Tormentos da Obsessão

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CAPÍTULO 6

INFORMAÇÕES PRECIOSAS

Com jovialidade irradiante o Dr. Ferreira recepcionou-nos, exteriorizando os júbilos que o invadiam, face à possibilidade de esclarecer-me em torno das nobres atividades daquela Casa de Socorro.

Por minha vez, profundamente sensibilizado, não tinha como expressar-lhe o reconhecimento que me dominava, retribuindo-lhe com simplicidade a generosa maneira de estimular-me ao progresso íntimo.

Convidando-me a sentar-me em confortável poltrona, passou a explicar-me parte da complexidade dos labores que tinham lugar naquele admirável Nosocômio espiritual.

Esclareceu-me que era responsável somente por um dos pavilhões que albergava médiuns e alguns outros equivocados, enquanto diversos trabalhadores, respectivamente se incumbiam de administrar outros setores que acolhiam diferentes ordens de portadores de alienações espirituais e que haviam fracassado no projeto reencarnacionista.

A supervisão geral era realizada por uma coligação constituída pelos diretores dos diversos Núcleos sob a presidência do apóstolo sacramentano, encarregado das decisões finais.

Outrossim, lidadores da psiquiatria, que ali trabalhavam com terapias valiosas, ofereciam também seu contributo, na condição de responsáveis pelas clínicas, nas quais estagiavam.

A ordem, a disciplina e o respeito pelas atividades pertinentes a cada área constituíam valioso recurso para a harmonia geral e o contínuo aprimoramento de técnicas terapêuticas como métodos de socorro que se multiplicavam conforme as necessidades que ocorressem.

— Vige, em todos os momentos — expôs com delicadeza — o sentimento de amor, entre aqueles que ali laboramos, constituindo o elo forte de vinculação entre nós.

As decisões são tomadas sempre após diálogos construtivos e nunca vicejam o melindre, a censura ou qualquer outra expressão perturbadora de comportamento, qual sucede nas diversas Entidades terrestres.

O exemplo de engrandecimento moral e de abnegação, oferecido por Eurípedes, sensibiliza e dá segurança, por haver-se transformado no servidor de todos, ao invés de constranger os menos hábeis com as suas valiosas conquistas.

Fazendo uma breve pausa, apresentou-me o programa que me propunha para o período do estágio solicitado.


— Não ignoramos — acrescentou — que o amigo Miranda vem-se aprofundando nas psicogêneses da obsessão e suas sequelas, das enfermidades mentais que as precedem ou que as sucedem, e, por isso mesmo, quanto me seja possível, acompanhá-lo-emos nas visitas às enfermarias e apartamentos que hospedam os irmãos em recuperação moral e comportamental. "Noutros momentos, o irmão Alberto será o seu cicerone constante, autorizado a atendê-lo quanto seja possível e os nossos regulamentos permitam. " Chamando, nominalmente, pelo interfone sobre a mesa o companheiro, deu entrada na sala um homem de sessenta anos presumíveis, cordial e gentil, que deveria ser o bondoso orientador de que eu necessitava. Apresentados amavelmente pelo incansável diretor, disse-nos:

— O caro Alberto aqui se encontra em ação, há mais de vinte anos, desde quando se despiu do corpo físico e foi recolhido carinhosamente, de imediato passando à condição de cooperador infatigável. "Havendo exercido a mediunidade socorrista por quatro lustros em venerável Instituição Espírita, atravessou o portal do túmulo portando títulos de merecimento, que o credenciaram a tornar-se valioso auxiliar no despertamento de consciências em hibernação ou nubladas pelos fluidos tóxicos remanescentes das subjugações perversas de que foram vítimas.


Ele terá expressivas experiências para repartir com o nosso querido estagiário. " Antes que o novo amigo pudesse dizer algo, desculpando-se ante as referências justas, prosseguiu:

— O caro Miranda é estudioso das faculdades mediúnicas e suas distonias, com expressiva folha de serviço ao intercâmbio saudável entre as criaturas deambulantes no corpo físico e fora dele.

Fui informado, hoje mesmo, através do nosso serviço de esclarecimento, a respeito das atividades espirituais que vem desenvolvendo do lado de cá, há mais de cinquenta anos...

Portanto, identificados pelos mesmos objetivos, tenho certeza que formarão um par de trabalhadores abençoados, fiéis aos propósitos do ministério de iluminação interior e da saúde integral a que se afeiçoam.


Agradecendo, algo canhestramente, apertamonos as mãos com sorriso fraternal, enquanto concluía:

— Nesta primeira fase, o nosso Alberto irá levá-lo a conhecer superficialmente o nosso pavilhão.

Rogando-lhe permissão, expressamos reconhecimento e saímos do seu gabinete, facultando-lhe dar prosseguimento aos compromissos graves que lhe diziam respeito, comprometendose reencontrar-nos logo mais.

Quando nos encontramos no amplo corredor de acesso aos vários setores, com cortesia Alberto chamou-me a atenção para a estrutura do edifício desenhado com cuidados especiais.

—Utilizamo-nos durante o dia — começou a elucidar-me — do máximo da luz natural do Sol, cuja intensidade é coada pelas lâminas especiais transparentes, que constituem grande parte do teto, ao mesmo tempo beneficiando a flora abundante que decora o imóvel, enquanto emana energias revigorantes.

Mantemos todas as plantas vivas e evitamos colher as flores, a fim de que sejam mais duradouras nas suas hastes e se renovem com facilidade.

Olhei para a frente e percebi paralelamente destacados os blocos das enfermarias que se deslocavam da via central, intercalados por áreas retangulares externas que davam um aspecto agradável, qual se fosse uma clínica especial, sem as características convencionais, frias e rígidas dos hospitais terrestres.

A um observador menos cuidadoso, pareceria um Hotel de grande porte, reservado para o repouso de convalescentes.


Notando a minha admiração, o generoso amigo aduziu:

— Realmente, essa foi a preocupação dos construtores deste Nosocômio: retirar ao máximo qualquer motivo que induza à depressão ou à angústia, propondo bem-estar e recuperação.

Igualmente, houve o cuidado de organizar um ambiente saudável sem os atavios que levam a devaneios e a reminiscências perturbadoras da caminhada terrestre...

Nesta parte superior, pois que nos encontramos no primeiro piso, estagiam os pacientes melhorados, enquanto os mais aflitos e desesperados permanecem no térreo e no piso inferior, onde identificam paisagens menos belas, face ao estado de estremunhamento e perturbação em que se demoram.

Realmente, eu não me houvera dado conta de que o pavilhão se erguia suavemente do solo, e que os pisos se destacavam com ligeira inclinação, diferindo das edificações a que me encontrava acostumado.

Anotando as observações que detectava, agradeci a Deus a incomum oportunidade que ora me era concedida, e que deveria aproveitar ao máximo.

Informou-nos Alberto que, naquela unidade hospitalar, estavam internados cem pacientes, aproximadamente quarenta em boa fase de recuperação, com lucidez, e mais sessenta, que ainda experimentavam os tormentos que os assaltaram na etapa final, que lhes precedeu à desencarnação.

Variavam os dramas de consciência, todos porém, quase sempre vincula-lados à conduta, no exercício da mediunidade.


Dando ênfase à informação, comentou:

— A mediunidade é bênção, sob qualquer aspecto considerada, porque faculta a constatação da sobrevivência do Espírito à disjunção molecular, o que é fundamental para um comportamento compatível com os fatores que geram felicidade.

Logo após, enseja oportunidades valiosas para o exercício da autoiluminação, pelas instruções de que o médium se faz portador, adotando-as, de início, para si mesmo, antes que para os outros.

Por fim, podendo exercer uma forma de caridade especial, que é a de auxiliar no esclarecimento daqueles que se demoram na ignorância da sua realidade após a desencarnação, granjeando amigos e irmãos excepcionais, que se lhe incorporam à afetividade. A mediunidade, portanto, exercida com a lógica haurida na Codificação Kardequiana, constitui valioso patrimônio para a elevação e a paz.

O médium, por isso mesmo, é donatário transitório de oportunidades ímpares para a plenitude, não se podendo permitir as leviandades de utilizar esse nobre recurso de maneira comprometedora, vulgar, insensata.

Todo aquele que se facultar desvirtuar-lhe a finalidade nobre, qual acontece com qualquer faculdade física ou moral, sofrerá as inevitáveis consequências de que não se libertará com facilidade.

No entanto, é bem reduzido o número daqueles servidores que se desincumbem a contento desse ministério, quando o abraçam.


Parecendo reflexionar com cuidado, logo prosseguiu:

— Seria de pensar-se que essa concessão não deveria ser delegada àqueles que moralmente são débeis, mas somente a quem Possuísse resistências contra o mal que nele mesmo reside.

A questão, porém, não está bem colocada nesses termos.

A Divindade faculta a todos os seres humanos ensejos incomuns, nas mais diversas áreas, para propiciar-lheso progresso moral.

Com a mediunidade não ocorre de forma diferente. Embora nem todos os indivíduos possuam faculdades ostensivas, que se expressem em forma sonambúlica ou inconsciente, quanto gostariam muitos, que justificam suas dúvidas por tomarem parte nas comunicações mais ou menos lúcidas na área da consciência, o fenômeno é bem caracterizado, oferecendo fatores para avaliação equilibrada de quem se empenhe em realizá-lo.

À medida que o seu exercício se faz equilibrado, sistemático, ordeiro, surgem melhores Possibilidades para o intercâmbio, ampliando os recursos do medianeiro, que deverá aprimorar-se mais, ante o estímulo de que se vê objeto. "Todos sabemos, quando portadores de algum senso e consciência, que as faculdades genésicas têm finalidade específica, proporcionando a procriação, e, para tanto, ensejando o prazer que leva ao êxtase.

Não obstante esse conhecimento, a utilização do sexo se transformou em um mercado de sensações, sem qualquer sentido afetivo ou de intercâmbio emocional. "No que diz respeito ao desempenho mediúnico, o sexo equilibrado é de vital importância, por oferecer energias específicas para potencializar os mecanismos delicados de que se utilizam os Espíritos.

Simultaneamente, a faculdade mediúnica, em razão dessas energias que movimenta, irradia, qual ocorre com outras faculdades artísticas, culturais, científicas, um campo vibratório que proporciona bem-estar àqueles que se lhe acercam, envolvendoos em encantamento e admiração.

O mesmo se dá em relação à mediunidade, pelo fato de parecer algo mágico ou sobrenatural, muito do agrado dos sensacionalistas e supersticiosos.

Como efeito, não são poucas as pessoas que se sentem atraidas pelos médiuns, a princípio sem se darem conta da ocorrência fascinante, terminando por envolver-se emocionalmente em afetividade apaixonada, injustificável.

Do mesmo modo, os Espíritos ociosos e perversos, que sempre procuram perturbar aqueles que se voltam para o bem, não logrando agir diretamente sobre o instrumento mediúnico, despertam sentimentos perturbadores que vicejam nos invigilantes, que se deixam arrebatar, comprometendo-se e prejudicando aquele que lhe tombe na armadilha bem urdida...


Ao mesmo tempo, outros fatores que geram ganância, heranças infelizes do ego em desgoverno, como o dinheiro fácil, os sonhos do triunfo e da glória efêmeros, as vaidades infantis, que lhes dão a impressão de serem indivíduos privilegiados, que se acreditam possuir somente méritos e destaques, são terríveis adversários do bom desempenho da mediunidade. " Perscrutando o imenso corredor, pelo qual transitavam médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos e alguns pacientes em recuperação, o amigo concluiu com alguma melancolia:

— A maioria dos que aqui se encontram em tratamento foi vítima de perturbações na área sexual, que os fez derrapar em compromissos graves perante a própria e a Consciência Divina.

Certamente, outros igualmente caíram nos referidos perigos à mediunidade, procurando, no íntimo, satisfações hedonistas, sexuais...

Enquanto caminhávamos, o bondoso cicerone referia-se aos problemas que mereciam maiores considerações, chamando-me a atenção para o estado dos enfermos e explicando, ligeiramente, com o respeito que cada qual merece, os esforços que agora desenvolviam para se reabilitar dos enganos a que se atiraram.

Visitamos, passo a passo, a clínica de avaliação, para onde eram trazidos aqueles que se encontravam melhorados, quando eram submetidos a testes psicológicos, de modo a medir-lhes o grau de entorpecimento mental e de vinculação com os dramas vividos, após o que eram encaminhados às enfermarias próprias.

Fomos travando conhecimento com diversos operosos funcionários especializados, sempre corteses, que trabalhavam com a face radiosa de alegria saudável, sem os ruídos costumeiros que são apresentados como júbilo.

Visitamos uma clínica para tratamento de choques eletromagnéticos, que se aplicavam em baixa voltagem, com objetivo de produzir estímulos nas sinapses eletroquímicas dos neurônios, especialmente naqueles que haviam sido portadores do transtorno maníaco-depressivo ou obsessivo-compulsivo, permanecendo com as suas sequelas.

Esse processo facultava a liberação das energias deletérias que se haviam fixado no perispírito e continuavam aturdindo-os.

Acompanhamos um tratamento aplicado por jovem psicoterapeuta feminina, que dialogava com uma dama amargurada, que resistia em responder às perguntas que lhe eram dirigidas.

Sem qualquer enfado, cansaço ou irritação, a psicóloga narrou-lhe pequena história, que lhe atraiu a atenção.

Contou com simplicidade, que a existência terrena pode ser comparada a alguém que possui um tesouro valioso e sai em busca de outro perfeitamente dispensável, mas que acredita ser o único que lhe trará felicidade, tombando depois em frustração e desespero.

Para ilustrar, referiu-se a uma antiga lenda oriental, na qual uma jovem senhora, caminhando com o filhinho nos braços, passou por uma estranha gruta, de onde uma voz agradável e sedutora chamou-a, nominalmente, convidando-a a entrar e apropriar-se dos tesouros ali existentes, belos e raros, como os olhos humanos nunca viram antes.

Ficando aturdida, foi tomada de curiosidade, pelo fato de ouvir a desconhecida voz e pela proposta fascinante.

Como novamente escutasse o convite para se tornar muito rica, ouviu com nitidez a voz lhe dizer que tudo poderia recolher antes de sair, que passaria a pertencer-lhe, porém, no momento em que se afastasse da caverna, uma pesada porta desceria e não mais se abriria.

Tivesse pois, cuidado, porquanto estava diante de incomum felicidade, mas não poderia voltar ao local depois que a porta fosse cerrada.

A felizarda olhou em volta, e como não visse ninguém, imaginou que nada teria a perder, se se adentrasse, o que fez de imediato, ficando deslumbrada ao contemplar joias de peregrina beleza, gemas preciosas, colares reluzentes, vasos de ébano e alabastro, estatuetas de incomparável Perfeição cobertas de lápis-lazúli esmeraldas, diamantes rubis, pérolas.


Não retornara à realidade, quando ouviu a VOZ repetir:

— Retira o que quiseres para levar, mas, tem tento, porque após saíres a porta descerá, fechando-se para sempre, e o que ficar atrás, nunca mais será recuperado.

Tomada por imensa ganância, começou a recolher as peças que lhe pareciam mais valiosas, e porque desejasse a maior quantidade colocou o filhinho que tinha nos braços em lugar confortável no solo, continuando a colocar na barra da saia transformada em depósito, tudo quanto podia carregar.

Quando acreditou estar com um fardo infinitamente valioso saiu apressadamente e viu descer a porta pesada.

Respirou aliviada e sorriu.

Encontrava-se radiante de felicidade quando, subitamente recordou-se do filhinho que havia deixado na furna...


Os olhos da paciente brilharam inteligentes, e ela perguntou:

— E a mãe, como ficou?

— Desesperada! — replicou a psicoterapeuta — Agora, que tinha tudo quanto havia anelado, perdera, esquecido na caverna, o seu maior tesouro.

Assim agimos em nosso dia a dia terreno.

Possuímos o que há de mais importante para a felicidade, e, no entanto, continuamos na cova das ambições procurando fantasias e brilhos secundários, perdendo o tesouro da paz, sem o qual caímos no fosso do desespero sem remédio...

E prosseguiu na sua atividade maravilhosa, trazendo aqueles que se atiraram no desfiladeiro sombrio do mutismo e do isolamento para recomeçar o treinamento para a realidade.




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