Vida: Desafios e Soluções

Versão para cópia
CAPÍTULO 10

A Busca Da Realidade

O ser humano, em razão dos atavismos, do adormecimento da consciência, não tem sabido eleger o que é fundamental para a sua existência transitória no mundo, nem para a sua realidade como ser imortal.

Atua por automatismos na busca do prazer e encoraja-se a realizar experiências libertadoras sem entregar-se plenamente a essa meta que lhe deveria constituir o objetivo essencial da sua reencarnação.

Aprisionado no corpo, que lhe serve de escafandro especial para o desenvolvimento dos valores morais na Terra, tem dificuldade de ensaiar as emoções superiores, que lhe podem proporcionar equilíbrio psíquico, e, por consequência, grande bem-estar físico, mesmo que sob os flagícios das enfermidades, que lhe constituem processo depurador da organização biológica.

A forma, no mundo corporal, está sempre em processo de transformação em todas as áreas e é inevitável que a enfermidade como desgaste visite-lhe a roupagem orgânica, impondo-lhe as sensações desagradáveis de dor e insatisfação.

Todavia, se consegue harmonizar-se com o Cosmo, graças à perfeita sintonia entre o Si e o Infinito, supera essas constrições de breve duração para viver as elevadas manifestações do gozo interior, modificando a escala axiológica habitual e passando a valorizar aquilo que lhe é duradouro acenando-lhe com os projetos da imortalidade.

Não se trata de uma visão teórica, mas é factual essa sobrevivência à destruição molecular, impulsionando desde agora à introjeção das conquistas pessoais relevantes, de forma que a conduta seja desenvolvida dentro de um programa criterioso e lúcido de objetivos definidos, que irão sendo conquistados de maneira consciente.

Essa realidade deve ser buscada como necessidade básica do seu processo de evolução, que não deve ser transferido sitie die, tendo em vista a própria transitoriedade do corpo físico, no qual se encontra mergulhado.


Necessidades Humanas

O ser humano estabeleceu como necessidades próprias da sua vida aquelas que dizem respeito aos fenômenos fisiológicos, com toda a sua gama de imposições: alimentação, habitação, agasalho, segurança, reprodução, bem-estar, posição social.

Poderemos denominar essas necessidades como imediatas ou inferiores, sob os pontos de vista psicológico e ético-estético.

Inevitavelmente, a conquista dessas necessidades não plenifica integralmente o ser e surgem aqueloutras de caráter superior, que independem dos conteúdos palpáveis imediatos: a beleza, a harmonia, a cultura, a arte, a religião, a entrega espiritual.

Toda a herança antropológica se situa nos automatismos básicos da sobrevivência no corpo, na luta com as demais espécies, na previdência mediante armazenamento de produtos que lhe garantam a continuação da vida, na procriação e defesa dos filhos, da propriedade...

Para que pudesse prosseguir em garantia, tornou-se belicoso e desconfiado, desenvolvendo o instinto de conservação, desde o aprimorar do olfato até a percepção intuitiva do perigo.

Desenhadas no seu mundo interior essas necessidades básicas, indispensáveis à vida, entrega-se a uma luta incessante, feita, muitas vezes, de sofrimentos sem termos, por lhe faltarem reflexão e capacidade de identificação do real e do secundário.

Aprisionado no círculo estreito dessas necessidades, mesmo quando intelectualizado, sua escala de valores permanece igual, sem haver sofrido a alteração transformadora de objetivos e conquistas.

Todas as suas realizações podem ser resumidas nesses princípios fisiológicos, inferiores, de resultado imediato e significado veloz.

Atormenta-se, quando tem tudo organizado e em excesso, dominado pelo medo de perder, de ser usurpado, e atira-se na volúpia desequilibrada de querer mais, de reunir muito mais, precatando-se contra as chamadas incertezas da sorte e da vida.

Se experimenta carência, porque não conseguiu amealhar quanto desejaria, a fim de desfrutar de segurança, aflige-se, por perceber-se desequipado dos recursos que levam à tranquilidade, em terrível engodo de conceituação da vida e das suas metas.

Ninguém pode viver, é certo, sem o mínimo de recursos materiais, uma existência digna, social e equilibrada.

Mas, esse mínimo de recursos pode atender e sustentar outros valores psicológicos, superiores, que situam o ser acima das circunstâncias oscilantes do ter e do deixar de ter.

A grande preocupação deverá ser de referência a como conduzir-se diante dos desafios da sua realidade, não excogitada como essencial para a própria auto identificação, autorrealização integral.

A luta cotidiana produz resultados imediatos, que contribuem para atender as necessidades básicas da existência, mas é indispensável alongar-se na conquista de outras importantes exigências da evolução, que são as de natureza psicológica, que transcendem lugar, situação, posição ou poder.

Enquanto um estômago alimentado propicia reconforto orgânico, uma conversação edificante com um amigo faculta bem-estar moral; uma propriedade rica de peças raras e de alto preço oferece alegria e concede comodidade, mas um momento de meditação enriquece de paz interior inigualável; o apoio de autoridades ou guarda-costas favorece segurança, em muitos casos, entretanto a consciência reta, que resulta de uma conduta nobre, proporciona tranquilidade total; roupas expressivas e variadas ajudam na aparência e agradam, no entanto, harmonia mental e correção de trato irradiam beleza incomum; o frenesi sexual expressa destaque na vida social, todavia, o êxtase de um momento de amor profundo compensa e renova o ser, vitalizando-o; a projeção na comunidade massageia o ego, mas a conquista do Si felicita interiormente...

As necessidades básicas fisiológicas são sempre acompanhadas de novas exigências, porque logo perdem a função.

Aquelas de natureza psicológica superior se desdobram em variantes inumeráveis, que não cessam de proporcionar beleza.

Por isso mesmo, a realidade do ser está além da sua forma, da roupagem em que se apresenta, sendo encontrada nos valores intrínsecos de que é constituído, merecendo todo o contributo de esforço emocional e moral para conseguir identificar-se.

Somente aí a saúde se torna factível, o bem se faz presente e os ideais de enobrecimento da sociedade como da própria criatura se tornam legítimos, de fácil aquisição por todo aquele que se empenha na sua conquista.


Lutas conflitivas

A experiência vivencial é feita de lutas.

No passado remoto, o mais forte venceu a fragilidade do outro e impôs-se, abrindo o campo da evolução antropológica.

À medida que o cérebro foi-se desenvolvendo sob o império do psiquismo espiritual e tornando-se mais complexo, a inteligência contribuiu para que o processo de vitória se fizesse menos agressivo, embora ainda predomine na criatura humana uma soma de manifestações da natureza animal.

O ser, no entanto, já discerne, repetindo as lutas cruentas por atavismo e sentido de perversidade, muitas vezes patológica, que lentamente serão superadas pela força mesma da evolução.

Apesar disso, abandonar os patamares mais imediatos, do que considera como necessidade de sobrevivência, exige uma luta feita de conflitos entre o que se desfruta e ao que se aspira, o que se tem e o que se pode e deve conseguir.

Essa luta tem muito a ver com os hábitos ancestrais que deixaram sulcos profundos no inconsciente e que se repetem por quase automatismo que à razão compete superar.

Nesse esforço ressurgem as impressões das reencarnações próximas, caracterizadas pela predominância do instinto, sem matrizes dominantes da razão e do sentimento de solidariedade.

Reaparecem, então, como tormentos íntimos, frustrações e desaires que atormentam, exigindo terapia conveniente e esforço pessoal, a fim de ultrapassar os limites impostos pelas circunstâncias.

Da mesma forma que existe o fototropismo, o heliotropismo, podemos encontrar na vida um psicotropismo superior propelindo os seres iniciantes a crescer, a se direcionar no rumo do Pensamento Causai e Organizador de tudo.

É inevitável essa atração e ninguém pode fugir-Lhe ao imperioso magnetismo, que vitaliza tudo e a tudo envolve.

A luta, porém, trava-se no âmago do ser acostumado ao menor esforço e muitas vezes à exploração do trabalho alheio.

Nessa ascese, cada qual desempenha um papel importante e ninguém pode viver por outrem o compromisso que lhe cabe atender.

Esse crescimento é feito com suot e esforço bem-direcionado que, por isso mesmo, compensa e fascina abrindo novas oportunidades e desenvolvendo outras propostas de integração, que não mais se compadecem com a autocomiseração, nem com a angústia, medo, limites a que se está acostumado.

O desafio da evolução é grandioso e todos os seres são conduzidos inevitavelmente à sua conquista.

Como luta pode oferecer resultados sempre melhores, porque fortalece aquele que combate, essa, a da evolução das necessidades básicas para as libertadoras, superará os conflitos em que o ser vem mergulhado, libertando-o das amarras que o prendem na retaguarda do progresso.

Os seres humanos que caminham sob o jugo da insegurança pessoal, diante da vida, aclimatam-se às regiões de sombras, porque aí se refugiam para prantearem os limites em que se comprazem, temendo tomar decisões que os libertariam, mas que, por outro lado, exigem-lhes o denodo, o sacrifício e a coragem para não desistir.

Começada essa batalha nova, a de conquistar os espaços da evolução, mesmo sob conflitos perturbadores, dá-se o primeiro passo, que logo será seguido por outros, até o momento em que o prazer de ser livre se torna o emulador para mais audaciosas realizações.

Ninguém, portanto, aspire a vencer, aguardando que outros realizem o esforço que lhe cumpre desenvolver, porque a conquista é pessoal e intransferível, não havendo lugar para fraude ou enganos.

Quando o homem primitivo ergueu os olhos para o Infinito, atemorizou-se e curvou-se ante a majestade que não conseguiu entender.

Lentamente, porém, perscrutando a Natureza e exercitando-se, passou do instinto grotesco para os mais refinados e abriu o campo da razão, que lhe faculta alcançar as primeiras manifestações da intuição que lhe será patrimônio futuro, quando totalmente livre dos imperativos da matéria.

Assim, a luta conflitiva cede lugar à de natureza consciente e racional, porque apresenta a meta a ser conquistada, sem cuja vitória o sofrimento permanece como ditador, impondo as suas diretrizes arbitrárias e nem sempre necessárias.

A vida não exige dor, mas brinda amor.

A primeira é experiência para vivenciar o segundo, que não tem sido valorizado como necessário.

Desse modo, os mecanismos da evolução se impõem como necessidades de um nível mais avançado, as ético-mo-ralestéticas, que fomentarão outras mais grandiosas que se tornarão de natureza metafísica, porque penetrarão as regiões mais altas do processo de crescimento da vida.


Autorrealização

Considerando-se o imperativo das necessidades imediatas, as fisiológicas, como essenciais à preservação do corpo e movimentação no grupo social, deem-se espaços para as de natureza estética, aquelas que embelezam a vida e são o pórtico para o encontro com as metanecessidades.

O homem e a mulher, despertos para os deveres, atravessam os diferentes estágios das necessidades primárias sem apegos ou aprisionamentos, conseguindo perceber que as conquistas culturais e artísticas que lhe proporcionam a visão estética e deslumbram, sensibilizam o cérebro emocional sob o entendimento e absorção dos seus conteúdos pela razão.

Transposta esta fase, detectam as metanecessidades, que se apresentam como fortes apelos para o autodescobrimento, para a interiorização, por cujos meios poderão conseguir a autorrealização.

Esse processo dá-se lentamente como decorrência da insatisfação advinda dos valores reunidos, diante dos quais, porque já conseguidos, os estímulos para o prosseguimento da luta diminuem, perdendo a empatia e a significação que antes conduziam com entusiasmo para alcançá-los.

Noutras vezes, surgem como insights que abrem as percepções para a realidade transpessoal, que ora deixa de ser um epifenôme no do sistema nervoso central ou uma alucinação, para apresentar-se com estrutura constituída e tornar-se realidade.

A pessoa que se encontra nesse patamar do processo de crescimento psicológico medita em torno dos objetivos existenciais e anela pelo prosseguimento da vida, que não termina com a morte orgânica.

Descobrindo-se como um feixe de energia, sob a ação e comando da consciência que pensa, identifica a leveza das teses materialistas e imerge no oceano íntimo, liberando o inconsciente sagrado, que faz despojar-se do primarismo, porque ascende vibratoriamente às regiões causais da vida, passando a sintonizar com as forças vivas e atuantes do Pensamento Divino.

Controla a máquina orgânica e suas funções, conseguindo desenovelar-se dos liames perispirituais e viajar pelo veículo da psiconáutica, inebriando-se e vitalizando-se de tal forma, que todas as aspirações passam a centrar-se no ser real, integral, que é o Espírito.

Um regozijo intenso invade esse novo nauta, que se autor realiza.

As metanecessidades se fazem imperiosas, desdobrando painéis mais amplos quão atraentes, que, penetrados, mais favorecem com júbilo.

Esse ser torna-se, então, o seu próprio terapeuta e não mais tomba nas torpezas habituais, ancestrais, livre, por fim, dos condicionamentos viciosos e perturbadores, porque aspirou a outras paisagens enriquecedoras, de psicosfera mais pura e penetrante, e as viveu.

O apóstolo Paulo, escrevendo aos Tessalonicenses - I — Capítulo cinco, versículo dezesseis - propôs, com ênfase, após retornar de uma dessas meta excursões: - Regozijaivos sempre.

A proposta psicoterápica que ele oferece é concisa e sem comentários, como imposição para uma autorrealização imediata, sem fugas espetaculosas nem justificativas desnecessárias.

Não se refere ele ao regozijo das horas alegres nem dos momentos felizes apenas, ou de quando tudo transcorre bem e de modo confortador, de realizações em clima de paz, porém, sempre, em qualquer circunstância, o que implica viver o regozijo nos momentos difíceis e provacionais, por saber que ele tem importância liberativa, portanto, motivos justos para serem fruídos.

O imperativo se estende, numa análise profunda, em torno das ocorrências desagradáveis e aparentemente danosas, como aquelas que surgem com as tormentas físicas e morais, que passam deixando destroços e mutilações, que são convertidas em renovação e recomeço.

Assim, a metanecessidade conclama à mudança de comportamento, transformando amargura em sorriso, revolta em abnegação, mágoa em perdão, desencanto em esperança, com que são superados os fatores de perturbação e conquistados os tesouros iluminativos.

Galgando degraus ascendentes, a pessoa desperta rompe a treva íntima com a adaga de luz da autorrealização.

Não abandonando as técnicas e recursos da oração, dilui ansiedades e conflitos; da concentração nas metanecessidades, após suprir as fisiológicas e ético-estéticas, aprofunda-se na meditação, de cujo exercício retorna para a ação do bem, do amor e da libertação de vidas.

Essa magnífica odisseia pode e deve ser tentada em qualquer período da existência, mesmo sob o açodar das necessidades fisiológicas, elegendo uma metanecessidade e empenhando-se para atendê-la.

O tentame deixará sulcos e sinais fecundos na consciência, que aspirará por novos logros, criando o hábito de nutrir-se com essas vibrações de retempera para o ânimo, motivadoras de libertação das básicas e imediatas necessidades primárias.

O ser avança da ignorância para o conhecimento, da forma abrutalhada para a essência superior, autor realizando-se, vivenciando a própria imortalidade, que nele se encontra estabelecida.




Acima, está sendo listado apenas o item do capítulo 10.
Para visualizar o capítulo 10 completo, clique no botão abaixo:

Ver 10 Capítulo Completo
Este texto está incorreto?