Tormentos da Obsessão

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CAPÍTULO 22

LIÇÕES DE SABEDORIA

A aprendizagem prosseguia ampliando-me os horizontes do entendimento em torno do ser, do seu destino, das aflições e alegrias que são vividas ao largo do processo evolutivo.

Em todo lugar, naquele pavilhão, que era apenas um dos quatro reservados aos alienados mentais que permaneciam vinculados às reminiscências terrestres e aos seus engodos, eu defrontava a Lei de Causa e Efeito no seu mister de disciplinar e educar, orientar e libertar o Espírito das amarras que o jugulam às heranças do primarismo por onde passa ao largo da vilegiatura carnal.

Novos contatos permitiam-me penetrar em questões dantes jamais concebidas, que fazem parte da natureza humana e se sediam nas estruturas mais complexas do ser espiritual.

A existência corporal é sempre um desafio dignificante, que deve ser vivida com elevação e respeito pelos postulados que facultam o crescimento interior no rumo da plenitude.

Nem todos aqueles que se encontram mergulhados na neblina carnal dão-se conta do alto significado dessa concessão superior da misericórdia divina.

Enquanto transcorre em clima de júbilos infantis sem mais graves compromissos, predominam os encantamentos, que logo passam, assim se desenham os exercícios de auto-aprimoramento, de auto-iluminação mediante o serviço do bem, o sacrifício das paixões, a renúncia às ilusões, o testemunho depurador pelo sofrimento...

Anestesiado pelos vapores do organismo, o Espírito transita sem responsabilidade, comprometendo-se e despertando para os necessários resgates, até adquirir a consciência de si mesmo, definindo-se pela marcha ascensional sem estágios nos patamares de sombra e dor.

O tropismo divino atrai-o e fascina-o, poderoso e absorvente, fazendo-o superar os atavismos ancestrais e romper as vigorosas redes retentivas da retaguarda.

Esse processo de libertação é, às vezes, penoso, feito com suores e lágrimas, oferecendo, logo depois, o prêmio da harmonia, da superação dos instintos e dos tormentos.

Empenhar-se com acendrado interesse pelo conseguir, deve ser a meta de todos nós, que ainda nos encontramos vinculados aos vícios milenares, prejudiciais e asselvajados.

Ali tivera oportunidade de conhecer abnegados servidores anônimos que se encarregavam de tarefas humildes umas, aparentemente insignificantes outras, nas quais investiam todo o amor e alegria, procurando ser úteis, intensificando propósitos de sublimação e aguardando confiantes o futuro.

Espíritos que, na Terra, haviam envergado a túnica do destaque social, mantido nas mãos a adaga do poder, transitado entre honrarias e louvores, agora se encontravam mergulhados na simplicidade por onde recomeçavam o desenvolvimento ético-moral para a cons trução superior de si mesmos.

Por outro lado, encontrara testemunhos de renúncia incomparáveis, em que almas nobres aguardavam a recuperação dos seus afetos para somente depois ascenderem a planos mais elevados e desfrutarem de bem-estar. O serviço de auxílio ao próximo sofredor em nome do amor, exigindo-lhes sacrifícios contínuos, possuía-lhes significado essencial em detrimento das próprias alegrias que adiavam, a fim de que os seus júbilos não se assentassem no esquecimento das lágrimas que os aguardavam para enxugálas...

Um mês se havia passado desde que chegáramos ao Hospital e fôramos carinhosamente recebidos.

Com esse saldo credor na economia dos sentimentos, encaminhei-me ao gabinete do Dr. Ignácio Ferreira, a fim de informá-lo de que, no dia imediato retornaria à comunidade onde residia, ali prosseguindo no desempenho das atividades que me diziam respeito.

O médico uberabense recebeu-nos com efusão de júbilos, explicando-me que Eurípedes Barsanulfo, recordando-se que o prazo referente ao meu estágio terminava, houvera-me convidado e a outros amigos por seu intermédio, para nos reunirmos na sua residência, a fim de participarmos de um encontro informal de despedida, o que ocorreria às vinte horas daquele mesmo dia.

Não pude ocultar o entusiasmo que, por pouco, não me conduziu às lágrimas.

Reconheço as deficiencias que me tipificam o processo espiritual, e receber tão generosa deferência representava-me alta responsabilidade em relação àquele momento e ao futuro que me aguarda.

Assim, busquei o caro Alberto, a fim de visitarmos os enfermos e novos amigos com os quais travara contato naquele período, deixando-lhes exteriorizados os meus sentimentos de gratidão e votos de breve recuperação das dores pungitivas que a alguns excruciavam, pórtico porém, das inefáveis alegrias que os esperavam.

Fomos ao encontro de Almério que se apresentava com excelente disposição psíquica e continuava no atendimento aos visitantes do pavilhão.

Agradeci-lhe, penhorado, a gentileza com que me houvera recebido no primeiro dia, confiando-me a sua história rica de lições, ajudando-me a resguardar-me das próprias mazelas.

Logo mais, restabelecemos o contato com Dr. Leôncio, que se conscientizava, a cada novo dia, com mais amplo tirocínio dos deveres para com a vida e para consigo mesmo, ao invés da intolerância e do radicalismo que invariavelmente ocultam os conflitos graves, que logo se exteriorizam assim tenham oportunidade.

Junto a Ambrósio, a prece de reconforto moral e de fraternal sentimento solidário foi a contribuição única de que dispusemos para expressar-lhe simpatia e ajuda, confiando-o à inalterável bondade de Deus.

Igualmente, ao lado do Dr. Agenor reflexionamos em silêncio a respeito dos tesouros do conhecimento que aplicamos incorretamente e das duras consequências que advêm dessa inditosa conduta.

Apesar de hibernado, sem poder exteriorizar as aflições que o martirizavam, vivia-as mentalmente através do processo das evocações constantes e automáticas.

O tempo lhe seria o auxiliar milagroso em favor do despertamento para os novos desafios que deveria enfrentar.

O reencontro com Licínio foi enriquecido de alegrias, face às conquistas do digno trabalhador do Bem, que se soube apagar a fim de que brilhasse a luz da verdade através dos seus atos.

O seu riso generoso e fácil permaneceria em minha memória como o sinal de vitória após o dever retamente cumprido, agora lhe descortinando infinitas outras possibilidades de crescimento interior.

Dona Hildegarda recebeu-nos com sensibilidade, convidando-nos ao retorno, assim nos fosse possível, a fim de participarmos não apenas das atividades hospitalares, mas também dos labores espirituais que desenvolvia na crosta terrestre ao lado dos amigos.

Jovial e confiante, avançava no nimo da Grande Luz sem olhar para trás, investindo amor e tenacidade no desempenho dos compromissos que ora lhe diziam respeito.

O irmão Gustavo Ribeiro apresentava-se mais animado, embora os vínculos profundos que ainda mantinha com o lar e o peso do arrependimento que o esmagava.

A prece de reconforto moral e de encorajamento, que fizemos ao seu lado, foi a forma de que dispúnhamos no momento para agradecer-lhe a lição de vida que nos oferecera como advertência para a própria indigência.

Buscamos a presença de Honório, encontrando-o no lento processo de conscientização após os duros transes passados, que ainda prosseguiam em for ma de fixações mentais pungentes.

Não nos esquecemos de Agenor, cuja mãezinha nos encantara com o seu testemunho de fidelidade e proteção ao filho rebelde, e que permanecia em sono profundo visitado pelas imagens perturbadoras da conduta irregular.

Fomos agradecer ao Dr. Orlando Messier a confiança e a generosidade que nos dispensara, pedindo-lhe permissão para rever o Dr. Evaldo e orar ao seu lado, a fim de o envolver em vibrações de esperança e de recuperação, no que fomos gentilmente atendidos.

Diante de cada um desses irmãos e de outros tantos, agradecemos a Deus a oportunidade de aprender com eles, sem a necessidade de experimentar os mesmos sofrimentos porque passaram e ainda sofriam, face à lucidez que nos acompanhava.

A verdade é que, em toda parte, o amor abre o seu elenco de possibilidades de serviço e de renovação em convite perene para a felicidade.

À medida que a noite se anunciava, ao lado do incansável Alberto que se nos houvera transformado em verdadeiro benfeitor, experimentava já os sentimentos de saudade e de reconhecimento pelas admiráveis lições aprendidas no pavilhão que nos hospedara naquele breve período.

Agradecendo ao companheiro vigilante e prestimoso, recolhi-me ao apartamento, a fim de prepararme para o encontro com o fundador do Hospital Esperança conforme delineado.

À hora estabelecida, Dr. Ignácio Ferreira e Alberto vieram buscar-me para o convívio feliz.

Somente então dei-me conta de que o missionário sacramentano residia em área próxima ao Hospital, e não em alguma das suas dependências.

Desde quando desencarnara, que se empenhara em dar prosseguimento à edificação de uma comunidade dedicada ao amor e ao estudo da Verdade, que houvera iniciado antes do mergulho no como, conseguindo, ao largo dos anos, receber nas diversas edificações familiares e amigos mais recentes, tanto quanto de épocas recuadas, a fim de prosseguirem juntos no ministério iluminativo, assim iniciando a fraternidade mais ampla entre eles, pródromo daquela que sera universal.

Podia-se dizer que se tratava de um bairro na cidade espiritual com magnífico traçado urbanístico e rica paisagem luxuriante, na qual se experimentava a harmonia entre as realizações do Espírito e o ambiente geral, produzindo refazimento e inefável bem-estar por toda parte.

As residências encontravam-se bem distribuídas com expressivas dimensões e jardins que as uniam, tanto quanto largos espaços para encontros e convivência em grupos.

Noutra área, destacava-se um amplo edifício escolar, no qual se encontrava um dístico expressivo enunciando tratar-se do Educandário Allan Kardec.


Não cabia em mim de contentamento e sumresa. Dr. Ignácio, percebendome o espanto, e sorrindo jovialmente, informou-me:

— Esse Instituto foi o modelo no qual Eurípedes se inspirou para erguer o seu equivalente em Sacramento no começo do século 20.

Aqui, em momentosos deslocamentos espirituais, ele vinha abastecer-se de energias e conhecimentos mediante desdobramento parcial pelo sono físico, para desenvolver novos padrões pedagógicos à luz do Espiritismo, vivendo grandioso pioneirismo em torno da educação.

Diversos daqueles seus alunos de então, ora aqui se encontram, trabalhando na divulgação da metodologia do ensino moderno, ampliando a visão da liberdade com responsabilidade nas grades pedagógicas.

A obra do Bem não é realizada de improviso, nem surge concluída de um para outro momento.

Exige esforço, perseverança e dedicação. "O Educandário tem vários setores, que se iniciam no atendimento maternal, passando pelo jardim de infância e prosseguindo através da preparação primária, secundária, universitária...

Há lugar para todos os níveis etários conforme os padrões terrestres, e aqueles que desencarnam em diferentes idades, quando para cá são trazidos, dispõem de competente atendimento de acordo com as suas necessidades. " Havíamos caminhado entre jardins e alamedas bem cuidados por quase um quilômetro desde que saíramos da porta central do pavilhão no Hospital que nos alojava.

Diante dos meus olhos alargava-se a Com unidade amor e conhecimento da Verdade.

Perpassavam no ar da noite suaves e quase inaudíveis melodias que nos estimulavam à alegria e aos sentimentos superiores, produzindo vibrações de harmonia em nosso mundo íntimo.

Quando chegamos à ampla residência do Benfeitor gentil, este veio receber-nos à porta e fez-nos adentrar com amabilidade que nos sensibilizou, reconhecendo a ausência de mérito de nossa parte.

Na sala de largas janelas que permitiam a entrada do perfume exterior das flores em explosão de primavera, iluminada amplamente encontravam-se inúmeros Espíritos joviais que nos receberam com verdadeiro e natural contentamento.

O anfitrião nos apresentou a todos, um a um, entretecendo ligeiro comentário a respeito de cada qual.

Eram familiares da última experiência física, amigos queridos, ex-alunos, cooperadores devotados, médiuns que o auxiliavam na psicoterapia espiritual com os sofredores desencarnados, enfim, membros da grande ordem do amor universal.

Deixando-me inteiramente à vontade, convidou-nos a sentar e, com a naturalidade que lhe era habitual, explicou-nos a todos que o encontro tinha por objetivo agradecer a nossa visita e entretecer breves comentários em torno do cristão no mundo, especialmente do cristão-espírita enriquecido pela Terceira Revelação.


Todos concentramos os olhos e a atenção no emérito trabalhador de Jesus que, sem mais delonga, considerou:

— Todo conhecimento superior que se adquire visa ao desenvolvimento moral e espiritual do ser.

No que diz respeito às conquistas imortais, a responsabilidade cresce na razão direta daquilo que se assimila.

Ninguém tem o direito de acender uma candeia e ocultá-la sob o alqueire, quando há o predomínio de sombras solicitando claridade.

A consciência esclarecida, portanto, não se pode omitir quando convidada ao serviço de libertação da ignorância de outras em aturdimento.

Somos células pulsantes do organismo universal, e quando alguém está enfermo, debilitado, detido no cárcere do desconhecimento, o seu estado se reflete no conjunto solicitando cooperação.

Jesus é o exemplo dessa solidariedade, porque jamais se escusou, nunca se deteve, avançando sempre e convidando todos aqueles que permaneciam na retaguarda para segui-lO.

Esse é o compromisso do ser inteligente na Terra e no Espaço: socorrer em nome do amor os irmãos que se detêm ergastuiados no erro, no desconhecimento, na dor... "A Humanidade, desde priscas Eras, tem recebido a iluminação que verte do Alto.

Nunca faltaram os missionários do Bem e da Verdade conclamando àascensão, à superação das imperfeições morais.

Em época alguma e em lugar nenhum deixou de brilhar a chama da esperança em nome de Nosso Pai, que enviou os Seus apóstolos ao Planeta, a fim de que todas as criaturas tivessem as mesmas chances de auto-realização e de crescimento interior.

Todos eles, os nobres Mensageiros da Luz, desempenharam as suas atividades em elevados climas de enobrecimento e de abnegação, que deles fizeram líderes do pensamento de cada povo, de todos os povos. "Foi, no entanto, Jesus, quem melhor se doou àHumanidade, ensinando pelo exemplo dedicação até à morte, e oferecendo carinho até hoje, aguardando com paciência infinita que as Suas ovelhas retornem ao aprisco.

Apesar das Suas magníficas lições, o ser humano alterou o rumo da Sua proposta de lídima fraternidade, promovendo guerras de extermínio, elaborando castas separatistas, elegendo ilusões para a conquista do reino terrestre...

Sabendo, por antecipação, dessa peculiaridade da alma humana, o Mestre prometeu o Consolador que viria para erguer em definitivo os combalidos na luta, permanecendo com as criaturas até o fim dos tempos... "E o Consolador veio.

Ao ser apresentado no Espiritismo, surgiram incontáveis possibilidades de edificação humana, pelo fato de a Doutrina abarcar os vários segmentos complexos e profundos da Ciência, da Filosofia e da Religião, contribuindo em todas as áreas do conhecimento e da emoção para o desenvolvimento dos valores eternos e a consequente consolidação do reino de Deus na Terra.

Expandindo-se a Codificação kardequiana, as multidões esfaimadas de paz e atormentadas por vários fatores, acercaram-se e continuam abeberando-se na fonte generosa e rica, para serem atendidas, sorvendo os seus sábios ensinamentos. "Quando, porém, deveriam estar modificados os rumos convencionais e estabelecidos a fraternidade, a solidariedade, a tolerância, o trabalho de amor na família que se expande, começam a surgir desavenças, ressentimentos, conflitos, campanhas de perturbação e ataques grosseiros, repetindo-se as infelizes disputas geradas pelo egoísmo e pela vã cegueira das paixões dissolventes, conforme ocorreu no passado com o Cristianismo, destruindo a sementeira ainda não concluída e ameaçando a ceifa que prometia bênçãos.

Espíritos uns, possuídos pelo desejo de servir, mergulham no corpo conduzindo expectativas felizes para ampliar os horizontes do trabalho digno, mas, vítimas de si mesmos e do seu passado sombrio, restabelecem as vinculações enfermiças, tombando nas malhas bem urdidas de obsessões cruéis, vitimados e perdidos...

Outros mais, que deveriam ser as pontes luminosas para o intercâmbio entre as duas esferas vibratórias, açodados na inferioridade moral, comprometem-se com os vícios dominantes no mundo e desertam das tarefas redentoras...

Diversos outros ainda, preparados para divulgar o pensamento libertador, deixam-se vencer pelo bafio do egoísmo e do orgulho que deveriam combater, tornando-se elementos perturbadores, devorados pela ira fácil e dominados pela presunção geradora de ressentimentos e de ódios...

A paisagem, que deveria apresentar-se irisada pela luz do amor, torna-se sombreada pelos vapores da soberba e do despautério, tornando-se palco de disputas vis e de promoções doentias do personalismo, longe das seguras diretrizes do legítimo pensamento espírita...

Que estão fazendo aqueles que se comprometeram amar, ajudar-se reciprocamente, fornecendo as certezas da imortalidade do Espírito e da Justiça Divina? Enleados pelos vigorosos fios da soberba e da presunção, creem-se especiais e dotados com poderes de a tudo e a todos agredir e malsinar. "Como consequência dessa atitude enferma estão desencarnando muito mal, incontáveis trabalhadores das lides espíritas que, ao inverso, deveriam estar em condições felizes.

O retorno de expressivo número deles ao Grande Lar tem sido doloroso e angustiante, conforme constatamos nas experiências vivenciadas em nossa Esfera de atividade fraternal e caridosa.

O silêncio em torno da questão já não émais possível.


Por essa razão, anuímos que sejam trombeteadas as informações em torno da desencarnação atormentada de muitos servidores da Era Nova em direção aos demais combatentes que se encontram no mundo, para que se dêem conta de que de sencarnar é desvestir-se da carne, libertar-se dela e das suas vinculações, porém, é realidade totalmente diversa e de mais difícil realização. " O digno missionário silenciou por breves segundos, logo dando curso aos seus enunciados:

— Felizmente nos confortam o testemunho de inúmeros heróis do trabalho, os permanentes exemplificadores de caridade, a constância no bem pelos vanguardeiros do serviço dignificante, os ativos operários da mediunidade enobrecida e dedicada ao socorro espiritual, os incansáveis divulgadores da verdade sem jaça e sem prepotência que continuam no ministério abraçado em perfeita sintonia com as Esferas Elevadas de onde procedem. "Quem assume compromisso com Jesus através da Revelação Espírita, não se pode permitir o luxo de O abandonar na curva do caminho, e seguir a sós, soberbo quão dominador, porque a morte o aguarda no próximo trecho da viagem e o surpreendera conforme se encontra, e não, como se dará conta do quanto deveria estar melhor mais tarde. "A transitoriedade da indumentária física é convite à reflexão em torno dos objetivos essenciais da vida que, a cada momento, altera o rumo do viajante de acordo com o comportamento a que se entrega.

Ninguém se iluda, nem tampouco iluda aos demais.

A consciência, por mais se demore anestesiada, sempre desperta com rigor, convidando o ser ao ajustamento moral e à regularização dos equívocos deixados no trajeto percorrido.

Todos quantos aqui nos encontramos reunidos, conhecemos a dificuldade do trânsito físico, porque já o vivenciamos diversas vezes, e ainda o temos vivo na memória e nos testemu nhos a que fomos convocados.

Ninguém esteve na Terra em regime de exceção.

Apesar disso, bendizemos as dificuldades e as provas que nos estimularam ao avanço e à conquista da paz. "Provavelmente, estas informações, quando forem conhecidas por muitos correligionários, serão contraditadas e mesmo combatidas.

Nunca faltam aqueles que se entregam à zombaria e à aguerrida oposição. Os seus estímulos funcionam melhor quando estão contra algo ou alguém.

Não nos preocupamos com isso.

Cumpre-nos, porém, o dever de informar com segurança, e o fazemos com o pensamento e a emoção direcionados para a Verdade.

Como os reencarnados de hoje serão os desencarnados de amanhã, e certamente o inverso acontecerá, os companheiros terrestres constatarão e se cíentificarão de visu.

Jamais nos cansaremos de amar e de servir, tentando seguir as luminosas pegadas de Jesus, que nos assinalou com sabedoria: — Muitos serão chamados e poucos serão escolhidos.

Sem a pretensão de sermos escolhidos, por enquanto apenas pretendemos atender-lhe ao sublime chamado para o Seu serviço entre as criaturas humanas de ambos os planos da vida. " Calando-se, visivelmente emocionado, ergueu-se e, nimbado por peculiar claridade que dele se irradiava, exorou a Deus com inesquecível tom de voz: Amantíssimo Pai, incomparável Criador do Universo e de tudo quanto nele pulsa!

Tende compaixão dos vossos filhos terrestres, mergulhados nas sombras densas da ignorância e do primarismo em que se demoram.

A vossa excelsa misericórdia tem-se consubstanciado em lições de vida e de beleza em toda parte, convidan do-nos, estúrdíos que somos, ao despertamento para a vossa grandeza e sabedoria infinita.

Não obstante, continuamos distraídos, distantes do dever que nos cabe a tendei.

Apiedai-vos da nossa pequenez e deixai-nos sentir o vosso inefável amor, que nos rocia e quase não é percebido, a fim de alterarmos o comportamento que vimos mantendo até este momento.

Enviastes-nos Jesus, o inexcedível Amigo dos deserdados e dos infelizes, depois de inumeráveis Mensageiros da Luz, ouvimos-Lhe a voz, sensibilizamonos com o Seu sacrifício, no entanto, desviamo-nos do roteiro que Ele nos traçou e continua apontando.

Tombando, porém, no abismo, por invigilância e levian da-de, tentamos reerguer-nos várias vezes, e nos ajudastes por compaixão, sem que essa magnanimidade alterasse por definitivo nossa maneira de ser durante os séculos transatos.

Permitistes que Allan Kardec mergulhasse no corpo, afim de demonstrarnos a imortalidade da alma, quando campeava a descrença e a cegueira em torno da vossa Majestade, e também nos fascinamos com o mestre lionês.

Logo depois, porém, eis-nos perdidos no cipoal dos conflitos a que nos afeiçoamos, experimentando sombra e dor, esquecidos das diretrizes apresentadas.

No limiar da Nova Era que se anuncia, permiti que vossa luz imarcescível nos clareie por dentro, libertan do-nos de toda treva e assinalando-nos com o discernimento para vos amar e vos servir com devotamento e abnegação.

Excelso Genitor, tende piedade de nós, favorecendo-nos com o entendimento que nos ajude a eliminar o mal que ainda se demora em nós, desenvolvendo o bem que nos libertará para sempre da inferioridade que predomina em a nossa natureza espiritual.

Sede, pois, louvado, por todo o sempre, Venerando Pai!

Calou-se o orante.

A luz ambiente diminuiu de intensidade durante a oração, ao tempo em que peregrina claridade de luar invadiu o recinto bafejado por acordes harmônicos de harpa dedilhada ao longe com incomum maestria.

Simultaneamente, pétalas de rosas coloridas caíam do teto e diluíam-se com delicadeza no contato conosco.

As lágrimas nos escorriam silenciosas e longas pela face, confirmando o nosso compromisso emocional com o dever que jamais desapareceria do nosso rumo espiritual.

O ambiente permaneceu em silêncio profundo por alguns minutos, ouvindo-se o pulsar da Natureza e recebendo-se o inefável amparo divino.

Lentamente a claridade ambiente retomou e todos nos olhamos comovidos e felizes.

Estava encerrado o incomum encontro.

Despedimo-nos de todos os novos amigos, certos de que nos voltaríamos a encontrar oportunamente em algum outro lugar na grande marcha para Deus.

Eurípedes, gentilmente acompanhou-nos à porta, abraçando-nos com afeto e colocando a comunidade na qual se encontrava inteiramente à nossa disposição, caso viéssemos a ter qualquer necessidade.

Beijei as mãos da Entidade veneranda e, com Dr. Ignácio e Alberto, retornei ao pavilhão, igualmente despedindo-me de ambos com profunda gratidão, por quanto, ao amanhecer, seguiria de retorno ao lar, jamais me olvidando de tantas graças recebidas e das afeições estabelecidas.

A noite de bênçãos daria lugar a futuros amanheceres de trabalho e de iluminação, que estamos percorrendo com os olhos postos em Jesus, o Amigo por excelência.






FIM





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