Vida: Desafios e Soluções

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CAPÍTULO 7

Descobrindo o Inconsciente

Análise do Inconsciente

O eminente psicanalista Carl Gustav Jung estabeleceu que o inconsciente é um verdadeiro oceano, no qual se encontra a consciência mergulhada quase totalmente.

É como um iceberg, cuja parte visível seria a área da consciência, portanto, apenas cinco por cento do volume daquela montanha de gelo ainda pouquíssimo conhecida.

A consciência, ainda segundo o mesmo estudioso, pode ser comparada a uma rolha flutuando no enorme oceano.

Tem-se, dessa forma, uma ideia do que significava o inconsciente para o ilustre psiquiatra, que o fora antes de dedicar-se à Psicanálise.

Nas suas investigações profundas, procurou detectar sempre a presença do inconsciente, que seria responsável por quase todos os atos e programas da existência humana, desde os fenômenos automatistas mais primitivos, que lhe dariam início, até as inúmeras manifestações de natureza consciente.

Indubitavelmente, nesse oceano encontram-se guardadas todas as experiências do ser, desde as suas primeiras expressões, atravessando os períodos de desenvolvimento e evolução, até o momento da lucidez do pensamento lógico, no qual hoje transita com vistas ao estágio mais elevado do pensamento cósmico para onde ruma.

É muito difícil dissociar-se o inconsciente das diferentes manifestações da vida humana, porquanto ele está a ditar, de forma poderosa, as realizações que constituem os impulsos e atavismos existenciais.

Indispensável, porém, ter-se em mente a presença do Espírito, que transcende aos efeitos e passa a exercer a sua função na condição de inconsciente, depósito real de todas as experiências do larguíssimo trajeto antropossociopsicológico, de que se faz herdeiro nos sucessivos empreendimentos das reencarnações.

O ego participa de todo esse processo como a pequena parte da psique que é autoconsciente, que se identifica consigo mesma.

E o Eu, que se conhece na condição de ser, de área própria de energias, que são totalmente diversas dos outros.

É a parte pequena de nós que se apercebe das coisas e ocorrências, a personalidade, numa visão que seja detectada pela consciência.

Invariavelmente o Eu pensa somente em si, não compreendendo a imensidade do inconsciente, que é o Eu total, dando margem a situações curiosas, quando as pessoas se referem a acontecimentos que nunca atribuem a si mesmas, informando que não foram elas, isto é, o seu consciente que realizou determinados labores e teve tais ou quais comportamentos, o que as surpreende sempre.

Toda vez que a mente consciente dá-se conta de que o inconsciente se encontra envolvendo-a, é tomada por certas expressões de deslumbramento ou choque, já que é a totalidade, o oceano incluindo o iceberg, que vem à tona.

Para Sigmund Freud, tanto quanto para Gustav Jung, o inconsciente somente se expressa através de símbolos, e esses símbolos podem e devem ser buscados para conveniente interpretação através dos delicados mecanismos dos sonhos e da Imaginação Ativa, de modo a serem entendidas as suas mensagens.

As manifestações oníricas oferecem conteúdos que necessitam ser interpretados, a fim de facilitarem o desenvolvimento do indivíduo.

Mediante a Imaginação Ativa, tenha-se em conta que não se trata de ficção no seu sentido convencional, mas de uma forma criativa do pensamento - é possível entrar-se no arcabouço dos registros e depósitos do inconsciente, abrindo-lhe as comportas para uma equilibrada liberação, que irá contribuir grandemente para a conduta salutar do indivíduo, proporcionando-lhe uma existência equilibrada.

Permitimo-nos, porém, acrescentar que, também através da concentração, da oração, da meditação, e durante alguns transes nas tentativas das experiências mediúnicas, o inconsciente faculta a liberação de várias das impressões que nele jazem, dando origem aos fenômenos anímicos, estudados cuidadosamente pelo nobre codificador do Espiritismo, com muita justiça, um dos identificadores dos arquivos do inconsciente, embora sob outra designação.

Nesse extraordinário oceano, ainda segundo os nobres psicanalistas referidos, formidandas forças estão trabalhando, ora em favor, ora contra o ser, que necessita decifrar todos esses enigmas de modo a conseguir sua realização interior quanto exterior.

Nele se encontram em depósito os mitos e as fantasias, as lendas e superstições de todos os povos do passado e do presente, e, no seu mais profundo âmago, nascem ou dormem as personalidades paralelas que se incorporam à existência individual gerando conflitos e transtornos neuróticos.

O objetivo, porém, da interpretação dessas mensagens, conforme o pensamento dos citados mestres, não é resolver imediatamente os distúrbios de natureza neurótica, e sim utilizar de forma conveniente as suas forças portadoras de energia de crescimento, de elevação, de conhecimento e de libertação.

O grande desafio da existência humana está na capacidade de explorar esse mundo desconhecido, dele retirando todos os potenciais que possam produzir felicidade e autorrealização.

Os indivíduos normalmente se movimentam na vida em estado quase de sono, sem dar-se conta do que acontece à sua volta, sem conscientizar-se das ocorrências nem dos seus mecanismos.

Raramente se detêm na reflexão, considerando os objetivos e necessidades da vida em si mesma.

Tudo se lhes sucede de maneira automática, fortuitamente, vitimados que se encontram pelos mecanismos fisiológicos em predomínio, até mesmo por ocasião das manifestações de natureza psicológica, o que é lamentável.

Em razão disso, vivem inconscientemente, longe da realidade, dispersos, acumulando conflitos e deixando-se arrastar pelos instintos que neles são dominantes.

A existência humana é uma aprendizagem valiosa que não pode ser desperdiçada de maneira vulgar ou vivida utopicamente, qual se fosse uma viagem ao país da ilusão, no qual tudo tem lugar de maneira atemporal, mecânica, destituída de sentido ou de razão.

A marcha do processo da evolução é ascensional, e o ser deve, a cada dia, armazenar experiências criativas quanto iluminativas, que lhe ampliarão o campo de desenvolvimento, levando-o na direção da sua fatalidade cósmica, que é a liberdade total, a plenitude.

Enquanto no corpo, naturalmente sofrerá as consequências, positivas ou negativas, dos seus próprios atos, que são os construtores do seu futuro.

Por isso mesmo cabe-lhe viver conscientemente, desperto para a realidade do existir.

Eis por que a concentração é-lhe de valor inestimável, por propiciar-lhe encontrar-se com os arquivos que lhe guardam as impressões passadas que geram dificuldades ou problemas no comportamento atual.

Em um nível mais profundo, a meditação é-lhe o instrumento precioso para a auto identificação, por facultar-lhe alcançar as estruturas mais estratificadas da personalidade, revolvendo os registros arcaicos que se lhe transformaram em alicerces geradores da conduta presente.

Por outro lado, a oração, além de lenir-lhe os sentimentos, suavizando as aflições, contribui para a elaboração dos fenômenos da Imaginação Ativa, liberando impressões que, por associação, ampliar-lhe-ão o campo do entendimento da realidade, exumando fantasmas e diluindo-os, ressuscitando traumas que podem ser sanados e ficando com um campo mais livre de imagens perturbadoras, para os mecanismos automatistas dos sonhos.

Embora toda essa contribuição valiosa apresentada pela Psicanálise, proporíamos o desdobramento consciente da personalidade, isto é, do Espírito, nas suas viagens astrais, através das quais experimenta sempre, quando lúcido, maior liberdade, assim podendo superar as sequelas dos graves conflitos das reencarnações passadas, em depósito no inconsciente.

Esse mergulho consciente nas estruturas do Eu total, faculta a liberação das imagens conflitantes do passado espiritual e do presente próximo, ensejando a harmonia de que necessita para a preservação da saúde então enriquecida de realizações superiores.

Enquanto o indivíduo não descobre a realidade do seu inconsciente, pode permanecer na condição de vítima de transtornos neuróticos, que decorrem da fragmentação, do vazio existencial, da falta de sentido psicológico, por identificar apenas uma pequena parte daquilo que denomina como realidade.

Percebe-se em isolamento, sem direção própria para a solução dos vários problemas que o afligem e, corri isso, foge para os estados de neurotização nos quais se realiza.

Essa queda emocional faz que desapareça o sentido de religiosidade, porquanto, ainda conforme a análise dos citados investigadores, no inconsciente é que estariam a presença e o significado de Deus, do Espírito, das percepções em torno da Divindade...

Para os citados mestres, quando o ser demora-se ignorando as possibilidades do inconsciente, rompe as ligações com o seu Eu profundo, portanto, com os mecanismos que o levariam à compreensão de Deus, da alma e da vida imortal.

Certamente aí encontramos a presença do Espírito, nos refolhos do ser, impregnado pelas lembranças que não chegam à consciência atual, mas que afetam o comportamento de maneira indireta, proporcionando estados inquietadores e desconhecidos da estrutura do ego.

A sua auto identificação, o autodescobrimento, permite o conhecimento das necessidades de progresso, ao tempo que desarticula as dificuldades que foram trabalhadas pelas experiências negativas das existências transatas, cujos resíduos continuam produzindo distonias.

Somente quando se passa a viver a compreensão da realidade interior, descobrindo-se e conservando-se desperto para a ação do pensamento lógico e consciente, é que se liberam os efeitos danosos do passado e se estabelecem novas normas de conduta para o futuro.

Adquire-se então liberdade para a ação criativa, sem as amarras da culpa, que sempre se estabelece depois de qualquer atitude irregular, de toda ação prejudicial.

O ser é manifestação do Pensamento Divino, que o criou para a vigorosa realização de si mesmo.

Desse modo, é necessário deixar de ignorar o seu mundo interior, o seu inconsciente, mergulhando no abismo de si mesmo e autorrevelando-se sem traumas ou choques, sem ansiedades ou inquietações, em um processo de individuação.

Toda essa energia de que é portador o inconsciente pode ser canalizada para a edificação de si mesmo, superação dos medos e perturbações, dos fantasmas do cotidiano, que respondem pela insegurança e pelo desequilíbrio emocional do indivíduo.

Com perspicácia admirável Jung estabeleceu que em todas as criaturas estão presentes muitos símbolos, que dormem no seu inconsciente, num grande pluralismo, que deve ser controlado até atingir um sentido de unidade, de unificação dos termos opostos em uma única manifestação de equilíbrio.

Utilizou-se, assim, das expressões yin e yang presentes na existência humana de todos, numa representação do masculino (Yang) e do feminino (Yin).

O primeiro é ativo, dinâmico, forte, rico de movimento, de calor, a claridade; o outro é passivo, repousante, frágil, sem muita atividade, frio, a sombra...

Esses aparentes opostos produzem conflitos, porque, no momento em que se pensa algo fazer, de imediato uma ideia surge em sentido contrário no íntimo para não o realizar; deseja-se prosseguir e, ao mesmo tempo, parar; o desafio surge para tentar conquistas, enquanto outra parte trabalha para permanecer sem novas experiências.

São, sem dúvida, as expressões do masculino e do feminino latentes no ser.

Na antiguidade, o misticismo oriental, em forma de sabedoria, trabalhava a pessoa para saber conduzir uma e outra força com equilíbrio, permitindo que houvesse predomínio desta ou daquela, conforme a situação, terminando pela produção do equilíbrio, que é o resultado da harmonia de controle, nos momentos adequados, por tal ou qual manifestação interior.

Nessa fase, a de harmonia, é possível separar-se o que é bom do que é mau, o justo do arbitrário, identificando os opostos e dando um sentido de perfeito equilíbrio a si mesmo, em identificação com o Cosmo.

Não será esse o momento da aquisição do pensamento cósmico, quando o Psiquismo Divino se desenvolve no ser humano e ele pode exclamar, qual o fez Jesus Cristo: - Eu e o Pai somos Um!

Jung ainda pôde identificar a dualidade existente nas criaturas, a que as denominações de animus e anima, que estão sempre presentes nos sonhos.

O animus como sendo a representação masculina nas atividades oníricas das mulheres e o anima, nas dos homens, como simbolismo presente das mulheres, que repetem os grandes vultos mitológicos, históricos, religiosos, presentes nas estórias, fantasias e mitos dos povos de todas as épocas, proporcionando associações e vivências psicológicas, conforme a estrutura interior de cada qual.

Concordando com o pensamento do admirável investigador da psique humana, somente nos encorajaríamos a propor que, nessas representações oníricas, muitas das personagens animus e anima são as reminiscências, as revivescências das vidas anteriores arquivadas no inconsciente de cada um, graças ao períspirito ou corpo intermediário entre o Espírito e a matéria.

Jesus, por exemplo, harmonizava as duas naturezas, o animus, quando era necessário usar da energia e vontade forte para invectivar os hipócritas e lutar sem receio pelo ideal do Amor, e o anima, quando atendia os infelizes que O buscavam, necessitados de entendimento e auxílio.

Ninguém, como Ele, conseguiu essa perfeita identificação do yang e do yin, provando ser o Espírito mais elevado que Deus ofereceu ao homem para servir-lhe de modelo e guia, conforme responderam os Mensageiros da Humanidade a Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, na questão número 625.

Por excelência, nesse esforço profundo de auto identificação, o amor deve ser trabalhado conscientemente, a fim de desenvolverse, já que é inerente à natureza humana, proveniente de toda a Natureza, que é Obra do Amor de Deus, que a impregnou desse sentimento, estruturando-a na vibração de harmonia que prevalece, mesmo quando se enfrentam os reflexos dos contrários.

Esse arquétipo do pensamento junguiano - o amor -faz parte da imensa listagem que foi preparada para traduzir as imagens ínsitas no inconsciente humano, mas que muitos psicanalistas advogam poder ser ampliada de acordo com a aptidão de cada pessoa, tendo em vista as suas próprias experiências na área dos sonhos, crescendo cada vez mais, de modo a atender a todas as necessidades de formulação, sem que se fique aprisionado em uma faixa estreita de representações.

Do inconsciente para o consciente, para a individuação, é que o ser pode harmonizar-se, conquistar a sua paz e saúde total.


Processo de individuação

As multifárias experiências da reencarnação deixam no ser profundo infinitas características, que poderíamos denominar como sendo os arquétipos junguianos.

Heranças ancestrais, que se transformam em material volumoso no inconsciente, ditando os processos de evolução das ocorrências no ser e que o propelem para as diferentes atitudes comportamentais do cotidiano.

Todos os indivíduos são os somatórios de suas existências transatas, em que as diversas personalidades constroem a sua realidade pensante, com toda a carga de conflitos e lutas vivenciados que os assinalaram profundamente.

Poder mergulhar nesse oceano tumultuado de atividades vividas é a proposta em favor da sua conscientização.

A fim de lograr o êxito, cada qual se deve considerar único, diferente, não obstante com todas as analogias que são comuns aos demais membros da imensa família humana.

Normalmente, o indivíduo toma como padrões, e procura assemelhar-se àqueles que lhe parecem melhores, verdadeiros modelos, esquecendo-se que se torna impossível conseguir resultados positivos, nesse tentame, porque, à medida que imita outros perde a sua identidade, o seu caráter, amoldando-se a fórmulas e ídolos falsos, que também lutam e disfarçam as suas necessidades na exteriorização da personalidade.

O grande trabalho psicológico de crescimento do ser reside na busca de si mesmo.

Embora parecido com outros, qual ocorre com o material físico que a todos constitui, cada pessoa é diferente da outra.

Psicologicamente, existem no inconsciente todos os símbolos das diferentes culturas, que se mesclam, formando a realidade individual.

Todavia, é indispensável buscar a individuação, isto é, a sua legitimidade, construindo-se idealmente e assumindo-se com os valores que lhe são peculiares, intransferíveis.

Nesse processo, deve operar a transformação moral do Si, descobrindo tudo aquilo que lhe é perturbador e tentar superar, por eliminação, sem que esse esforço gere trauma ou insatisfação, assim diluindo as condensações das vivências anteriores, através da conscientização da sua integridade interior em harmonia com as suas manifestações exteriores.

Esse processo pode durar toda a existência, o que é muito saudável, porque o ser se descobre em constante renovação para melhor, liberando-se das cargas negativas que lhe ditavam as reações e lhe produziam problemas em forma de distúrbios íntimos, afetando-lhe a conduta.

Tornar-se um ser total, original, único, é a proposta da individuação, que liberta a consciência das constrições mais vigorosas do inconsciente dominador.

É indispensável, dessa forma, enfrentar o inconsciente com serenidade, descobrindo-o e integrando-o à consciência atual, pelos melhores caminhos que estejam ao alcance.

Cada ser encontra a sua própria rota, que deve seguir confiadamente, trabalhando-se sempre, sem culpa, sem ansiedade, sem receios injustificáveis, sem conflitos responsáveis por remorsos...

Embora pertencente a determinado grupo social, deve encontrar os seus próprios interesses, mantendo, simultaneamente, os valores e qualidades que são inerentes a todos, de forma que não se aliene do contexto no qual se movimenta e deve viver.

Por mais se assemelhem os indivíduos, cada ser possui a sua própria estrutura psicológica, sempre resultante das experiências vivenciadas nas diferentes existências físicas.

Eis por que, somente a reencarnação explica essa multiplicidade de conteúdos psicológicos nas criaturas, tornando-as distintas umas das outras, já que procedendo do mesmo tronco, cada uma viveu situações mui especiais e diferentes.

Buscando a individuação, percebe-se que as contribuições do mundo exterior imprimem, no ser, valores que não são verdadeiros para o seu nível de maturidade, e que somente possuem legitimidade aqueles que lhe procedem do âmago, do seu inconsciente, agora em sintonia com a consciência lúcida.

Isso oferece muita tranquilidade, porque permite identificar que não se torna necessário, para obter o triunfo, ser igual a ninguém, símile de outrem ou cópia dos modelos que se exibem na mídia, nos sucessivos festivais da ilusão e dos tormentos generalizados.

Cada ser possui uma infinita riqueza no seu mundo interior, que é a herança divina nele jacente, que agora desperta e tomalhe a consciência, libertando-o dos atavismos perturbadores.

A psique humana, que se constrói como resultado dos símbolos universais existentes, dilata-se na individuação que aguarda ser alcançada por todos os seres pensantes, por outro lado, meta da reencarnação: a conquista do Si, a elevação do Espírito, pairando sobre os destroços das experiências malogradas, transformadas em edificações de paz.


Os Arquétipos

O conceito de arquétipo, adotado por Jung, já era conhecido desde Philo Judaeus, referindo-se à Imago Dei, que seria a imagem divina que existe no ser humano.

Irinaeus, por sua vez, segundo Jung, afirmava que O criador do mundo não formou estas coisas diretamente de si mesmo, mas as copiou de arquétipos exteriores.

Em realidade, o arquétipo procede da proposta platônica em torno do mundo das ideias, primordial e terminal, de onde tudo se origina e para onde tudo retorna.

Jung utilizou-se do pensamento platônico para referir-se a imagens universais, que são preexistentes no ser - ou que procedem do primeiro ser - desde os tempos imemoriais.

Permanecem esses símbolos no inconsciente humano, independendo de quaisquer outras construções psicológicas, dando-lhe semelhança e até uniformidade de experiência, tornando-se uma representação que perdura imaginativamente.

Tais imagens são comuns a todos os povos e características da espécie humana desde os seus primórdios, que surgem espontaneamente e têm várias configurações nos mitos e símbolos de todas as culturas.

A palavra arquétipo se origina do grego arkhe, que significa o primeiro, e typon, que significa marca, cunho, modelo, sendo, por isso mesmo, as marcas ou modelos primordiais, iniciais, que constituem o arcabouço psicológico do indivíduo, facultando a identificação da criatura humana.

Existem no ser como herança, como parte integrante do seu processo de evolução.

Muitas vezes esses arquétipos surgem nos sonhos como imagens preexistentes, liberando-se do inconsciente.

No entanto, nem todos os símbolos são procedentes dos arquétipos, porque podem ter origem na própria energia do indivíduo, nas suas atuais fixações, traumatismos psicológicos, conflitos, frustrações, ansiedades e desejos.

Diferem, os arquétipos, dessa energia inerente ao ser, porque os primeiros têm um caráter universal, enquanto os outros são individuais.

Em se considerando a universalidade dos arquétipos, há uma grande variedade de símbolos que foram classificados por Jung, e posteriormente pelos seus discípulos e sucessores.

No entanto, não podem ter um número fixo, porque sempre estão a apresentar-se com características individuais, em variações naturais, decorrentes de padrões e sinais de cada personalidade.

Jung asseverou que o termo alma, adotado pelas religiões, apareceu naturalmente, em razão do arquétipo, que tem a sua contrapartida psicológica.

Na mulher, a alma seria masculina, de existência interior, que se casa com Cristo, no conceito da união paulina e do matrimônio religioso da mulher com Jesus, enquanto que, no homem, é feminina, como sendo a sua musa inspiradora, responsável pela beleza poética, literária e artística em geral.

Essa representação psicológica aparece nos sonhos como anima para os homens e animus para as mulheres.

Se um indivíduo tem um sonho com o demônio, não significaria necessariamente que estivesse em contato com ele, mas com o arquétipo símbolo do mal, que existe no inconsciente de todos os povos desde a sua origem e permanece através dos milênios.

Assim também o anjo, o amor, o ódio e outros são símbolos que sempre existiram no íntimo dos seres e que se transmitem através do inconsciente coletivo, exercendo um papel preponderante na linguagem onírica e no comportamento existencial.

Eles surgem e preponderam na vida psicológica dos indivíduos, sem que os mesmos se dêem conta, aparecendo, inclusive, nos acontecimentos banais, comuns do dia da dia.

Quando alguém se refere a outrem, exaltando-lhe o estoicismo ou citando a covardia, está identificando o arquétipo que vive no seu próprio inconsciente e tem um caráter geral, comum a todos os demais.

Assim sendo, sempre é encontrado nos outros aquilo que jaz na própria pessoa, o que lhe facilita o reconhecimento.

As criaturas são todas multidimensionais, possuindo características comuns, resultado da perfeita reunião dos arquétipos que constituem cada individualidade.

Isto faculta a compreensão da outra, a sua identificação em valores, qualidades e sentimentos.

Normalmente esses arquétipos aparecem envoltos em símbolos místicos, divinos, com características de realidade ou em forma de fantasias, que os sonhos desvelam de maneira determinante.

Concordando, em parte, com o eminente mestre, agregaríamos que muitos símbolos, que se apresentam como arquétipos, provêm de um outro tipo de herança primordial: a da experiência de cada Espírito pelo imenso oceano das reencarnações.

Graças às mesmas, são transmitidas as vivências de uma para outra etapa, prevalecendo como determinantes do comportamento aquelas que foram mais vigorosas, assim estabelecendo, no inconsciente individual e profundo, símbolos que emergem no sonho ou durante a lucidez como conflitos variados, necessitados de liberação.

O processo da reencarnação explica a presença dos arquétipos no ser humano, porque ele é herdeiro das suas próprias realizações através dos tempos, adquirindo, em cada etapa, valores e conhecimentos que permanecem armazenados nos refolhos do ser eterno que é.

Enquanto o insigne mestre situa todos os deuses e gênios, heróis e modelos do Panteão grego, inclusive os de outros povos, como sendo a presença dos símbolos geradores dos arquétipos, o estudo das reencarnações demonstra que, mesmo em forma de símbolos, algumas das lendas e mitos presentes na história dos povos são resultantes da inspiração espiritual, de insigbts experimentados por inúmeras pessoas, assim também confirmando a preexistência do Espírito ao corpo e a sua sobrevivência à morte.

Esses tipos primordiais, retiradas as indumentárias das lendas, que pertencem ao desenvolvimento do pensamento nos seus variados níveis de crescimento até alcançar o racional, o lógico, existiram, não somente na imaginação, mas como realidade que a fantasia adornou e perpetuou em figurações mitológicas.

Certamente, como afirma Jung, esses arquétipos aparecem nos sonhos como personalidades divinas, religiosas, portadoras de conteúdos transcendentais e se apresentam como sobrenaturais, invencíveis.

Em muitas circunstâncias, porém, são encontros com seres transpessoais, que sobrevivem à morte e que habitam, não só o mundo das ideias, da concepção platônica, mas o da energia, precedente ao material, ao orgânico, que é causai e atemporal.

Podemos, portanto, em uma visão transpessoal dos acontecimentos, associar os arquétipos a outro tipo de realidade vivida e ínsita no inconsciente profundo - o Espírito - ditando os comportamentos da atualidade, que são as experiências espirituais, parapsíquicas e mediúnicas.

Aprofundar a busca no oceano do inconsciente para eliminar os conflitos decorrentes das várias ocorrências passadas — as atuais e as das reencarnações anteriores — conseguir a individuação, eis a meta que aguarda aquele que deseja estar desperto, consciente da sua realidade e que luta em favor da sua iluminação interior e felicidade total.




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