinidade, os desastres cometidos contra a Lei e a Justiça Soberanas.
E para encerrar os esclarecimentos, concluiu:
—Nesta Casa, como em outras similares, desfilam os que afrontaram o corpo, desrespeitando-lhe as fontes de vida; os que esmagaram outras vidas, enquanto possuíam nas mãos as rédeas do poder; os que fecharam ouvidos e olhos ao clamor das multidões esfaimadas e enlouquecidas de dor; mãos que ergueram o relho e dilaceraram; corações que se empedraram na indiferença, enquanto fruía o licor da fortuna, da nobreza mentirosa, da beleza em trânsito na forma; os fomentadores do ódio, os soberbos, os orgulhosos, alguns suicidas calcetas inveterados, em constante tentação para desertar do fardo outra vez...
Em purgatório carnal, podem transitar para as Regiões da Luz ou para os Abismos da Treva, dependendo da livre escolha de que dispõem os que expungem com resignação ou com revolta...
Silenciando, aproximamo-nos de um quarto infecto, após vencer longo corredor em que duas filas de celas imundas albergavam corpos desfigurados de mulheres profundamente infelizes, carcomidas pela enfermidade destruidora.
O Dr. Teofrastus não ocultava a revolta, o desespero quase irrefreado.
O irmão Glaucus penetrou num dos últimos quartos ao fim da ala imensa, e, seguindo-o, deparamos cena confrangedora. Três mulheres hansenianas encontravam-se a dormir, assistidas por pequena malta de obsessores impiedosos que as dominavam.
Em vigília, mantinham-se em guarda, invectivando e atormentando os espíritos das enfermas semidesligadas do invólucro físico e quase tresloucadas de angústia, ante o acicate contínuo dos perseguidores.
Os acompanhantes da guarda do Dr. Teofrastus ficaram no corredor, à porta de entrada da cela, em atitude de vigilância.
Uma jovem de menos de 20 anos, em cujo corpo a doença não produzira ainda os sinais da sua presença, muito magra e desfalecida sobre infecto grabato, era a razão da visita.
Muito calmo, o irmão Glaucus elucidou, dirigindo-se ao Mago de Ruão:
—Eis aí Henriette.
Tende cuidado e piedade do seu algoz. Iremos atendê-lo. Evitai, porém, o ódio.
Osicário, que se refestelava no martírio de verdadeiras multidões, contemplando a jovem desmaiada, banhada por álgido suor e vencida por vampirismo aniquilante, gritou, estertorado, blasfemando, e avançou na direção do seu êmulo, ali em posição de adversário, no que foi retido, bondosamente, pelo Instrutor.
Olhando Saturnino, o Mentor amigo transmitiu uma solicitação silenciosa e o obreiro da caridade, levantando a voz, exorou a proteção divina em compungida oração com que nos sensibilizou a todos.
O Dr. Teofrastus, insensível desde há muito às vibrações superiores, permaneceu invadido pelos sentimentos habituais, o que não impediu Saturnino de acercar-se da jovem e aplicar-lhe no corpo em delíquio passes longitudinais, despertando-a, após o que, libertou-lhe o espírito da segura mentalização do obsessor implacável.
A moça acordou no corpo inopinadamente com o olhar esgazeado, como se retornando de um pesadelo, para novamente adormecer, após ligeiros minutos de composição dos pensamentos.
Sensibilizado com a paisagem de sombra do pequeno recinto, Saturnino atendeu às demais internas, exortando os seus adversários desencarnados, que abandonaram o recinto bulhentos, obscenos, insensíveis.
O perseguidor da jovem, no entanto, foi mantido ali em sono hipnótico, enquanto o irmão Glaucus produzia o desdobramento da paciente e sua imediata lucidez.
A moça relanceou o olhar pelo recinto, e ao deparar com a figura do doutor Teofrastus foi acometida de choque, desejando evadir-se. Assistindo-a carinhosamente, o Instrutor vitalizou-a com fluídos calmantes e sugeriu que a Entidade se aproximasse. A antiga vítima da Inquisição avançou, visivelmente emocionada, e sem poder dominar a alma em febre, gritou:
— Henriette, Henriette, que te fizeram? Porque me abandonaste?
Choro convulsivo irrompeu, desatrelado, do verdugo de muitos.
Embora a jovem se chamasse Ana Maria, pareceu registrar aquela voz no recôndito do ser e repentinamente desperta, graças às energias vigorosas que o Instrutor lhe aplicava na sede da memória espiritual, respondeu, também, em pranto:
—Quem me chama? Que desejam de mim?
A medida que Ana Maria despertava para o passado, sua forma espiritual registrava os sinais das tragédias que lhe sucederam através do tempo, para apresentar-se consideravelmente mudada, envelhecida, com as marcas da desencarnação e as características da antiga personalidade...
— Isto é a minha Henriette-Marie? — esbravejou o Mago.
Não pode ser ela, tão linda e pura! Essa sombra é alguma megera para confundir-me.
A interrogação dolorosa ressoava no ar, quando a entidade infeliz retrucou:
—E tu, quem és? Porque me ofendes?
—Eu, se tu és Henriette-Marie, eu sou aquele que sempre te amou.
Sou Teofrastus, a quem a fogueira inquisitorial não consumiu, nem a morte pôde fazer morrer o amor que sempre nutri por ti.
Evocando, através da ansiedade das palavras, o amor do passado e a desencarnação imposta pela ignorância vigente no pretérito, o Chefe da Organização maléfica foi sacudido por violento e convulsivo pranto, em que as comportas da alma, longamente fechadas, pareceram romper-se de inopino, dando passagem a caudal refreada, em volumoso bloco.
Despertando, mui vagarosamente, Ana Maria apresentava-se tristemente desnudada pela realidade dos atos pretéritos, semelhando-se a fantasma de dor no qual estrugissem todas as aflições de uma só vez. O perispírito cruamente assinalado por exulcerações pustulentas que denotavam os atentados sofridos no longo curso dos séculos, sem que as mãos do amor ou da redenção nela houvessem conseguido trabalhar a reorganização das células, ou modificar a estrutura do tom vibratório, que a infelicitava, causava compaixão.
O amante em desespero, esquecido de si mesmo, contemplava aquelas transformações que ocorriam ante os nossos olhos — ele que estava acostumado a cenas muito mais horripilantes, nas quais era hábil manipulador das forças que jazem inconscientes nos departamentos mais íntimos do espírito humano —, sem ocultar o assombro de que se fazia possuir.
A forma jovial, até há pouco na moça perseguida em espírito, assumiu expressões angustiantes, e, como se fora despertada nos centros das mais íntimas e doridas recordações, explodiu:
—Oh, Deus Misericordioso, tende piedade de mim! Porque tanto sofro, meu Pai? Piedade, piedade!
Exteriorizou um olhar de inesquecível sofrimento, e, fitando-nos, inquiriu: — Quem sois, demônios que me perseguis implacáveis, ou anjos que vindes salvar-me? Piedade, piedade! Não suporto mais sofrer.
Teofrastus, meu amigo, porque nos separou tão cruelmente a morte? Onde te encontras, que me olvidaste? Apressei a volta ao mundo dos mortos, faz tanto tempo, para buscar-te, e porque morri não te encontro nunca...
O tom de lamento e auto-recriminação feria-nos a sensibilidade.
O irmão Saturnino, sempre ativo, concitou-nos àprece intercessória, em muda atitude de compaixão.
Lentamente as densas sombras do pequeno reduto começaram a diluir-se como se vagarosa e suave madrugada tingisse de luz as trevas que as mentes desarvoradas ali reuniram com o passar do tempo...
O Instrutor, utilizando-se da consternação geral e da súbita anestesia psíquica de que foi possuído o doutor Teofrastus, envolveu a Entidade sofrida em fluídos balsâmicos e abraçou-a, afetuoso, qual genitor compadecido, em atitude santa de assistência.
Embora Henriette-Marie desejasse libertar-se do amplexo envolvente, para correr desvairada, a força do amor terminou por vencer-lhe as resistências e, aspirando as energias que agora saturavam o ambiente, aquietou-se, com o olhar denotando ainda as desencontradas emoções interiores em torvelinho de paixões.
Foi a vez, então, do Dr. Teofrastus. Vencendo a custo o estupor que o imobilizava, blasfemo e irado, pôs-se a ameaçar:
— Aquieta-te, amada! Vingar-nos-emos demorada-mente. Minha clava de ódio cairá sobre aqueles que ainda são os responsáveis pela nossa desdita. Tenho ligações com os vingadores ínfernais, e encontraremos meios de atingir todos aqueles que nos desgraçaram irremissívelmente. Libertar-te-ei do fardo do corpo odiado, para que venhas reinar nos meus domínios, ao meu lado.
Os séculos de soledade e ódio que me queimaram incessantemente serão, agora, saciados, no ácido da vingança, e acompanharemos os nossos algozes se diluírem até a destruição da forma, submetidos ao meu implacável "ajustar de contas".
Iniciaremos já com esse infame que aqui te ultraja e consome.
Levá-lo-ei para o meu reduto e o punirei, seviciando-o até que ele retorne ao estado de besta inconsciente...
O Instrutor, confiante, interditou a palavra do Mago em perturbação, esclarecendo, calmo:
— Aqui vimos em missão de misericórdia e amor. Fostes convidado a ajudar. O auxílio que necessita da impiedade é azorrague de loucura. A defesa que acusa fazse crueldade. Só o perdão irrestrito e total consegue a suprema coroa da paz. Quem somos nós para falar em desforço? Estamos todos sob Leis rigorosas das quais não podemos fugir. O ódio ateia a centelha de destruição que somente cessa ante o amor vitorioso e forte. Não acreditemos encontrar-nos nas mãos da desventura, saindo de uma justa de horror para outro duelo de crime, nascendo e renascendo em roda de vidas inferiores, sufocados pelos miasmas do desespero e da criminalidade.
Não há porque deixar que a loucura possua a razão e a esmague, e que o sentimento seja dominado pelas sensações da fera que ainda jas em todos nós, aguardando o momento de revelar-se implacável.
— Mas eu sou o Dr. Teofrastus — interrompeu, impetuoso e lúrido pela cólera, esbravejando tonitroante.
—Sim, sois o irmão que agora experimenta a dor, a mesma que vos comprazíeis em infligir — redarguiu o Mentor. — Este é um dos momentos em que o denominado "choque de retorno" realiza o seu mister. Não ignorais, através do conhecimento das «leis de força», na Física, que a resistência está na razão direta do movimento produzido pelo impulso dado ao objeto arremessado. Toda ação, por isso mesmo, produz reações que se sucedem e avançam, chocando-se com os ditames da Sabedoria Divina e logo retornando na direção de quem as imprime.
A violência, portanto, somente consegue destruição, e como nada se aniquila, a colheita do ódio é sempre ácido e chuva de amargura.
— Não, eu não suporto vê-la nesse estado — interferiu, congestionado. — Não terei direito a essa mulher que a vida me negou desde os primeiros momentos? Eu que comando inúmeras mentes, a um simples gesto, meus servidores que se encontram aí fora dispõem de meios de atrair verdadeira legião de quem me deseje servir, e provocaremos um pandemônio, dominando-vos e a esses, arrebatando essa a quem desejo, a fim de que permaneça comigo...
Sei utilizar-me dos recursos que produzem a rutura dos vínculos que atam o espírito ao corpo. Nesse sentido, os meus conhecimentos ultrapassam os Seus.
— Não duvido — retrucou, sereno, o Benfeitor Espiritual.
— Todavia, considero a desnecessidade da violência, quando possuimos recursos outros de paz, que o Senhor Jesus nos oferece e que agora podemos aplicar seguramente.
— Não me volte a falar nesse Crucificado — arremeteu com sarcasmo evidente. — Nem sequer se salvou a si mesmo; no entanto, deixou um rastro de sangue e padecimentos por onde passou a lembrança odienta da sua Cruz...
— Enganais-vos! — impugnou o Mensageiro. — O vosso sofrimento na fogueira foi injusto só aparentemente. Bem sabeis que a vossa vida não se originou ali. Caminhante da eternidade, quantas existências ficaram sepultas nas cinzas do passado? É bem verdade que não justificamos a sanha criminosa, que durante a Idade Média tomou conta da História. No entanto, ainda hoje, que fazeis? Como estão as vossas mãos? Falais em justiça e clamais, desarvorado. Que direito tendes de a executar? Não foi esse o erro dos inquisidores do passado, em cuja trama caístes? Sofrestes, sim, nefanda atrocidade, mas não indébito justiciamento. Se fosseis humilde e se acolhêsseis o amor, ter-vos-ia libertado e hoje seríeis livre. No entanto, convertestes a oportunidade em fardo de horror e, enlouquecido, acreditastes no poder da força, sempre transitória, porque somente perene é a força do amor, que ainda desdenhais. O próprio Mestre, mesmo perseguido e condenado, lecionou perdão ao invés de revide, compaixão diante do ofensor, misericórdia em relação ao revel e caridade em toda circunstância...
E ofereceu-se a si mesmo, Ele que é o Excelso Rei Solar, diretor dos nossos destinos. Reconhecei a própria fraqueza e parai a escutar, quanto ignorais. Ainda não ouvistes Henriette-Marie...
Os conceitos felizes e oportunos do irmão Glaucus e a hábil maneira com a qual desviara o tema para os problemas da sofredora, produziram o efeito desejado sobre o aturdido vingador.
— Conta-nos — apressou-se, quase súplice —, conta-nos o que te ocorreu. Procurei-te tanto, quando as labaredas deixaram de crestar-me as carnes atadas ao lenho na praça do Mercado Velho, em Ruão.
O ódio que me consumia não me permitiu, porém, a serenidade de localizar-te. Fui atraído por companheiros da minha desgraça e ingressei nas hostes dos justiçadores.
Henriette-Marie que fazia compreensível esforço para acompanhar todos os lances dos cometimentos que aconteciam naquele instante, rebuscando os refolhos da mente, com voz entrecortada e ofegante, inquiriu:
— Oh, tu és, então, o amor que me roubaram, roubando-me depois a mim mesma? Vê o que foi feito de mim! Contempla-me! É infelizmente impossível recomeçar.
Perdi-me na voragem de suicídio que ainda me faz contorcer as entranhas, sem oportunidade de reparar o gesto, jamais. Estou condenada ao Inferno.
— Mas não há Inferno — retrucou o interlocutor.
— Os demônios somos nós e um dos muitos infernos existentes, governo-o eu.
Asserena-te e prossegue!
A infeliz entidade, emocionada e dorida, continuou:
— Tenho rogado a Deus, mesmo no corpo, que me conceda a dita da paz, e ignorava, nos momentos em que me encontro reclusa nessas carnes, que a minha paz adviria de encontrar-te e voltar a sentir-te ao meu lado. Ajuda-me, se me amas, a sair do labirinto tormentoso em que tenho vivido. Só o teu amor me dará lenitivo: socorre-me Teo! Ignoras quanto tenho chorado.
Minhas lágrimas se transformaram em aço derretido que me escorre dos olhos dilacerados, ferindo sem cessar a face...
Ouvindo-a, o Dr. Teofrastus achegou-se e, de joelhos, vencido por emoção desesperadora, ferido como animal acuado, acudiu:
— Que não farei por ti, eu, que, desde que te perdi, me converti em chama crepitante que não se consome na voragem da própria desesperação! Aqui estou. Não sofras mais: tem paciência!
Henriette-Marie fitou-o, então, com olhar de suprema angústia, através do qual grossas lágrimas rolavam incessantes. Atendida pelos fluídos benéficos do irmão Glaucus, cujo tórax parecia uma estrela refulgente em claridades cambiantes e diáfanas, que envolviam a sofredora, ofegante, como se desejasse aproveitar-se do instante que se lhe apresentava único, para derramar o fel retido no coração, explicou:
—Passaram-se tantos séculos já e parece-me que tudo aconteceu ainda ontem... Quando me informaram que havias sido condenado pela Inquisição ao pão da dor e à água da agonia, compreendi que passarias àJustiça infame que governava, arbitrária, caminhando para a fogueira. Tentei ver-te, sem o conseguir nunca. Não te pude dizer do amor que me estrugia n"alma e dos sonhos de ventura que acalentara para fruir ao teu lado. Quando me anunciaram o teu suplício em praça pública e a tua morte, refugiei-me nas sombras do Convento, buscando o esquecimento e o abandono de tudo.
A imaginação dos teus suplícios, amado, atormentava-me, roubando-me demoradamente a paz, e conduzindo-me à loucura em processo de longo curso. Mas não fugi ao cruel destino, que nos perseguiu implacável.
Ignoras, talvez, que o infame que presidiu ao processo em que foste envolvido, fê-lo por felonia... Só mais tarde eu o soube. Disse-me ele mesmo através da boca do confessionário, quando me quis roubar a honra e apossar-se de mim, que lhe parecera presa fácil aos caprichos de um homem devasso, fazendo-me serva das suas paixões. Sabendo do nosso amor — pois que eu lho narrara através de confissão auricular anterior — dominou temporàriamente a paixão, e sem que o soubesse, eu mesma lhe forneci as bases processuais, quando lhe narrei as incursões que fazias no reino dos mortos e as práticas a que te dedicavas.
Pedia, então, conselhos ao nefando traidor... E ele tudo fez para afastar-te do meu caminho, acreditando, lobo que era, na possibilidade de devorar a ovelha...
Profundo suspiro se lhe escapou dos lábios, como se todos os sentidos, tensos desde há muito, relaxando-se agora, se fossem despedaçando. Ansiosa por libertarse das hórridas recordações, prosseguiu: — Acreditando na fé espúria que ele ensinava e dizia viver, ouvi-lhe todas as justificações, deixando-me crer que, embora perdendo a vida, entrarias no Reino de Deus, graças à intervenção dos atos litúrgicos "post—mortem", que se prontificou a celebrar em intenção da tua alma. Não se passara o triste outono da tragédia e relatou-me a sua furiosa paixão por mim, dizendo-me ter sido eu o móvel de toda a desgraça que o levara a assassinar-te em nome da fé e da religião... O ódio surdo que se apossou de mim foi superior a tudo que possas imaginar. Investida nos hábitos da Ordem a que me recolhera, fi-lo acreditar que me submeteria aos seus caprichos e, quando visitada pela sua infame pessoa, servi-lhe vinho ao qual adicionara violento veneno. Após ingerido, constatei os sintomas que começavam a fulminar a víbora.
Segura da sua destruição, contei-lhe, então, enquanto se retorcia na dor, o meu desprezo e o meu horror. Vencida pela loucura, libei, ali mesmo, alta dose do vinho envenenado e sucumbi, de imediato, sem nunca morrer...
«Desgraçada de mim.
Reencontrei-o logo, esperando-me... "O que me aconteceu, desde então, não posso relatar.
São sucessões de noites em que viajo ao inferno mil vezes e retorno, ora vencida por forças satânicas, dentre as quais ele se destaca, vezes outras possuída pela vermina que me vence até o olvido, para recomeçar tudo outra vez, incessantemente, doloridamente...
«Agora, amado, agora eu o sinto na sua ronda vingadora e o vejo devorando-me por dentro — eu que o odeio sem remorso —, enquanto a doença me destrói por fora.
Encontrando-te, porém, tudo me parece tão diverso, que esqueceria o vil criminoso que nos destruiu a ambos e até o perdoaria, se não te apartasses de mim. Ouve-me, .....
—Ouço-te e providenciarei para que não sofras mais e para que venhas imediatamente para onde me encontro.
Não te deixarei e velarei à tua porta até o momento que logo virá para a nossa ventura, vencidos os últimos óbices que nos separam — esses frágeis laços de carne e sangue.
Embora semifulminado pela narração, espumejante de ódio e furibundo, o Dr. Teofrastus já denotava os sinais do milagre do amor.
A voz repassada de sofrimento indefinível, com que Henriette-Marie relatou o complexo drama em que se vira envolvida, deixava no verdugo de muitos o desejo imenso de minorar-lhe a longa e intérmina dor, suportada por tantas décadas através do passar dos tempos.
— Henriette-Marie — informou o Mago de Ruão
—, embora ignorasse todo o teu sofrer, como lenitivo quero que saibas que aqueles que nos desgraçaram experimentaram nas minhas mãos o látego da justiça. Fiz-me rei de domínios em que o horror exerce predominância sobre a piedade e em que a vingança é a lei de toda hora... Ferido, retornei aos sítios da nossa infelicidade e busquei-te. Não te logrei achar. Ignorava que fugiste pelo mais cruel caminho: o do suicídio, em cujo curso não tenho meios de interferir, já que o suicida se depara com outras construções da justiça. A minha mão alcançou o Bispo de... e outros asseclas seus, longe, porém, eu estava de supor que o causador de tudo fora o teu confessor, o mórbido criminoso que se disfarçava com as sandálias da humildade para ocultar o celerado que sempre foi.
Buscá-lo-emos, porém. Dir-me-ás onde se encontra, e nós dois faremos justiça.
Nesse momento, o irmão Glaucus, interferindo no diálogo dos dois Espíritos que se reencontravam após tão longa separação, elucidou:
— Não esqueçais de que só o amor pode resolver o problema do ódio. Vindesvos arrastando pela senda do tempo, descendo à animalidade inferior, consumidos pelo desespero. Quando parareis? A queda não tem patamar inferior: sempre se pode baixar mais... Também o planalto da redenção: sempre se pode ascender na direção da Vida até à glorificação imortal.
Olvidai aqueles que vos maceraram e considerai a oportunidade do amor, que ora defrontais. É certo que vos separam os elos do corpo. Para quem ama, porém, não há verdadeiramnente separação.
Intervindo, o Dr. Teofrastus arremeteu:
—Não há como aceitar impositivos de amor.
Para a nossa felicidade só a destruição dos inimigos...
—Enganais-vos! — retrucou, o Instrutor. — Não há destruição nem aniquilamento de vidas ou de Espíritos. Qualquer tentame nesse sentido somente alongará indefinidamente o vosso martírio. O ensaio de desforço separar-vos-á e a loucura da suposição, quanto à desencarnação de Ana Maria, não passa de ingenuidade, que acalentais sem exame minudente e lógico. Não somos os arquitetos da Vida. Assim, pois, não temos o direito nem podemos interferir no seu curso, que obedece a planificação superior que vos escapa. Ouvi-me: o algoz a quem odiais é, também, vossa vítima. Infeliz, espera oportunidade de perdão, para igualmente perdoar. O fel sorvido incessantennente desespera-o e, vencido pela própria insânia, desde há muito perdeu a faculdade de discernir. Escravo do ódio é vítima dele mesmo, tendo-se feito catarina por vontade própria. Feri-lo mais é arrematada loucura. Já não sofre; perdeu a faculdade de experimentar a dor. Obedece a impulsos mecânicos do condicionamento demorado a que se jungiu. Ajudá-lo é ajudar-vos; socorrê-lo com a piedade significa libertarvos.
Embora estivesse disposto ao duelo verbal, o doutor Teofrastus denotava cansaço, e o reencontro, com Henriette-Marie, de certo modo conseguira feri-lo, ensejando-lhe novas concepções sobre as Leis Divinas.
O irmão Glaucus, nesse momento, adornado de luzes como veneranda figura ressurgida em madrugada de imortalidade, tomando os dois seres qual se fora o genitor de ambos, disse:
—Reencontrar-nos-emos outras vezes. Desdobram-se-nos perspectivas para o amanhã. Agora se nos impõe a momentânea separação.
Ana Maria deve reassumir os deveres do ressarcimento a que se encontra vinculada, e vós, amigo, necessitais pensar. O tempo ser-vos-á conselheiro. Despeçamo-nos, e reconduzamos a nossa querida amiga aos seus compromissos humanos, que não podemos interditar nem modificar.
O Dr. Teofrastus tentou reagir, insistir. Diante, porém, do Benfeitor, cujo olhar penetrava-o docemente, o atormentado juiz e vingador baixou os olhos e silenciou.
Foram ministrados passes no obsessor de Ana Maria que se encontrava ao lado e providenciada sua remoção dali. O Dr. Teofrastus despediu-se, sendo antes informado da possibilidade de novo encontro em dia previamente assinalado, quando voltaríamos ao Lazareto.
Reconduzidos ao veículo que nos esperava à porta da casa, retornamos ao Templo de orações, e, após comovida prece, fomos reconduzidos ao lar.
Um amanhecer em tons róseos e azuis vencia a Natureza em sombras, anunciando o novo dia.
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