Tormentos da Obsessão

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CAPÍTULO 12

TERAPIA ESPECIAL

À hora aprazada, encontrávamo-nos na enfermaria onde se recuperava o irmão Ambrósio.

Dr. Ignácio requisitara a presença de duas damas que não conhecíamos, a fim de contribuírem com as suas faculdades mediúnicas na atividade programada.

Estávamos em silêncio e recolhimento, quando deram entrada no agradável recinto o venerando Eurípedes Barsanulfo e Dona Maria Modesto, que eu iria conhecer com mais identificação a partir daquele momento.

O apóstolo sacramentano saudou-nos com equilibrada jovialidade, enquanto a senhora Modesto limitou-se a desenhar um sorriso na face delicada, meneando a cabeça em gesto de cumprimento silencioso.

A enfermaria mantinha-se em penumbra e pairava a agradável psicosfera amena que fora providenciada desde a manhã.

Éramos, ao todo, oito participantes da empresa espírita para o atendimento ao enfermo cujo drama nos compungia.


Eurípedes, tomando a palavra, sintetizou o programa a ser desenvolvido:

— A transferência do nosso querido paciente para este recinto não rompeu os vínculos energéticos mantidos com alguns dos verdugos que o retinham na furna de aflições.

Foi deslocado espiritualmente, sim, mas as fixações psíquicas encontram-se-lhe imantadas através do perispírito denso de energias morbosas. "Iremos tentar deslocar algumas das mentes que prosseguem vergastando-o, atraindo os seus emissores de pensamentos destrutivos a conveniente e breve diálogo, para, em ocasião própria, torná-lo mais prolongado, mediante cuja terapia procuraremos liberá-lo das camadas concêntricas de amargura e de culpa, de necessidade de punição e de fuga de si mesmo, até o momento de o despertarmos do sono reparador, que lhe foi imposto por força das circunstâncias. " De imediato fomos convidados a sentar-nos, os médiuns em torno da mesa próxima ao leito do paciente, e os demais ao lado, em um convívio dulçuroso e fraterno.


O nobre Eurípedes levantou-se, e proferiu comovida oração:

— Jesus, Incomparável benfeitor!

Tu que elegeste o amor como solução para todos os graves problemas humanos, inunda-nos desse sublime tesouro, para bem atendermos aos deveres que nos dizem respeito neste momento.

Logo a morte se Te assenhoreou no Gólgota, e o teu corpo foi inumado, desceste em espírito ao Abismo, a fim de buscar Judas, que houvera enlouquecido, deixando-se arrastar pelas forças hediondas da Treva, e o libertaste para recomeçar novas experiências iluminativas...

Incapazes de agir com a Tua superior vontade e poderosa energia, ajudaste-nos a retirar da região aflitiva o Teu discípulo desvairado, agora necessitado de socorro específico, para que as pesadas escamas da ignorância e da loucura sejam-lhe igualmente liberadas.

Porque se acumpliciou com a sombra, perdeu o contato com a Tua claridade mirífica, permanecendo nesta demorada situação de horror.

Ajuda-nos a libertá-lo daqueles que lhe engendraram a escravidão, e, não obstante o largo período de impiedade com que o seviciaram, ainda teimam em reconduzi-lo para os hediondos sítios onde esteve até há pouco.

Penetra-nos com a Tua sabedoria e guia-nos no difícil dédalo, cujo acesso está ao nosso alcance, para que não nos percamos nas suas rotas mentirosas.

Irriga -nos de ternura e conduze-nos com segurança no labor que realizaremos em Tua homenagem.

Ao silenciar, pairavam no ar vibrações harmoniosas, interrompidas somente pela agitação de Ambrósio que, no entanto, estava mais calmo.

Poucos minutos após, uma das damas convidadas começou o transe psicofônico atormentado, agitando-se e blasfemando em desconserto emocional profundo, com a voz alterada e roufenha.

Palavras agressivas e gestos de violência denotavam o baixo nível evolutivo do comunicante desencarnado, enquanto exteriorizava vibrações morbíficas, penosas.


Eurípedes, profundamente concentrado, deixou o falar, facultando maior entrosamento com a médium, e enquanto todos nos uníamos em prece silenciosa, o visitante blasonou, agressivo:

— Com qual direito os senhores se adentram em nosso recinto de justiça, sem nosso consentimento, com a presunção de libertarem o réprobo e infame criminoso? Onde ele estiver, não conseguirá ficar livre dos nossos vínculos que foram muito bem fixados durante os seus largos anos de dependência do nosso alimento mental.

Não lhes parece muita a audácia da invasão?


Sem qualquer desagrado ou agressividade como revide, o Benfeitor esclareceu:

— Não ignoramos o seu relato e o lamentamos muito, tendo em vista a sua consciência de parcial responsabilidade no que nos narra, o que torna o irmão acusado, recém libertado de sua região, como sendo vítima de si mesmo, mas também do caro visitante. "Não somos responsáveis pela apontada invasão da sua área para ajudar o aflito que pôde fruir de lucidez e anelar pela libertação, recordando-se que também é filho do Amor.

Foi ele próprio quem nos propiciou a busca, terminada a prova reparadora que se impôs, ao permitir-se o conúbio moral com os amigos... "Cada qual sintoniza com aquilo e aqueles com os quais se compraz.

No momento em que muda o direcionamento da aspiração, passa a sintonizar noutra faixa psíquica e emocional, estabelecendo novos compromissos...

— E quem são os senhores — interrompeu com insolência mal disfarçad a — que se atrevem a adentrar-se pela nossa província?


Com a tranquilidade da sabedoria e da fé, respondeu o amigo gentil:

— Que saibamos, todo o Universo pertence a Deus, e as dominações transitórias mudam de mãos, conforme as circunstâncias.

Desse modo, inspirados pelo Pai Doador e Seu filho todo amor, buscamos atender aqueles que Os evocam, e mesmo encontrando-se retidos nos antros de perversão têm o direito de ser liberados. "Graças à interferência de Isabel de Portugal, a nobre rainha das rosas, apiedada dos infelizes, foi possível buscar a ovelha perdida para recolocá-la no rebanho, já que se houvera extraviado por si mesma, atraída pelo canto enganoso do amigo infeliz e dos seus cômpares. " A um sinal discreto, Dr. Ignácio levantou-se e começou a aplicar passes dispersivos no chacra coronário da médium em transe, para logo distribuir vigorosas energias na mesma região, que facultava ao agressor a perda do controle da situação.


Ato contínuo, o orientador prosseguiu:

— Não pretendemos mudar-lhe a maneira de pensar, de ver e de entender os atuais acontecimentos.

Os irmãos cruéis existem e proliferam, porque são alimentados psiquicamente por aqueles que preferem o engodo, o crime e a irresponsabilidade, trabalhando com eficiência os braços da justiça desvairada que os alcançará nas suas esferas espirituais.

Reconhecemos que a sua como a existência de justiceiros espirituais é resultado da alucinação que grassa no mundo das fantasias até quando se instale a verdade nas mentes e nos corações.

Fez uma breve pausa, e notamos que o verdugo passava por uma rápida alteração com sinais de entorpecimento mental.


A seguir, o doutrinador completou:

— O nosso desejo, no momento, é diluir os laços psíquicos que o atam ao nosso irmão, rompendo as vinculações doentias que têm vicejado até então entre ambos.

Confiemos, outrossim, que num dia não longínquo, o irmão Ambrósio certamente será o mensageiro da luz para o felicitar também.

Por enquanto, o amigo ficará hospedado conosco em recinto próprio, onde começará com as reflexões que lhe permitirão retroceder ou avançar, conforme o seu livre-arbítrio.

Quando silenciou, o agressor, adormecido, foi deslocado do perispírito da médium e acomodado em maca próxima que o aguardava.

Imediatamente Dona Maria Modesto, a instância do mentor concentrou-se especialmente e vimos Dr. Ignácio tomar de delicado aparelho, constituído por dois capacetes unidos entre si por um tubo transparente, colocando cada um, respectivamente na cabeça de Ambrósio e da médium.

A seguir, parecendo ligados por corrente elétrica desconhecida, sendo, no entanto, de natureza psíquica, vimos que o tubo passou a deslocar um tipo de energia viscosa que se desprendia do interior da cabeça do enfermo e que inundava a mente da senhora, fazendo-a agitar-se.

Era a primeira vez que observava esse tipo de transferência de energia psíquica, mente a mente, com finalidade terapêutica em caráter mediúnico.

A médium foi sendo envolvida pela massa volátil e densa, que fora do tubo e do capacete movimentava-se em torno da sua cabeça, prolongando-se descendentemente ao tórax, parecendo produzir-lhe dores.

Gemidos e expressões de pavor tomaram-lhe a face e a voz, enquanto Eurípedes, atento, acompanhava o fenômeno peculiar.

Subitamente propôs à Senhora em transe profundo, inundada pelas sucessivas camadas de espesso vapor, que liberasse as aflições que a angustiavam.


Vimos, então, o rosto congestionar-se envolto pela névoa em tonalidade marrom, que eliminava também odor acre, nauseabundo, e contorcer-se, transmitindo a todo o corpo os movimentos agônicos, quando, então, começou a falar:

— A sua vida é nossa e você deve funcionar como um fantoche sob nosso controle...

Ouça nossa voz, que é a única portadora de recursos para o conduzir à felicidade...

Somos os conquistadores do Infinito e dominamos as vidas que se nos entregam, possuidores dos recursos que proporcionam poder na Terra, destaque e glória... Negociemos: você cede um pouco e nós concedemos muito...

Não lhe faltarão amor, glória, alegrias e posição de destaque...


Houve uma pausa rápida, e a ouvimos exclamar em aflição:

— Morro! Asfixio-me nessa neblina venenosa.

Socorro!

A voz sofrida provocava-nos compaixão, enquanto a sua agitação denotava realmente um grande sofrimento.


O Mentor, que se encontrava na retaguarda da Senhora, muito sereno, nimbado de suave claridade, intercedeu, ajudando-a com palavras calmantes:

— Absorva essa energia infeliz, para libertar o nosso paciente.

O sacrifício de amor arrebenta as algemas da loucura e da perversidade.

Ofereça a sua contribuição em forma de misericórdia.

Simultaneamente, procurava retirar com movimentos rítmicos as camadas que se movimentavam em torno da cabeça e dos ombros da Senhora, parecendo anéis constritores que apertavam, produzindo asfixia.

Da cabeça do Orientador a suave claridade passou a envolver a massa que continuava avolumando-se, até que, a um sinal, o Dr. Ignácio retirou o capacete do paciente, interrompendo o fluxo da nefasta energia.

Eurípedes continuou a operar em silêncio, movimentando as mãos e desprendendo as vibrações poderosas do seu psiquismo iluminado, que se misturavam com aquelas nefandas que foram sendo diluídas, a pouco e pouco, enquanto a médium continuava extravasando mal-estar...

Todos orávamos, envolvendo o instrumento medianímico em dúlcidas e ternas energias de amor que a vitalizavam, sustentando-a no cometimento socorrista.

Alguns minutos transcorridos, e o envoltório viscoso começou a desaparecer e a diluir-se como se fosse transformado em vapor que se fizesse água e escorresse para o piso.

Como a operação transformadora continuasse, a médium foi recuperando as características normais, o ritmo respiratório não mais aflitivo, desaparecendo da cabeça, ainda encimada pelo capacete, as condensações doentias.


Permanecendo em transe, expressou-se noutro tom:

— Tenho medo e devo obedecer...

Sou um réprobo e necessitado... A minha falência moral é sinal de desgraça, mas não há outra alternativa...

O que aconteceu comigo? Onde a promessa dos anjos, que já não estão comigo?


E mudando de tonalidade, pôs-se a gargalhar, estentórica:

— Gozar, é o lema...

Viver enquanto o corpo me permite a oportunidade...

Logo mais vem a morte e tudo se aniquila, ou não? Deus, meu, estou louco!

Que me aconteceu? Onde estou, e que faço aqui?

Tratava-se, para mim, de uma estranha comunicação, que não recebia a terapia da palavra gentil do Orientador.

Continuou esse estado alterado de consciência na trabalhadora mediúnica.

Eurípedes ouvia-a com atenção, dispersando, agora, ondas quase invisíveis à minha percepção psíquica, até que um grande silêncio tomou conta da enfermaria.

O paciente acalmou-se, quase totalmente, e diáfana claridade além daquela natural que inundava o ambiente envolveu a sala em tons alaranjados suaves, procedente das Ignotas Regiões espirituais, em decorrência da concentração e das preces ali vivenciadas.

Dona Maria Modesto retornou ao estado de lucidez sem denotar cansaço ou mal-estar, nimbada de delicada luz que dela se irradiava.

Era portadora de títulos de enobrecimento que lhe conferiam lumino sidade própria pelos serviços de amor direcionados à Humanidade.


Eurípedes, visivelmente jubiloso, após dedicar palavras de reconforto e agradecimento aos presentes, levantou-se e orou:

— Médico das almas!

Apresentamo-nos com as nossas dores e queixumes à Tua misericórdia, como filhos pródigos de volta ao Lar paterno, e Tú, Irmão incomparável, nos recebeste com júbilo e compaixão, envolvendo-nos nos Teus recursos terapêuticos, libertadores.

Desnudamo-nos, abandonando os atavios da mentira e da farsa, e não nos censuraste, nem nos acusaste de queda ou delito.

Percebeste as chagas do nosso sentimento e colocaste o bálsamo curador, que agora nos diminui as dores, ajudando-nos na recomposição.

Ensejaste-nos a oportunidade de trabalhar na tua vinha, e embora sabendo que não correspondemos à confiança, não nos cobraste o dever interrompido ou o fracasso cometido.

Somente tiveste compaixão para com a nossa defecção, e bondade para facultar o nosso soerguímento.

Eis-nos novamente de pé, aguardando o que queiras que façamos, já que ainda não sabemos discernir após o torvelinho que nos visitou...

Agradecemos-Te, Compassivo Benfeitor, e nos rejubilam os por estarmos despertos, preparando-nos para novos cometimentos, nos quais esperamos triunfar.

Permanece conosco, particularmente com o náufrago que alcança esta praia de amor, por onde passas, qual acontecia na Galileia do passado, a fim de recolheres os combalidos e cansados, os colhidos pelas ondas furiosas das forças inesperadas e poderosas.

Inundados de júbilo, louvamos-Te e, reconhecidos, pedimos-Te que abençoes a tarefa que ora encerramos.

Todos estávamos sensibilizados.

O ambiente calmo exigia silêncio, a fim de que a meditação nos ensei asse o entendimento das ocorrências vividas.

Saímos discretamente, deixando os enfermeiros encarregados de assistir ao irmão Ambrósio, que agora dormia um sono reconfortante, sem os estertores angustiantes, embora a expressão do rosto permanecesse quase a mesma.

Fora da enfermaria, despedimo-nos do Terapeuta e da sua auxiliar, das duas damas e do cavalheiro que as acompanhara, ficando com o Dr. Ignácio, que parecia perceber o turbilhão de questões que me agitavam a mente.


Antes mesmo que o interrogasse, o Médico convidou-me a um momento de relaxamento no jardim florido da entrada do Edifício, para onde nos dirigimos, e enquanto as estrelas lucilavam ante a Natureza também iluminada pela claridade argêntea da lua, explicou-me:

—Realizamos, há pouco, uma atividade não comum na área dos fenômenos mediúnicos, conforme o habitual entre os encarnados.

Trata-se de uma experiência específica para distúrbios profundos, que se fixaram no recesso do perispírito de Ambrósio, alcançando as delicadas tecelagens mentais do Espírito, que lhe sofrem as consequências danosas. "O objetivo inicial era romper a fixação mental de um dos seus adversários, o que foi conseguido graças à psicofonia atormentada, retirando as energias que lhe estavam imantadas e, momentaneamente transferindo-as para a médium.

Desligado psiquicamente da sua vítima, o retorno se lhe tornará mais difícil, especialmente quando o paciente despertar com outras disposições mentais, não mais facultan.

do campo vibratório para sintonia com esse teor de energia. "Já, no caso do fenômeno de que foi objeto a Senhora Cravo, observamos que não houve uma incorporação, mas a retransmissão das ideias e pensamentos, no primeiro instante, que foram fixadas no enfermo desde há muitos anos, quando ele se encontrava no exercício da mediunidade e começou a sintonizar com essas Entidades perversas, que o sitiavam.

Todas aquelas frases eram hipnóticas, que lhe foram direcionadas através dos tempos e se tornaram gravações verbais a se repetir sem cessar, levando-o ao desespero, à obediência.


Esse é um dos hábeis mecanismos geradores de obsessões, porque o paciente não tem como deixar de estar em contato interno com os comandos devastadores, que terminam por dominar-lhe o raciocínio, a vontade, a emoção... " Reflexionou um pouco, parecendo coordenar o pensamento, e continuou:

— Trata-se de técnicos desencarnados que dão assistência ininterrupta às futuras vítimas que, desabituadas ao exercício dos pensamentos edificantes e felizes, acolhem as induções negativas e prejudiciais com as quais passam a sintonizar e comprazerse, em mecanismos de fuga da responsabilidade, transferindo sempre culpa e dever aos outros, que julgam não lhes conferir a importância que se atribuem.

Normalmente sentem-se abandonados por todos e pelas Leis, evitando reconhecer o desleixo pessoal perante o compromisso assumido e passam àposição de vítimas, que não o são, facultando mais franco intercâmbio mental com esses verdugos da sua paz, de que não se dão conta, ou que preferem não cuidar com a necessária atenção.

Lentamente, se lhes vão fixando as manifestações da raiva contra os demais, os ressentimentos se lhes aninham na emoção e se entregam ao desvario, conscientes ou não do que está acontecendo.


Quanto mais se permitem descuidar, mais amplas possibilidades são oferecidas aos inimigos, que os não liberam, até quando passam ao controle mental soberano, empurrando-os para as obsessões por subjugação. " Novamente aquietou-se, e, recordando-se do fenômeno, esclareceu:

—Para esse tipo de manifestação psíquica, torna-se indispensável um médium muito sensível e portador de elevação espiritual, a fim de evitar impregnar-se desses miasmas pestilenciais, que se tornam vibriões mentais e passam a ter vida embora transitória, enquanto nutridos pelos geradores de energia.

Sendo retiradas as frases perturbadoras, são liberados os centros pensantes, e após um período de torpor, enquanto se refazem as sinapses perispirituais, que volvem à normalidade ao largo do tempo, o reequilíbrio volta a instalar-se.

‘Desse modo, se tornou dispensável qualquer tipo de esclarecimento, porquanto não se encontrava em comunicação qualquer Espírito, e sim, as ideias que atormentaram longamente o desavisado.


A atitude do Benfeitor era aquela mesma, desembaraçar a médium das correntes mentais absorvidas, a fim de que não permanecessem resíduos mórbidos, enquanto as dissipava com refinada técnica e concentração diluente dos fluidos perniciosos. " Utilizando-se do silêncio natural, indaguei:

— A médium experimentou dores durante o transe, face aos gemidos e expressões de angústia que exteriorizava?


Paciente e educativo, respondeu:

—No estado de transe sonambúlico, indispensável àquele tipo de ocorrência, pela falta da consciência alerta, não há qualquer sensação de dor ou de sofrimento no médium.

São os automatismos fisiopsicológicos que produzem os estertores, as contrações e os gemidos.

Devemos, porém, levar em conta, que é necessária a abnegação por parte do médium que se oferece para esse delicado mister.

—Tendo em vista a informação, — voltei a indagar - de que se tratavam as fixações implantadas no perispírito do paciente? Não poderíamos considerar a comunicação como sendo do corpo mental, conforme designação de alguns espiritualistas do passado e do presente, que asseveram ser a criatura humana constituída por sete cornos?

— Poderíamos assim denominar parte do fenômeno — respondeu com sabedoria — No entanto, a explicação não se aplica à primeira fase da ocorrência, porque eram as ideias e imagens que foram transmitidas ao paciente e que ora se exteriorizavam.

Naquelas em que havia autorreflexão, poderemos considerar como dessa natureza, por haverem pertencido ao enfermo.

A tese dos sete corpos é muito antiga, e iremos encontrá-la nas revelações primitivas do pensamento indiano, mais tarde renovadas por Buda e, através dos tempos, por diversas outras doutrinas como a Rosacruz, a Teosofia, etc.

Alguns estudiosos desse conceito, tentando negar a comunicação dos Espíritos desencarnados, recorrem à velha tese da mitologia chinesa sobre as almas errantes, que permanecem em volta da Terra, para dizer que são esses cascões mentais que se manifestam, enquanto outros apelam para o corpo mental, na condição de condensação de resíduos do pensamento que envolvem o corpo astral...

Preferimos a tese espírita, conforme a desenvolveu o eminente Codificador Allan Kardec que, no perispírito, situa recursos ainda não detectados e que serão a chave para decifrar inúmeros problemas que dizem respeito ao ser humano, à vida na Terra... "Face à plasticidade de que é portador, o perispírito assimila os pensamentos que são elaborados pelo Espírito, condensando-os e dando lugar às construções que são do particular agrado do seu agente.

Eis porque as deformações, que experimentam muitas Entidades, decorrem das próprias elaborações mentais, quando não são ampliadas por processos hipnóticos de companheiros perversos, que os obsidiam, e o fazem porque encontram campo propício às induções pemiciosas. "Foi o Dr. Hyppolite Baraduc, o nobre médico francês, que se dedicou à pesquisa do duplo etéreo, quem denominou essa emanação da mente, que pôde fotografar, por corpo mental.

Trata-se, naturalmente, de um delicado envoltório, qual ocorre com o perispírito em relação ao Espírito. "A grande verdade é — arrematou com um sorriso — que somos aquilo que cultivamos mentalmente, abrindo espaço a sintonias correspondentes.

Não foi por outra razão que o Mestre galileu nos advertiu: — A cada um conforme suas obras, que são decorrência natural dos seus pensamentos. " Considerando o adiantado da hora, o generoso amigo convidou-me ao repouso, acompanhando-me à porta do meu recanto de paz, embriagado de emoção e reconhecimento a Deus por tantas concessões de que me sentia enriquecido.




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