Conflitos Existenciais - Série Psicológica Vol. 13

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CAPÍTULO 4

Medo

Psicopatologia do medo

A herança da culpa no inconsciente humano responde por inúmeros desequilíbrios que dela se desdobram, mascarando-se de variadas expressões que se tornam fenômeno inevitável no processo para aquisição de superior nível de consciência.

Após vencer o estágio da consciência de sono, o Espírito reencarnado descobre a paisagem fascinante e quase infinita que faz parte da sua existência corporal, proporcionando-lhe mais amplas aspirações de crescimento, com vistas a alcançar o elevado nível de consciência cósmica.

Os erros e crimes praticados durante a fase inicial de conquista da razão e do discernimento, em face do despertar da consciência, ressumam dos arquivos profundos do Selfe reaparecem na personalidade com imposição constrangedora.

Não poucas vezes torna-se inevitável a instalação mortificadora da consciência de culpa que inconscientemente induz ao medo.

Trata-se de um medo absurdo, que se transforma em transtorno de comportamento, agravado pela natural aceitação do paciente, que o aumenta em face da insegurança emocional, tornando-se, não raro, uma patologia que pode desencadear síndromes do pânico ou transtornos depressivos graves.

Quando se apresenta em comportamentos assinalados pela timidez, há uma natural tendência para a alienação ao convívio social, isolando-se e ruminando pensamentos pessimistas em relação a si mesmo e aos demais, ou transformando o sentimento em raiva malcontida que empurra para pavores imprevisíveis.

Todos são vítimas do medo em relação ao desconhecido como ocorrência normal.

Quando se aguarda a concretização de algo ambicionado, é natural que ocorram dúvidas em forma de medo da sua não viabilidade; quando alguém se afeiçoa por outrem, ocorre o medo de não ser correspondido; em face da instabilidade dos fenômenos existenciais, o medo ocupa um lugar de destaque, assim como ocorre com outros sentimentos.

Todavia, quando extrapola, gerando situações conflitivas, dando largas à imaginação atormentada, propiciando ansiedade, sudorese, arritmia cardíaca, identifica-se de imediato um pavor que assoma e ameaça a estabilidade emocional.

Em tal circunstância, instala-se o transtorno fóbico na condição de gigante opressor, que a cada dia mais temível se torna, violentando a lógica e gerando outros distúrbios no comportamento dos indivíduos.

Psicologicamente, o medo condicionado, que é resultado de um processo de acúmulo desse fenômeno, desde que associado a qualquer estímulo do meio, quase sempre de natureza neutra, responde ao estímulo.

Quase sempre cultivado, deveria ser racionalizado, a fim de inutilizar-se-lhe a procedência para constatar que tem origem maior na imaginação receosa e não em fator real de desequilíbrio e de prevenção de perigo.

Pode-se afirmar que existem fatores endógenos e exógenos que respondem pela presença do medo.

No primeiro caso, os comportamentos infelizes de reencarnações anteriores imprimem-no nos refolhos do períspirito que, por sua vez, instala no inconsciente profundo as matrizes do receio de ser identificado, descoberto como autor dos danos que foram produzidos noutrem e procurou ignorar, mascarando-se de inocente.

Nesse sentido, podemos incluir as perturbações de natureza espiritual, em forma de sutis obsessões, consequências daqueles atos inditosos que ficaram sem regularização no passado.

No segundo caso, as atitudes educacionais no lar, os relacionamentos familiares agressivos, o desrespeito pela identidade infantil, as narrativas apavorantes nas quais muitos adultos se comprazem, atemorizando crianças; os comportamentos agressivos das pessoas, desenvolvem medos que adquirem volume à medida que o crescimento mental e emocional amplia a capacidade de conduta do educando.

Ao mesmo tempo, os apavorantes fenômenos sísmicos que periodicamente varrem o planeta, ceifando vidas, destruindo cidades e ameaçando outras, o virulento terrorismo político internacional, a violência urbana, as injustiças sociais profundas, a competição perversa pela projeção no mundo dos negócios, dos divertimentos, do poder de qualquer natureza, produzem medo naqueles cuja constituição emocional, perturbada desde a infância pelos temores que lhe foram infundidos, desborda-se em pavores inquietantes.

A impotência do ser humano diante dos fenômenos da Natureza e a quase indiferença de algumas autoridades do mundo em relação aos seus governados geram medo de cada qual ser a próxima vítima, refugiando-se no silêncio e no temor que assalta ameaçador.

Grande parte do noticiário da mídia (lixo) que se compraz em exaltar o esdrúxulo, o agressivo ao contexto social, o crime, contribui dessa forma para a alucinação de alguns enfermos perversos que se sentem estimulados à prática de arbitrariedades, assim como desenvolve o medo da convivência, do relacionamento com outros indivíduos, sempre vistos como futuros agressores.

Esses medos sempre impedem o repouso, desencadeiam mais imaginativos receios, e mesmo quando apoiados em ocorrências reais, aumentam de intensidade, tornando-se quase insuportáveis.

Atormentam a vida e não evitam que ocorram os fenômenos desagradáveis, que se tenta evitar sem uma pedagogia apropriada.

É como se aquilo que mais se teme sempre acontecesse, exatamente por estar registrada no cerne do ser a necessidade dessa experiência para vir a ser vivenciada, para contribuir eficazmente em favor do amadurecimento psicológico, do crescimento cultural, da realização pessoal.

Caminhos não percorridos prosseguem sempre como incógnitas desafiadoras.

Nos tormentosos fenômenos de obsessão espiritual, a indução telepática do perseguidor faz que o vitimado ressinta-se de tudo quanto à sua volta possa trabalhar pela sua recuperação, pela reconquista da saúde e do equilíbrio.

Teleguiado pelo adversário invisível, experimenta o desconforto que se deriva do medo que lhe é infligido, adotando conduta estranha, doentia...

De maneira idêntica ocorre quando se está preocupado em demasia com a realização de um projeto muito importante ou de uma programação qualquer que se apresente como relevante, o cansaço, a não renovação do entusiasmo desencadeiam o medo de não ser bem-sucedido, passando-se a adotar essa postura desastrosa.


Diferentes manifestações do medo

Embora inconsciente, o medo da morte predomina na natureza humana, como se ele traduzisse o pavor do aniquilamento da vida.

Disso resultante, apresentam-se os inumeráveis medos: da perda de emprego, de objetos valiosos ou de grande estima, de afeições compensadoras, da confiança nos demais, de amar...

O medo do desconhecido, do escuro, de altura, de pessoas, de multidões, de animais e insetos, que se apresentam como condutas fóbicas, são outros desafios perturbadores.

Acrescente-se a esses o medo de adoecer, de sofrer, de morrer...

Cultivados esses sentimentos, a existência torna-se um contínuo sofrimento, exatamente o que o indivíduo muito teme.

Assumisse-se, no entanto, a atitude do amor e constatar-se-ia que ele é o grande eliminador de qualquer expressão de receio e inquietação, porque oferece resistência moral para os enfrentamentos, para os fenômenos que fazem parte do processo de evolução.

Transitando-se num corpo de constituição molecular que se altera a cada segundo, no qual as mudanças processam-se continuamente, não há como adquirir-se estrutura de permanência, exceto quando o Self assume o comando consciente das funções orgânicas que lhe dizem respeito conduzir.

Mesmo em referência aos automatismos fisiológicos e psicológicos, que aparentemente independem da vontade, esta exerce tal predomínio na organização celular que, bemdirecionada, pode gerar novos condicionamentos, sobre os quais se podem estruturar hábitos de saúde e de bem-estar.

A mente indisciplinada e invigilante, não se habilitando a planificações profundas e de alto significado em torno dos ideais da beleza, do conhecimento, da religião, da investigação científica, da solidariedade humana, tende a cultivar os pavores que se lhe transformam em verdadeira paisagem de apresentação masoquista.

Perdem-se as excelentes oportunidades de viver-se integralmente o momento existencial com as suas dádivas, mesmo algumas que fazem parte do processo humano de evolução, receando o que possa acontecer no futuro e que, certamente, não sucederá, ou que assim sendo, nunca se apresentará conforme se pensou.

As conjunturas nas quais se manifestam os mais diversos fenômenos da vida definem-lhes a profundidade, o valor que lhes devem ser atribuídos, os efeitos que ficam.

No caleidoscópio das mudanças biológicas e emocionais, cada ocorrência expressa-se de maneira muito própria, variando de um para outro indivíduo, tendo em vista a sua constituição emocional.

Eis por que nunca se deve ou se pode avaliar com segurança como seria enfrentada uma situação calamitosa num paralelo pela forma como outrem a tem suportado.

O momento é sempre o grande definidor de forças.

Pessoas frágeis e amorosas conseguem superar situações desastrosas com uma coragem e fé surpreendentes, enquanto outras consideradas fortes e resistentes baqueiam diante de sucessos de pequena monta.

Nutrindo-se de autoconfiança pela valorização das próprias energias, podem-se desmascarar os medos que se apresentam em forma de ciúme - filho doentio da insegurança emocional —, da inveja - tormento do mesmo conflito de insegurança -, do ódio incapacidade de compreender e de desculpar -, do despeito — ausência de critério de autovalorização —, todos provenientes de imaturidade psicológica, de permanência no período infantil...

Esse peculiar sentimento de medo destrutivo de forma alguma impede que sucedam os transtornos porvindouros, razão por que, entre outras, deve ser combatido com toda decisão, desde que retira o prazer de viver.

A mudança de óptica em torno do seu desenvolvimento na emoção produz a redução de máscaras sob as quais se oculta o danoso inimigo.

Considerar-se que se têm os mesmos direitos de todo ser humano de fazer-se o que aprouver, desde que não agrida os interesses alheios, de proceder-se a escolhas e tomar-se decisões, constitui um passo decisivo para a superação do medo.

Quando, por alguma razão, não sejam essas as melhores, e os resultados apresentem-se frustrantes, em vez de desencorajamento, concluir-se pelos lucros e a experiência da tentativa, ensejandose maior campo de habilidades para futuras seleções e ações.

O terrível medo de amar, em face da possibilidade de sofrer-se a indiferença ou o desprezo da pessoa anelada ou mesmo do ideal elegido, que pode não ser compensador, de forma alguma proporciona satisfação, antes deixa tremenda angústia pelo não experimentado, pelo que ficará para sempre como desconhecido, que deveria ter sido vivenciado.

Pior do que amar e não receber resposta idêntica é o prejuízo de nunca haver amado.

Melhor que se haja vivido uma experiência cujos resultados não foram os mais agradáveis do que permanecer-se na incerteza de como seria tal realização.

Luta-se com o medo para evitá-lo, para contorná-lo, para superá-lo, mais do que se pensa conscientemente, gastando-se tempo valioso, que poderia ser aplicado em experiências que seriam exitosas, em forma de realizações não tentadas.

Fantasia-se a vida como uma viagem sem incidentes nem acidentes, o que não deixa de ser utópico e irreal.

O próprio ato de viver no corpo é firmado em processos desafiadores do organismo.

Na execução do programa de cada vida, todos tropeçam, sofrem decepções, insucessos, que são mestres hábeis no ensino dos mais eficientes meios para alcançar-se as metas a que se propõem.

Nada é fácil, sempre apresentando-se como recurso de aprendizagem e de evolução.

O medo, portanto, oculta-se na fantasia de tudo muito fácil, sem suores nem lágrimas, sem sofrimentos nem lutas, gerando incertezas em torno do ato de existir.

Não sendo superadas essas facetas do comportamento, podemse enumerar outros medos, quais o de falar em público, de comunicar-se com pessoas desconhecidas, da solidão...

São medos perversos e traiçoeiros, porque se amontoam uns sobre os outros, cada vez mais complexos e difíceis de solucionados, caso não sejam enfrentados desde as primeiras manifestações.

Certamente, todos têm planos e objetivos de felicidade que o medo ensombra e dificulta a realização.

Convém, no entanto, enfrentá-lo enquanto é possível realizar esses projetos, porque momento chega em que os recursos disponíveis de tempo, de saúde e de oportunidade já não existem mais.


Erradicação do medo

A coragem de manter contato com os próprios medos é recurso terapêutico muito valioso para a sua erradicação, ou, pelo menos, para a sua administração psicológica.

Graças aos medos aprende-se como fazer-se algo, o que realmente se deseja fazer e para que se quer realizar.

Desse modo, enquanto não se apresenta como transtorno patológico, que necessita de psicoterapia ou mesmo de terapêutica química, muitos recursos encontram-se ao alcance de quem os deseje para libertar-se dos medos.

A consciência de que se é portador do medo e se está disposto a enfrentar-lhe as nuanças e manifestações, apresenta-se como um passo inicial de excelentes resultados.

O prosseguimento da atitude de confiança em favor da sua liberação auxilia na conquista de espaço mental, substituindo-o por novos cometimentos e aspirações edificantes que se lhe opõem.

A vitória sobre qualquer conflito resulta de esforços ingentes e contínuos que o indivíduo se propõe com decisão e coragem.

Mesmo quando superado o medo, isso não significa a sua eliminação total e absoluta, pois que novas situações podem exigir precaução e vigilância que se apresentarão em forma de temor.

Alicerçadas nos bons resultados já conseguidos, as novas tentativas serão muito mais fáceis do que as iniciais.

A grande terapia para todos os tipos de medo é a do amor.

O amor a si mesmo, ao seu próximo e a Deus.

A si mesmo, de forma respeitosa e racional, considerando a utilidade da existência e o que a vida espera de cada um, desde que todos somente esperam da vida a sua contribuição.

Quando diminuam ou desapareçam as doações que a vida oferece, chega o momento da retribuição, no qual é preciso que se lhe dê sustentação, harmonia para que o melhor possa acontecer em relação aos demais.

Nesse raciocínio e doação expressa-se o amor ao próximo, mediante o qual a vida adquire sentido e o relacionamento se vitaliza; porque centrado no interesse pelo bem-estar do outro, irradia-se bondade e ternura em seu benefício, sem o propósito negocista de receber-se compensação.

Esse intercâmbio que une as criaturas umas às outras, leva-as à afeição pela Natureza e por todas as formas vivas ou não, alcançando o excelente amor a Deus, no esforço de preservação de tudo.

Alguns psiquiatras e psicólogos mais audaciosos reduzem todas as emoções humanas apenas ao medo e ao amor.

O amor é o antídoto eficaz para a superação do medo e a sua consequente eliminação.

Quando ama, o ser enriquece-se de coragem, embora não possa evitar os enfrentamentos em face dos impulsos edificantes que do amor emanam.

Assim, a solidariedade abre os braços fraternos em favor do próximo, experimentando-se valiosa fortuna de amar-se, desmascarando-se a artimanha do medo que o distanciava dessa emoção felicitadora.

Mantendo-se o sentimento de amor no imo, torna-se fácil converter desilusão em nova esperança e insucesso em experiência positiva.

Sempre que voltem os medos - e eles retornarão várias vezes, o que é muito útil -, porque fortalecido, o indivíduo com mais decisão e sabedoria os enfrenta, superando-os por completo.

Em face disso, a escolha é de cada um: o medo ou o amor, já que os dois não convivem no mesmo espaço emocional.

É comum ouvir-se alguém em queixa a respeito da própria capacidade de conhecimento, das possibilidades de realização pessoal, em face do medo de insucesso e de erro.

Muito pior é não tentar, não saber com segurança a respeito de si mesmo, preferindo a dúvida mesquinha.

Quando seja constatada a insuficiência de recursos para que o êxito coroe o esforço envidado, adquire-se o exato conhecimento de onde se encontra a falha ou a carência, podendo-se e devendose voltar aos tentames com novas cargas de que não se dispunha antes.

Considerando-se a possibilidade de alguns dos medos serem inspirados por adversários desencarnados, a oração-terapia gera um clima psíquico tão elevado que o opositor perde o contato com a vítima em face de esta erguer-se em superior onda vibratória, na qual não consegue ser alcançada pelo perseguidor espiritual.

Nessa faixa de poderoso psiquismo nutriente, haurem-se resistência e vitalidade para vencer-se os limites e vitalizar-se de forças para voos mais altos e audaciosos.

Toda vez que se equivoque, em vez de uma reação de raiva pelo erro, permita-se a compaixão como direito que se tem pelo erro cometido, considerando-se o estágio de humanidade em que se encontra e age.

Evite-se a postura intransigente de não se desculpar pelos feitos infelizes, pelas ações transtornadas.

Ninguém é exceção no mundo, vivenciando todos experiências equivalentes, que fazem parte do programa de elevação individual.

O medo da morte, por exemplo, que em muitos indivíduos se transforma em infelicidade, não deve permanecer como possibilidade em relação aos enfermos terminais que estão diante da certeza do desprendimento carnal.

Nada obstante, quem poderá avaliar quando irá suceder a morte deste ou daquele indivíduo?

Crianças e jovens saudáveis de um para outro momento são acometidos de enfermidades virulentas e rápidas que lhes ceifam a vida, enquanto pacientes em deplorável estado orgânico sobrevivem, expiam, decompõem-se quase em vida.

Ademais, os acidentes de todo tipo, quais aqueles que acontecem com veículos de diferente porte, os da Natureza, os de balas perdidas, os de quedas fatais, demonstram a fragilidade do corpo e a imprevisibilidade dos impositivos humanos.

O medo é sempre injustificável, seja como for que se expresse. Muitas vezes, as pessoas têm receio de aproximar-se de outras nas reuniões sociais, nos encontros de negócios, nas atividades quotidianas, sem recordar-se que também aquelas experimentam as mesmas emoções de incerteza e receio.

Se não as desvelam, é porque têm sido obrigadas por necessidades múltiplas a sobrepor-lhes os compromissos abraçados.

Se for considerado que muitos indivíduos venceram os seus medos, encontram-se formas estimulantes para a vitória sobre os próprios.

Na solidariedade estão igualmente os estímulos para o avanço, para a autoestima, para o encorajamento em favor de novos tentames de progresso.

Sempre que o medo permaneça, mais medo se acumula.

Na terapia do amor em relação ao medo, quanto mais se ama, naturalmente mais amor se tem a oferecer.

Mediante também a compaixão, que é diluente do medo, o ser humano torna-se mais digno e saudável.

Graças a esse sentimento que se expande na medida em que se ama, o ser engrandece-se e enriquece-se de vida, envolvendo-se em paz.




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