Triunfo Pessoal

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CAPÍTULO 7

Distúrbios coletivos

Em uma linguagem poética, pode-se afirmar que o ser humano está fadado às estrelas. Todavia, porque começou do barro da terra, a sua ascensão é lenta e transformadora na estrutura da aparência através da luminosidade da essência de que se constitui.

Emergindo da escuridão para a claridade, se vai despojando de fora para dentro dos envoltórios que o revestem, tornando-se mais sutil e delicado, à medida que se liberta das couraças mais vigorosas, qual uma cebola (Allium cepa) que, para ser alcançado o núcleo de vida, é necessário retirar-lhe a casca e as túnicas carnosas que o resguardam das agressões do exterior.

Algumas doutrinas espiritualistas, talvez, por isso mesmo; referem-se ao conjunto de camadas ou corpos que vestem o Espírito, atribuindo-lhe sete envoltórios: físico, astral, mental; búdico, nirvânico, monádico e divino. Alguns se apresentando sob outras denominações e com subdivisões, que se interdependem, sendo libertados, um a um, após a morte do invólucro carnal, e mediante a superação dos remanescentes até às estruturas reais, espirituais, que facultam o estado de Plenitude.

A Ciência espírita, através da Codificação proposta por Allan Kardec, após estudos e reflexões cuidadosos, apresenta apenas três desses elementos como constitutivos do ser, algures já referidos: Espírito, períspirito e matéria.


A sede da inteligência, o ser em si mesmo, é o Espírito - Self —

fonte geradora da vida e portadora de inexauríveis recursos que devem ser penetrados e utilizados no processo da evolução; períspirito ou corpo semimaterial, que sedia as experiências e as registra, transferindo-as de uma para outra existência, veículo modelador da forma, que imprime no futuro instrumento material as necessidades que se lhe fazem imperiosas para a superação das tendências primitivas, das paixões dissolventes; dos vícios adquiridos durante o percurso da jornada evolutiva; e o corpo físico, encarregado de envolver os anteriores; experimentando os conteúdos que procedem do ser espiritual que é e se manifestam no soma em que transita.

Nessa trilogia singela, mas complexa, possuem-se os elementos para a compreensão de todos os processos psicopatológicos como os da saúde integral, que dizem respeito aos mecanismos do continuum da evolução.

O ser humano é, portanto, o que elabora no âmago do Espírito; que transfere por meio do corpo intermediário para a vida física as impressões, pensamentos, palavras e ações, que tipificam o estágio evolutivo em que se encontra durante cada vilegiatura carnal.

Desde os primeiros impulsos da inteligência até as momentosas construções da intuição, o Espírito ou Self é o construtor das ocorrências que lhe dizem respeito, gerando e desenvolvendo os instrumentos hábeis para o crescimento e amplitude das aspirações de felicidade e de paz que lhe jazem em latência, porque procedente de Deus.

Desse modo, nele se insculpem os programas que elaboram alegria ou tristeza, saúde ou doença, todos transitórios no rumo da sua suprema realização espiritual.


Terrorismo

Em face da predominância da natureza animal sobre a espiritual e do desbordar das paixões, o ser humano, em determinados estágios da evolução, mantém as heranças primevas, os instintos primários que sobrepujam os valiosos tesouros da inteligência, do discernimento, da razão, da consciência. São eles que dão campo ao desenvolvimento da perversidade que não trepida em matar; de forma que a sua truculência emocional prevaleça.

A ausência dos sentimentos que engrandecem o indivíduo, o desvio para as estruturas esquizofrênicas, liberam as forças hediondas do primitivismo que se impõe pela tirania, abraçando o fanatismo que o caracteriza como primário, possuindo, a partir de então, um objetivo estimulador para dar campo ao que lhe é característica de evolução em nível inferior do processo de cultura e de emoção.

Pode, não poucas vezes, desenvolver a inteligência, adquirir conhecimento tecnológico, abraçando causas que parecem nobres, mas que somente constituem fugas do conflito perturbador para exibir a turbulência interior, a odiosidade que preserva no íntimo em relação aos demais com quem convive ou não e, por extensão, contra toda a sociedade.

Em razão da estrutura psicológica mórbida, possui graves desvios da libido, invariavelmente atormentado nas suas manifestações, com severos distúrbios das funções sexuais; ocultando o vazio existencial na exorbitância dos instintos agressivos nos quais se compraz.

Frio, emocionalmente, perverso, porque insano, não possuindo qualquer amor à vida, faz-se odiar, porque se sente incapaz de despertar qualquer sentimento de amor, desencadeando a erupção da selvageria interna, que o promove a uma situação de destaque, na qual transita rapidamente, porque detesta a vida e todas as suas conquistas.

Exilando-se em antros sórdidos onde se refugia, repetindo o inconsciente pessoal que busca esconder-se por sentir-se inferior; incapaz de despertar qualquer interesse digno dos seus coevos, o terrorista é um psicopata congênito, mesmo que se expresse como portador de equilíbrio que bem disfarça, em razão das peculiaridades de toda uma existência de simulação, na qual esteve assinalado pela covardia e desespero íntimo de saber-se não aceito, que é o ressumar do conflito de inferioridade.

Naturalmente, como decorrência da sua insânia, pode fomentar o surgimento de outros portadores dos mesmos sentimentos de perversidade, trabalhando a infância e a juventude — materiais humanos muito próprios - mediante os processos da lavagem cerebral, induzindo a ódios irracionais e necessidade de destruição, que se iniciam pela perda do sentido existencial, que somente possui significado até o momento de alcançar a sua meta destrutiva.

Incapaz de amar, porque se sente ancestralmente odiado; desenvolve perturbação do discernimento, por meio de cuja óptica os acontecimentos e as demais pessoas são todos adversários que devem desaparecer, quando também ele sucumbirá.

A sua fidelidade tem uma existência precária e veloz; mantendo-se enquanto a serviço da loucura que desenvolve; apresentando-se sempre desconfiada e insegura, porque não possui resposta emocional equivalente, nunca se entregando a outrem, por mais que encontre receptividade e afeição.

O terrorista, qual ocorre com o ditador, o sicário, o vândalo; tem existência tumultuada, que é sempre encerrada por homicídio violento ou mediante o suicídio ominoso, inqualificável.

São também terroristas aqueles indivíduos que, não obstante desconhecidos, espalham o medo, aproveitando--se das situações aflitivas para os demais; aqueloutros que geram a insegurança de qualquer natureza; também os ricos que exorbitam no comércio; submetendo os grupos humanos sem recursos ao seu talante; esses vis caluniadores que promovem o ódio; todos aqueles que permitem extermínios, mediante assassinatos inconcebíveis; os assaltantes inconsequentes e maus, que espalham o pavor; os estupradores perversos, e não poucos indivíduos que, apesar de fazerem parte da sociedade, encontram-se enfermos em estado grave...

Caso se permitisse terapia própria, o terrorista desenvolveria o sentimento do amor nele existente, mas não cuidado; conseguindo ultrapassar o nível de hediondez para o da fraternidade, saindo da consciência de sono para outro patamar de lucidez, de despertamento.

Ainda, nesse caso, defronta-se um Self em manifestação primitiva, com todas as expressões de beleza soterradas no inconsciente pessoal, que se transferem de uma existência física para outra sob ódio incoercível, em razão de alguma injustiça ou calamidade vivenciada e não absorvida pela razão.

O amor que a Humanidade lhe ofereça será a terapia mais segura para diminuir-lhe a angústia. Ao invés do revide pelo ódio; que mais lhe aguça os instintos repressores, o amor alcança-o suavemente e deixa de lhe vitalizar o ressentimento contra a sociedade, que o torna herói de fancaria, insignificante, mas hediondo, atormentado e desditoso.


Síndrome do estresse pós-traumático

Há, na emotividade do ser humano, muita fragilidade psicológica. Ocorrências sutis e graves fazem desencadear conflitos adormecidos no seu inconsciente pessoal, transformando-se em transtornos perturbadores. Trata-se de forças impessoais retidas no abismo do inconsciente. Enquanto isso, as experiências também transcorrem em um estado de saudável inconsciência, porquanto essas forças nunca se exteriorizam nos períodos de normalidade e de equilíbrio. No indivíduo solitário; apresentam-se menos graves, no entanto, quando ele se une à massa e ocorre o desencadear desses mecanismos automáticos; irrompem, demolidores, como gigantes ciclópicos que alucinam e destroem. São eles que fomentam as guerras, as tragédias devastadoras, os massacres, as carnificinas...

Quando sucede esse eclodir de forças coletivas retidas, os indivíduos passam por uma inesperada transformação. Pessoas pacatas fazem-se violentas, as gentis tornam-se agressivas; assumindo situações de loucura, na condição de portadoras de verdadeiro desvario que surpreende. Dominadas pela ferocidade que as vence, tornam-se asselvajadas.

A criatura, de alguma forma, vive sobre um vulcão aparentemente extinto — o seu inconsciente, mas o interior está em processo de erupção, desde que a camada superficial seja arrebentada ou algo lhe desencadeie o emergir do magma incandescente que se encontra no seu interior.

No indivíduo, isoladamente, basta um transtorno neurótico para alavancar e fazer irromper do inconsciente esse tipo de energia retida e ignorada.

Graças a essa força, ocorrem as fixações que se tornam doenças neuróticas, transtornando a existência das suas vítimas; que não se conformam em ser saudáveis, porque, sofrendo a constrição da psique em desalinho, passam a vivenciar imagens torpes que se lhes tornam realidade.

Quando têm vigência, por outro lado, grandes desastres, as calamidades que atingem multidões, a ansiedade e o medo de serem alcançados pela infelicidade fazem que essas mesmas pessoas experimentem síndromes de estresse pós--traumático; atirando-as em buscas frenéticas de salvação.

Apresentam-se como sintomáticos, a revivescência da tragédia; em forma de evocação invasiva, de pesadelos, de sonhos interrompidos, nos quais se repetem as calamidades, como decorrência de um adormecimento psíquico, em razão do aturdimento emocional e da insensibilidade, bem como resultante dos esforços que se fazem para que sejam evitadas quaisquer formas de recordação do episódio traumatizante.

Nas sociedades mais esclarecidas intelectualmente, os pacientes recorrem às leituras religiosas, nas quais tentam encontrar paz e relaxamento das tensões, em obras de autoajuda, com propostas confortadoras e ricas de esperança; estimulando-as à autoestima, à auto conquista - porque os valores externos perderam o significado e deixaram de constituir a segurança a que se entregavam —, ou desbordam nos jogos sexuais, tentando liberar-se dos medos que as assaltam.

Por outro lado, aqueles pacientes que viviam sob os camartelos da ansiedade e da depressão, diante desses acontecimentos ficam sujeitos a uma melhora no seu estado geral, porque, ao analisarem o seu problema individual ante o colosso como se apresenta a tragédia dos outros, esse problema perde quase o sentido, em face da sua insignificância, e apresenta--se sem maior representação, devendo ser deixado de lado.

Pacientes que se recusavam pelo medo a determinadas experiências humanas, tais como as viagens, os negócios, os empreendimentos comunitários, após essas ocorrências calamitosas sentem-se estimulados a realizá-las, e normalmente as conseguem, tornando natural o que antes era desafiador.

O mesmo fenômeno ocorre em relação ao sexo após esses acontecimentos desastrosos, porque os indivíduos passam a sentir necessidade de mais se relacionarem, uns com os outros; embora alguns receios que lhes remanescem, de se apoiarem reciprocamente, de aproveitarem o tempo que lhes restam; apaixonando-se com maior facilidade e entregando-se aos prazeres, logo que passam aqueles momentos mais tormentosos e apavorantes. Somente o fato de se darem conta que, não obstante a desgraça coletiva, encontram-se vivos, isso lhes constitui um forte motivo para lutar e, continuar vivendo.

Diversa, porém, é a ocorrência em personalidades mórbidas; que, movidas por autocomiseração e complexo de culpa, porque se permitem a entrega ao desânimo e ao pessimismo, adotam a atitude de que a vida não vale ser vivida, porquanto, de um para outro instante, tudo pode retornar ao caos.

Após a Segunda Guerra Mundial, manifestava-se esse fenômeno como medo da bomba que viria dizimar o mundo. Na atualidade, ao lado dos diversos mecanismos bélicos e da guerra sofisticada, o conflito apresenta-se mais feroz, pela incerteza de como ocorrerá a sua consumpção, especialmente ante as ameaças dos artefatos que levam ao extermínio químico ou biológico.

Essa síndrome de estresse pós-traumático, não obstante os danos que produzem no sistema emocional das criaturas, pode; quando recebe a conveniente psicoterapia, induzir ao descobrimento dos valores que a vida reserva a todos e que passam despercebidos ante os avanços da tecnologia e os interesses meramente hedonistas a que se tem apegado a sociedade.

Essa síndrome pode variar entre a ocorrência perturbadora e a sua instalação em semanas e até mesmo em meses, podendo, em alguns casos, o transtorno tornar-se crônico.


Vingança

Quando algo acontece perturbador, gerando sofrimento no indivíduo, ou a sua imaturidade psicológica se sente ameaçada por algo muito forte, mesmo raciocinando conscientemente, não se furta às manifestações desconhecidas do seu inconsciente que exige reparação, desforço, o aniquilamento do opositor. O seu lado racional procura resistir, por identificar essa falha do caráter, mas aqueloutro, o sombrio e desconhecido da personalidade, que tem manifestações inesperadas e de todo inconsequentes, arma ciladas, estabelece ardis e atira o ser nos desvarios da vingança de consequências sempre perturbadoras.

Os impulsos irrompem-lhe de áreas desconhecidas do ego, que não consegue identificação com o Si-mesmo, e induzem-no a um trabalho perseverante de odiosidade, instaurando-lhe no imo revolta e desconforto ante esse que se lhe apresenta como perigo para sua segurança, merecendo, portanto, ser destruído.

O fenômeno ocorre, tanto no indivíduo como nas massas, em pessoas como em nações, dando surgimento às guerras nefastas e hediondas, nas quais todos são prejudicados por gerações que se sucedem, tais as sequelas que ficam após o armistício...

No indivíduo, esse transtorno recorrente é perverso mecanismo conflitivo que somente induz ao desespero, e mesmo quando o outro, aquele a quem é inamistoso se rende ou é aniquilado, não desaparecem os efeitos desastrosos dos seus sentimentos perversos, frustrando a quem aparentemente estaria vitorioso.

Invariavelmente neurótico, o enfermo que assim age, vitimado pela repressão sexual infantil ou dominado pela necessidade do poder e da ambição, compete com os demais, aos quais passa a invejar, por se encontrarem em melhores condições psicológicas do que ele. Pode aceitá-los como amigos, enquanto os manipula; sentindo-se beneficiado pela sua dependência, jamais quando se erguem, tornando-se dons quixotes em suas lutas desiguais contra os gigantes simbolizados nos moinhos dos ventos da insensatez.

A vingança é transtorno neurótico soez, que liberta do inconsciente as forças desordenadas aí adormecidas, irrompendo com ferocidade e ligeireza sob o estímulo do combate ao inimigo.

É curioso notar que o inimigo não é aquele que se torna combatido, mas o inconsciente transfere dos seus arcanos a inferioridade do ser, que é inimigo do progresso, do bem, da ordem, para atirar noutrem, em fenômeno de projeção e que guarda internamente, detestando-o.

Ao armar-se de calúnia e de mecanismos de perseguição contra aquele a quem passa a odiar, está realizando uma luta inconsciente contra si mesmo, aquele outro que está escondido no lado escuro da sua personalidade, que se lhe demora oculto na sombra.

Fixa-se no adversário com implacabilidade, e suas metas se reduzem a essa inglória batalha pela sua extinção, do que dependerá a sua liberdade, a partir desse momento. Assim; transtornado, emite ondas deletérias contra o outro; estabelecendo uma comunicação psíquica, se encontra receptividade em quem lhe padece a campanha, que termina por minar as forças daquele que considera seu opositor.

Além da inferioridade moral que tipifica o vingador, o seu primarismo emocional elabora razões ponderosas que lhe surgem na mente em desalinho para dar prosseguimento à façanha; nascidas no inconsciente pessoal profundo, que remanescem de outras existências do Self quando se desarmonizou com este a quem ora enfrenta e desafia para o duelo covarde. Em outras situações, a inferioridade se levanta, e não se sentindo possuidor de recursos para competir mediante valores significativos, cultiva a antipatia que se avoluma e a transforma em fúria, que somente se aplaca quando está lutando contra aquele que o atormenta; mesmo que esse não o saiba, que não tenha a intenção de assim proceder, pois que ignora a situação infeliz do seu adversário.

Se, por acaso, for levado ao sentido de harmonização com o inimigo, não o perdoa interiormente, embora seja quem merece ser perdoado, ruminando o que considera a sua derrota até encontrar novos argumentos para dar prosseguimento à sanha doentia da sua libido atormentada.

Aqueles que se apoiam em mecanismos vingativos sempre foram vítimas de repressão infantil e juvenil, sentiram-se desprezados pelo grupo social e transferem agora suas frustrações para quaisquer outros, desde que isso os transforme em pessoas portadoras de poder e ambiciosos dirigentes de qualquer coisa, em que a personalidade doentia passa a ser homenageada, fruindo de destaque, embora a conduta esquizoide, maneirosa, falsamente humilde ou pretensiosamente dominadora.

Sujeitos a esgares ou a convulsões epilépticas, ou a simples ausências, são personalidades psicopatas perigosas, porque traiçoeiras, que sabem simular muito bem os sentimentos íntimos e urdem planos macabros sob o açodar da psique ambivalente, doentia, dissociada e com predomínio da faceta mórbida.

Todo um trabalho psicoterapêutico profundo deve ser apresentado como proposta de recuperação para pacientes dessa natureza, remontando-se a uma psicanálise que lhes chegue à infância, de forma a erradicar pela catarse os traumas e conflitos arraigados, assim alterando-lhes a conduta pessoal com base em novos valores que lhes serão apresentados de maneira afável e duradoura, não raro com ajuda também de terapia psiquiátrica para a remoção de possíveis extratos epilépticos ou esquizofrênicos, que se fazem necessitados de fármacos e barbitúricos específicos.

O amor — que tudo fazem para não conseguir — igualmente élhes muito valioso, embora reajam por desconfiança e ambivalência de conduta, gerando no enfermo um clima de simpatia e amizade, normalmente difícil de estruturado, em razão dos muitos tormentos que o avassalam.




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