Plenitude- Série Psicológica Vol. 3

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CAPÍTULO 7

VII - Motivos de Sofrimentos

Na busca incessante do prazer, o homem transfere-se exteriormente, de uma para outra sensação, sem dar-se conta de que, o desequilíbrio gerador de ansiedade é responsável pelo sofrimento que o aturde, ameaçando-o de desespero cruel.

Enquanto não se resolva por selecionar os valores reais daqueles aos quais atribui significando e que são apenas fogos-fátuos, terá dificuldade em afirmar-se e seguir uma diretriz propiciadora de paz.

Vivendo sob a injunção de uma máquina, que lhe impõe necessidades a serem atendidas e o predispõe a outras, falsas e perturbadoras, ele opta pelas últimas, que são produto das sensações do ego dominador, empurrando-o para as aspirações mais grosseiras, em detrimento daqueloutras sutis e enobrecedoras, que adquirem resistência na renúncia, no esforço elevado, na abnegação, no cultivo da vida interior, no domínio da matéria pelo Espírito.

O corpo deve ser considerado um instrumento transitório para o ser eterno, temporariamente um santuário, em face da finalidade edificante de propiciar à alma a sua ascensão, mediante as experiências iluminativas que faculta, nos aspectos moral, espiritual, intelectual, pelo exercício das virtudes que devem ser postas em prática, e jamais para atendimento das sensações que lhe caracterizam a constituição molecular.

Certamente, aqui não cabe também o comportamento asceta, alienador, que fomenta a fuga da realidade aparente, porquanto, o importante é a vida mental modeladora da física.

Pode-se mudar de lugar sem alterar-se a conduta, vivendo-se um estado exterior e outro íntimo.

Pela falta de sintonia entre as duas formas de vida, surge a desagregação do indivíduo, com aparecimento de neuroses e psicoses devastadoras, impondo sofrimentos que poderiam ser evitados, caso se permitisse uma melhor compreensão das finalidades existenciais.

O exame racional e lúcido das necessidades legítimas faculta o direcionamento saudável, com as compensações da harmonia íntima e do equilíbrio emocional.

A ambição desmedida pelas coisas, divertimentos e gozos nunca preenche os espaços do prazer, pelo contrário, frustra aqueles que lhe tombam nas armadilhas.

Há indivíduos que dispõem de somas consideráveis, prestígio social, fama e inteligência, graças aos quais adquirem o que lhes apraz, viajam para onde desejam, relacionam-se com as mais diferentes pessoas, e, não obstante, são atormentados pelo vazio, pelo tédio, pela insatisfação, fortes causas de sofrimento.

Invariavelmente colocam os acontecimentos e interesses dora de sua realidade, no mundo exterior, passando a considerá-los a fonte dos sofrimentos ou dos gozos, conforme conseguem fruí-los ou não.

Todavia, a questão é mais profunda e pertinente à sua vida íntima.

Não havendo um real significado interior, o aparente sentido que demonstram perde-se tão logo sejam conseguidos.

Nisso reside a maior soma de frustrações e de insatisfações que causam sofrimentos.

Algo vale somente quando inspira o mesmo sentido para todas as pessoas, que projetam as suas necessidades íntimas e aspirações legítimas na sua conquista.

Aos lugares belos, as cidades ricas e cosmopolitas que a uns indivíduos causam impacto, provocando o desejo incomum de aí ficarem, noutros despertam mal-estar, desconforto e desagrado.

Ilhas paradisíacas e refúgios de oração que a uns fascinam, a outros causam sensações desencontradas, angústias e desesperos insuportáveis.

Vestuários luxuosos e joias cobiçadas, que aumentam a cupidez em alguns, noutros não conseguem a sensibilização, não lhes geram qualquer interesse, nem qualquer sofrimento, por não possuí-los.

A busca da realidade, do Eu, deve partir de uma análise profunda e interna das necessidades legítimas da vida, jamais da preferência de adornos, objetos e situações, que destacam o ego e perturbam-no, tornando-o jactancioso, prepotente ou, na sua falta, magoado, ressentido, receoso...

Primeiro, é necessário adquirir um estado de espírito de paz, para passar por tudo sem ater-se a nada.

A chama que clareia exteriormente projeta luz, mas faz sombra, enquanto a que se manifesta do interior, irradia-se por igual em todas as direções, sem gerar qualquer escuridão.

A mente e o corpo susceptíveis à dor pela posse ou perda das coisas externas sempre atravessarão largos períodos de sofrimentos, transferindo-se de uma para outra forma de sofrimento, sem conseguir a libertação.

Essa ocorre quando o homem se esvazia de ambição, instalando a abnegação no íntimo e superando os desejos.

O ato de querer, (transferência para outrem, porque o que se detém se deve, não se possui), assim suscitando o domínio responsável pelas sensações de ansiedade, insegurança, medo, que são geradores de sofrimentos.

O autoconhecimento coopera para que se possa discernir em torno do que é útil ou supérfluo, indispensável ou secundário à vida feliz.

As conquistas dispensáveis pesam na economia emocional e passam a constituir preocupação que desvia a mente das metas que deve perseguir.

Jesus afirmou com sabedoria que o "Filho do Homem não possuía uma pedra para reclinar a cabeça", embora "as aves do céus, as serpentes e feras tivessem ninhos e covis", demonstrando o Seu desapego total a todas as coisas que sobrecarregam a criatura de tensão, de inquietação.

A um jovem que O queria seguir, Ele esclareceu que uma coisa lhe faltava "Vende tudo e dá-o aos pobres"; ele, que afirmava ser justo, cumpridor das leis, permanecia, todavia, envolvido, perdido nas quinquilharias do mundo a que se atava...

E ele não O seguiu.

É muito difícil liberar-se dos atavismos: pertencentes e hábitos que se impregnam ao comportamento, passando a constituir uma nova natureza, a predominante.

Sob o fardo dessas dependências, o ser não logra ver a luz, discernir a meta, libertar-se para encontrar-se.

Confunde a paz com a tranquilidade dos recursos que possui, dos quais aufere conforto, destaque social, mediante os quais desperta inveja, podendo perdê-los, de um para outro momento, na existência física, em razão das normais vicissitudes que a todos surpreende, como da compulsória pela morte, que obriga a deixar tudo, nem sempre facultando a libertação, desde que o tormento prossegue além das vibrações orgânicas.

O sofrimento deve ser superado pelo amor, pela meditação, pela compreensão da sua presença na vida dos seres, fator de progresso, necessidade de reeducação, mecanismo da evolução que é, e que permanece nos indivíduos que discernem e pensam por eleição deles mesmos, já que a meta da reencarnação é a de lograr a vitória sobre ele.




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