Triunfo Pessoal

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CAPÍTULO 4

Realização Interior

Ante os desatinos que assolam a sociedade, levando a criatura a tormentosas inquietações, evocamos o conceito do eminente psicanalista Sigmund Freud, quando estabeleceu que os indivíduos vivem à busca do prazer, especialmente aquele que decorre do conúbio sexual, mas que a realidade lhe impõe limite à capacidade de satisfazê-lo, e que parece indispensável. Esses dois princípios - o do prazer e o da realidade - seriam, pois; fundamentais para a interpretação da pessoa humana; auxiliando-a a compreender as próprias dificuldades quando na busca da sua realização.

Por outro lado, o seu discípulo dissidente, Alfred Adler; asseverou que a sociedade sofre de um pesado sentimento de inferioridade, e que, para realizar-se compensando esse complexo de inferioridade, procura alcançar o poder a qualquer preço. Ao atingir qualquer patamar de poder cada um se sente realizado; superando, portanto, o sentimento de inferioridade.

Freud, portanto, dava ênfase à busca da realização externa; enquanto Adler valorizava a de natureza interna.

Sem dúvida, há um grande desafio convidando o ser à autorrealização, que somente poderá ser conseguida me diante o descobrimento da sua realidade e dos seus valores, de forma que; ao identificar as próprias conquistas e deficiências, deverá trabalhar aquelas que lhe pesam perturbadoras no comportamento, a fim de melhor poder vencê-las.

Faz-se, então, imprescindível, concomitantemente, a serena observação do mundo externo, para avaliar as aspirações que acalenta, o significado existencial em que se encontra, o que lhe proporcionará, por consequência, alegria, prazer, felicidade, para sentir-se motivado a lutar, sem cuja conquista a existência não lhe terá significado.

O indivíduo possui estrutura psicológica para suportar qualquer perda, menos a do sentido existencial, porque, sem o seu estímulo, desaparecem a razão de viver e as metas a alcançar.

Todos devem anelar por conseguir objetivos mediante o conhecimento, o poder, a lucidez e outros diversos recursos, dê modo a superar os impedimentos internos, afligentes, no caso; qualquer que se apresente como decorrência do complexo de inferioridade. Diante dos limites impostos pela realidade, porém; que considera a exaltação perturbadora da posse como secundária para a vida, encontrar-se-á o auxílio interior para o enfrentamento das necessidades reais.

É comum àquele que padece do conflito de inferioridade acreditar que a festa bulhenta que tanto atrai os extrovertidos constituir-lhe-á a forma de felicidade que almeja conseguir. Nada obstante, os introvertidos veem nessas festas ruidosas nada mais que tormentos e dificuldades para a sua necessidade de interiorização.

Somente uma postura de equilibrado discernimento entre as fantasias externas e barulhentas e as fugas interiores sem sentido pelo receio de enfrentar a realidade é que poderá dar-lhe a dimensão do que é fundamental ou não para a alegria de viver.


Indivíduos 1ntrovertidos E Extrovertidos

O insigne mestre vienense, ao descobrir o poder de predominância do complexo de Édipo e, por extensão, do de Electra, do narcisismo, no comportamento humano, remontou à força das ocorrências mitológicas clássicas nas existências dos indivíduos masculinos e femininos, facultando-se a centralização do pensamento na libido como de fundamental importância para a compreensão da conduta psicológica e da realidade psíquica de cada ser. Estabeleceu, por consequência, um verdadeiro dogma centrado no sexo, não abrindo espaço para outra interpretação; que não aquela proposta, tornando-se essencial para a compreensão das graves psicopatologias humanas.

Havendo, porém, estudado uma variedade mais ampla de matérias, diferentemente de Freud, Jung preferiu avançar por outras áreas, adentrando-se na análise de outros instintos que contribuem para a formação da personalidade e para a exteriorização do comportamento. Concluiu, nessa análise, que nenhum deles mantinha uma predominância sobre os demais; como no caso daquele de natureza sexual, acreditando simultaneamente que havia no ser uma predestinação - a psique — encarregada de orientar o rumo das existências humanas.

Assim concluindo, identificou o liame entre ambos - o instinto e a psique — que seria responsável pelas expressões nobres ou vis no historiai das experiências humanas. Para tanto, recorreu ao conceito dos arquétipos existentes no inconsciente coletivo, cujas forças diversas conduzem os indivíduos, nunca as reduzindo a uma só e de natureza exclusiva como pensava Freud. Ainda seguindo o mesmo raciocínio, estabeleceu que eram esses arquétipos constituídos por estruturas eternas, que a mente pode decodificar para exteriorizar--se em forma de comportamento na realidade objetiva. Desse modo, postulou que existe reduzido número de biótipos humanos de natureza eterna, assim apresentando a tese fundamentada na existência de seres introvertidos e extrovertidos.

Quando o indivíduo avança no rumo do mundo exterior é considerado extrovertido, e quando o realiza no sentido inverso; torna-se introvertido. O primeiro é portador de uma atitude primária em relação à vida, enquanto o segundo mantém uma postura elementar interiorizada.

Todo indivíduo, desse modo, possui intimamente as duas opções, podendo mesmo movimentar-se entre ambas. Nada obstante, sempre escolhe uma delas para a manutenção do seu comportamento, no qual extravasa as suas necessidades emocionais.

O extrovertido prefere o meio agitado, barulhento, no qual se encontra em perfeita identidade, diferindo do introvertido que opta pelo silêncio, como essencial para a recuperação das forças e a renovação das atividades a que se dedica. São diferentes na conduta e movimentam-se em áreas mui diversas. Aquilo que a um agrada ao outro desgosta, excetuando-se quando ocorrem situações especiais que os movimentam transitoriamente no rumo oposto ao habitual, logo retornando ao comportamento básico.

Jung concluiu, então, que para a expressão de uma como de outra conduta, são essenciais o sentimento e o pensamento; constituídos por estruturas diferentes da personalidade; expressando formas independentes para cada qual, que se pode tornar extrovertido ou introvertido. Além dessas expressões internas, o indivíduo possui também a sensação e a intuição. A sensação resulta das informações que se exteriorizam através dos órgãos dos sentidos, sendo tudo aquilo que é percebido de maneira física, enquanto que a intuição resulta das informações que procedem do inconsciente, sem a necessidade do contato com as sensações.

Classificando em quatro essas funções, situa o indivíduo no mundo objetivo, elucidando, no entanto, que a sensação e a intuição são funções perceptíveis, usadas pelo sentimento e pelo pensamento encarregados de decodificá--las e classificar todas as informações adquiridas que o sentimento atribuirá significado e valor específicos.

Da mesma forma, o sentimento e o pensamento são considerados como funções racionais. A sensação e a intuição, no entanto, passam a ser denominadas como funções irracionais; constituindo mecanismos de acesso ao mundo externo para que o pensamento e o sentimento possam agir.

Analisando-as com cuidado, conclui-se que as funções são essenciais à vida do ser humano. Ao denominar algumas como irracionais, não o fez com o objetivo de as subestimar, pelo contrário, o de demonstrar-lhes o automatismo através do qual se expressam e que se faz independente da razão.

Analisando a função da intuição proposta por Jung, somos; entretanto, de parecer que a mesma procede do Self como percepção que abre as portas da paranormalidade para a aquisição dos conhecimentos que independem do sentimento, do pensamento e da sensação. Não estabelecida no cérebro; transcende-o, sendo por ele identificada e transferida para o mundo exterior, logo se apresentando de maneira inusitada; inabitual, inesperada.

Não raro, a característica do ser introvertido é a distração, o estado alfa, em que as circunstâncias externas não são significativas, muito comum em homens como Newton, Einstein e outros, que têm dificuldade de adaptação ao mundo denominado do senso prático. Quase sempre dependem das mulheres, o que os leva a sonhos nos quais se sentem devorados por elas...

No que diz respeito ao homem de pensamento extrovertido; constitui um biótipo que se vincula a regras estritas de comportamento, tornando-se excelente amigo, o que não ocorre quando é o sentimento que predomina na sua conduta, deixando a impressão de frivolidade, de irresponsabilidade, sentindo-se completamente à vontade nos ambientes festivos e barulhentos.

A função intuitiva, para Jung, é aquela que proporciona à pessoa a visão do futuro, a percepção de ocorrências que lhe podem ser úteis, não demonstrando maior interesse pelas coisas e acontecimentos atuais à sua volta, nem mesmo do passado; mas sim, pelos porvindouros. Se é extrovertido, sente-se realizado ao conceber e propor ocorrências que se deverão dar, tornando-se pioneiro, idealista, no entanto, sem demonstrar maior interesse por concretizá-las no mundo objetivo. Tratando-se de um intuitivo introvertido, parece-se com um profeta - nele se manifestam os dons espirituais — e se comporta de maneira especial. Em geral, os tipos introvertidos são desinteressados dos valores externos, das moedas, das relações que passam pela sua estrutura emocional, avançando no rumo das suas aspirações internas.

A partir da análise dos tipos psicológicos, Jung montou toda a sua doutrina, sendo aí o ponto inicial das suas pesquisas centradas no inconsciente coletivo, responsável pelas heranças antropossociopsicológicas do ser humano.


Complexo de inferioridade

Nos refolhos do inconsciente individual do ser estão registrados todos os acontecimentos referentes às existências transatas do Espírito em processo de evolução. Suas lutas e glórias imprimemse como conquistas inalienáveis de vitórias sobre as paixões e os limites que o tipificam, impulsionando-o a avanços mais significativos. Da mesma forma, suas quedas e fracassos, seus compromissos não atendidos e deveres transformados em desequilíbrios, que o levaram a comprometimentos infelizes; deixando marcas de desaires e perturbações na retaguarda; fixam-se-lhe nos painéis delicados, que ressumam nos novos mecanismos de crescimento como conflitos e complexos, ora de superioridade, quando foram positivos, ora de inferioridade; quando negativos, assinalando-o de forma grave, que o atormenta, no último caso, e, às vezes, o conduz ao desvario.

Quando se apresenta como complexo de superioridade, o distúrbio é de menor monta, podendo ser melhor trabalhado com uma psicoterapia apropriada, e vencida a situação sem maior desgaste psicológico, porque facilmente descobre a própria fragilidade ante as ocorrências existenciais e os acontecimentos cotidianos.

No que diz respeito ao complexo de inferioridade, o distúrbio é mais grave e apresenta-se como manifestação psicopatológica que requer cuidadoso trabalho psicoterapêutico.

As causas preponderantes, que se encontram no passado espiritual, agora ressurgem como fatores familiares e sociais que muito contribuem para o surgimento do complexo de inferioridade, sua fixação no imo do ser, que tanto aflige inúmeros indivíduos.

Os membros dos lares desajustados e perversos, normalmente elegem alguém na família para descarregar a pesada carga dos seus conflitos e infortúnios, elaborando mecanismos de perseguição, às vezes inconscientemente, repudiando algum dos seus parentes e atirando-lhe epítetos pejorativos, sistemática aversão, particularmente se é alguém introvertido, que não participa da algaravia nem dos distúrbios gerais.

Mantendo-se em reflexão ou em silêncio por falta de espontaneidade ou incapacidade de comunicação, é espicaçado e ferido nos seus sentimentos, introjetando as agressões e passando a vivenciar os sentimentos de inferioridade. Noutras vezes, os grupos sociais, vitimados pela sombra coletiva, em forma de hórrido preconceito racial, religioso, político, econômico; agridem aqueles a quem não aceitam, neles desenvolvendo esse mecanismo de fuga e de autopunição, que os tornam realmente inseguros nessa comunidade hostil onde se encontram, evitandoa e deixando-se perturbar pela situação afligente.

Permanece, dessa maneira, exposto pelas Leis da Vida ao escárnio, real ou imaginário, como processo de reparação dos abusos praticados, enquanto é convidado à autossuperação, caso invista na mudança de compreensão da realidade e dos critérios humanos, avançando no trabalho pela conquista de valores intelectuais, morais e profissionais.

Quando se dedica a provar que é digno e laborioso, consegue destacar-se com brilhantismo em todos os empreendimentos a que se afervora, realizando um grandioso empenho para a libertação da chaga psicológica, harmonizando-se e desenvolvendo a individuação.

Para o cometimento da individuação, porém, isso não lhe basta, tornando-se-lhe necessário bem administrar as funções diversas do sentimento, da sensação, da intuição e do pensamento até conseguir a harmonização.

Seria de crer-se que o tipo introvertido seja mais afeiçoado à função intelectual e que o extrovertido é mais afeito à sensação, o que constitui realidade. Todavia, há certa predominância dessas funções nesses indivíduos que irão trabalhar as demais para alcançarem a meta da sua individuação, e que são rotas variadas que podem e devem ser percorridas com interesse e cuidado para o logro em pauta.

Uma observação espírita sobre a questão auxiliará no entendimento dessa busca de individuação ou plenitude, arrancando do inconsciente coletivo, em todos existente, apenas aquelas situações tipificadoras de cada ser, que as conserva no seu inconsciente pessoal como conteúdo cármico, que lhe está exigindo correção e desenvolvimento útil.

O tipo introvertido sofre a função pensamento atormentado; que o considera indigno de viver ou de fruir as bênçãos que se encontram diante da mesa farta da Humanidade e se lhe apresentam escassas ou impossíveis de serem experimentadas.

A consciência de culpa que o atroa deve ser liberada pela função pensamento, rebuscando os fatores causais, que não serão facilmente detectáveis, assim adquirindo novos desenvolvimentos que oferecem segurança e dão valor existencial à sua forma de ser.

Ninguém nasce, na Terra, na atualidade, como uma tela em branco, na qual se irão registar futuros acontecimentos. O Self não é apenas um arquétipo-apuado, mas o Espírito com as experiências iniciais e profundas de processos anteriores, nos quais desenvolveu os pródromos do Deus interno nele vigente; em face da sua procedência divina desde a sua criação. É natural, portanto, que possua heranças, atavismos; reminiscências, inconsciente coletivo e pessoal, em face do largo trânsito do seu psiquismo no processo evolutivo ao longo dos milênios. Herdeiro de si mesmo, o Self é mais que um arquétipo; sendo o próprio ser espiritual precedente ao berço e sobrevivente ao túmulo.

Com esse conceito, entender-se-á melhor todos os mecanismos conflitivos e as aspirações libertadoras que caracterizam o ser pensante.


Fugas Da Realidade

No início da sua individuação, o ser humano pouco discerne sobre o que é a realidade. Nele permanece uma vaga percepção do que é real em relação ao que é imaginativo. Vivenciando mais a sensação, que lhe predomina no comportamento, o pensamento que o convida à reflexão, o sentimento que se expressa de acordo com o nível de consciência e a intuição que o capacita para vôos mais elevados, aturdem-no nas faixas dos desejos tormentosos ou nas frustrações, quando os mesmos não são realizados.

Inconscientemente, dá campo a fugas da realidade apoiado nos conflitos que defluem das experiências transatas, procedentes de outras reencarnações, buscando complementação para o de que sente falta, nos jogos futuristas da ilusão ou na entrega sem relutância aos apelos angustiantes do prazer hedonista, da libido desenfreada...

Diversos mecanismos de fuga da realidade se lhe apresentam convidativos, desde a transferência de culpa à introjeção das responsabilidades, à projeção da imagem deteriorada, à complementação fantasiosa, e sucessivamente...

Mediante esses mecanismos perturbadores derrapa em transtornos neuróticos que mais o afastam da realidade, levandoo a fixar o pensamento em detalhes mal trabalhados do seu desenvolvimento psicológico, que apresenta saídas de escape para evitar o enfrentamento consigo mesmo, com a realidade que é, e que mascara com a sombra individual de que se utiliza para ocultá-lo.

Fixa-se, nessa fuga da realidade, a preconceitos injustificáveis; permite-se o cultivo de superstições escravizadoras, apoia-se em muletas psicológicas, de maneira que as preocupações com formas e fórmulas comportamentais impedem--no de ser legítimo; autêntico, na exteriorização pessoal.

Quantos transtornos neuróticos, dessa atitude decorrentes, se instalam no comportamento, levando o paciente a um locus de dominação ambiental, ou de controle geométrico, ou de conduta desorganizada, ou de cálculo matemático?!...

Repete as ações automaticamente, sem que se dê conta; inquietando-se e insistindo nelas até se conscientizar de haver agido corretamente.

Ao se deitarem, por exemplo, apresentam-se-lhes dúvidas a respeito de haver ou não fechado a porta da rua, desligado o aparelho de televisão ou outro qualquer, e enquanto não forem verificá-lo, não conseguem adormecer.

Outros procuram objetos que estão com eles mesmos, que se encontram no corpo e desesperam-se buscando óculos que foram postos na testa, chaves de automóveis que se encontram na mão; ou que se preocupam em demasia por algo insignificante, mas que se lhes afigura de alta relevância!

São fenômenos psicológicos que traduzem fugas da realidade; produzidos por estresses e medos de enfrentamentos com o Si profundo.

Noutras vezes, tudo quanto acontece de desastroso em torno deles ou de referência à sua pessoa, autoculpam--se, assumindo a responsabilidade que não a têm, por não haverem pensado nesse insucesso, ou porque negligenciaram providências mediante as quais poderiam ter evitado a infeliz ocorrência.

Sofrem com essas situações, não se desculpando a irresponsabilidade, quando tudo isso está apenas no seu conflito íntimo perante a realidade.

Acompanhando espetáculos teatrais, cinematográficos; novelas ou dramas do cotidiano, introjetam o sofrimento das personagens que lhes parecem com as próprias existências, passando a viver os transtornos depressivos daqueles mitos, a que se entregam; infelizes e amargurados...

Comumente ocorre com outros pacientes o processo de transferência de culpa, através do qual acusam outras pessoas; atribuindo-lhes a responsabilidade pelo que lhes acontece de desagradável ou perturbador. E quando escasseiam esses responsáveis, logo direcionam a acusação para os governos, para o tempo, para a Natureza, para Deus...

Quando são portadores de debilidade orgânica, aplaudem os fortes e agressivos que realizam aquilo que não podem conseguir pela violência e perversidade; se trabalhando valores ético-morais de alto porte que os desafiam, assumem atitudes puritanas; tornando-se severos perseguidores dos outros, que vigiam com impiedade, imputando-lhes culpa nos atos mais simples que são vivenciados, porque lhes apresentam no íntimo com características de torpeza moral.

A individuação é um convite severo ao ser humano, que deve aprofundar reflexões em torno da sua existência como ser real e não imaginário ou fugaz, que é construtor das próprias realizações e que responde pelas consequências mórbidas da conduta irregular.

A necessidade de cuidadosa psicoterapia se impõe nesses casos, auxiliando o paciente a autodescobrir-se, a identificar as heranças pretéritas que assomam do inconsciente individual com caráter punitivo, e das quais busca libertar--se mediante essas fugas espetaculares, inconscientemente elaboradas, mas que se lhes tornam dominadoras no dia a dia existencial.

Cada vez mais se apresentam oportunas algumas das teses do admirável Maslow, que identificava a sociedade média como autorrealizada, não escrava de posses e valores externos, nem necessitada de agradecimentos quando nos seus melhores e mais fecundos momentos históricos. Naturalmente, a diversidade dos indivíduos que a constituem, conduz à convicção de que, não obstante as diferenças registadas em suas personalidades; sempre são portadores de anseios por uma vida feliz, embora as diversas maneiras de apresentar essa necessidade. Mesmo aqueles que não conseguem a autorrealização, são capazes de propor esquemas idênticos de busca e de comportamento.

Essa conclusão oferece uma perspectiva de realidade mais factível, em razão de auxiliar o ego a bem sincronizar--se com o Self, ou seja, proporciona uma agradável contribuição psicológica para que os anseios existenciais sejam compatíveis com as estruturas internas de cada qual, que assim conseguirá a autoidentificação.

A necessidade de superar a ilusão, de vencer a fuga da realidade, mediante bem-orientada psicoterapia, conduzirá o paciente a descobrir quem realmente é e quais são legitimamente os objetivos existenciais que deve buscar. O impositivo do vir a ser desenha-se-lhe, nesse período, como a meta a alcançar.

Entretanto, como fazer, e como dispor-se a essa conquista que parece, à primeira vista, sobre-humana?

A psique humana é, por demais, complexa, para ser abarcada de um só golpe, conquistada de uma só vez. Faz--se necessário; portanto, harmonizar o sentimento com o pensamento, a sensação com a intuição em um processo de identificação de valores de que cada qual se constitui, a fim de que se realize a individuação.

Como no inconsciente humano coletivo encontram--se as páginas vivas da História, as personalidades-símbolo da Humanidade, é possível a verificação de possibilidades, mediante a adoção de vultos-modelo que deverão ser seguidos pelo alto significado que possuem no íntimo de cada pessoa.

O esforço desprendido pelos indivíduos para atingirem esses modelos humanos, em razão da sua integridade, da sua grandeza, da sua capacidade de sacrifício, de honradez, de luta; torna-se-lhes a força que os impulsiona para conseguir a autorrealização, aquilo que os harmoniza e tranquiliza.

Superando a sombra e vencendo outros arquétipos aflitivos; liberta-se dapersonalidade-mana, aquela que é rica de fantasias; de misticismos, de crendices, não a transferindo para outrem; que passaria a ser o guru em quem projetaria as suas necessidades, impedindo-se de ser feliz.

Embora pareça que a depressão periodicamente encontra-se ao lado do equilíbrio emocional, apresentando--se em rápidos ou mais demorados estágios, qual aconteceu com Sócrates, Platão; Stuart Mill, Coleridge, Tolstoi, apenas para citar alguns, essa harmonização do ego com o Self responde pela autorrealizaçáo; evitando as fugas da realidade, sem conflitos nem perturbações da conduta.

A viagem na busca da identidade, da individuação, conscientiza o ser de que para alcançar a luz é necessário superar as trevas que frequentemente surgem pelo caminho, as heranças inevitáveis dos comportamentos pretéritos...

Desse modo, os indivíduos tornam-se mais seguros de si mesmos, portadores de melhores recursos na saúde; robustecidos de forças para enfrentar vicissitudes e ocorrências agressivas, não derrapando para o fosso da desistência da luta ou para o envolvimento nos tecidos fortes e sombrios da amargura.

O Self é possuidor de recursos desconhecidos e inestimáveis, e; desde que penetrado conscientemente, pode arrancar o indivíduo do fracasso e erguê-lo para o triunfo, sem deixar marcas aflitivas e inseguranças quanto ao futuro que lhe está reservado.

Esses indivíduos, que passam pelas experiências amargas, não se impedem de sofrer mais asperamente as situações e as ocorrências, no entanto, mais facilmente se libertam das injunções afligentes para se transferirem aos patamares da realidade a que aspiram tranquilos e ditosos.

Somente através do enfrentamento da realidade é que o proporciona paz a si mesmo, tornando o indivíduo realmente pleno.




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