Triunfo Pessoal

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CAPÍTULO 5

Enfrentamentos

A maturidade psicológica induz o ser humano aos enfrentamentos sucessivos do seu processo de individuação.

Torna-se-lhe imperioso mergulhar no inconsciente individual, a fim de descobrir-se e verificar as possibilidades de crescimento que se lhe encontram acessíveis, para os grandes momentos de transformação interior.

Jazem, nesse inconsciente, os fantasmas perturbadores, em forma de medo, ansiedade, insatisfação, insegurança, que o sitiam, a cada passo, dificultando-lhe o desabrochar dos sentimentos saudáveis.

Por outro lado, ali se encontram vibrantes as heranças que procedem de velhas crenças, ora superadas pela razão, mas que ressurgem e assomam em forma de perigosos adversários, que induzem às fugas espetaculares da realidade.

No Bhagavad Gita, Krishna adverte o discípulo Arjuna, quanto à necessidade de combater os vícios, esses adversários terríveis; que vivem no imo e impulsionam ao crime, à loucura. Parentes das virtudes, dos valores dignificantes, eles devem ser enfrentados com coragem e valor em batalha contínua no campo da consciência. O príncipe pândava, porém, reluta em destruir esses familiares que, de alguma forma, constituem o seu clã e fazem parte da sua vida. Nada obstante, o guru explica-lhe que a sua maturidade, a sua idade adulta exige esse sacrifício, por mais rude se lhe apresente.

O jovem não tem alternativa, senão lutar, enfrentar as imperfeições morais que lhe tisnam o caráter e entenebrecem os sentimentos.

Essas heranças que procedem dos instintos primários evoluíram e ressurgem como luxúria, ambição desmedida; volúpia, ódio, ressentimento, posse, desejo, todos geradores de profundos conflitos internos, que explodem em comportamentos alienadores.

É um empreendimento valioso detectar-se inimigos e desafios externos, convidando a lutas extenuantes e intérminas. No entanto, essa visão algo deformada da realidade resulta somente da transferência dos conflitos interiores, que o ser recusa enfrentar, assim tornando a sua uma tarefa mais ingrata, senão impossível de ser levada adiante com o êxito que seria de desejar.

Escamoteando-se os tormentos internos sob alegações não justificáveis, sugerem a paisagem humana como responsável por eles, quando se deveria assumir a coragem de responder pela sua existência originada nas experiências infelizes.

A explicação de que vêm dos outros, que perturbam e assaltam a paz de cada ser, possui mecanismos masoquistas, que permitem a autocomiseração, a autocompaixão, a infelicidade no seu dia a dia.

A autoconscientização, entretanto, constitui um passo avançado no terreno da saúde emocional e psíquica, trabalhando em favor da saúde orgânica.

Toda vez que alguém foge de um enfrentamento psicológico; encontrá-lo-á adiante mais desafiador e mais enraizado no Self aguardando solução equilibrada.

Cada dia, os avanços da evolução oferecem mais amplas possibilidades de conhecimento, mas também maior soma de desafios para adaptação, para superação de hábitos, para entrosamento.

As personalidades frágeis, que se acostumaram ao status quo; relutam para manter a existência nos velhos padrões, evitando assumir a nova realidade, refugiando-se, portanto, na sombra e perdendo a claridade que advém do auto crescimento, da vitória sobre as paixões afugentes.

Os enfrentamentos, desse modo, são campos de luta, nos quais o ser cresce e desenvolve os inestimáveis recursos adormecidos no Self que se encontram à sua espera para oferecerem a contribuição da paz do Nirvana.

A Conscientização Dos Arquétipos Primordiais Procedendo-se a uma análise comparativa a respeito do inconsciente coletivo ou psique objetiva com a erraticidade espiritual, encontrar-se-ão os arquétipos primordiais junguianos e outros, que seriam resultado das multifárias reencarnações do Self. Nesse reservatório profundo, demoram-se no inconsciente individual os registros daquelas experiências que ressumam como imagens arquetípicas em representações do que foi antes vivenciado, mescladas aos conteúdos psíquicos da atual vilegiatura física.

Ressurgem nos sonhos, como personificações de gênios; santos, fadas, nas representações do pai - o herói - e da mãe - a fada madrinha, a bruxa -, avultando-se em outras expressões perturbadoras, que a imaginação ativa pode liberar por meio de psicoterapia bem-orientada para a conscientização.

Esses registros nas camadas mais profundas da psique volvem nas reproduções oníricas e podem tomar corpo quando não analisadas corretamente, assumindo estados graves de transtorno psicótico agudo. Desse modo, qualquer complexo no comportamento pessoal que se avulta, é resultado de uma matriz arquetípica no inconsciente coletivo, herança de ações ignóbeis perpetradas pelo Self, o Homo totus, na vivência ancestral.

Esse mergulho para a ampliação da imagem arquetípica produzirá associações equivalentes, facultando ao ego experienciar as conexões sem perder-se no abismo dos conteúdos não identificados. Faz-se necessária, desse modo, uma vinculação profunda com o Self, que adquirirá maior conscientização dos relacionamentos indispensáveis com o seu núcleo na psique.

A anima/ animus ou alter ego é também o resultado dos impulsos e tendências que foram rejeitados pela família e pela sociedade, que se aglutinam, formando imagens que permanecem na superfície do inconsciente pessoal. Quando, em qualquer circunstância, uma porção de um par de opostos é conscientizada ou apresentada à luz do discernimento, a outra, a que não foi aceita, desce e, numa metáfora, transforma-se em sombra no inconsciente.

A sombra tormentosa, que resulta da consciência de culpa ou do desconhecido, tudo aquilo que é ignorado ou rejeitado com severidade, quando conscientizada, transforma as heranças instintivas em atos racionais, que irão contribuir para a formação de atitudes saudáveis, descomprometidas com as fobias e os receios, que se ocultam ou se desvelam nas diferentes formas de complexos...

A medida que os sonhos se apresentam liberando as imagens arquetípicas arquivadas, o paciente, mediante a imaginação ativa, decodifica as informações e atualiza os seus conteúdos para os aplicar corretamente no seu cotidiano.

Enquanto a consciência recusa-se aceitar os desafios ocultos nos refolhos do ser, mascarando as dificuldades e conflitos em aparências distantes da realidade, maior se faz a pressão desses conteúdos sobre o ego, perturbando lhe o comportamento.

Da mesma forma, esses resquícios da anima/animus merecem considerações lúcidas, de forma que sejam identificados com heranças de vivências em reencarnações transatas, que não foram absorvidas como deveriam pelo Si profundo.

No processo da evolução e, por todo o sempre, o Espírito é assexuado, experienciando as duas polaridades - responsáveis pela perpetuação da espécie humana —, nas quais a vigência de hormônios específicos encarrega-se de desenvolver aptidões ora físicas, morais, intelectuais, ora emocionais diferentes, a fim de realizar a individuação plena, desse modo, sintetizando os valores que decorrem de ambos os sexos em uma totalidade harmônica.

Um Espírito que se haja reencarnado por diversas vezes na masculinidade e, subitamente inicie experiências femininas; apresentará uma anatomia constituída pelos implementos correspondentes; no entanto, o seu será um psiquismo animus; mediante o qual revelará as potências acumuladas, que o propelem a atitudes masculinas, não obstante a sua constituição fisiológica feminil.

Nos casos opostos, o ser masculino herdará as experiências femininas, dando vitalidade à anima, que predominará em seus conteúdos psicológicos.

É muito provável que esse animus/anima, em supremacia psíquica sobre a organização anatômica, faculte ao indivíduo identificar-se como seu oposto em outro ser cuja organização fisiológica seja diversa da sua exteriorização psicológica.

Graças a essa identificação dos conteúdos arquetípicos, o homem, no uso de suas funções, mas de aparência frágil e compleição emocional gentil, em quem a anima se encontra prevalecente, irá vincular-se a uma mulher cujo animus desempenhe um papel de comando na área da personalidade e dos relacionamentos. O oposto também é real, pois que da mesma gênese, e de consequências idênticas.

Sem qualquer prejuízo para a saudável convivência sexual, os arquétipos complementam-se, produzindo harmonia, o que se torna perturbador, quando essa identificação não é levada em conta e a atração é mais física do que psicológica...

O malogro de muitos relacionamentos na área da afetividade tem a sua psicogênese nesse comportamento desidentificado que existe entre os parceiros, que se sentem defraudados nas suas aspirações inconscientes de equilíbrio e complementação emocional.

A integração dos conteúdos anima /animus, parcial que seja; proporciona melhor capacidade para lidar com a realidade das demais pessoas, tanto quanto da própria psique.

Multiplicam-se os casos nos quais as parcerias psicológicas são responsáveis pelos sucessos e desastres emocionais entre os indivíduos.

A conscientização da necessidade de conviver com pessoas que preencham as lacunas emocionais que existem na afetividade; auxiliará com segurança os relacionamentos humanos exitosos.

Enquanto a alma encontra-se encarnada projeta a persona; responsável pelo ego, sendo que o Self constitui a individualidade imortal.

Ao introjetar o conhecimento em torno das aspirações e objetivos existenciais, o ser enriquece-se enfrentando, além dos arquétipos ou imagens primordiais, todos aqueles incontáveis do seu dia a dia, no processo de amadurecimento e de desenvolvimento psicológico.

A imaginação ativa, examinando as ocorrências oníricas e relacionando-as com os acontecimentos do passado, próximo ou remoto, liberará parte do inconsciente pessoal, que ampliará o campo da razão e da lógica na consciência para novas afirmações e conquistas.

O ser humano é o legatário dos seus pensamentos e atos, que o acompanham fora do corpo, e que ressurgem nos instintos mais primários, qual ocorre com a vespa cavadora (Ammophilas), que prepara o recinto para a procriação, cavando um reduto durante várias semanas e cobrindo-o com um pequeno grão de terra. Logo depois voa, procurando uma larva que, após massagear e picar; conduz ao local onde a depõe viva, ali colocando os seus ovos, a fim de que as suas larvas, ao nascerem, alimentem-se de carne viva, porquanto a carne morta as mataria também. Ato contínuo; cobre o orifício de entrada onde estão os descendentes e segue adiante. Sabe, porém que a espécie continuará. Como o terá aprendido? Desde o começo que assim ocorre e prosseguirá até a sua extinção...

O mesmo fenômeno sucede com outros tantos insetos, peixes; batráquios, mamíferos...

No ser humano, porém, além do instinto, que exterioriza as imagens guardadas no inconsciente, induzindo a atitudes e comportamentos não conscientes, automáticos, que necessitam ser interpretados e direcionados corretamente para uma existência equilibrada, existe o Self, também reconhecido como o Deus em nós, lúcido e responsável, que deverá alcançar mais elevados patamares psíquicos em sublimação, na realização plena do numinoso.

Eis por que o conteúdo religioso é de vital importância na psicoterapia que dilui os arquétipos perturbadores e os conflitos inerentes às heranças nefastas do curso da evolução...

Essa proposta religiosa, no entanto, deverá ser libertadora, sem quaisquer imposições castradoras, que geram e vitalizam distúrbios de diferente ordem, e que se transformam em cargas psicopatológicas aflitivas.

Jesus, em desafiadora psicoterapia superior, propôs: -Busca a verdade e a verdade te libertará.

A verdade, porém, que é uma saudável proposta com mecanismo adequado para proporcionar a liberdade, começa no autoconhecimento e prossegue na identificação dos valores adormecidos e das aspirações existentes, a fim de os enriquecer com possibilidades numinosas. Só então será factível e verdadeira a busca do autoconhecimento nos relacionamentos felizes.


A luta contra as paixões primitivas

Uma psicoterapia eficiente libera o paciente não só dos conflitos, mas também das paixões primitivas, que passam a ser direcionadas com equilíbrio, transformando os impulsos inferiores em emoções de harmonia. As imagens arquetípicas que emergem do inconsciente pessoal, heranças algumas dos instintos agressivos que predominam em a natureza humana; resultantes do processo antropossociopsicológico, tornam-se diluídas pela razão, em um trabalho de conscientização das suas inclinações más e imediata superação, conforme acentua Allan Kardec, o ínclito codificador do Espiritismo.

Essas inclinações más ou tendências para atitudes primitivas; rebeldes, perturbadoras do equilíbrio emocional e moral, são heranças e atavismos insculpidos no Self em razão da larga trajetória evolutiva, em cujo curso experienciou o primarismo das formas ancestrais, mais instinto que razão, caracterizadas pelos impulsos automáticos do que pela lógica do discernimento.

Impregnando o ego com a sua carga de paixões asselvajadas; necessitam ser trabalhadas com afinco, a fim de que abandonem os alicerces do inconsciente, no qual se encontram, e possam ser dissolvidas, substituídas pelos mecanismos dos sentimentos de amor, de compaixão, de solidariedade.

Indutoras a reações, nas diversas situações do comportamento; também respondem por vários conflitos da personalidade, que são desencadeados pelo convívio no lar, na dependência da mãe castradora, da supermãe, do pai negligente e competitivo, ou mesmo nos confrontos da sociedade, em cujo grupo o ser se encontra situado para viver e desenvolver os valores pessoais.

Nos tormentos que assaltam esse indivíduo, ele se vê constrangido a fugir, a ocultar-se dos demais, ampliando a mágoa contra a sociedade e contra ele próprio, ampliando os sentimentos de amargura, de frustração e de rejeição, assim tornando-se agressivo, medroso e temperamental.

Alguns transtornos depressivos podem desenvolver-se nessa oportunidade, como resultado desses eventos de vida, que são assimilados pela natureza animal, desbordando em traumas e melancolias prenunciadores de distúrbios na área da afetividade.

A medida que o ego se faz consciente dos valores ínsitos no Self, torna-se factível uma programação saudável para o comportamento, trabalhando cada dificuldade, todo desafio; mediante a reconciliação com a sua realidade eterna.

Os fenômenos que parecem obstar o processo de maturação psicológica cedem lugar aos estímulos pelas conquistas que se operam, emulando a novas realizações edificantes que enriquecem de alegria os relacionamentos familiares, sociais e humanos em geral.

É uma forma de o paciente desencarcerar-se dos impulsos perniciosos, que somente contribuem para asselvajar--Ihe os sentimentos e emparedar-lhe as aspirações no estreito espaço das ambições tormentosas.

Não pode a sociedade adaptar-se a cada indivíduo, em razão dos seus estatutos de comportamento considerados positivos e saudáveis. Deve o ser identificar-se com a programação da sociedade, tornando-se autêntico nos seus valores, sem escamotear projetos ou desejos, assim evitando ferir o estabelecido que constitui norma de bom-tom e de paz para todo o grupo social.

Igualmente não é justo que assuma as características doentias da personalidade, em uma falsa necessidade de ser autêntico; antes faz-se imprescindível trabalhar essas expressões do primarismo de forma a ultrapassar a faixa dos instintos agressivos que, de alguma forma, permanecerão, porém sob outras manifestações produtoras de equilíbrio, em relação ao estabelecido socialmente.

Um equilibrado estado de saúde comportamental no homem sempre decorrerá da boa aceitação das ocorrências do dia a dia; tanto quanto de sentir-se incluído no grupo como membro atuante e produtivo, nada obstante as dificuldades que, de um para outro momento repontam, convidando-o à reflexão, à maturidade...

A necessidade de trabalhar as tendências primárias, os instintos dominantes e primitivos, torna-se intransferível em todos os indivíduos. Todo esse patrimônio psicológico ancestral que nele permanece, constitui-lhe patamar inicial do processo para a aquisição da consciência, que não pode ser violentado; sem graves prejuízos, no que diz respeito a outras manifestações que fazem parte da realidade dos próprios instintos.

Essa batalha íntima se faz possível graças aos estímulos que decorrem dos primeiros resultados, sempre salutares, quando são vencidas as etapas iniciais da luta interna que se processa com naturalidade.

Como não se podem preencher espaços ocupados, faz--se imperioso substituir cada impulso perturbador por um sentimento enobrecido, ampliando a área de compreensão da vida e disputando a harmonia no cometimento da saúde.

Merece seja evocada, novamente aqui, a já analisada sábia proposta de Krishna ao discípulo Arjuna, conforme narrada no Bhagavad Gita, quando o primeiro lhe refere que, na sua condição de príncipe pândava terá que lutar com destemor contra os familiares do grupo kuru, mesmo que esses sejam numericamente maiores. Não obstante o jovem candidato à plenitude desejasse a paz, foi tomado de temor por considerar que lhe seria impossível combater os demais membros da sua família, gerando uma tragédia de grande porte. Ademais; ignorava onde seria essa batalha vigorosa.

O Mestre, compassivo e sábio, no entanto, admoestou-o; informando que se tratava de familiares, sim, porque procedentes da mesma raiz, mas que os pândavas eram as virtudes, enquanto os kurus eram os vícios, nesse inter-relacionamento que se estreitava na causalidade dos fenômenos, mas que a vitória, sem dúvida, seria daqueles valores nobres, enquanto que a luta teria que ser travada no campo da consciência...

Esse momento do despertar da consciência para a realidade do Si, também significa a alegria de reconhecer a necessidade de libertar-se das paixões dissolventes, geradoras de tormentos; portanto, das negativas heranças do passado evolutivo.

Todo e qualquer empreendimento psicoterapêutico deve trabalhar em favor da libertação do paciente de quaisquer amarras e dependências conflitivas, tornando-o capaz de avançar vivenciando as impressões edificantes, mediante imagens arquetípicas que irão sendo insculpidas no seu inconsciente pessoal, superando aquelas que procedem do passado de perturbação e primarismo.


O vir a ser

O Self atual merece repetido, não é uma página em branco, na qual irão ser escritos os caracteres das necessidades humanas.

Herdeiro do psiquismo ínsito no inconsciente coletivo, é portador do seu próprio inconsciente pessoal, que são as experiências do processo evolutivo no curso dos renascimentos carnais.

Desde os primórdios do seu processo antropossociológico; quando se organizaram as moléculas responsáveis pelo cérebro réptil, que se formou ao impacto das ondas emitidas pelo Si profundo — a imagem e semelhança arquetípicas de Deus —, é portador de todos os valores profundos que se devem libertar da argamassa celular para atingirem o esplendor, a individuação, o numinoso.

Nessa fase de primarismo, as necessidades eram iniciais, e o automatismo governava os seres primevos, sem quaisquer complexidades que exigissem equipamentos mais sofisticados.

Esse processo se prolongou por algumas centenas de milhares de anos, firmando as características das necessidades nele então vigentes.

Posteriormente, à medida que desabrochavam as faculdades inatas, etapa após etapa, a matéria se foi adensando no períspirito ou modelo organizador biológico, dando surgimento ao cérebro mamífero, no qual se desenvolviam os pródromos do aparelho endocrínico, do cerebelo, da medula espinhal, para que melhor se expressassem as necessidades compatíveis com as formas em progressivo crescimento.

Só então surgiria, dezenas de milhares de anos transcorridos, o neocórtex, encarregado de programar as funções nobres do ser; como a inteligência, o sentimento, a memória, as aptidões elevadas, o discernimento, a consciência...

Desse modo, foi sendo escrita no Self através da longa jornada molecular guiada pelo Psiquismo Superior, nela existente em forma de princípio espiritual, toda a trajetória a percorrer com infinitas possibilidades de crescimento e transcendência.

Assemelha-se, esse processo, à experiência de alguém saindo de um túnel em sombras, avançando para as claridades do dia exuberante.

É esse princípio inteligente, causai e eterno, que programa as formas físicas e oferece direcionamento aos neurônios cerebrais; às glândulas de secreção endócrina e outros sensíveis equipamentos encarregados da decodificação do psiquismo.

Assim considerando, os argumentos da conceituação antiga da frenologia, que estabelecia a existência de áreas físicas definidas no cérebro para os vários mecanismos da inteligência, do sentimento, do movimento, felizmente ultrapassada desde a valiosa descoberta do centro da fala, por Pierre Paul Broca, em abril de 1864, abrindo espaço para novas e mais intrigantes conquistas. Assim mesmo, o cérebro prossegue desafiador na sua estrutura e contextura profunda, responsável pelas inextricáveis complexidades do ser e da sua vida.

Nada obstante, algumas áreas que correspondem a determinadas funções e finalidades, quais a memória, a inteligência, o sentimento e outras faculdades, não se encontram adstritas exclusivamente a localizações específicas; permanecendo distribuídas por todo o cérebro, que passa a apresentar-se como um verdadeiro holograma, no qual cada parte possui o conjunto, que muito bem o pode expressar...

Indubitavelmente, o passado programou no ser as necessidades da sua evolução, apontando-lhe uma finalidade, um objetivo que deve ser alcançado mediante todo o empenho da sua inteligência e do seu discernimento.

Deixando de lado os impulsos meramente instintivos que o vêm guiando através dos milênios, agora desperta para a razão; descobrindo a essencialidade da vida, que nele próprio se encontra como tendência inapelável - o seu destino - que é a harmonia, a plenitude ambicionada.

E inevitável que, durante essa trajetória, repontem as dificuldades, hoje ameaçadoras, que fizeram parte das conquistas pretéritas, e, no seu momento, foram os mecanismos de sobrevivência e de vitória do ser em relação ao meio hostil e aos semelhantes primitivos que o buscavam dizimar.

Ressumando através de imagens arquetípicas e complexos tormentosos, a psicoterapia constitui instrumento seguro para a recuperação de valores no paciente e a libertação dos traumas profundos que remanescem do pretérito, assim como das injunções penosas da hereditariedade, da vida perinatal, do convívio familial, que se encontram incursos nesses impositivos estabelecidos pela evolução.

Vencendo as impressões que permanecem do ontem, o seu vir a ser desenha-se atraente e enriquecedor, por propiciar-lhe metas idealistas que irão desenvolver os sentimentos e a inteligência; encarregados de selecionar os recursos que o podem impulsionar para a conquista da saúde integral e do equilíbrio social.

Ante as psicopatologias e transtornos da afetividade que aturdem o ser humano, procedentes dele mesmo, o esforço do paciente, dos seus familiares e da sociedade em conjunto deve ser estimulado, a fim de que se inicie um programa de ajuda mútua, de companheirismo fraternal e psicológico, trabalhandose pelo bem-estar geral.

Quanto possível, a liberação da culpa constitui elemento de harmonização interna, propondo novas diretrizes de trabalho interior para o crescimento pessoal, no que redundará o estabelecimento de novas metas que devem ser vencidas, a passo e passo, sem castração nem ansiedade, sem tormento nem vacilação, o que seria igualmente perturbador se ocorresse em desalinho emocional.

A conquista do amanhã é relevante para o ser, que se sente impulsionado a vencer os desafios atuais, porque então a sua existência dispõe de sentido e de significado real.

Descobrindo-se capaz de amar e percebendo-se amado - o que não ocorre no período do transtorno da afetividade — o paciente fica estimulado a avançar, porque agora, desalgemado dos conflitos que o infelicitavam, encontra razão para prosseguir em paz.

Ninguém vive realmente sem objetivo existencial. Pode-se ser desamado, nunca, porém, perder-se o sentido do amor.

O ser humano suporta qualquer tipo de perda, naturalmente dentro dos seus limites emocionais, não, porém, a perda do objetivo existencial.

Os instrumentos do otimismo, sem abuso ou exagero, da confiança, sem a irresponsabilidade que leva aos desatinos, da alegria, sem as ambições do gozo excessivo ou da inibição, da busca da autorrealização, sem fugas do mundo nem exacerbação dos seus convites, da esperança, sem a resignação estática dos inúteis ou a aflição dos desarvorados, constituem meios eficazes para se trabalhar o próprio vir a ser.

Uma visualização correta dos planos que podem ser antecipados pelo pensamento, gerando imagens ideais para a existência, na saúde, no trabalho, na sociedade, no comportamento, faz-se psicoterapia edificante para ser alcançada a posição que se anela. Isto porque, as imagens construídas no psiquismo terminam por impregnar o superconsciente e alimentá-lo, auxiliando o ego a superar as constrições impostas pelos fenômenos decorrentes do curso existencial.

Se o indivíduo perde a motivação para o crescimento interno e a conquista de valores externos, porque se encontra sob recriminação e culpa incerteza e desinteresse existencial, a sua se torna uma jornada exaustiva e enfermiça, porque destituída de ideais e de realizações.

A existência saudável é dinâmica, referta de ações exi-tosas e malsucedidas, que se inter-relacionam em um panorama de acertos e de erros, enganos esses que se convertem em aprendizagem para futuras conquistas que enobrecem o ser humano.

A vida sem sentido é uma experiência sem vida.

O vir a ser dá sentido existencial à vida, promovendo-a e dignificando-a, tornando-a saudável e bela.

Estabelecido, portanto, um roteiro psicoterapêutico valioso, ou organizada uma simples proposta de bem-estar pessoal, o vir a ser é essencial na estruturação da saúde do indivíduo, que se trabalha motivado para alcançar o objetivo da existência humana, que é a busca da felicidade.




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