Em Busca da Verdade

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CAPÍTULO 5

EXPERIÊNCIAS DE ILUMINAÇÃO

A existência terrena é uma experiência de aprendizagem valiosa, através da qual o Self, em sua essência superior, penetra nos arquivos grandiosos do inconsciente coletivo e individual, para bem o assimilar, ampliando a sua capacidade de discernimento e de conquistas libertadoras.

Desalgema-se, em consequência, das injunções do passado, porque as compreende, elucidando os enigmas que lhe permanecem em latência, não mais gerando conflitos psicológicos, e abre-se à Essência Divina, o Arquétipo primordial, logrando a plenitude do numinoso.

Nessa conquista, a individuação torna-se-lhe plena e enriquecedora, tornando-se um verdadeiro reino dos Céus, porque sem aflição nem qualquer inquietação.

Cada experiência no carreiro orgânico faculta-lhe conquistar mais conhecimentos e melhor capacidade para desenvolver os sentimentos, aumentando a habilidade para entender-se, para compreender as demais criaturas e amar-se, amando-as.

Não fossem tais oportunidades, e não haveria como compreender-se as diferenças psicológicas, intelectivas, morais, orgânicas, econômicas, de saúde, que caracterizam a mole humana.

Reduzindo-se o ser a urna única existência corporal, ei-lo fadado a carregar o peso do acaso feliz ou desventurado, impondo-lhe um destino que não tem direito nem recurso para modificar, submetendo-se, inerme, às injunções desgovernadoras da fátua ocorrência.

Através das reencarnações, no entanto, o livre-arbítrio faculta-lhe a eleição do bem ou do mal sofrer, da alegria ou da tristeza, da desgraça ou da ventura, porquanto a única fatalidade que existe, melhor dizendo, o determinismo que se lhe impõe é a plenitude, que cada qual adquire conforme o empenho e a luta a que se consagre.

Assim sendo, a aprendizagem do bem-viver, do desfrutar da saúde integral é feita mediante erros e acertos, como tudo quanto diz respeito à existência em qualquer forma através da qual se expresse.

O equívoco de agora enseja-lhe reparação posterior, o acerto de um momento abre-lhe espaço para novas conquistas, impulsionando-o irremediavelmente para a harmonia consigo mesmo e com o Cosmo.

A viagem evolutiva, embora seja individual, impõe relacionamentos valiosos que contribuem para resultados amplos e benéficos, favorecendo toda a sociedade com os recursos para que vicejem condições gerais de equilíbrio entre todos, e, por consequência, de paz e de bem-estar.

Ninguém pode esperar por felicidade a sós, porquanto, a própria solidão constitui um transtorno grave de conduta, empurrando o indivíduo para a alienação.

A existência terrena tem uma finalidade primordial e impostergável, que é a unificação do ego com o inconsciente, onde se encontram adormecidos todos os valores jamais experiênciados e capazes de produzir a individuação.

Integrar-se no Arquétipo primordial em a perda da própria consciência, da sua individualidade, é o objetivo da vida humana, após vencidas as diferentes etapas orgânicas e psicológicas da sua evolução.


A força geratriz para essa conquista é o Self total mente libertado da sombra e dos conflitos contínuos entre a anima-us

*.

Os relacionamentos desenvolvem a capacidade de crescimento e de compreensão do sentido existencial, assim como da necessidade de alcançar-se os objetivos anelados.

Nesse esforço, o ego escravizado às paixões vê-se compelido à libertação, à aliança com as demais pessoas, reconhecendo os próprios limites enquanto alcança outros níveis de entendimento e de conduta.

No inicio do tentame, quando escasseia a maturidade psicológica, antes da expulsão do paraíso, o ego toma todo o espaço do Self, como se estivessem ambos no Jardim do Éden, sem separação, sem diálogo, sem consciência.

À medida, porém, que vem a expulsão do paraíso, adquirese o equilíbrio da consciência, quando o ego se libera, embora ainda ocupando uma grande área no Self.

Por fim, ego e Self em um eixo de harmonia faz-se quase consciente, facultando a presença de Deus no imo, o retorno ao Arquétipo primordial.

Jesus sabia dessa ocorrência, e, por essa razão, misturouse às massas desesperadas, imaturas psicologicamente, sofridas, compartilhou Suas lições com todos, envolveu-Se nos dramas do dia a dia, experienciou as dificuldades do trabalho manual, exemplificando que a luta é o clima de crescimento do ser humano, e os grandes inimigos estão no seu mundo interior e jamais no externo, convidando à saída do epicentro do Separa a aquisição da consciência.

Aqueles que se apresentam como adversários de fora nada podem fazer, realmente, de prejudicial, a quem é livre internamente, a quem venceu os impulsos e superou as tendências agressivas.

No entanto, encontrando-se preso aos interesses mesquinhos da superficialidade, rivaliza com esses que se lhe tornam inimigos, porque facilmente se fazem também inimigos.

O máximo que pode realizar o adversário é criar embaraços na marcha do progresso da vítima, atentar contra os seus valores ou até mesmo contra a sua vida física.

Não consegue ir além disso, porque não lhe atingirá a realidade de ser imortal que é, portanto, invencível, desde que não se deixe dominar pelas veleidades, pelas paixões do primarismo animal por onde transitou.

A grande viagem, iniciada com a expulsão do paraíso, vai ensejar o conhecimento das possibilidades de vitória nas renhidas lutas, novo Adão que é obrigado ao trabalho com suor, com renúncia e esforço, a fim de autodescobrir-se e conseguir o diálogo entre o ser que aparenta e o ser que é — Espírito indestrutível!

A criança que existe em todos inevitavelmente cresce e desenvolve a capacidade de entendimento, a necessidade de libertação, a busca do Si-mesmo, a aventura que lhe dá experiência, a fim de realizar mais tarde, a volta para casa.

Ocorre, então, a primeira mudança na psique coletiva, porque sucedeu a mudança individual, o crescimento do ser, a alteração do inconsciente, avançando para Deus, com a inevitável modificação das construções do mundo psíquico.

Nesse retorno, não existe a culpa, mas a consciência, pois que ambas surgiram ao mesmo tempo, desde que Adão e Eva foram expulsos do paraíso, saíram da ignorância de Si-mesmos, para os enfrentamentos.

Após o mito da desobediência, ambos dão-se conta das diferenças anatômicas e escondem-se, envergonhados, em face da libido que surge - a malícia - e fogem também de Deus, ocultando-se, mas nunca do deus interno que os acompanhará em todos os transes e trânsitos, descobrindo os opostos, sentin do as necessidades.

A criança, que neles existia, cede lugar aos adultos, aos seres formados para a procriação, para o desenvolvimento, não mais para a inocência, a ignorância permanente da sua realidade.

A psique amadurece, amplia o seu raio de entendimento e de ação, engrandece-se, faculta a fissão dos eus, de modo que o ego se espraie, que surjam a sombra, os anima-us, que se conquistem os espaços naturais, de maneira a criar o diálogo, a interação do eixo perfeito entre ele e o Self.

Essa viagem para a casa paterna já não tem retorno.


Perder-se e achar-se

O herói adormecido deve seguir adiante, procurar a própria identidade, sair da proteção do Pai misericordioso, a fim de viver as próprias experiências.

Talvez não seja necessária a forma como o filho pródigo tomou a decisão, mas uma escolha decorrente da própria maturidade.

Quando se rompem os primeiros laços entre o filho e a mãe a criança começa a dizer não.

A sua personalidade se vai formando, nasce a sua identidade que necessita de independência para o amadurecimento, para o enfrentamento dos próprios desafios.

O vínculo com o Pai, especialmente no sexo masculino, pode durar por muito tempo como submissão, medo, interesse pela herança, falta de iniciativa para as próprias necessidades que têm sido supridas sem qualquer esforço de sua parte.

Transfeindo sempre a responsabilidade dos seus atos ao Pai, o filho não cresce psicologicamente, mantendo uma forma de paraíso infantil, onde se sente bem, embora não realizado.

A experiência libertadora é essencial ao crescimento interior e pessoal, podendo ser realizada, no entanto, sem traumas, sem culpas, sem danos.

Não poucas vezes, nessa fantástica aventura da autoidentificação ocorre o perder-se, a fim de mais tarde achar-se.

A sombra em forma do eu-demônio apressa-se para que aconteça a ruptura, enquanto o eu-angélico aturde-se e introjeta a culpa, que ressumará do inconsciente quando o indivíduo perceber-se perdido e sofrido.

Normalmente ocorrem desenvolvimentos espontâneos e superiores na psique, quando se atinge a idade adulta, no entanto, nela existem fatores de compressão e de regressão, que se fazem vigorosos, demonstrando o erro em que se incidiu, abrindo espaço para as reflexões mais sérias destituídas do ego, facultando a corrigenda do erro, sem a perda das qualidades morais adquiridas.

Antes, pelo contrário, graças a esses valores de enriquecimento interior, que ajudam no discernimento, que proporcionam o crescimento e contribuem com as forças necessárias para a reabilitação.

O ser amadurecido pela dor redescobre que tem um Pai misericordioso, que nem sequer o censurou quando ele partiu ou dificultou a sua viagem, mas que, com certeza o espera na sua afeição não ultrajada.

Essa conquista da consciência do si-mesmo é a chave mágica para a decisão de voltar para casa, de retornar às experiências de identificação com a vida.

Já não se trata de uma volta à inocência, agora transformada em conhecimentos diversos, em sofrimentos dignificadores, em discernimento entre raga (a paixão, a ilusão) e a realidade.

Não bastam ser trabalhados o ego e a persona, fortalecidos e construídos muitas vezes pelas experiências existenciais, mas sobretudo o Self consciente.

Quando se atinge a meia-idade essa reflexão faz-se inevitavelmente.

No entanto, o mesmo fenômeno ocorre, também, na juventude, após alguns traumas e frustrações, desencantos e dissabores ante a realidade da vida.

Foi o que pensou e executou o Filho pródigo, no inferno em que se encontrava.

Ele sabia onde estava o paraíso e o de que necessitava era o estímulo que se lhe apresentou como fome e humilhação, com a consequente possibilidade de morte.

Havendo perdido a própria identidade, todos os valores que lhe constituíam a raça, suas heranças, seus prejuízos e suas conquistas, ao trabalhar com porcos - animais imundos na sua crença - em servir a um pagão, pecando contra a fé religiosa - o seu Deus - a mais vergonhosa derrota havia sido essa, de natureza moral, cujos fatores de perturbação se lhe acrescentaram como desonra, descrédito, abandono, miséria física e econômica, defluentes daquela de natureza espiritual.

No processo de aquisição da consciência, por desconhecimento da realidade, por presunção e fatuidade, muitos perdemse e transitam imaturos no prazer, desperdiçando a juventude e os tesouros que lhe são pertinentes, até o momento em que surge uma seca, faltam as energias para o prosseguimento e o indivíduo cai em si, avaliando tudo quanto tinha e de que não mais dispõe, sabendo que na terra longínqua onde vivia, tudo está em abundância.

Já não mais aspira à reconquista do que perdeu, porquanto há recursos que não retornam: energia, juventude, pureza de sentimentos, mas há outros que podem ser restaurados: dignidade, trabalho, renovação, novos logros.

No caso, em tela, servia ao Filho pródigo um lugar entre os trabalhadores, mas ele foi restaurado pelo pai que o reabilitou, que o vestiu e calçou com nobreza, que lhe pôs o anel de distinção e de união.

Tudo isto porque ele estava perdido efoi encontrado, estava morto e vivia.


Podemos considerar esse fato, igualmente como o do amor de Deus, em relação às suas criaturas, Seus filhos rebeldes que Lhe abandonam a casa paterna e fogem para o país longínquo da loucura e da ingratidão, entregando-se à ilusão com total olvido da sua origem divina, dissipando as forças elevadas que lhe são concedidas para o desenvolvimento espiritual, moral e intelectual, entregando-se ao servilismo com os animais imundos

—as paixões primitivas - disputando as bolotas — insistindo no primarismo ancestral - porque está perdido, mas com possibilidades de autoencontrar-se.

Fazendo parte da trilogia dos perdidos - a ovelha, a dracma e o filho pródigo — essa parábola também é membro da tríade do encontro, da esperança, da misericórdia, do júbilo.

Achar-se é muito mais importante do que achar.

Acham-se coisas, animais e pessoas perdidos, no entanto, achar-se, quando se está perdido em si mesmo e não no espaço-tempo, é de relevância psicológica, de verdadeira cura, de reabilitação, de autoencontro, de amadurecimento para o estado numinoso.

Torna-se necessária, nesse momento, a imago Dei na consciência como parâmetro para sair-se do ego extravagante e ditador, recordando-se do Pai misericordioso que sempre aguarda e que, reencontrando o que estava perdido, rejubila-se, propõe e executa uma festa, mantendo a união que fora arrebentada quando o irresponsável fugiu para longe...

A persona está sempre mudando no processo existencial porque resulta das aquisições psicológicas e morais, embora o ego se demore na sua dominação, adquirindo recursos para interagir com as novas conquistas.


Durante os períodos de mudanças biológicas, conforme referido anteriormente, essas mudanças sucedem-se com naturalidade, atingindo o clímax na fase adulta-

— velhice, quando o período é saudável.

Experiência-se, na Terra atual, não mais o ciclo das culturas da vergonha e da culpa, mas o do narcisismo, do exibicionismo, da falta de censo e de pudor, da extravagância, do poder...

Apesar disso, a psique mantém a herança da culpa e da vergonha no inconsciente individual e mesmo quando anestesiada por circunstâncias e ocorrências casuais, locais, sociológicas, são sempre de breve período de duração, porque ressumam e se expressam de maneira patológica com transtornos de comportamento e síndromes de enfermidades defluentes de somatizaçao.

É compreensível que o necessário sair de casa para tornar-se herói, não deva passar obrigatoriamente pelo insucesso, a depender, portanto, da maneira elegida para essa experiência.

Achar-se é uma necessidade do si-mesmo para desfrutar da alegria de viver, não sucumbindo em distúrbios de conduta, sempre lamentáveis e dolorosos.

Quando se pensa que o Cosmo possui um sistema de natureza moral, organizador, descobre-se alegremente que a vida oferece processos evolutivos que impulsionam ao engrandecimento pessoal e à plenitude ou individuação.

Pode-se alcançar esse crescimento sem que se passe compulsoriamente pelo insucesso do ego, pelas incertezas do Self, realizando-se a viagem de volta a casa, em clima de alegria.

Jesus concebeu e expôs a Parábola do Filho pródigo, assim como as duas outras, sobre os perdidos, para demonstrar que Ele viera para esses sofredores e desorientados, que Ele encontraria e reconduziria às suas origens, na doce expressão do Pai misericordioso, o que conseguiu com êxito retumbante, demonstrando, sub-repticiamente, aos seus antagonistas que, de alguma forma, eles estavam perdidos, mas que também estavam sendo encontrados, tendo a chance de retornar à casa paterna...

O desafio de Jesus prossegue na atualidade com as mesmas características, representadas no Seu chamamento à consciência de felicidade, naturalmente para aqueles que a perderam ou não a a tiveram, ante o crivo dos novos fariseus presunçosos e enganados em relação à vida e ao seu determinismo.

São, por enquanto, Filhos pródigos saindo da casa paterna, para desfrutar as heranças divinas no país longínquo.


Sair de si-mesmo

Para que o si-mesmo possa expressar-se com segurança, especialmente na parábola em análise, torna-se indispensável a integração da persona com a sombra.

Jung considerou a persona e a sombra como classicamente opostos, encontrando-se no ego a expressar-se, numa visão total da psique, como polaridades.

Trata-se de uma aceitação consciente do si-mesmo, compreendendo o seu lado sombra e as suas dificuldades em lidar com ele.

Devem-se considerar as ocorrências negativas e perturbadoras como naturais, sem os constrangimentos nem a vergonha das manifestações pessoais que são tidas por perversas, demoníacas.

Como esse lado não está de acordo com a persona, a aparência que se mantém, surgem os problemas interiores, os conflitos que devem ser evitados, tendo-se em vista que esse aparente mal, desde que não prejudique a outrem, é também responsável por muitos acontecimentos bons, por momentos de bem-estar e de alegria.

Estar-se aberto às diversas manifestações existenciais, sem repugnância pelo chamado lado mau, pela exteriorização do eu-demônio, sobrepondo, sem violência nem conflito, o euangélico, proporciona uma pré-individuação, porque nessa luta de opositores surge uma terceira coisa, que é a conquista do estado numinoso.


Normalmente os conteúdos da sombra são contestados pela persona (o irmão mais novo e o irmão mais velho da parábola em estudos), que também podem encontrar-se no mesmo indivíduo,

quando esse sofre a repulsa de si mesmo e o desejo de elevar-se, ocorrendo inevitáveis conflitos de comportamento.

Jung propõe um novo símbolo que sempre trará algo de ambos, que é o esforço para a integração daqueles conteúdos, numa diferente e renovada concepção de mundo como decorrência da transformação do ego.

O filho mais moço da parábola sentia que o seu irmão mais velho não o aceitaria e, malgrado essa percepção antecipada, gerou o movimento do retorno, porque naquele momento a sua visão qualitativa do mundo era diferente, assim valorizando o lado bom do mesmo e considerando o seu esforço de arrependimento voltando para casa.

Quando se foi para o país longínquo, estava buscando o si-mesmo, embora saindo; quando retornou, descobriu-se caindo em si-mesmo.

Muitas das atividades humanas e ocorrências psicológicas são o resultado dessa saída sem a perspectiva, pelo menos racional, da volta, o que se transforma numa atitude de definição e de responsabilidade pelo que possa acontecer no futuro.

A medida, porém, que a persona se fortalece, ampliando a capacidade de compreensão e de identificação, torna-se maleável, submete-se às necessárias mudanças, conseguindo a integração com a sombra, fundindo os dois eus.

Há, entretanto, indivíduos com uma tal carga de energia da sombra que não conseguem a aceitação dos seus erros pela persona, tornando-se uma questão patológica necessitada de terapia especializada.

Essa conduta antinómica é resultado dos instintos ainda dominantes na psique, herança poderosa da natureza animal do ser em relação à sua natureza espiritual, à sua origem no Uno.

As experiências das reencarnações privilegiando em uma etapa os valores intelectuais, noutra aqueles de natureza moral, em diversas ocasiões o desenvolvimento das tendências artísticas e culturais, os labores científicos e filosóficos, as místicas religiosas com todas as suas cargas simbólicas e mitológicas, havendo gerado o peso dos conflitos, a descoberta do bem e do mal, a perda do paraíso, ensejam o predomínio de um arquétipo sobre o outro.

Em determinado período mais primitivo da evolução, é a sombra, mais tarde é a presença marcante da persona, em diferentes oportunidades o anima-us, por muito tempo o ego até o momento da estruturação complexa do Self, na sua amplitude que se espraia além dos limites do indivíduo.

Por sua vez, o Pai amoroso saiu de si mesmo para receber o filho perdido e o acolheu no coração, que jamais deixara de o amar, pois que nunca o expulsara dos seus sentimentos, quando constatando que o outro filho, o mais velho, se recusava a entrar em casa e fora tomado pela revolta, assim como a ira, filhas diletas da sombra, novamente saiu de si-mesmo e foi em sua busca, por constatar que estava perdido também, necessitando de ser encontrado.

No processo da evolução do Espírito, faz-se necessário muitas vezes, sair-se de si-mesmo, para alcançar-se a meta a que se propõe, porque há situações difíceis de conflitos psicológicos em torno, que necessitam da presença do ser divino que se possui no imo.

Jesus assim o fez inúmeras vezes, pois que Ele veio para as ovelhas desgarradas, sacrificou a Sua vida para resgatá-las da perdição, confundiu-se com a sombra individual de cada qual e a coletiva de Israel, de Jerusalém assassina, que matava os profetas, a fim de manter a sua corrupção, aguardando um vingador para esmagar aqueles que lhe dominavam o povo, olvidando-se que a pior escravatura é a que procede dos instintos, dos arquétipos inferiores do Self em formação e desenvolvimento.

Sair de si-mesmo é fruir por antecipação o retorno que se dará com a conquista realizada, quanto sucedeu com Jesus, crucificado, mas livre, indesejado, no entanto, triunfante, porque conseguira atingir o estágio mais alto da psique: a vitória sobre os impositivos existenciais, embora já fosse perfeito como o Pai Celestial é perfeito.

Considerando-se as parábolas da esperança, da consolação, dos júbilos, dos perdidos, pode-se ver Jesus na condição de Filho Pródigo do Amor.

Afastou-se do Reino com os Seus inestimáveis bens e veio ao terreno país longínquo, para desperdiçar os Seus tesouros com as meretrizes e ladrões, os de má vida, que se Lhe tornaram más companhias, sem permitir-se contaminar com as suas misérias.

E porque eram incontáveis esses necessitados Ele entregou tudo quanto possuía e, repentinamente, viu que se abatera sobre o país a fome de amor e de misericórdia, de compaixão e de solidariedade, resolvendo-se por entregar-se in totum, a partir do momentoso Sermão da montanha...

Apesar dessa doação máxima de amor, foi desprezado pelos habitantes soberbos e ingratos desse país, os prepotentes e dominadores, ficando com a ralé, simbolicamente representando os suínos, como era quase considerada, não aceita e espezinhada, optando pela cruz do sacrifício de afeto jamais ocorrido na Terra, voltando, porém, rico de bênçãos ao Pai misericordioso, que O recebeu em júbilo, permitindo que Ele ficasse ainda, por mais tempo, num e noutro lugar, acenando com a imortalidade gloriosa.

No estado numinoso, Ele tentou dissipara sombra individual, que espera pelo esforço do Self de cada qual, iniciando-se, então, esse processo de unificação com a persona através dos dois milênios, a partir do momento em que se inicie a terapia psicotrópica da renovação interior, proporcionando aos neurocomunicadores a produção das monoaminas restauradoras da saúde psicológica e da moral através da vivência dos Seus incomparáveis enunciados psicoterapêuticos.

Herdeiro de si mesmo, o ser humano é a soma das suas experiências, que desenvolvem os valores para a própria evolução.

O que lhe constitui desafio em uma etapa desse crescimento, noutra se lhe torna mais acessível, dando lugar ao surgimento dos arquétipos muito bem examinados pelo eminente mestre de Zurique, Carl Gustav Jung.

Entende-se que a predominância da sombra ou do animaus em indivíduos biologicamente portadores de polaridades orgânicas opostas, resulta das experiências malsucedidas e que, repetidas, lhes proporcionam o ensejo de ajustamento, de integração moral, qual ocorre com a persona na construção do Self iluminado, liberado das pesadas cargas dos conflitos ancestrais.

A conquista da saúde integral é, compreensivelmente, um desafio que está diante de cada qual, dependendo do seu esforço enfrentá-la desde logo ou postergá-la, quando complicada e perturbadora.

Graças às conquistas da medicina nos seus mais diversos setores, e das doutrinas psicológicas iluminadas pelo Espiritismo, com o seu valioso contributo psicoterapêutico preventivo e curador, dispõe o ser humano destes dias de instrumentos valiosos para o logro da felicidade mesmo na Terra, embora o Reino não seja deste mundo, nele iniciando-se e prolongando-se pelo infinito dos tempos e dos espaços.

A Parábola do Filho pródigo, assim como a da dracma e a da ovelha perdida constituem preciosas lições de autodescobrimento de todo aquele que deseja identificar a finalidade da jornada terrestre, o significado real da vilegiatura carnal, conseguindo superar o vazio existencial com objetivos dinâmicos e seguros em favor da sua completude emocional e espiritual.

Resgatando as perdas, envolve-se em aquisições de relevante significação para a sua imortalidade, na qual, desde ontem, se encontra mergulhado.

Cumpre-lhe, por consequência, vigiar as subpersonalidades comprometidas com a sombra, expressões que, de alguma forma, dela se derivam, preservando o bom humor e evitando as suas alterações, que abrem espaço para a interferência dos Espíritos inferiores que pululam em toda parte, gerando alucinações e ressentimentos, portadores de enfermidades de várias etiologias, produzindo infelicidade e desar.

Sair de si-mesmo, de maneira objetiva, a fim de ajudar os que se encontram na retaguarda, é a imagem do Pai misericordioso recebendo o Filho pródigo de volta a casa...

Em assim sendo, a reencarnação é de valor inestimável, que não pode ser desconsiderada, nem postergados os ensejos de crescimento interior.

Procedente do ontem, o Espírito apresenta-se com o patrimônio amealhado, construindo o porvir que lhe está reservado.

O seu esforço em favor da aquisição do estado numinoso deve constituir-lhe meta essencial na luta em que se empenha.

Essa conquista independe de qualquer façanha paranormal, seja anímica ou mediúnica, antes valendo pelo autoconhecimento e as transformações emocionais para melhor que possa conseguir.

A sua saúde psicológica e física, psíquica e moral, dependerá sobretudo desse empenho, desse entendimento da finalidade do corpo que o capacita para a plena libertação dos arquétipos tormentosos que ainda o mantêm em escravidão.

Vez que outra se sentirá impulsionado a sair da casa paterna e o fará, desde que, de maneira sábia, investindo os valores que lhe são concedidos no crescimento interno, onde quer que se encontre, antevendo a possibilidade de retornar em situação saudável, sem o desgaste nem a miséria assinalados no fracasso do Filho pródigo.

Fracasso, porém, que o Pai misericordioso transformou em lição de desenvolvimento moral, não lhe concedendo a po sição de servo ou de escravo, mas de filho que o era, pois que, perante Deus não existem filhos perdidos e cujos atos sejam irreparáveis.

Desse modo, a evolução do ser, sua felicidade e harmonia dependem exclusivamente dele mesmo, contando com a misericórdia e a bonança do amor sempre responsável pela concessão da plenitude.

Quando os indivíduos se aperceberem das vantagens do amor a si mesmo, de início, ao seu próximo como consequência, e, por fim, a Deus, tudo se lhe modificará durante o périplo orgânico, pois que esse tropismo superior alçá-lo-á ao estágio de individuação.


Rejubilar-se

O júbilo é defluente da conquista superior da saúde psicológica, por sua vez, da harmonia que deve viger entre o físico, o emocional e o psíquico.

O Pai generoso rejubila-se com o filho de volta, não considerando a sua defecção, que é tida como uma leviandade da fase juvenil, exatamente daquele período de imaturidade e de incerteza, quando ainda existem as inseguranças da infância e as perspectivas da idade adulta, sem a definição da personalidade.

É natural que, nessa busca do herói, da identificação do eixo ego-self, ocorram essas nuanças de insucesso, que levam à maturidade, de inquietação e de aprendizado, necessários ao processo de crescimento interior, desde que o conquistador esteja disposto a refazer caminhos, a reconquistar-se, superando a sombra e não se permitindo fixar na culpa.


Toda viagem interior, à semelhança daquilo que ocorre quando se viaja para fora, é uma aventura de alto significado,

sendo que, as sucessivas camadas de experiências negativas que vitalizam o eu-inferior, demoníaco, geram impedimentos emocionais, dando largas a conflitos de natureza infantil, como as fugas para a lamentação, as queixas, a necessidade de colo materno.

O júbilo deve permanecer no coração de todos os indivíduos, mesmo quando enfrentando situações embaraçosas ou difíceis, pois que proporciona claridade mental, enquanto a sisudez, a mágoa, o autodesprezo podem ser considerados como revides do eu-infeliz punindo o malsucedido.

Rejubilar-se na comunhão com as propostas da vida, na convivência com as pessoas e a Natureza, consigo mesmo, constitui dever psicológico derivado da harmonia que se consegue mediante esforço e autoidentificação de valores.

A atitude do Pai misericordioso em relação ao filho arrependido deve constituir uma lição viva de comportamento que todos os indivíduos devem manter em relação àqueles que se encontram em dificuldades de qualquer natureza, auxiliando, sem exigências descabidas, sem arrogância de triunfador em face da queda do outro, de maneira edificante e estimuladora.

Quando se reprocha outrem pelo comportamento malsão, em consequência das suas ações incorretas, deve ser levado em conta que o tombado espera ajuda e não somente repreensão, buscando-se corrigir-lhe o erro, quando seja possível, sem criar-lhe conflitos de inferioridade que o podem empurrar para situações mais deploráveis.

Há uma tendência natural para a tristeza entre muitos seres humanos, que se transforma em melancolia e contribui para o desinteresse pela vida, para a falta de observância da beleza que existe em toda parte.

Esses pacientes trazem de reencarnações anteriores alguma culpa que se transformou em autopunição, trabalhando para que não experimentem alegria, inconscientemente por acreditarem que não a merecem.

Predomina-lhes, então, no comportamento, a sombra com a sua carga de negativismo, de punição...

A vida humana é um hino grandioso que exalta a grandeza do Uno em toda parte, convidando ao desenvolvimento dos valores adormecidos, do deus interno em expectativa de despertamento.

Todos os seres humanos estão comprometidos com o Universo, assinalados por um importante labor a desempenhar em qualquer situação em que se encontre.

A harmonia é resultado de muitos fatores, alguns diversos que se unem, formando um conjunto de equilíbrio.

O equilíbrio interior não significa paralisia, ausência das colisões, antes, pelo contrário, são elas que favorecem o encontro da situação ideal, após os choques inevitáveis dos processos em litígio.

Para alcançar-se, nesse aprendizado, a integridade, é necessário que ocorra o perfeito entendimento do Self pela consciência, a identificação das polaridades antes em conflito e oposição, apesar das novas aparições que se transformam em materiais inusitados a integrar.

Sempre se está crescendo durante toda a existência, em cada fase conseguindo-se novos contributos para o enriquecimento da vida psicológica.

Somente assim é possível rejubilar-se consigo mesmo, quando cada qual descobre a riqueza interior que vai acumulando, a maneira como supera as crises que surgem e as situações desafiadoras.

Cada etapa da vida, portanto, tem as suas imagens arquetípicas, os seus comportamentos e as suas conquistas, trabalhando para a vitória sobre o respectivo período que se vivência.

O Pai misericordioso rejubila-se com o retorno do filho, mas não se esquece de atrair também o outro filho, o ciumento e vingativo, que se nega a entrar em casa, evitando participar da festa de alegria, significando o eu-demoníaco.

O amor, porém, do Pai, desmascara-o, enfrenta-lhe a persona doente, e demonstra que está contente por tê-lo e que se rejubila por conviver e beneficiar-se da sua presença.

Por isso, um cabrito que lhe desse para banquetear-se com os amigos não tinha qualquer sentido, para aquele que lhe dava tudo, porquanto, assim informara: E tudo quanto é meu é teu...

A vida é um poema de júbilos.

Rejubilar-se com tudo e com todos é o passo feliz para a individuação.

Utilizar-nos-emos, em tempo, da expressão anima-us para significar a anima e o animus.

Nota da autora espiritual.




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Lucas 15:25

E o seu filho mais velho estava no campo; e quando veio, e chegou perto de casa, ouviu a música e as danças.

lc 15:25
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