Vida: Desafios e Soluções

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CAPÍTULO 5

Significado do ser integral

Bases para a autorrealização

Jesus, o mais notável psicoterapeuta que a humanidade conheceu, afirmou: Vós sois deuses e podeis fazer tudo quanto faço e muito mais, se quiserdes.

Trata-se de uma propostadesafio para seres amadurecidos psicologicamente, capazes de ambicionar o além do habitual, e que estão dispostos a conseguilo.

Para lograr o êxito nesse tentame, é necessário possuir autoconfiança e fé, essa certeza coerente que existe entre o desejar e o poder realizar, saindo do mesmismo perturbador das ambições exclusivamente de natureza material, imediata.

Identificar-se com um deus é ampliar os valores que dormem no íntimo e são desconsiderados.

Uma faísca sabedora do seu poder de combustão, que encontre substâncias fáceis de arder, consegue produzir um incêndio.

Quando alguém se identifica possuidor desse recurso, pode atear o incêndio que devora os vícios e abre espaços virgens para a instalação dos elevados potenciais do desenvolvimento pessoal.

Quem toma conhecimento dos recursos próprios, dispõe de medida para avaliar as possibilidades de triunfo e empenha-se para alcançá-lo, enquanto aquele que os desconhece detém-se no pretexto da própria fragilidade, porque, no íntimo, assim o prefere.

O ser existencial tem o seu significado relevante, que necessita ser detectado e utilizado com segurança.

Os seus alicerces repousam nas camadas profundas do inconsciente - as experiências do passado - e nas possibilidades imensas do seu superconsciente - as conquistas que lhe cumpre lograr debatendo-se nas reminiscências do ontem e nas ambições do futuro.

O ser existencial oscila entre esses dois pólos, que contribuem para a realização feliz ou desventurada no presente, a depender, naturalmente, das opções elegidas e do empenho aplicado na sua execução.

Inicialmente é lícito fazer-se uma avaliação do que são tesouros: os de ordem externa e os interiores.

Quais deles têm primazia para serem conquistados, e como fazer, a fim de os conseguir.

O ser fisiológico preferirá os de significado e aplicação imediata, enquanto o ser psicológico analisará aqueles que têm primazia e dar-se-á conta da necessidade desses que são externos como utilitários e aqueles que estão internos, os permanentes.

Sem abandonar os primeiros, dedicar-se-á à conquista dos mais valiosos, que são os permanentes.

Nesse afã se identificará com realidades que o fascinarão.

Descobrirá que, em média, o ser humano experimenta sessenta mil pensamentos por dia, o que demonstra a grandeza, a majestade da sua organização mental, descobrindo quanto é nobre aprender a utilizar desse tesouro abundante, que muitas vezes se perde em círculo de viciações mentais, malbaratando tempo e oportunidade em lamentações, queixas, pessimismo, desgaste das potências de que é constituído.

Reconhecerá a necessidade de ser pessoa e não máquina, evitando o repetir-se monotonamente, sem direcionamento para frente nem para o melhor.

Aplicará cada pensamento mais poderoso, de sentido profundo, de valor utilizável na construção do seu mais adequado comportamento para a paz.

Eliminará aqueles que são perturbadores e podem ser substituídos amiúde, fomentando um clima psíquico de saúde com respostas orgânicas de bem-estar.

Com essa atitude mental vencerá o medo de adoecer, de envelhecer, de ficar pobre, de enfrentar dificuldades, de morrer, pois compreenderá serem todos esses fatores perfeitamente controláveis, desde que assuma a sua condição de deus e passe a fazer tudo quanto é possível através do empenho pessoal.

A doença é sempre acidente de percurso, jamais sendo uma realidade, antes é um estado transitório, que pode ser ultrapassado, mesmo quando se apresente com características expiatórias.

Já que o ser é eterno, as manifestações orgânicas e mentais desta ou daquela natureza fazem parte da transitoriedade do mundo da forma.

Não se justifica, dessa maneira, o medo de doenças.

O envelhecimento não deve inspirar qualquer tipo de receio, porquanto a beleza de cada fase da existência corporal encontrase na atitude interior de quem observa o mundo externo.

As experiências nascem das vivências e para poder fruí-las é exigido o patrimônio do tempo, no que ocorrem o envelhecimento do corpo e o amadurecimento do Espírito.

A verdadeira pobreza é interior, quando se perdem as aspirações de crescimento e realização íntima.

A financeira é sempre contornável, desde que o indivíduo se empenhe por superá-la, e o trabalho é assim fonte geradora de recursos externos, enquanto internamente aprimora o sentido de vida.

Os verdadeiramente pobres perderam a razão de viver e entregam-se, funestamente, aos prazeres perturbadores, aos gozos desgastantes, aos jogos da ilusão cansativa...


...

E a morte, a grande devoradora da vida, desmitifica-se e já não inspira qualquer receio, porque ela faz parte do processo existencial, como forma de desenvolvimento do ser profundo, que experimenta, etapa a etapa, novos mecanismos de elevação.

O processo de envelhecimento, por ser portador de muita beleza, é lento, biologicamente bem-elaborado, proporcionando o tesouro da sabedoria, em forma de discernimento lúcido, propiciador de harmonia íntima e de auto entrega, após o ciclo da existência física.

O ato de aprender a amar tudo quanto se faz, a realizar bem tudo quanto se gosta, a repartir com todos as alegrias e esperanças da vida em triunfo, dá significado pleno ao ser existencial, que agora pode fazer tudo quanto Jesus realizou, identificando-se com Deus.

Enquanto isso, o ser fisiológico está desfrutando das regalias das sensações, emaranhando-se no cipoal das paixões, até ser despertado pelos choques do processo evolutivo, que podem ser as dores, as preocupações profundas, as amargas decepções, ou os maravilhosos apelos do amor pela beleza, pela necessidade de harmonia e de paz.

E indispensável estar acordado, desperto para a realidade do ser, consciente das suas responsabilidades e objetivos reais nos desafios existenciais, encontrando todos os significados e desenvolvendo-se.


Conquistas que Plenificam

Quando a infância se fez caracterizar por problemas e desafios não solucionados, as dificuldades se transferem no inconsciente do indivíduo para todos os diferentes períodos da vida.

Tornasselhe difícil o amadurecimento psicológico, procurando permanente refúgio no período infantil, que prossegue desafiador.

A necessidade de autopunição faz-se, às vezes, extremada, como mecanismo de justificação das pequenas travessuras, das irresponsabilidades, das mentiras ou outros quaisquer mecanismos de evasão daquela realidade, por meios nem sempre ideais.

Em casos que tais, surgem os criminosos, que havendo sido crianças maltratadas, sentem necessidade de punir a sociedade pelo que lhes ocorreu, tornando-se, dessa forma, bandidos.

É necessário, inicialmente, redescobrir a criança que permanece no imo e avaliar o seu estado de crescimento, suas necessidades, seus anseios.

Se permanecerem os jogos e despreocupações, a transferência de responsabilidade para os outros e a culpa sempre dos outros, impõe-se a psicote-rapia como urgência, a fim de auxiliar no crescimento e na libertação dos traumas daquela fase.

Não é desejo estabelecer que a criança seja retirada do cenário existencial, porém que ocupe o seu verdadeiro lugar no alicerce do inconsciente, a fim de que não perturbe a pessoa da atualidade.

E mesmo válida a presença da criança que existe em todos os indivíduos, tornando a existência apetecível e sonhadora, dentro dos limites da normalidade que deve prevalecer a quaisquer condicionamentos de tempo e de lugar.

Um bom relacionamento social é fator de relevância para a plenificação do indivíduo, porque, sendo animal gregário, o seu convívio com os demais seres é fator de desenvolvimento das suas aptidões, propiciando-se os atritos e choques que fazem parte da existência, sem derrapar nas animosidades, pelo contrário, desenvolvendo a tolerância, superando a prepotência de submeter todos os demais ao talante da sua pessoa.

Aquele que vive sozinho, foge da realidade de si mesmo, que vê projetada nos outros.

Tem medo do convívio com os demais, porque não sabe transitar senão nos seus domínios, onde impõe a sua vontade e realiza os seus desejos, sem o sentimento de reparti-los, ou, por sua vez, de compartir as experiências alheias.

A conquista da humildade faz parte do programa de crescimento interior, evitando o exibicionismo que se torna perturbador, particularmente por alterar a visão da realidade e de si mesmo, agredindo os outros com a aparência, por não ter segurança dos próprios valores, que seriam capazes de oferecer harmonia no conjunto humano onde se encontra.

Essa humildade começa na conscientização de si mesmo, observando que faz parte do Universo, cuja grandeza demonstralhe a pequenez em que ainda se acha e quanto deverá crescer para entender a majestade e a harmonia do mundo no qual vive.

Não se ensoberbece com o que sabe, nem se entristece pelo muito que ignora.

E simplesmente humilde diante da vida e reconhece a necessidade de crescer mais e tornar-se melhor.

É comum a luta desenfreada para possuir sempre, asfixiando as demais aspirações, que cedem lugar à predominância do instinto de posse desequilibrada.

Quando se atinge o estágio de maturidade psicológica, o importante não é ter mais, porém ser mais, isto é, sempre melhor em valores internos, em conquistas morais e intelectuais, sem jactância, porém com a consciência da vitória sobre si mesmo e sobre os desafios da existência, aumentando a capacidade de resistência cada dia.

A felicidade real independe daquilo que se tem, mas é resultado daquilo que se é.

Muito oportuno o fato de uma célebre personagem de propaganda na Televisão, cuja bela aparência fora aproveitada para sorrir e, por isso, sua imagem sempre fascinava os estranhos, que a desejavam imitar.

Todos olvidavam que era sua profissão sorrir, e para isso lhe pagavam, embora o seu humor habitual não correspondesse a essa realidade.

Deve-se sorrir por profissão, no entanto a alegria de viver leva a sorrir por prazer e por beleza, gerando uma autoterapia valiosa, porquanto aquele que está de bem com ele mesmo, encontra-se bem com o mundo.

Numa das suas habituais viagens a Londres, o célebre Mahatma Gandhi deteve-se, oportunamente, no Aeroporto, a observar os objetos expostos, ricos e agradáveis aos olhos.

Demorava-se a examiná-los e sorria de prazer.

Preocupado com aquela atitude inabitual no homem que renunciara a todas as coisas do mundo, um membro da comitiva inglesa acercou-selhe, esclarecendo: — Se o Mahatma tem interesse por algum desses objetos, teremos o prazer de, em nome de Sua Majestade, oferecer-lhe, o que nos constituirá uma honra.

O nobre missionário, que se havia encontrado consigo mesmo, sem desdém nem menosprezo respondeu, sorrindo: —Estou feliz em olhá-los, e verificar quanta coisa eu já não necessito.

A verdadeira saúde, em sua expressão profunda, manifesta-se como libertação interior, sem o masoquismo das fugas do mundo e das afirmações dos próprios valores através do desprezo e do flagício ao corpo, qual se fora ele responsável pelas debilidades do caráter, imperfeições da conduta, frustrações psicológicas decorrentes da visão alterada do mundo e sua realidade.

Quando esse estado saudável se estabelece no ser, ele experimenta harmonia em qualquer situação na qual se encontre.

Na multidão, experimenta o prazer do convívio com os outros, de ser útil, de receber e de dar atenção às manifestações da vida.

Quando a sós, preenche todos os seus espaços com atividades e pensamentos enriquecedores, não se sentindo solitário, embora esteja desacompanhado.

Sua mente é sempre sua companheira a exigir ou a compensar o que experimenta como emoções de viver.

E óbvio que todo aquele que se faz possuidor de conflitos de qualquer natureza terá dificuldade de sentir-se compensado, pois que a sua estrutura íntima, deficitária, estará sempre refletindo as lutas em que se sente envolvido, portanto em contínuas ansiedade e insatisfação.


Lições de vida

A beleza da vida está nas experiências que propõem o desenvolvimento do ser integral.

Nascido para o triunfo, as dificuldades que encontra fazem parte do método para alcançar as metas para as quais ruma inevitavelmente.

Cada etapa vencida apresenta-se, depois, como uma vitória alcançada, sendo lição de inapreciável significado que se incorpora ao patrimônio de que se enriquece.

Todos os seres pensantes experimentam oportunidades psicológicas de magnitude, como desafios de iluminação e de sabedoria, que nem todos, porém, sabem utilizar como devido.

A sabedoria brota de um para outro momento, mesmo nas mentes mais perversas e nos sentimentos mais frios, abrindo novos espaços para a libertação do egoísmo e a aquisição do sentido de fraternidade.

Há momentos psicológicos muito próprios para a absorção das lições que a vida oferece a cada viandante da evolução.

Nem todos conseguem identificar essa hora mágica, de maneira a lucrar com o aprendizado de que se faz portadora.

Luiz XIV, que se celebrizou como o Rei Sol, em França, recebeu uma denúncia de que se tramava contra o trono.

O delator foi encarregado de trazer-lhe uma lista dos suspeitos, que deveriam ser condenados à morte, por crime contra Sua Majestade.

Apresentada a lista, estavam assinalados por uma cruz aqueles que conspiravam contra o monarca.

Vendo a relação, o rei, tomado de espanto, teria declarado: - Não os posso condenar, porquanto estão marcados pelo instrumento com que mataram o Inocente.

E a todos perdoou.

Não obstante a consciência de sono do governante, que se mostrava indiferente quanto ao futuro do trono e do povo, pois que tinha por hábito declarar que, após ele, viesse o dilúvio, assim se entregando a toda ordem de prazeres e abusos, naquele instante foi tocado no recesso do ser pelo símbolo da ignomínia com que tentaram silenciar a Grande Voz, evitando tornar-se algoz impenitente de uma condenação arbitrária, que seria apresentada sem qualquer julgamento, decorrente de uma suspeita, na qual, por certo, encontravam-se em jogo vis interesses do intermediário da denúncia.

Certamente, o medo de ser injusto e de passar à História, a grande julgadora dos acontecimentos de todos os tempos, bem como dos seus promotores, como ignóbil, fez que mudasse o plano funesto e pensasse no Inocente.

É uma lição da vida para outras vidas, que ficou anotada nas páginas daquela vida atribulada e passou para o futuro, norteando outros destinos.

Oxalá se lhe abrisse a mente para outras atitudes de dignificação humana, longe dos interesses pessoais e transitórios que se consumiram quando da consumpção do seu corpo.

Como ninguém foge de si mesmo, porquanto sempre estará onde se encontrem suas aspirações e necessidades, malgrado as fugas psicológicas e desmandos mentais, a consciência se firma e se agiganta, traçando as rotas de segurança com as realizações propostas pelo conhecimento e vividas pelo sentimento.

Por outro lado, narra antigo koan que um príncipe chinês orgulhava-se de sua coleção de porcelana, de rara quão antiga procedência, constituída por doze pratos assinalados por grande beleza artística e decorativa.

Certo dia, o seu zelador, em momento infeliz, deixou que se quebrasse uma das peças.

Tomando conhecimento do desastre e possuído pela fúria, o príncipe condenou à morte o dedicado servidor, que fora vítima de uma circunstância fortuita.

A notícia tomou conta do Império, e, às vésperas da execução do desafortunado servidor, apresentou-se um sábio bastante idoso, que se comprometeu devolver a ordem à coleção.

Emocionado, o príncipe reuniu sua corte e aceitou a oferenda do venerando ancião.

Este solicitou que fossem colocados todos os pratos restantes sobre uma toalha de alvinitente linho, bordada cuidadosamente, e os pedaços da preciosa porcelana fossem espalhados em volta do móvel.

Atendido na sua solicitação, o sábio acercou-se da mesa e, num gesto inesperado, puxou a toalha com as porcelanas preciosas, atirando-as bruscamente sobre o piso de mármore e arrebentando-as todas.


Ante o estupor que tomou conta do soberano e de sua corte, muito sereno, ele disse:

—Aí estão, senhor, todos iguais conforme prometi.

Agora podeis mandar matar-me.

Desde que essas porcelanas valem mais do que as vidas, e considerando-se que sou idoso e já vivi além do que deveria, sacrifico-me em benefício dos que irão morrer no futuro, quando cada uma dessas peças for quebrada.

Assim, com a minha existência, pretendo salvar doze vidas, já que elas, diante desses objetos, nada valem.

Passado o choque, o príncipe, comovido, libertou o ancião e o servo, compreendendo que nada há mais precioso do que a vida em si mesma, particularmente a humana.

As lições mais severas, a vida oferece, convidando os indivíduos à reflexão.

Quando se adquire maturidade psicológica, embora se preservem bens materiais, valorizam-se mais aqueles que são do Espírito, da realidade perene, expressões elevadas da vida.

O que se possui de mais precioso é a oportunidade existencial, pois que ela enseja todas as outras ocorrências e conquistas, permanecendo como patrimônio inalienável do ser no seu percurso evolutivo.

Quando lúcido, vive intensamente seu momento, cada momento, florescendo onde se encontra, sem os tormentos de realizar-se nessa ou naquela outra parte, criando raízes e desenvolvendo-se, livre das injunções da ambição desregrada, das paixões perturbadoras, das fixações inquietantes, aberto às novas realizações que harmonizam.

Torna-se, desse modo, parte integrante do Universo, no qual se encontra e que o convida a conquistá-lo.

Para conseguir esse estado e aprender as lições da vida, o candidato se deve trabalhar interiormente, educar-se, já que através desse valioso contributo modifica-se e aprimora-se, liberando-se dos atavismos perniciosos e dos fatores degenerativos que lhe remanescem.

A educação é valioso instrumento para o trabalho de construção da pessoa feliz, que se torna, por sua vez, uma viva lição da vida para as demais, que seguem na retaguarda.




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