Conflitos Existenciais - Série Psicológica Vol. 13

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Conflitos Existenciais

A marcha do progresso é inexorável.

Pode ser perturbada ou dificultada, nunca, porém, ficar retida em conveniências de indivíduos ou de grupos, paralisando o seu processo.

Da mesma forma, a criatura humana está destinada à plenitude, avançando, não poucas vezes, sob injunções dolorosas que resultam da ignorância ou da má utilização dos recursos preciosos que se lhe encontram ao alcance.

De origem divina, experiência as mais diferentes manifestações da vida, desenvolvendo os valores sublimes que lhe dormem em germe até atingir a felicidade que lhe está destinada.

Essa felicidade, porém, deverá ser conquistada, passo a passo, mediante o esforço pessoal e o investimento de luta, de modo que desabrochem os seus potenciais que impulsionam à conquista da glória.

Através das multifárias reencarnações, o Espírito aprimora-se, libertando-se do primarismo pelo qual transitou e avançando no rumo da sublimação.

O sentido da vida inteligente é ascensional, que se logra através dos desafios existenciais que devem ser vencidos, porquanto são carregados das heranças negativas, que procedem das experiências anteriores malogradas e necessitam de ser corrigidas.

Em razão disso, esses desafios apresentam-se como conflitos perturbadores que enfermam, desorientam, empurram para situações dolorosas, quando não direcionados com sabedoria e enfrentados com valor.

Durante muito tempo acreditou-se que o ser humano vem ao mundo qual se fora uma folha de papel em branco, uma tabula rasa, e que a imitação em relação ao que via, ao que experimentava, a iniciar pelos pais que lhe vertiam os conhecimentos e aprendizagens, facultava o arquivamento das impressões que deveria repetir depois.

Experiências significativas, no entanto, demonstraram que a tese era destituída de legitimidade, porquanto os cegos de nascimento, que não podiam acompanhar as expressões da face de outrem, sorriam e apresentavam as mesmas características da tristeza que jamais haviam visto.

De igual maneira, os povos ainda primitivos que vivem na Terra, visitados por cientistas cuidadosos, demonstravam os mesmos sentimentos do ser civilizado, embora jamais houvessem contactado com ele, assinalando no semblante o ríctus da dor e a largueza da alegria.

Desde há muito, o pai da doutrina evolucionista, Charles Darwin, houvera escrito um tratado sobre a fisionomia humana, sugerindo estudos com cegos, de modo a se confirmar a ancestralidade dos caracteres emocionais e suas expressões em indivíduos que jamais tiveram oportunidade de vê-las noutrem.

Esse estudo abriria espaço para maior observação em torno dos sentimentos que a Psicologia científica desprezava, há mais ou menos quarenta anos...

Com o advento de novas conquistas psicológicas em torno do ser humano, pôde-se constatar que há uma herança atávica assinalando todos os indivíduos com idênticas expressões faciais e emocionais, sem que tenha havido qualquer contato entre eles.

Do ponto de vista espírita, essa herança procede das reencarnações anteriores, que imprimiram no Espírito as suas necessidades, mas também as suas realizações, facultando-lhe o avanço progressivo, cada vez que uma etapa do processo de crescimento é vencida.

Graças a essa constatação, na raiz de todo processo aflitivo existe uma herança psicológica de outra existência, ressurgindo como necessidade de reparação, a fim de favorecer o Espírito com novas aquisições, sem amarras com os fracassos que ficaram no passado...

Desse modo, a felicidade no mundo é possível, desde que seja desenvolvido o empenho por consegui-la.

Ninguém se encontra na Terra exclusivamente para sofrer, mas para criar as condições da saúde real e da alegria plena.

Mesmo no caso das expiações vigorosas, enquanto vigem trabalham pela libertação do ser encarcerado logo seja concluída a reeducação.

Os estudiosos da conduta psicológica constatam também que essa felicidade é possível, porque existem fatores fisiológicos que a propiciam, e referem-se ao milagre da dopamina, o neuropeptídeo que a fomenta e a produz.

Experiências cuidadosas com tomografia computadorizada apresentam as áreas cerebrais onde se situam a felicidade e a infelicidade, resultado das emoções e dos fenômenos físicos produzidos pela dopamina, bem como por outras substâncias, assim confirmando a tese de natureza orgânica.

Um sentimento qualquer envia impulsos, procedentes do tronco cerebral ao cerebelo, que os processa e envia aos músculos como ordens, permitindo que o diencéfalo entre em ação, propiciando a excitação emocional, de modo que o córtex ative as circunvoluções na área do lóbulo frontal, transformando as emoções em atitudes e realizações objetivas.

Ocorre, assim, todo um processo eletroquímico, através do qual o sentimento estimula as áreas próprias que o transformam, conduzem e materializam.

É fácil, portanto, de compreender-se que o ser humano é todo um feixe de emoções que necessitam ser bem direcionadas, e que a educação, o conhecimento, o exercício se encarregam de transformar em vivências.

Aprofundando-se mais a sonda no cerne do ser, constata-se que todo esse complexo de energia procede do Espírito, que a exterioriza conforme o seu padrão evolutivo, produzindo emoções superiores ou inquietantes de que tem necessidade no campo do crescimento moral.

Assim, os desafios existenciais que se apresentam como emoções perturbadoras, transtornos neuróticos — de ansiedade, de culpa, de estresse, de angústia — exigem atenção e devem ser cuidados de forma especial, mediante as conquistas das modernas ciências psíquicas, bem como das contribuições do Espiritismo, na sua feição de Ciência da alma.

Assim, a felicidade é desencadeada pela harmonia que o Espírito experimenta a sensação agradável do dever cumprido, a retidão moral, facultando ao cérebro a produção da dopamina, da serotonina, da noradrenalina e de outras substâncias do mesmo gênero.

A conquista da felicidade ocorre quando se transita de um para outro estado de espírito em equilíbrio, portanto, de maior harmonia.

Da mesma maneira, o sofrimento é uma transição da situação inferior, estágio que já deveria ter sido vencido.

A felicidade, portanto, não significa oposição à infelicidade.

Esse estado de bem-estar, de harmonia entre o ego e o Self resulta de conquistas morais e espirituais, da vitória sobre os desafios existenciais.

Reunimos no presente livro vários comportamentos perturbadores que se apresentam como testes de resistência para o indivíduo humano, e procuramos enfocá-los, ora à luz da Psicologia, ora da psicanálise, ora da Psiquiatria, todos porém, sob a visão espírita, convidando o leitor à reflexão, à cuidadosa análise em torno da existência que desfruta.

Nada de novo apresentamos exceto o enfoque doutrinário que retiramos do Espiritismo e que tem faltado ao conhecimento de nobres psicoterapeutas, assim como ao de outros especialistas na área da saúde mental e emocional.

O nosso desejo é contribuir de alguma forma em favor da saúde integral, da felicidade do ser humano convidado ao crescimento espiritual, não raro, por intermédio do sofrimento, desde que se nega a realizá-lo mediante o amor.

Com este livro, desejamos também homenagear a obra magistral O Céu e o Inferno, de Allan Kardec, pelo transcurso do seu 140° aniversário de publicação, em Paris (França), que será comemorado no próximo mês de agosto.

Embora reconhecendo a singeleza do nosso trabalho, desejamos que o gentil leitor encontre nas páginas que seguem algo de útil para o seu aprimoramento moral e espiritual, auxiliando-o a vencer galhardamente os desafios existenciais.


Salvador, 24 de junho de 2005.


JOANNA DE ÂNGELIS




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