Tormentos da Obsessão

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CAPÍTULO 10

EXPERIÊNCIAS GRATIFICADORAS

Hospedado em agradável apartamento situado no Pavilhão por onde caminhamos pela manhã, atendendo à gentileza do seu diretor que no-lo ofereceu para o período reservado ao nosso estágio, quando retornamos e despedimo-nos, fomos conduzido por Almério ao novo domicílio.

Ficando a sós, após agradecer ao dedicado companheiro, não me pude furtar a reflexões oportunas.

Para onde dirigisse o pensamento encontrava presente a misericórdia de Deus através dos Seus Embaixadores.

O amor desse Espírito superior, o venerável Eurípedes, conseguira edificar um ninho de paz para alguns dos náufragos da jornada terrestre, especialmente aqueles que não deveriam fracassar ante o fragor das marés bravias que se sucedem na sociedade terrestre, e, não obstante, sucumbiram...

Honrados pelo conhecimento da Revelação Espírita, como se houveram enganado, a ponto de retornarem em situação calamitosa! Os esclarecimentos e as adver tências oferecidos pelo Espiritismo constituem um barco de segurança para a travessia orgânica no processo evolutivo.

No entanto, fazia-se expressivo o número daqueles que, mesmo informados da realidade da vida, optaram pelas enganosas paixões de breve duração, entorpecendo a consciência nos vapores do egoísmo e dos desejos infrenes que os conduziram ao malogro.

Não são poucas as pessoas que, ignorando a Doutrina Espírita e respeitando-a, acreditam que o fato de alguém esposar as lições que defluem das páginas luminosas da Codificação e das Obras que lhe são subsidiárias, de imediato o torna um ser renovado e imbatível.

Isso deveria ocorrer, sem dúvida, no entanto, em razão das heranças ancestrais negativas e das múltiplas vinculações com o vício, cujos resíduos permanecem por longo período impregnando o perispírito, nem sempre o candidato à edificação de si mesmo consegue o objetivo a que se propõe.

Para que isso aconteça, torna-se imprescindível todo o empenho e sacrifício pessoal, renunciando às fortes tendências perturbadoras, a fim de realizar a transformação moral imprescindível à felicidade.

O expositor, o escritor, o médium espírita, melhor do que qualquer outro adepto da Doutrina do Consolador, são portadores de altas responsabilidades, devendo insculpir na conduta os conteúdos que oferecem aos demais.

Com destaque, porém, o medianeiro esclarecido, por sentir e manter contato direto com o mundo extra-físico, tornando-se instrumento das comunicações dos imortais, está consciente do significado dos valores morais que deve cultivar, a fim de não se deixar dominar pelas fantasias e fanfarro nices do gozo exorbitante, do egoísmo, do orgulho e da presunção que o tentam constantemente, mas não dispõem de recursos mais valiosos e profundos para o convencerem.

Sucede, no entanto, que o conhecimento apenas não basta para oferecer resistência a pessoa alguma ante as inclinações para o mal e para a desordem interior.

Após consegui-lo, faz-se imprescindível vivenciá-lo, passo a passo, momento a momento, mantendo vigilância e coerência na conduta, a fim de não se comprometer negativamente, desviando-se do caminho da retidão.

Simultaneamente, e não podemos olvidar, há um adversário traiçoeiro e perverso, sempre alerta, para torpedear as aspirações de soerguimento daqueles que se encontram comprometidos com a retaguarda.

São os inimigos espirituais, que devem merecer muita atenção.

Testemunhas e acompanhantes dos homens terrestres inspiram-nos, participam das suas atividades, tornam-se companheiros inseparáveis do seu comportamento.

E, no entanto, graças ao livre-arbítrio de que cada qual dispõe, que conseguem interferir nas vidas com as quais se associam, materializando os seus intentos malsãos em razão da predominância das inclinações vinculadas ao egotismo, ao orgulho, à soberba, aos interesses mesquinhos, que permanecem com as suas seqúelas tormentosas naqueles que lhes tombam nas armadilhas.

Por outro lado, os bons Espíritos não cessam de inspirar, de interceder, de oferecer proteção a todos quantos se lhes facultam a ajuda, utilizando-se de todos os recursos possíveis para que os seus afeiçoados consigam desobrigarse dos compromissos assumidos, alcançando o patamar da vitória.

Precatem-se, portanto, aqueles que aspiram pela felicidade e por alcançar êxito nos empreendimentos que realizam, com os recursos da oração, da paciência e do trabalho elevado, a fim de manter o pensamento em faixa superior de reflexões, evitando, desse modo, ser alcançados pelos petardos mentais e hipnoses dos seus comparsas de ontem, hoje investidos de propósitos doentios e vingativos.

Encontrava-me, desse modo, extasiado com os providenciais recursos de atendimento aos que tombaram nos fundos abismos da insensatez durante a jornada humana.

Refletindo em torno das instruções recebidas, e diante da vida estuante, recordava-me da frase lapidar que encima incontáveis sepulturas terrestres: Repousa em paz.

Apesar disso, constatava que somente existe movimento, nunca repouso absoluto, mesmo em relação à matéria que experimenta os fenômenos transformadores das células e moléculas. O Espírito, esse peregrino da imortalidade, mesmo quando em profunda hibernação, que é sempre transitória, está vivo e pulsante.

Ao mesmo tempo, como é lamentável a informação inverídica de algumas religiões em torno do sono perene até o momento em que soarão as trombetas anunciando o Dia do Juízo Final.

A simbologia, que assinalava o despertar de cada consciência, foi transformada em realidade, sem qualquer análise da sua possibilidade.

Em toda parte a vida estua de maneira dinâmica.

Morre uma forma para dar lugar a outra mais específica, ininterruptamente.

A cada instante essa alteração se apresenta no Universo.

Galáxias são absorvidas pelos buracos negros e outras surgem gloriosas.

No entanto, na óptica desses religiosos ortodoxos, o Espírito deve permanecer em atitude inútil, ou segundo os negadores da vida, sucumbindo ante o fenômeno biológico da desintegração molecular.

São conclusões ingênuas de ambos grupos, porque acostumados ao conceito antropomórfico de Deus, esquecem-se de aprofundar-Lhe a grandeza.

Naquela Comunidade, a ação era a mola mestra a vibrar com dinamismo em toda parte.

Continuação natural das realizações terrenas, convidava-nos ao trabalho de auto-aprimoramento, de construção do bem em favor do próximo e de nós mesmos, sem que isso constituísse violência aos falsos créditos para a santificação.

O mesmo Sol que aquece a Terra e o incomparável zimbório estrelado a que me acostumara contemplar enquanto no corpo físico, ali estavam irradiando beleza e concitando-me a reflexões graves sobre a excelsitude do Amor e a necessidade de crescimento moral e espiritual.

Constituída de material específico, maleável àação do pensamento, quase tudo se assemelhava a uma cidade terrestre aprimorada, sem os excessos de perturbação e tumulto, porém, igualmente regida por Leis e Estatutos próprios.

Compreensivelmente, o céu de delícias, no qual o trabalho é abominado, não deixa de ser monotonia, insensatez e cansaço...

Da mesma maneira, o inferno com as suas labaredas que ardem e queimam as carnes da alma, sem nunca as consumir, não resiste a qualquer indagação da lógica em torno do amor que nunca perdoa e sempre castiga com a eternidade o erro relativo que foi praticado...

O Espírito é legatário de si mesmo, armazenando sempre as experiências e ascendendo de esfera em esfera, cada vez menos densa, até alcançar a Erraticidade superior de constituição sublime.

Vigem e estuam em todo lugar o movimento, o trabalho de solidariedade e de socorro de reeducação.

Sempre existem soluções para os dramas mais complexos e as desgraças mais tenebrosas.

Não me podia furtar, portanto, ao mergulho na gratidão ao Criador e a Jesus, que no-lO desvelara, cujo exemplo de dedicação e sacrifício infunde em milhões de vidas o desejo de servi-lO e distribuir misericórdia, compaixão e auxílio por amor.

Os minutos corriam céleres, pois que os momentos de júbilo parecem ser portadores de velocidade incomum, enquanto aqueles de sofrimentos apresentam-se lentos e intérminos...

Procurando sintonizar com a psicosfera reinante, aguardei a noite amiga para iniciar-me na ação socorrista e aprender a experiência do serviço fraternal.

Após orar, agradecendo ao Senhor as concessões de que me via objeto, procurei alguns momentos de repouso, pensando nas atividades que deveriam ter lugar naquele Pavilhão, conforme anunciara o gentil orientador.

Às vinte e duas horas Alberto me veio buscar, conduzindo-me até um recinto simples, onde se encontravam presentes diversos Espíritos treinados nas excursões às zonas excruciantes e expungitivas das faixas inferiores, o Dr. Ignácio e o amorável Eurípedes.


Reunidos em clima de amizade e expectativa, o Benfeitor exorou a superior proteção para a tarefa programada através de sentida oração, gerando um clima psíquico de inefável harmonia, após o que, sintetizou:

— Desceremos em grupo a especial região terrestre de muito sofrimento espiritual, onde se homiziam atormentados e atormentadores em desesperação recíproca, todos eles, porém, irmãos nossos que se deixaram colher na rede das dissipações que se permitiram, sucumbindo ante o fascínio das obsessões e da desenfreada conduta nas paixões tenebrosas. "Não nos cabe, em momento algum, julgar aqueles que se equivocaram, nem revidar às provocações dos seus sicários impenitentes, igualmente infelizes, na loucura que se permitem.

A misericórdia de Deus estende-se a todos igualmente, no entanto, somente aqueles que começam a despertar para a realidade de si mesmos, logram beneficiar-se. " Fez uma pausa oportuna, e com entonação de voz que traía responsabilidade e zelo, acrescentou: — Todas as criaturas terrestres — Espíritos reencarnados que são — possuem percepção mediúnica, que o futuro se encarregará de estudar com seriedade, a fim de ser utilizada com elevação, tornando-se um sentido a mais que será conquistado a pouco e pouco, lentamente incorporando-se aos demais sensoriais.

O eminente Codificador informou que a mediunidade radicase no organismo, sendo, portanto, uma conquista do processo evolutivo para facilitar o crescimento do Espírito, que no corpo imprimiu essa função.

Aqueles, no entanto, que são portadores de capacidade ostensiva e se comprometeram antes do berço em vitalizá-la pelo exemplo de honradez e abnegação, quando se entregaram ao uso indevido das forças de que eram portadores, ataram-se a infelizes adversários pessoais, assim como do Bem, que lutam milenarmente para a instalação da loucura no mundo.

Alguns deles, que se rebelaram contra Jesus, por haver, no corrente milênio, sido vítimas das injustiças e dos crimes hediondos praticados contra as suas existências e as daqueles a quem amavam, pelos falsos cristãos do período medieval, transformaram-se em justiceiros e vingadores, que pensam desafiar as soberanas Leis da Vida, sem compreender que são utilizados, na alucinação a que se entregam, pela Divina Justiça, que lhes permite serem os braços que alcançam os delinquentes que com eles sintonizam, para despertarem após as dores extenuantes que lhes são impostas. "Rabinos judeus e mulah’s muçulmanos, que foram suas vítimas preferidas durante o período da hedionda Inquisição, e transferiram o seu horror ao suave Mestre, em nome de Quem os seus algozes se apresentavam, permanecem nessas províncias de aberrações e crueldade, distantes da esperança e da compaixão.

No entanto, isso ocorre, em razão do livre-arbítrio de cada um, porquanto, no momento em que é disparado o raio do arrependimento e a súplica lhes escapa do coração dirigida ao Pai, são-lhes enviadas as providências necessárias para os atender.

Nunca cessa o amor soberano em favor dos seres sencientes. " Novamente fez silêncio, enquanto o pulsar da Natureza clara pelos pirilampos estelares tornava-se lição viva de misericórdia dirigida a todos.


Logo após, concluiu:

— Nossa atividade, logo mais, terá lugar em nosso querido planeta, em região pantanosa, que a imaginação humana descreveria como infernal.

Nosso objetivo é resgatar Ambrósio, que ali se encontra há quase duas dezenas de anos...

Guardaremos vigilância e oração em nossa vilegiatura espiritual e faremos parte da caravana da nobre Entidade que fora, na Terra, a Rainha Isabel de Portugal, considerada santa, que se dedica a esse mister há muitos anos como mensageira do Amor, mantendo irrestrita confiança em Deus.

De imediato, notificados que a Caravana da magnânima Benfeitora chegaria em breves momentos, dirigimo-nos ao jardim, a fim de aguardá-la.

A minha mente atropelava-se com interrogações que a ocasião não permitia esclarecer.

Procurei relaxar ante um gesto fraterno de Alberto, que parecia entenderme a perplexidade e a inquietação, passando a manter uma conversação descontraída e promissora com o gentil amigo.

Vimos acercar-se então o grupo de trabalhadores especializados em libertação magnética de Espíritos aprisionados em regiões dolorosas sob o comando da nobre Senhora.

Vestida com traje largo e simples, que exteriorizava suave claridade procedente do Espírito, sem qualquer sinal exterior de grandeza, a santa da caridade trazia na mão direita um bordão de substância transparente levemente azulada, enquanto a sua aura irradiava incomparável majestade.

Aproximadamente cinquenta colaboradores apresentavam-se equipados com redes muito delicadas e macas alvinitentes, alguns archotes apagados e mais ou menos dez enfermeiros encontravam-se a postos.

A um sinal do Dr. Ignácio, Alberto e eu nos acercamos da Comandante, sendo apresentados carinhosamente, na condição de aprendizes daqueles serviços específicos de socorro aos infelizes espirituais.

Expressando um sorriso de indefinível beleza e humildade, a Senhora nos distendeu uma nívea mão com dedos delicados, que osculei com emoção e reconhecimento pela oportunidade que me facultava junto aos seus cooperadores.

Não disse qualquer palavra nem era necessário enunciá-la. O amor irradia sentimentos que o verbo não pode traduzir.

Antes de descermos ao abismo terrestre, e porque todos nos encontrássemos em silenciosa expectativa, a Entidade santificada exorou a proteção do Médico divino para o ministério de amor, e silenciando avançou, por todos nós seguida na direção do querido planeta.

Seria difícil para mim explicar o admirável fenômeno de volitação que nos reunia sob a mesma vibração no harmonioso deslocamento.

Podíamos ver-nos aproximando-nos da Terra que se agigantava diante de nós até pararmos em um lugar lúgubre, de aspecto truanesco.

Não haviam passado vinte minutos, segundo os meus cálculos, e sentíamos as emanações deletérias da região enfermiça e sombria, onde nenhum sinal de vida se manifestava.

Ao lado de pântanos pútridos, cavernas se abriam profundas em montanhas escuras que limitavam a área do paul dantesco.

Reunindo-nos à borda do lamaçal, demo-nos conta da escuridão reinante, como se nuvens carregadas cobrissem a área, vez que outra sacudida por trovões espocantes e relâmpagos velozes.

Concornitantemente, o exalar de matéria em decomposição e os fogos fátuos que eram percebidos falavam sem palavras sobre a zona rnorbífica em que nos adentrávamos.

À medida que nos adaptávamos ao ambiente hostil, percebemos as emanações carregadas que subiam do lodo tornando sempre mais densas as nuvens que pairavam ameaçadoras, como se estivessem carregadas de tormentas incomuns prestes a desabar frenéticas e destruidoras.

A Senhora postou-se à frente, enquanto os cooperadores de imediato a seguiram formando uma fila indiana silenciosa e austera, O nosso pequeno grupo ficou entre os que carregavam as tochas e os padioleiros vigilantes.

Erguendo o bordão que derramava suave claridade, iniciou-se a marcha sobre o tremedal.

Os archotes foram acesos e produziam uma luz branca que não se expandia, suficiente porém, para iluminar o charco que borbulhava ameaçador.

Acompanhando o Dr. Ignácio e Alberto, que sempre seguiam as pegadas que eram deixadas pelos visitantes, eu mantinha a mente em Jesus e os sentimentos adornados de compaixão.


Nesse estado de alma pude perceber que, de momento a momento, na sombra das lamas agitadas erguiam-se cabeças que clamavam por misericórdia e apoio, para logo afundarem no lodo asfixiante, O vozerio, as exclamações, os pedidos de socorro e as queixas misturavam-se a blasfêmias e recriminações que aumentavam à medida que nos adentrávamos pela furna aberta na rocha por antigas correntes d"água, que a tornava perigosa, escorregadia...

Sem nenhuma palavra, conseguia captar o pensamento do Dr. Ferreira, infundindo-me ânimo e silenciando-me as inquietações que começavam a assaltar-me. A densa treva era cada vez mais escura, impedindo quase a irradiação dos archotes acesos.

Entre um e outro relâmpago, pudemos perceber que acima do lamaçal pairavam Entidades perversas, que pareciam flutuar no ambiente, de aspecto indescritível, que as oleogravuras religiosas não conseguem imitar pelo seu aspecto degenerado e apavorante, que aplicavam relhos naqueles que se erguiam do charco imundo suplicando amparo.

— São os perturbadores da ordem que nos visitam, objetivando roubar nossos escravos.

Pancada neles...

E gargalhadas estentóricas produziam estranhos ecos na furna imensa.

— Ataquemo-los! — Gritou alguém de aspecto feroz, exibindo sua carantonha deformada, enquanto, ameaçadoramente eliminava fumaça arroxeada pelas narinas, erguendo bidentes e chibatas que estalavam no ar pesado.

E como logo voltava a escuridão, passado o instante do relâmpago, somente ouvíamos os protestos e desafios, que não recebiam qualquer resposta.

A caravana avançava decidida, entre acusações e doestos, acrimônias e agressões verbais, até que vimos erguer-se o bastão da Senhora e os archotes aumentaram a luminosidade.

Nesse momento apresentou-se uma área imensa dentro da caverna, na qual estorcegavam Espíritos aprisionados às paredes, fazendo recordar alguns dos suplícios da mitologia grega, surrados sem piedade, outros acorrentados por pés e mãos, carregando pedras pesadas e removendo-as de um para outro lugar, enquanto no lodo, afogando-se sem cessar, inúmeros se erguiam e novamente desciam em terrível e inominável sofrimento.

Novamente o bordão se ergueu, e as redes foram atiradas sobre o lameirão, tornando luminosas as malhas que pareciam pirilampos sobre o lodo.

Muitas cabeças que se erguiam, percebendo o recurso que poderia ser salvador, agarravam-se-lhes e gritavam por socorro, enunciando os nomes de Jesus, de Deus, de Maria, de alguns dos santos das suas antigas devoções, alardeando arrependimento e suplicando amparo.

De energia magnética muito bem constituídas, a novo sinal as redes foram puxadas pelos braços fortes dos seus condutores e observamos que, enquanto algumas se despedaçavam, deixando no lugar, em agonia, aqueles que as seguraram, outros eram colhidos e arrastados até os caravaneiros que os retiravam e os colocavam, debilitados, nas macas que de imediato eram distendidas para os receber.

Por algumas vezes se repetiu o admirável concurso de proteção aos infelizes.

Percebendo a ocorrência, seres monstruosos, que haviam sido vítimas de zoantropia por hipnose e que se deslocavam no ar tentando impedir o atendimento, eram rechaçados por outras redes protetoras que foram atiradas sobre o grupo, impossibilitando qualquer investida maléfica dos dominadores da região.

Enquanto se travava uma verdadeira batalha, em que os perversos administradores da área purgatorial tentavam anular o esforço dos missionários do amor, o venerando Eurípedes acercou-se de uma parede que exsudava putrefação e rompeu com as mãos as cadeias que prendiam um Espírito desfalecido e deformado, que lhe tombou nos braços, antes que os sicários vigilantes pudessem interferir...

Ato contínuo, dois auxiliares tomaram-no e o colocaram em maca protetora, iniciando-se o retorno, deixando para trás o abismo aterrador.

Nesse comenos, cães amestrados foram trazidos e atiçados contra a caravana.

Não me atrevi a olhá-los na escuridão banhada levemente pelos archotes e os relâmpados contínuos, porque o benfeitor me inspirava à oração e ao mergulho íntimo no amor de Deus.

Mais tarde, vim a saber que se tratava de terríveis mutilações experimentadas pelo perispírito de muitos seres desditosos que se vitimaram na Terra e foram arrastados para aquele sítio infeliz, onde experimentaram hipnoses terríveis e deformantes.

Quando, por fim, chegamos à orla daquele verdadeiro purgatório, que superava tudo quanto a imaginação pudesse definir, observamos que os Espíritos recolhidos foram de imediato atendidos com fluidoterapia, recebendo ligeiro asseio e atendimento para que viessem a adormecer, a fim de não serem criados impedimentos na viagem de retorno ao Hospital.

Novamente sob o comando da Rainha Isabel a caravana ascendeu e, à medida que se aproximava da nossa comunidade, podíamos ver o querido planeta mergulhado em sombras, menos densas do que aquelas localizadas onde estivéramos, banhando-nos da claridade das estrelas que adornavam o zimbório sobre a cidade onde residíamos.

Logo chegamos, e os pacientes foram levados com o grupo de visitadores, enquanto o enfermo espiritual, que fora retirado das paredes e do ergástulo, foi encaminhado à parte inferior do nosso Pavilhão, para receber o tratamento que lhe seria dispensado.

Só então fui informado pelo Dr. Ignácio, que se tratava de Ambrósio, que motivara a excursão de misericórdia e de socorro, não obstante também, já fossem credores de auxílios aqueloutros que vieram trazidos ao Núcleo de renovação e tratamento.




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