Em Busca da Verdade

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CAPÍTULO 10

BUSCA INTERIOR

O mundo objetivo, a realidade das sensações exercem um poderoso controle sobre a psique humana, em face das restrições e condicionamentos defluentes dos seus significados.

Encarcerado o Self nos condutos cerebrais pelos quais se expressa, na infância registra ocorrências que serão as matrizes do seu comportamento, dando lugar às manifestações de equilíbrio ou desarmonia que acompanharão o indivíduo por toda a existência.

Em razão da anterioridade ao corpo, traz, também, armazenados no perispírito os contributos das vivências passadas, que se manifestam desde cedo, como tendências, aptidões, anseios ou conflitos, inquietações, impulsos autodestrutivos, de sublimação e complexos de comportamentos que irão tipificar o ser humano.

Carregando, no entanto, ínsita no cerne das estruturas energéticas desse mesmo Self, a imago Dei, lentamente indu-lo às conquistas dos espaços, à ampliação do entendimento de si mesmo e dos outros, à saída dos contornos limitados da organização cerebral, às percepções de outras realidades, incluindo as de natureza paranormal, que muitas vezes encontram-se fixadas na superconsciência, facultando a descoberta do mundo da energia com as suas variações surpreendentes.

Fenômenos incomuns, inabituais surgem na infância, estados paroxísticos apresentam-se espontâneos, alucinações surpreendentes ocorrem, durante toda a existência, chamando a atenção para a vida em outras dimensões.

A força, porém, incoercível, da matéria e dos seus implementos, os condicionamentos orgânicos e os mecanismos convencionais da educação e do conhecido, criam embaraços a essas manifestações, produzindo recalques e castrações, quando não produzem os fenômenos do pavor e os conflitos psicológicos que empurram para alienações e desastres de conduta.

Ocorre, porém, que a mediunidade é uma faculdade orgânica inerente a todos os indivíduos, conforme a definiu com segurança o mestre Allan Kardec, estabelecendo metodologias e disciplinas de educação e aprofundamento das suas expressões.

A vida, em consequência, rompe a barreira do mundo físico e das suas manifestações para expressar-se em toda a sua plenitude como de natureza energética ou espiritual, constituindo a realidade pulsante de onde emerge a de formação material, por onde o Espírito transita muitas vezes, em períodos breves estabelecidos entre o berço e o túmulo.

A psicologia analítica não pode negar-se a uma investigação honesta em torno do tema, considerando as próprias experiências paranormais de que foi objeto o eminente neurologista e psiquiatra Jung, conforme as suas próprias narrações e todos os tumultos em que esteve envolvido, atraído pelo invisível e resistente ao seu apelo irrefreável.

Foi necessário que uma enfermidade fizesse-o diminuir o controle sobre a consciência, a própria resistência, a fim de, logo depois, escrever a sua Resposta a Jó, realizando a extraordinária façanha quase que de uma só vez, informando que se sentiu pegar o espírito pelo cangote (que) foi o modo pelo qual este livro nasceu.

Outras marcantes experiências levaram-no a interessar-se pela fenomenologia mediúnica, sendo ele próprio instrumento constante para a sua ocorrência, especialmente quando, na 1nglaterra, passando fins de semana numa residência assombrada no ano de 1920, confessou o estado de ansiedade que o dominava à noite, quando ocorriam diversas manifestações estranhas, ruídos que se assemelhavam ao roçar da seda e ao gotejamento.

Entretanto, foi nessa ocasião que observou uma aparição, à distância de cinquenta centímetros, sobre um travesseiro, que era a cabeça de uma mulher, em constituição semissólida com um dos olhos semiaberto que nele se fixava.

Ao término do fenômeno, que se prolongou por alguns minutos, ele acendeu uma vela e ficou o resto da noite sentado em uma poltrona meditando.

Mas essa foi, somente, uma das muitas ocorrências parapsíquicas que lhe sucederam durante a existência desde a infância, devendo-se recordar que a sua genitora havia sido médium, e que o seu avô referia-se ao aparecimento da esposa desencarnada, que se sentava numa poltrona que mantinha no seu gabinete e lhe ditava alguns dos sermões.

Ainda, segundo informações de sua secretária Aniela Jaffé, o grande pesquisador participou, conforme fizera antes com sua prima, no começo da sua carreira, de experimentos com o extraordinário investigar Schrenck-Notzing, tendo como médium o famoso Rudi Schneider, que produzia fenômenos de materialização. Isso durante o ano de 1920. Mais tarde, em 1930, assistiu a outras experiências de materialização com o referido investigador e outros cientistas.

Em decorrência de muitas reflexões nesse campo, acentuou, oportunamente: Se, de um lado, nossas faculdades críticas duvidam de todo caso individual de aspecto espírita, somos, con tudo, incapazes de demonstrar um caso sequer da não-existência de Espíritos.

Devemos, por esse motivo, limitar-nos, a esse respeito, a julgamento non liquet, ou seja, não está claro, a coisa oferece dúvida, não está bem esclarecida, há necessidade de maiores informações.

Noutra oportunidade, escreveu: Embora eu nunca tenha feito qualquer notável pesquisa original nesse campo (psíquico), não hesito em declarar que observei uma quantidade suficiente de tais fenômenos (participando, então, das surpreendentes pesquisas do barão Albert Schrenck-Notzing), que me convenceram inteiramente de sua realidade.

Não pôde Jung dedicar-se a esse campo experimental porque a sua tarefa científica era outra, à qual deu toda a existência, abrindo horizontes quase infinitos para a psique, em favor da construção da psicologia analítica, muitas vezes combatida com vigor pelos adversários gratuitos de todas as ideias novas.

O espaço das pesquisas ficou em aberto para os seguidores e discípulos do valoroso mestre do estudo da realidade esmagadora, procedendo a pesquisas exaustivas, nele mesmo e nos seus pacientes, para mergulhar mais no contexto histórico e psicológico da vida.

A mediunidade, inerente a todos os seres humanos, em diferenciado grau de desenvolvimento, influi no comportamento do ser psicológico, dando lugar a conflitos parapsíquicos, muitas vezes interpretados como pertencentes à realidade objetiva.

O ser humano é, desse modo, muito mais complexo do que a dualidade psique-corpo, mente-matéria, nele se encontrando o Espírito imortal e o seu envoltório perispiritual encarregado da modelagem das formas físicas nas multifárias reencarnações.

Mediante a visão espiritual do ser, muitos conceitos junguianos encontram confirmação de alto significado, por estarem centrados na realidade subjetiva expressa por intermédio da vasta fenomenologia mediúnica e pela conjuntura de ser o indivíduo possuidor de recursos não próprios, que se lhe associam mediante o intercâmbio com outros seres desencarnados que o cercam e que fazem parte do seu comportamento psíquico, emocional e físico.

A busca interior não se pode deter na periferia da realidade física, mas penetrar no cerne do ser e das suas faculdades, ampliando o elenco de realizações com a visão do indivíduo indimensional, o Self com os seus atributos divinos.


Identificando o inconsciente

A nossa abordagem a respeito do inconsciente, no presente item, refere-se ao coletivo e não ao individual, onde se encontram os mais antigos arquétipos e se sediam inúmeras emoções, como o medo, a angústia, a ansiedade, a vida e a morte...

Esse inconsciente encontra-se nas camadas mais profundas da psique, constituindo-se os arquivos mais significativos e duradouros de que se têm notícias.

Abarcando o conhecimento geral dos acontecimentos do passado, responde por inúmeros conflitos que assaltam a criatura humana, revelando-se, especialmente, nos sonhos repetitivos, simbólicos e representativos de figuras ou fatos mitológicos, cuja interpretação, além de complexa, constitui um grande desafio.

A psicologia analítica, através do seu fundador, nele deposita a existência dos arquétipos, especialmente do Self animal us, ego, persona, psicóide, sendo, realmente desconhecido, tendo também um caráter de um constructu energético não localizado, sendo, em últimas palavras uma hipótese, pela imensa dificuldade de demonstrá-lo de maneira concreta...

O conceito do inconsciente, de alguma forma, nessa significação, é muito antigo, do ponto de vista filosófico desde Plotino, passando por Platão, na antiguidade, e prosseguindo com Leibnitz, Goethe e outros pensadores de ontem como da atualidade.

A sua observação não pode ser realizada de forma objetiva, mas somente penetrada nas suas estruturas, psiquicamente, quando se lhe detecta o essencial.

Não pode ser constatado, mas aceito por conclusão, o que também não tem como ser negado.

A sua concepção por Jung, foi resultado da lógica de que existindo uma consciência, haveria, por efeito, um inconsciente qual satélite girando em torno de um foco central...

É ele o responsável pelas imposições sobre a consciência, comandando-a quase, assim dando lugar à existência dos arquétipos, que são as suas seguras manifestações.

Enquanto a consciência é apenas uma pequena parte da realidade, ele é a quase totalidade na orientação do ser humano.

Numa análise moderna, tendo por alicerce os conceitos reencarnacionistas, pode-se afirmar que essas fixações, que pertenceriam aos tempos passados, também resultam de experiências que foram vividas pelo Self, nas épocas e situações, nos povos e culturas que têm arquivados e periodicamente expressa.


Como o Self

"tem sua realidade além do tempo, é mortal no corpo e imortal após ou antes do corpo, ei-lo que preserva os acontecimentos em que esteve envolvido, mantendo uma camada de olvido em cada renascimento, no entanto, portadora de recursos libertadores das impressões mais fortes, que nele se apresentam como conflitos e perplexidades, distúrbios de conduta, estados fóbicos, mas também afetividade, idealismo, significação...

Nos processos psicoterapêuticos de regressão de memória a existências passadas, por exemplo, ressumam desses arquivos as vivências perturbadoras, os fatos causadores de traumas e de sofrimentos que, após a catarse e o diálogo saudável entre o paciente e o especialista, se diluem, libertando a consciência do objeto de desequilíbrio.

O inverso também é verdadeiro, porque o arquivo, em si mesmo, é neutro.


Existem gráficos edificantes,

realizações enobrecedoras que ficaram interrompidas com a morte, anseios não realizados, porém, de vital importância para o ser e sua realidade.

Essas imagens primordiais, conforme as denominou Jung no começo das suas investigações, possuem grande força de expressão, porque umas são lembranças doridas recalcadas e impedidas de manifestar-se, por atentatórias aos valores éticos aceitos, dando lugar a inquietações e sofrimentos.

Outras, por sua vez, são também imperiosas pelas propostas de dignificação e de ações que constroem o bem interior e ajudam no desenvolvimento da comunidade humana.

Na abrangência do conceito reencarnacionista e todo o seu conteúdo de lembranças arquivadas, mas não mortas, a existência atual de cada indivíduo é sempre o somatório daquelas vivências que necessitam de liberação.

Não poucas reaparecem como tendências e aptidões guiando o Selfe o ego, que também lhes sofrem as influências, conforme a natureza de cada fato que representam.

Nos sonhos, e através da imaginação ativa, consegue-se encontrar os símbolos representativos que, em se tornando conscientes, liberam o indivíduo da sua incidência e da ação morbosa da representação onírica portadora de conflitos.

Examine-se, por exemplo, a questão da homossexualidade, que tem raízes em múltiplas vivências do Self, ora num como noutro corpo anatomicamente masculino ou feminino, preservando as emoções de um como do outro equipamento.


Por outro lado, a culpa, o pavor, a timidez, que têm raízes próximas a partir da vida intrauterina - consciente individual

—procedem, quase sempre, de atitudes indignas que foram praticadas em existências transatas, passando ignoradas por todas as pessoas menos por seu autor, que os transferiu, na condição de conflito, de uma para outra existência corporal.

As tendências para o bem, o bom, o belo, o santo, em pessoas de procedência humílima, nascidas em situações deploráveis, com ascendentes genéticos perniciosos ou incapazes de produzir seres bem-equipados para a vida, apresentando gênios, heróis e missionários de diversos tipos, que se tornam promotores da humanidade pelos seus exemplos, sua dedicação ao ideal que esposam, seus sacrifícios homéricos em clima de felicidade merecem reflexões mais profundas.

A proposta da reencarnação torna-se, pelo menos, uma possibilidade a considerar, qual ocorre nos fenômenos da simpatia, da antipatia, em muitos casos de sincronicidade, de premonição, nos sonhos proféticos...

Tenham-se em mente os indivíduos belicosos, que descendem de famílias pacíficas, assim como os privilegiados pela capacidade de adquirir e multiplicar conhecimentos, habilidades, expressões de sabedoria e de arte, de tecnologia e de pensamento, com antecedentes em indivíduos broncos, senão incapazes alguns e se verificarão evidências de vida-antes-da-vida...

Estudem-se em comparação sincrônica as vidas de Alexandre Magno, Júlio César e de Napoleão Bonaparte, e se encontrará o mesmo SELF ambicioso, conquistador, inquieto, modificando as estruturas geográficas e históricas da Humanidade.

Por outro lado, examinem-se as vidas de Hipócrates, de Paracelso e de Samuel Hahnemann, na luta sacrificial em favor da saúde e se poderá encontrar o SELF missionário, trabalhando a ciência médica, modernizando o conhecimento num processo progressista, com destino de abnegação e serviço proporcionadores do equilíbrio psicofísico e do bem-estar.

Graças aos seus contributos as doenças passaram a merecer cuidados e providências curativas, tornando a existência mais apetecível e menos sofrida.

Há um encadeamento intérmino em todos os fenômenos da Natureza, desde a formação das primeiras moléculas, suas aglutinações e complexidades até a transcendência do ser, da vida, de todas as ocorrências.

A visão do caos como caos é incorreta, em razão de nele haver algum tipo de ordem, de determinismo, de programação...

O ser humano é imanente e é transcendente.

À medida que o seu superconsciente mantém as ainda não detectadas possibilidades de sintonia com o divino, registrando o psiquismo da vida, o inconsciente individual preserva as experiências da atual jornada, enquanto o coletivo arquiva as lembranças de todas as vivências pretéritas.

Os exercícios de meditação, os treinamentos da yoga, as leituras edificantes com as consequentes fixações e reflexões, a oração bem-direcionada e frequente constituem mecanismos seguros de penetração no inconsciente, nele diluindo impressões infelizes, estimulando lembranças honoráveis, enquanto se abrem as comportas do superconsciente para a captação das forças sublimes da Paternidade divina.

Sem dúvida, vive-se mais sob a ação dos fenômenos automáticos, das imposições do inconsciente, em face da necessidade de liberação dos fatores de perturbação, que necessitam da catarse libertadora, a benefício da lucidez e plenitude do Self, da aceitação da sombra, da harmonia do anima-us, rumando-se em direção da felicidade.

Afirmava Séneca: O sofrimento faz mal, mas não é um mal.

A existência do sofrimento radica-se nas ações inescrupulosas praticadas pelo Espírito, dando lugar à culpa e, por consequência, aos efeitos morais dela defluentes, nos atentados aos códigos de harmonia que vigem no universo.

Na impossibilidade de se evitar o mal, porque é um efeito, por não se poder retroceder no tempo, a fim de impedir-lhe a causa, tem-se, pelo menos, o dever de utilizar-lhe a ocorrência em proveito da aprendizagem pessoal, a fim de mudar-se o comportamento, de selecionar-se o melhor método para a produção da harmonia e do bem-estar, portanto, da felicidade a que se aspira.

Todos anelam e lutam pela conquista da felicidade, quase desconhecida pelo inconsciente, mesmo quando se impondo sofrimentos na expectativa das sensações posteriores que representam alegria e serenidade.

Nessa visão, a felicidade tem um aspecto masoquista que deve ser evitado, porque o prazer não pode estruturar-se, primeiro, no desconforto como propiciatório àquela.

Em sánscrito, existe a palavra sukha, tendo como significado um estado de harmonia, de nirvana, que liberta da ignorância da verdade, abrindo espaço para a sabedoria, para o entendimento das leis geradoras de equilíbrio e de plenitude.

Enquanto o inconsciente permaneça ignorado pelo ego, que se atribua a capacidade de impôr-se ao Self, na tormentosa ambição do poder e do prazer, serão liberadas impressões destrutivas, porque tormentosas, insustentáveis.

É impositivo primordial para a saúde a penetração do ser consciente nos arquivos do inconsciente, equipado, no entanto, de entendimento e de valor moral, a fim de autoenfrentar-se, não se permitindo o surgimento de conflitos pelo descobrir-se como realmente se é e não conforme se pensa ou se projeta para o mundo exterior.

A psicologia espírita, utilizando-se do paradigma da imortalidade para explicar o ser real e todas as suas mazelas e grandezas, propõe o esforço bem-direcionado pelo bem-fazer, pelo fazer-se bem, na utilização do amor, da compaixão, da benevolência em relação a todos e a si mesmo, que são recursos valiosos para a integração do eixo ego-Self, a conquista de sukha.

« Não se trata aqui de fazer o bem para ganhar o céu, ou de praticar-se a caridade para lograr-se a salvação.

Céu e salvação encontram-se ínsitos no ato de realizar o melhor em favor de si mesmo e do seu próximo, isto porque, a satisfação com que se administram valores de bondade, de ternura, distribuindo-se alegria e generosidade, já constitui a almejada felicidade.

Feliz, portanto, é todo aquele que reparte com prazer, multiplicando os talentos com que foi enriquecido pelo Senhor da Vida, despertando do letargo para voltar para casa, retornando do país longínquo, mesmo que algo destroçado, abrindo-se à aceitação do amor do Pai, sempre generoso, e do irmão mais velho, que se encontra no inconsciente em forma de mágoas e reservas, desconfianças e insatisfações em relação ao herói de volta.

Desse modo, liberar o irmão mais velho do ressentimento e da insegurança que lhe são habituais em relação aos propósitos do outro filho de seu pai, que somente agora descobriu a ventura e está trabalhando para anular o passado - sublimar as lembranças do inconsciente - transferindo-o para a consciência e avançando na direção do superconsciente, onde foram depositados os talentos que se estão multiplicando.


Fé e religião

O ser humano é, na sua essência, um animal religioso.

A sua busca de religiosidade leva-o a vincular-se às diferentes correntes doutrinárias, procurando segurança e harmonia na trajetória física.

As suas experiências de fé religiosa concedem-lhe vigor e dão-lhe coragem nas situações difíceis e ante os desafios.

Pode-se afirmar que nesse indivíduo a fé é quase de natureza genética.

Há uma crença universal em Deus, não importando o nome que se Lhe dê, a forma como se O compreenda.

Atávicamente, o arquétipo divino que nele se expresse através do Selfé um fenômeno natural.

A crença religiosa, no entanto, é resultado de fatores educacionais, mesológicos, familiares.

Dessa forma, têm-se a crença natural e a religião que foi aprendida.

Na infância, no período lúdico, as fantasias em geral também se alargam em torno da religião, dando-lhe colorido especial ou criando terror de acordo com o conteúdo de cada uma delas.

À medida que a razão e o discernimento substituem a ignorância e a ingenuidade, os conflitos que surgem também entram em confronto com a conduta religiosa, especialmente se é castradora, imposta, ou se tem o caráter policialesco de vigiar todos os passos com ameaças de punição.

A racionalidade que tomou conta dos primeiros pensadores do século XVII, abrindo campo para os enfrentamentos entre as ciências nascentes e as doutrinas religiosas dominantes, atingiu o seu apogeu no fim do XIX e, particularmente na primeira metade do XX, quando, aparentemente, o ser humano afirmou estar distante de Deus, presumivelmente apoiando-se no arrogante conceito de Nietzsche, a respeito da Sua morte ou dos muitos outros filósofos niilistas e materialistas, ou mesmo de eminentes cientistas.

Apesar disso, quanto mais se realizavam avanços nas ciências e a tecnologia de ponta mais ampliava os horizontes da compreensão do mundo, curiosamente surgiu um paradoxo, facultando que inúmeros cientistas começassem a voltar a Deus e à crença no Espírito, como únicas maneiras de entenderem o Cosmo e a vida em si mesma.

Após a proposta darwiniana a respeito da evolução vegetal, animal e o surgimento do homem, mediante a seleção natural, facultando a negação dos conceitos criacionistas bíblicos, que reinaram soberanos por vários séculos, com o advento das moderníssimas conquistas a respeito da decodificação do genoma humano, uma ponte foi lançada entre uma teoria e outra, demonstrando que se encontram verdades em ambas e facultando entendimento de como Deus criou a vida.

Já não é blasfêmia um cientista confessar a sua crença em Deus, assim como na sobrevivência do Espírito à disjunção molecular do corpo.

As incontáveis investigações em torno da paranormalidade humana, realizadas nos séculos 11X e XX, por excelentes cientistas das diversas áreas do conhecimento, têm oferecido material exuberante e incontestável para confirmar que a morte não destrói a vida e que o Espírito não sucumbe, quando desaparece o seu envoltório material.

A mediunidade, após vencer os preconceitos e as superstições que a mistificavam, tornou-se objeto de estudos sérios e consagrados por homens e mulheres dos mais diversos segmentos da cultura e da civilização, que se renderam à sua legtimidade como instrumento probante da imortalidade do Espírito.

Ciências que se derivaram da Psicologia, como área experimental, no caso, a Parapsicologia, mais tarde, a Psicotrônica, a Psicobiofísica, ofereceram campo vasto para os estudos sérios em torno dessas questões, ensejando evidências e fatos que não podem ser contestados e merecem todo o respeito, em face daqueles investigadores sérios que se deram ao trabalho de pesquisar, de experimentar, de comparar...

A ruptura com as colocações extremistas de alguns cientistas em relação à religião e aos fenômenos dela defluentes, já não mais existe com a mesma firmeza de antes.

Neurocientistas e astrofísicos, matemáticos e biólogos, psicólogos e psiquiatras, assim como outros profissionais dos diferentes ramos do conhecimento científico têm defrontado a realidade transpessoal e adotado comportamento compatível com a filosofia imortalista, como a mais avançada conclusão das suas experiências nos campos de trabalho nos quais operam.

Chegou o momento em que as questões metafísicas podem ser discutidas nos laboratórios sem nenhum pejo para os estudiosos, em tentativas de grande validade para descobrirem o que se encontra escondido além das chamadas leis naturais, pelo menos aquelas que já estão detectadas.

Nesse sentido, Jung foi um dos primeiros acadêmicos a não valorizar em demasia o aspecto racionalista absoluto em torno do Universo, abrindo caminhos dantes não percorridos, para melhor entender-se a criatura humana em sua profundidade e a realidade na qual todos se encontram.

O ser humano não pode fugir do seu arquétipo psicóide, em razão do inconsciente coletivo, onde permanecem todos os constructos da sua existência, naturalmente, também, as exuberantes expressões da fé, no seu sentido mais amplo, da religião e de Deus...

Esse extraordinário inconsciente encontra-se fora do conhecido mundo consciente, sendo constituído por um campo-primordial-de-espaço-tempo.

A Psicologia, desse modo, tem por meta entender os fenômenos pertinentes à psique e às suas manifestações, não estando vinculada a qualquer compromisso com os comportamentos religiosos, sem que, no entanto, deles deva abdicar, especialmente quando estudando os diversos distúrbios que aturdem os seus pacientes, as suas alucinações e delírios também de natureza espiritual...

A fé religiosa, quando saudável, estruturada na filosofia da razão, que pode enfrentar a dúvida em todas as épocas do pensamento, contribui de forma significativa para a saúde mental e emocional do indivíduo, dando-lhe sustentação nos momentos de debilidade e coragem nos instantes de desafio.

* A fé apresenta-se natural, sem subterfúgio, em tudo que se acredita sem haver sido investigado, e ninguém vive sem essa experiência psicológica que se expressa como fidúcia, aceitação automática...

Também resulta das lutas entre a razão e o sentimento, o fato e outras explicações, passando pelo crivo da lógica, da observação, tornando-se racional, robusta.

Graças à fé natural, desenvolvem-se as aptidões humanas e os projetos desenhados para a existência transformam-se em realidade, porquanto os estímulos e a fortaleza que dela se derivam, proporcionam os meios para o prosseguimento nos tentames até quando concluídos.

A fé é portadora de força tão excepcional, que muitas vezes o indivíduo que tem um objetivo luta contra tudo que se lhe opõe, vence os impedimentos com a certeza de que é viável o que deseja e que conseguirá.

É a fé que tem sustentado os investigadores de todos os matizes, os cientistas que trabalham com hipóteses contrárias ao aceito e permitido, conseguindo demonstrar a sua validade após esforços hercúleos, assim confirmando que têm razão.

Ninguém pode atingir qualquer meta se não acredita na sua viabilidade, nessa possibilidade, mesmo que não a identifique conscientemente.

A perseverança numa ação e a constância em um trabalho são frutos da fé em torno dos mesmos.

A fé religiosa, no entanto, sustenta-se na probabilidade de que sejam reais os postulados transpessoais, espirituais, nos quais se acredita.

Felizmente, graças à mediunidade, a fé religiosa dispõe hoje de um arsenal de fatos que superam e eliminam todas as negações.

Curiosamente, afirmava-se durante a vitória da filosofia existencialista, que era necessário ver para crer, hoje totalmente ultrapassado o conceito em face das propostas da física quântica, que estabelecem a necessidade de antes crer para depois ver, mesmo porque nem tudo aquilo em que se crê nessa área somente se encontra dentro de probabilidades e jamais será visto...

A fé produz heróis e santos, mártires e pessoas de bem.

Durante o holocausto judeu, suas vítimas que mantiveram a fé de que sobreviveriam, de uma ou de outra forma conseguiram o objetivo.

Aquelas que se afirmavam necessária a vida a fim de denunciarem toda a crueldade, experimentaram todos os horrores e ficaram lúcidas para narrar ao mundo o poder da loucura, do extremismo, da solução final, meta dos infelizes psicopatas que tomaram o poder na Alemanha...

Quando se crê, todo o organismo atende aos impulsos da psique e responde de maneira eficaz, produzindo recursos propiciatórios à sua realização.

Mais facilmente entra em tormento emocional, o indivíduo em conflito pela dúvida, atormentado pela insegurança, desconfiado de tudo e de todos.

Mediante a fé em Deus, sem exaltação e com harmonia, a saúde emocional é mais duradoura, e, quando, por alguma razão, experimenta transtorno, mais rapidamente retorna.

Em muitas ocasiões, a fé demonstrada por cientistas e navegadores, como Cristóvão Colombo, que acreditava na existência de terras, caso viajasse na direção do oeste, saindo da Europa, conseguiu prová-lo, porque no inconsciente armazenavam-se os registros representativos de já haver estado naqueles lugares em existência anterior...

Quantas vezes, o pai da psicologia analítica em suas viagens de trem, partindo de Zurique (Suíça) com destino à Itália, antes de chegar às cidades a serem visitadas, via-as, conhecia-as, constatando a veracidade posteriormente, embora nunca ali estivesse estado, pelo menos na existência atual.

Surpreendido por esses eventos, assim como pelo sonho-visão que tivera, a respeito da grande onda que destruiria praticamente a Europa, se tornou real por ocasião da lamentável Grande Guerra que sacudiu todo o planeta, nunca se escusou a narrar tais ocorrências...

Esses fenômenos que transcendem a realidade psicológica, estão vinculados ao ser paranormal, espiritual e imortal, estando, desse modo, além das suas perspectivas, embora as possa penetrar.

Mme.

Curie, por sua vez, realizando as suas extraordinárias experiências com toneladas de pechblenda, tinha certeza, mantinha a fé segura de que encontraria expressão mais rarefeita da matéria, e insistindo, embora contra todas as opiniões, com o esposo conseguiu detectar a radioatividade.

Posteriormente, continuando nas pesquisas exaustivas com diversos tipos de pechblenda conseguiu detectar o polônio e o rádio...

Mesmo na viuvez, manteve a fé natural e racional em torno das imensas possibilidades que se lhe encontravam ao alcance e superou-se, conquistando o respeito internacional e o Prêmio Nobel de Química, tornando-se a única pessoa a receber duas vezes o referido Prêmio em áreas diferentes...

A fé sempre a sustentou, mesmo no período de dissabores e conflitos emocionais vividos após a desencarnação do marido...

Jesus afirmou com segurança e beleza: Se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele há de passar; e nada vos será impossível. (Mateus 17:20) Certamente, não se referia à montanha em si mesma, porém, aos graves problemas que se amontoam em torno da existência, criando dificuldades e produzindo embaraços. A fé, mesmo pequenina, pois que o grão de mostarda é uma das sementes menores que existem, consegue o resultado que se almeja, em razão das forças que facultam e da inspiração que propiciam.

A fé, em qualquer forma que se apresente, é estímulo de alto significado para uma existência feliz e saudável, portanto, para a contribuição eficaz para a individuação.


Pensamento e ação

Examinado sob o ponto de vista filosófico, o pensamento é uma atividade psíquica que responde pela ocorrência dos fenômenos cognitivos, independendo da vontade e dos sentimentos.

René Descartes afirmou: Eu sou uma coisa que pensa, dando ao pensamento um significado específico, afirmando que a essência do homem é pensar.

Através do pensamento cada ser humano eleva o seu estágio de evolução, caracterizando-se pela nobreza das ideias que formula ou pela vulgaridade em que se compraz.


O processo de evolução do pensamento fez-se lentamente através das multifárias experiências reencarnacionistas, desde quando surgiram as primeiras expressões arcaicas, passando pelas de natureza primitiva, mítica, egocêntrica até alcançar o estágio racional, avançando no rumo da sublime conquista cósmica

*.

Desenvolvendo a capacidade de pensar, ultrapassando as barreiras dos instintos que limitam, o Espírito vem ampliando a percepção do psiquismo divino que nele existe, adquirindo essa peculiar capacidade, base para todas as realizações existenciais.

Essa faculdade inata que se desdobra mediante as experiências contínuas é portadora de um poder para a ação, que a torna elemento vital no desenvolvimento do Espírito na sua incessante busca de felicidade.

A medida que o ser humano encontrou desafios e dificuldades na vilegiatura orgânica, nos primórdios da evolução, foi desenvolvendo a caixa craniana e aumentando o volume do cérebro, graças ao surgimento dos neurônios necessários às sinapses mais elevadas e às expressões que iriam caracterizar o pensamento.


Surgindo por ampliação do instinto, considerando-

— se que esse é uma forma primária de pensamento, as necessidades ambientais e a luta pela sobrevivência estimularam o Espírito a liberar as funções que se encontravam em latência, dando lugar ao surgimento das ideias, ao desenvolvimento das faculdades psíquicas.

Fatores, portanto, mesológicos e filogenéticos responsabilizaram-se ao largo dos milhões de anos em construir os equipamentos ultradelicados para decodificar o pensamento, que é de natureza transcendente e não de natureza eletroquímica do próprio cérebro, conforme asseveram alguns respeitáveis estudiosos.

Emanação do Espírito, é o instrumento hábil para o estabelecimento da razão, do discernimento, da consciência que se desenvolve através de níveis específicos até fundir-se na identifi cação cósmica, conforme sucede com o próprio pensamento.

Em cada etapa, o Espírito exercita em especial determinada faculdade, ora intelectiva, ora emocional, abrindo espaço para as aptidões culturais, artísticas, religiosas, sociais, políticas, que irão construir a sua plenitude.

O pensamento, portanto, em face das conquistas adquiridas pelas experiências agiganta-se e transforma-se em força criadora, que a consciência de si orienta sob as diretrizes ético-morais, indispensáveis à canalização das ideias e aspirações compatíveis com o estágio do desenvolvimento de valores elevados.

Foi, graças a esse esforço e direcionamento, que surgiram os conceitos filosóficos, as inabordáveis conquistas científicas, as maravilhas da arte em todas as suas expressões, as sublimes realizações espirituais e religiosas, o estabelecimento dos códigos dos direitos e dos deveres do ser humano em relação a si mesmo, ao próximo, à Natureza, à vida...

Esse incessante processo de crescimento experimentou, também, vários embates, quando as opções do pensamento se mantiveram nas heranças do primarismo, principalmente na agressividade e na violência, na pulsão do poder e do prazer, nos caprichos infantis malsuportados, dando lugar ao crime, à destruição, ao despautério, à crueldade não diluída no imo.

Na atualidade, quando se alcançou o máximo do progresso científico e tecnológico até então jamais logrado, lamentavelmente permanecem ainda as expressões grosseiras e perversas do pensamento primitivo, que não evoluiu no direcionamento ético e moral, gerador dos sentimentos de paz e de compaixão, de bondade e de compreensão da finalidade existencial na Terra.

Tudo, no ser humano, tem origem no pensamento, que logo se transforma em ideia, desenhando as possibilidades de realização, a fim de converter-se em ação.

Como efeito, asseverase com severidade que o fato de pensar-se em determinada ideia, que se fixa, já se está cometendo o ato.


Em o Evangelho de Jesus, por exemplo, essa força de expressão está definida no capítulo de Mateus, versículo -

28, quando enuncia: Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela.

Certamente, quando se olha algo ou alguém, logo surge a formulação da ideia, do desejo, da necessidade, e, no caso em tópico, o pensamento desregrado, indisciplinado, acostumado ao imediatismo da libido, logo passa a experiênciar a ação, desde o instante de emissão da onda mental.

No mesmo contexto, o oposto também é verdade, quando se fixa a atenção, e consequentemente o desejo mental em algo enobrecedor, já se inicia a vivência do anelado.

Essa força do pensamento também responde pela conduta emocional, pelas heranças positivas ou negativas do indivíduo, cabendo-lhe direcionar os seus anseios para as questões superiores da existência, as que dignificam e promovem o sentimento e a própria vida.

É nessa estrutura que o Self adquire resistência para compreender e aceitar a sombra, conviver com o ego sem luta nem conflito.

Quando vitimado por transtornos psicológicos, o indivíduo apresenta-se incapaz de fixar o pensamento na esperança e na expectativa de recuperação, normalmente, porque sempre cultivou as ideias negativas, pessimistas e perturbadoras, às quais se acostumou, que justifica, informando não ter forças para corrigir o velho hábito e passar a contribuir em favor da psicoterapia libertadora.

Em se esforçando, no entanto, e desejando a conquista da saúde física, emocional ou de algum transtorno mais profundo, desde que não estando afetado na função do pensamento, poderá fixar a mente nas perspectivas saudáveis do refazimento, auxiliando os neuropeptídeos na produção das substâncias especiais para o reequilíbrio.

Nesse campo, inscrevem-se as terapias placebo de excelente resultado em muitos processos psicoterapéuticos, mesmo objetivando enfermidades orgânicas.

Por outro lado, as experiências nocebo também resultam em agravamento dos quadros enfermiços, levando os pacientes a situações lamentáveis.

Ambas as ocorrências, portanto, em face da força do pensamento, que se fixa numa como noutra, de onde se originam os resultados positivos ou prejudiciais ao organismo físico, emocional e psíquico.

Por motivos óbvios, somente o ser humano pensa, é capaz de compreender abstrações, de conceber e antever o que lhe ocorre nos painéis da mente, e que pode materializar posteriormente através do empenho e da dedicação na construção das ideias.

Mediante o pensamento bem-ordenado, todo o constructo do ser humano avança pelas vias formosas da saúde e da edificação interior, alcançando o elevado patamar da individuação.

* Vide o livro Autodescobrimento, de nossa autoria, capítulo 2 - Equipamentos existenciais.

Editado pela LEAL.

Nota da autora espiritual.




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Mateus 17:20

E Jesus lhes disse: Por causa da vossa pouca fé; porque em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá ? e há de passar; e nada vos será impossível.

mt 17:20
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Mateus 5:28

Eu porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela.

mt 5:28
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