Conflitos Existenciais - Série Psicológica Vol. 13

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CAPÍTULO 11

Neurastenia

Psicogênese da neurastenia

Aneurastenia, anteriormente conhecida como debilidade dos nervos, passou a ser introduzida nos estudos psiquiátricos a partir das propostas do americano Dr. G. M. Beard, em 1879, facultando que, em 1894, Muller apresentasse um estudo bemelaborado, embora sintético, sobre essa síndrome perturbadora.

Ainda no século XIX, Weir Mitchell definiu o extremo cansaço de qualquer natureza - físico, emocional e mental - como responsável pelo desencadeamento desse transtorno neurótico.

Vivia-se, então, o período dos estudos da histeria, havendo merecido de Pierre Janet e outros estudiosos, associá-la, bem como os seus efeitos, à disfunção orgânica geradora do processo de conversão...

À medida que os avanços do conhecimento ampliaram o estudo dos transtornos neuróticos e psicóticos, e a Bioquímica facultou serem entendidos em maior profundidade, eliminou-se a possibilidade de que substâncias específicas fossem responsáveis pela irrupção da neurastenia.

Passou-se a considerar com mais propriedade a neurastenia e as organoneuroses como enfermidades de adaptação, portanto, como alterações do mecanismo normal de adaptabilidade do indivíduo.

Entretanto, cuidadosas observações, como, por exemplo, as de Cannon, constataram um aumento de secreção da adrenalina sobre a atividade muscular, avolumando, por consequência, a combustão do glicogênio e produzindo a diminuição do nível da glicose no sangue, afetando o sistema neurovegetativo.

Acredita-se, dessa forma, que a neurastenia resulte de uma espécie de fuga da realidade, como escusa inconsciente do paciente em relação aos fracassos pessoais, às realidades de natureza perturbadora.

Ocorre, então, uma perda de interesse pelos acontecimentos e desmotivação para realizações enobrecedoras, por ausência de autoestima e de coragem para ultrapassar os limites exigíveis.

Não é possível negar-se que a neurastenia vincula-se muito aos processos organoneuróticos, em face da ansiedade que é liberada por via somática mediante a utilização do sistema vagosimpático.

Por outro lado, diversos autores descrevem o transtorno neurastênico como estando mais próximo da histeria, preferindo outros, ainda, caracterizá-la como expressão depressiva com manifestações maníacas e tendência à esquizofrenia.

Sem dúvida, o cansaço demasiado desempenha um papel fundamental na eclosão do processo neurastênico, por produzir a fatigabilidade, que poderia ser transitória, não fossem a sua continuidade e permanência, tornando-se patológico esse esgotamento nervoso, decorrente da estafa, desde que o repouso não logra restabelecer o equilíbrio somático.

É nesse estágio que se apresentam a irritabilidade, o mau humor, o pessimismo, caracterizando a presença da neurastenia.

Igualmente, pode-se registrar esta síndrome em indivíduos portadores de constituição física astênica, embora não estejam bem definidas as razões da ocorrência perturbadora desta psiconeurose.

Por certo, não se trata somente do excesso de atividade em si mesmo, mas da forma como o trabalho é desenvolvido, das motivações que o promovem, das compensações que faculta.

Deflui das frustrações que se ocultam no inconsciente e propelem aos esforços exagerados.

Noutras vezes, são a culpa decorrente da insatisfação, da necessidade de autor-realização, mas destituída de autoconfiança em relação ao seu êxito, ou da imposição exibicionista de aparecer, como também da timidez que necessita de proteção, mesmo que inconsciente.

Quando o móvel do trabalho é idealista e plenificador, os estímulos emocionais diluem a estafa ou facilitam a renovação de forças, sem que o cansaço desarticule os equipamentos do sistema vago-vegetativo.

Na nosologia da neurastenia, a ansiedade é responsável pela incompletude do paciente que trabalha com afã e, mesmo quando em repouso permanece em agitação, acreditando-se defraudador do tempo e de conduta irresponsável.

Estudos cuidadosos revelaram a ação da adrenalina secretada pelas glândulas suprarrenais como desencadeadora de distúrbios glicêmicos, que poderiam apresentar-se em síndrome neurastênica.

Incontestavelmente, porém, é o Espírito e não o corpo o responsável pelo distúrbio, em face da culpa decorrente da ociosidade e da extorsão de outras vidas em existências pretéritas, agora gerando os processos de recuperação através do refazimento doloroso.

A instabilidade emocional em forma de labilidade impele-o ao trabalho descontrolado que o atormenta, quando deveria ser-lhe terapêutico.

As consequências da neurastenia são destrutivas, quando não tratadas com eficiência, tornando-se crônicas.

Carrega um vasto contingente de conflitos embutidos, e principalmente os derivados da insatisfação.


Desenvolvimento da neurastenia

A ansiedade mórbida surge em qualquer período da existência humana.

À medida que se instala, irrompem os sintomas inquietantes, dentre os quais a irritabilidade se destaca.

Podem surgir acompanhados de inapetência ou glutoneria, esta última na condição de fuga do conflito interno não detectado pelo Eu consciente.

Com o tempo, os episódios de insônia ou de interrupção do sono aumentam de intensidade, tornando as noites do paciente desagradáveis e o despertar angustiante, exaustivo...

a medida, porém, que o dia avança, ocorre uma melhor adaptação, culminando com certo equilíbrio ao entardecer.

Conflitos Existenciais Há sempre uma hiperfatigabilidade, preocupação demasiada com a saúde, insegurança no comportamento.

No homem, os efeitos podem expressar-se também como impotência sexual, enquanto que, nas mulheres, ocorrem as dismenorreias.

Surgem, quando em estado mais avançado, o processo patológico, paresias e complexidades nervosas que atormentam o enfermo.

Sem orientação, ou desprezando-a quando a tem, mais ansiedade acrescenta às suas ações e atividades, piorando o quadro.

Os relacionamentos fazem-se difíceis em face do mau humor do enfermo e certa dose de pessimismo e desconfiança a que se entrega.

Podem-se acrescentar processos físicos de perturbação orgânica, como extrassístoles, debilidade de forças, su-dorese fria e abundante, pulsação irregular, sempre sob a injunção da ansiedade mórbida.

A neurastenia é síndrome grave que se avoluma no organismo social, devorando belas florações da esperança humana.

Confundida com transtornos neuróticos, mereceu de Freud, quando da análise destes últimos, o conceito de que se trata de uma repressão incompleta pelo ego de impulsos do id.

O impulso, quando reprimido, ameaça, embora a repressão procure impedir a sua irrupção na consciência e na conduta.

Nas tentativas de defender-se de novos impulsos, toma corpo a conduta neurótica buscando de alguma forma a substituição deles, em esforço contínuo para afastá-los totalmente.

Considerando os critérios de duração e de intensidade, Freud classificou as neuroses, em face do conflito desencadeador e da espécie de constituição.

Mesmo nesses casos, na essência de qualquer conflito está o Espírito insatisfeito com a conduta, assinalado pelo sofrimento decorrente do erro que necessita ser reparado, a fim de que haja o equilíbrio da consciência, portanto, a liberação da culpa nela embutida.

Na larga jornada evolutiva, as experiências dolorosas assinalam o ser por largo período, produzindo dificuldades de compreensão das finalidades essenciais e nobres da vida.

Com o decorrer e o vivenciar de novas experiências, tornam-se muito complexas as ocorrências que devem ser trabalhadas, dando lugar aos conflitos que se transferem de uma para outra reencarnação, gerando distúrbios de comportamento, indecisão, timidez, angústia, transtornos neuróticos, que o trabalho paciente da psicoterapia e da renovação pessoal logram superar.

Nas análises das reencarnações sucessivas encontram-se as melhores respostas para toda sorte de perturbação e de impulsos incontroláveis que aturdem os seres humanos.

Quando faltam o interesse por uma existência feliz e o discernimento para compreender e realizar o melhor método em favor de uma trajetória feliz, o indivíduo estorcega nas vascas da agonia, sem confiança nem paz, que lhe facultem prosseguir nos empreendimentos abraçados ou por abraçar de forma realizadora.

A astúcia, que caracteriza o primarismo do ser humano, é responsável por atitudes infelizes que supõe compatíveis com os objetivos de lograr resultados satisfatórios, utilizando-se de recursos ignóbeis para os conseguir.

Acreditando, o astuto, na ingenuidade alheia ou na sua ignorância em torno dos métodos utilizados, olvida-se de que a própria consciência torna-se o juiz reto que não pode ser ludibriado e que sempre impõe as punições reparadoras como recurso de tranquilidade.

Eis por que assomam tormentos e inquietações que parecem não ter procedência, quando, em realidade, são o ressumar dos comportamentos morais negativos que ele se permitiu.


Terapia para a neurastenia

A psicoterapia é portadora de excelente arsenal de recursos para atender o paciente neurastênico.

Inicialmente, torna-se indispensável que o mesmo reconheça o estado em que se encontra e opte pela ajuda que lhe será valiosa, predispondo-se à aceitação do tratamento.

Mediante os estímulos novos do psicoterapeuta, ocorre a remoção da culpa e dos tormentos internos, através de uma análise da realidade em que o paciente se encontra, altera-se-lhe o anterior impulso para o trabalho como autorrealização punitiva, abrindo-lhe campo não experimentado de prazer durante a execução das atividades.

E o que ocorre com os cientistas, artistas, estudantes, buscadores de ideais e concretizadores de sonhos, que se entregam a esforços sobre-humanos, às vezes, sem que a estafa exaustiva tome conta das suas energias.

Experimentado o cansaço, o natural repouso proporciona o renovar das forças, facultando o prosseguimento das atividades abraçadas.

No caso de neurastenia, a terapêutica psicológica substitui perfeitamente a de natureza psiquiátrica, devendo-se evitar as recomendações para uso de drogas químicas, exceto quando o quadro se apresentar caracterizado por transtornos mais graves em trânsito para a queda em alienação esquizofrênica.

A conversação com o psicoterapeuta, que deverá infundir confiança, pesquisando as causas dos conflitos -culpa, insatisfação, frustração, exibicionismo -, ensejará a aceitação da própria realidade e emulará na renovação dos conceitos existenciais favoráveis ao bem-estar.

Como podem suceder recidivas, o que, muitas vezes, sucede, o psicoterapeuta deverá recorrer ao encorajamento constante do paciente, sem exageros, como aqueles que transformam o distúrbio em quesito de menor importância, bem como aos ideais de enobrecimento pessoal, de maneira que passe a experimentar alegria sem a agitação a que se entregava, e na qual parecia satisfeito...

Nesse processo de recuperação, fazem-se valiosos os recursos espíritas da bioenergia, sob todos os ângulos considerada, de forma que ocorra a renovação interior e se robusteçam as disposições íntimas para a saúde.

O paciente neurastênico espera sempre encontrar compreensão de todos: familiares, amigos, colegas de trabalho, sociedade... o que nem sempre é possível, tendo em vista as dificuldades que assinalam as demais pessoas.

No entanto, é sempre viável a cooperação fraternal daqueles que estão próximos do enfermo, laborando com ele em favor da sua recuperação.

No atual contexto social, quase todas as pessoas se defrontam com dificuldades e enfrentam desafios para os quais não se encontram psicologicamente preparadas, sofrendo-Ihes os efeitos danosos e tendo problemas para superá-los.

As propostas da Doutrina Espírita, em forma de psicoterapia em grupo, atendem perfeitamente as necessidades humanas, individuais e coletivas, iluminando as consciências, amparando os sentimentos e orientando a razão para os rumos libertadores da paz e da autorrealização.

Com essa visão diferente a respeito do mundo transitório e a certeza da imortalidade do Espírito, os horizontes a serem conquistados ampliam-se e incomparável alegria toma conta do indivíduo, que atravessa a estreita passagem por onde deambula, antegozando a esplendorosa paisagem do futuro.

Desse modo, o paciente neurastênico adquire autoconfiança, e o repouso torna-se-lhe refazente, gratificante, permitindo que os fenômenos de perturbação cedam lugar ao equilíbrio e instala-selhe a saúde emocional.




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