Autodescobrimento: uma Busca Interior
Versão para cópiaTRIUNFO SOBRE O EGO
INFÂNCIA PSICOLÓGICA
Odesenvolvimento intelectual do ser nem sempre é acompanhado pelo de natureza emocional.
A conquista do conhecimento cultural faz-se com relativa facilidade, quando se é portador de equilibrio mental, mediante o estudo, o exercício, as leituras.
No entanto, o amadurecimento psicológico é mais complexo, exigindo contínua atividade moral e cuidadosa realização pessoal.
Muitos fatores contribuem para essa ocorrência, na generalidade dos fenômenos emocionais.
Entre outros, destacamos os atavismos culturais e sociais, no que dizem respeito à infância e aos poucos direitos que lhe são concedidos durante a formação da personalidade da criança.
Rigidez no lar, como negligência na educação, geram, na sua psique, pavores e comportamentos esdrúxulos, que acompanharão até a idade adulta, tornando-a insegura, pusilânime, desorganizada, dependente...
Toda vez que esse adulto enfrenta desafios, fugirá deles ou procurará mecanismos escapistas para esconder os temores, enfermando ou considerando-se incapaz, deprimindo-se.
Noutras vezes, as reações que assumirá diante das lutas a que seja convocado, fazem-se caracterizar pelo ciúme, pela mágoa, pela raiva, pelo ressentimento, particularidades do ser infantil não desenvolvido, ainda imaturo.
Normalmente desamado, guarda a imagem da severidade com que foi educado no lar e torna-se ditatorial, indiferente, impiedoso.
Reflete aí o comportamento ancestral, que os pais e familiares tiveram para com ele e que, agora, automaticamente demonstra, escondendo os próprios conflitos sob a máscara da dureza, da insensibilidade.
A criança insegura, que permanece no subconsciente do ser adulto, dele faz um infeliz, porque o impele a comportamentos ambivalentes, instáveis, ilógicos.
No íntimo ele teme, e exterioriza agressividade; sente necessidade de carinho, e desvela raiva, ódio; precisa de apoio, de amparo, no entanto foge, isola-se...
Sofre carência de afetividade, disfarçando-a mediante bem urdida crueldade; busca compreensão, mas prossegue agindo com inclemência.
Quase sempre esse adulto, que não amadureceu psicologicamente, sente-se deslocado do Si profundo e do meio social onde se encontra.
Para ocultar o desamor por si mesmo adorna-se de coisas que chamam a atenção, e busca prazeres que lhe não saciam a fome dos desejos.
No fundo, odeia a própria debilidade de caráter, invejando os fortes, detestando aqueles que lhe parecem superiores, assim travando lutas íntimas intérminas, quais atormentados davis contra os golias das paixões internas, que não consegue vencer.
Identificada na infância, que não foi vivida com felicidade nem amor, a causa da sua insegurança, os resíduos daquele período persistem amargurando por toda a existência, caso a pessoa não se resolva pela decisão de reencontrar-se e amar-se, enfrentando a sua criança interior e fazendo-se crescer, realizar-se.
Enquanto essa providência não for tomada, a inquietação infantil ressaltará em todos os seus atos, cada vez apresentando-se sob disfarce diferente.
A felicidade, o equilíbrio e a autorrealização merecem todo o investimento de esforço pessoal, de modo a erradicar esses fatores de perturbação que ficaram ignorados, porém continuam pulsantes e dominadores.
Costuma-se asseverar com certa realidade que, no íntimo, todos os indivíduos são crianças carentes de amparo, de ternura, de entendimento.
Há razões subjacentes nessa afirmativa, graças à herança psicológica infantil da insatisfação e dos medos, da crueldade e da agressividade que ficaram estratificadas no subconsciente, sem libertação, sem conscientização da sua realidade como ser digno.
Atemorizada, a criança, pelas recompensas e pelos castigos, ao libertar-se da sujeição dos pais ou educadores severos, permanece presa às regalias como ao medo das punições divinas, perdendo a própria identidade, confundindo-se, vítima permanente de infundada consciência de culpa, quando não a tem obnubilada temporariamente pela presunção, pela prepotência.
Por melhor que seja, sempre se cobra mais, afirmando que se poderia haver desempenhado com perfeição e profundidade.
Quando se equivoca, perturba-se, deixando que a criança interior assuma o comando da sua conduta, passando a ter medo do correspondente castigo, do qual fica à espera, em conflito.
É indispensável que se faça uma revisão desses conteúdos psicológicos, enfrentando com amor a própria infância não superada, a fim de diluir as fixações, mediante afirmações novas e visualizações afáveis, amorosas, que se sobreponham às de natureza perturbadora, crescendo, a pouco e pouco, na emoção, até atingir o amadurecimento que lhe corresponda à idade real.
Grande número de conflitos, cujas raízes perduram no período infantil, cede lugar à segurança de comportamento, de afetividade, facultando o autoamor, bem como o amor ao próximo, certamente depois de realizar esse encontro com os temores ocultos, que não mais se justificam, deixando de ser fantasmas invencíveis...
Esse esforço bem direcionado, graças ao autodescobrimento, pode ser considerado um renascimento psicológico na vitoriosa reencarnação, cuja meta é desenvolver os valores ínsitos no Espírito e reparar as opções que geraram provas e expiações na passada experiência carnal.
Até esse momento o ego era caprichoso, dominador, porque permanecia com mais vigor do que o Self, não se permitindo superar as paixões primárias e alucinantes.
Prevalecia como fonte de autossustentação, escamoteando a inferioridade através de reações intempestivas, caprichosas, como efeito natural da má-formação do caráter psicológico.
A atração do Self enseja o arrebentar das algemas, no entanto a sua conquista é interior, enriquecida de alegria e de renúncias, sem medos, nem ambições sem significado real.
A reflexão em torno dos objetivos da existência física é imperativo relevante para o amadurecimento psicológico, fator indispensável para a harmonia do indivíduo que se abre ao Si profundo.
Com essa realização, os significados das ocorrências passam a ter profundidade, perdendo o caráter perturbador, afugente, egocêntrico...
Decorre dessa conquista, concomitantemente, admirável compreensão das limitações e fraquezas próprias, como das demais pessoas, que se tornam dignas de estesia e solidariedade, em face do desenvolvimento da consciência em nível superior.
Repartindo o sentimento latente de amor, o adulto psicológico recebe amor, e a criança íntima, acalmada, cede lugar ao ser desenvolvido, equilibrado, portanto saudável.
A harmonia emocional deve acompanhar a intelectual, e vice-versa, trabalhando pelo progresso espiritual na busca da bem-aventurança que a todos aguarda no término da jornada evolutiva, que é a meta.
CONQUISTA DO SI
Todo o empenho humano para um correto amadurecimento psicológico objetiva a conquista do Si, a harmonia do Eu profundo em relação à sua realidade, à compreensão do divino e do humano nele existentes, descobrindo a sua causalidade e entregando-se à fatalidade (de forma consciente) do processo de evolução, que não cessa.
Trata-se de um imenso programa de conquistas plenificadoras, que foram iniciadas no período de consciência de sono, passando pelos diversos níveis de progresso e autodescobrimento de forma gratificante e pacífica, sem qualquer tipo de violência.
À medida que vão sendo fixados os patamares a alcançar, mais amplas perspectivas de triunfo se dilatam no ser,
que se identifica com a vida e alça-se aos valores mais expressivos que passa a descobrir e a ter necessidade de vivenciar.
O ego é produção do estado de consciência, portanto, transitório, impermanente.
Abandonando as regiões sombrias dos conflitos degenerativos, nos quais o ser se demora por largo tempo, eis que começa a fruir o bem-estar sem receio, e a alegria, sem inseguranças, libertado dos conturbadores prêmios e castigos referentes aos atos praticados, a que estava condicionado pelas imposições sociais e religiosas.
O ego, nesse comenos, cede lugar a outras conquistas, que repartem júbilos enquanto compartem identificações realizadoras, e a ausência de angústias como de incertezas favorece a visão lúcida do sentido existencial da vida.
Nesse processo de crescimento, de descobertas valiosas, podem ocorrer vários desvios e insucessos psicológicos, como mecanismos de saudosismo dos dias de inquietação e incertezas sobre os recentes avanços, como fenômenos naturais para a fixação das novas e relevantes conquistas, A larga adaptação no vale produz choques desagradáveis quando o ser se instala na montanha, até que logre aclimatar-se.
Essa é uma ocorrência comum a todas as formas de vida, a todos os seres vivos.
A ânsia de crescimento não tem limite.
O desconhecimento dos potenciais que podem ser movimentados para o tentame e para a realização, é que constitui impedimento para os indivíduos inábeis e imaturos psicologicamente.
Essa luta que o ego trava, no campo das paixões onde se movimenta, alimenta-o e vicia o ser, que se compraz nas imposições que se permite graças às sensações fortes, rechea-das de compensações imediatas, características do período primário da evolução.
Dessa forma, náo se dá conta, imediatamente, das emoções luarizadoras, desacostumado às suas manifestações, adaptando-se ao psiquismo da mudança das planícies constritivas para os planaltos refazentes.
Empreendimento de alto significado para o ser inteligente, propõe esforço e decisão para eleger entre o que se tem e aquilo que se aspira, que pode ser alcançado, eliminando os condicionamentos inquietadores mediante a assimilação de novos, que os substituem, libertadores.
O ser humano é herdeiro da sua história antropológica, fixado nos atavismos das experiências vivenciadas durante as fases primevas do seu desenvolvimento.
Por ser, igualmente, psicológico, desdobra todos os potenciais que possui em latência e arrebenta as amarras ancestrais, a fim de libertar o Eu adormecido, escravizado aos instintos.
Impõe-se, para o cometimento, todo um curso largo de realizações pessoais, íntimas, de análise e avaliação de conteúdos, para a eleição daqueles que são imprescindíveis à vitória, em detrimento dos demais, que se apresentam afligentes.
Disciplinando-se a mente e a vontade, compreendendo-se que a proposta da Vida é a marcha para a Unidad e — sem perda de quaisquer valores conquistados -, o Si desenvolve-se, enquanto o ego desagrega-se.
Nas fases primeiras, esse ego desempenha papéis relevantes, tais: o da preservação da vida, dos direitos ao prazer (transitórios), do atendimento das necessidades (fisiológicas), dos valores pessoais.
Infelizmente, fixa-se, constritor, e passa à condição de algoz, dominando as paisagens do ser e sombreando-as para permanecer em predomínio.
Elaste cendo-lhe a visão e apontando-lhe o Si, reage com violência e estertora-se à medida que perde espaço psicológico, até ser ultrapassado em vitória culminante.
É semelhante ao heroico triunfo das pândavas sobre os kauravas, cuja história mística narra o Mababarata, o incomparável poema da índia, constituído por duzentos mil versos, dos quais apenas a metade é conhecida.
Trata-se da luta entre primos e parentes outros no campo de batalha da consciência: as virtudes (poucas) e os vícios (muitos), em sucessivas pelejas até o momento da vitória dos primeiros.
O ser humano sempre buscou as cumeadas da sensibilidade altruística, conquistando o Espírito, nele real, mediante a superação dos implementos materiais que lhe servem de fator preponderante para o desenvolvimento dos valores preciosos que nele dormem - herança transcendente da sua origem divina, espiritual.
A libertação do Eu profundo ocorre à medida que se desenfeixa dos desejos - raga (as paixões) do conceito budista —, a fim de alcançar a realização interior.
Preocupado com a etapa terminal do processo da evolução e com profunda visão psicológica, Allan Kardec interrogou os mensageiros nobres que o assistiam na elaboração da Doutrina Espírita:
—O que fica sendo o Espírito depois de sua última reencarnação?
E eles responderam: - Espírito bem-aventurado; puro Espírito.
O Si profundo, pleno, é semelhante à transparência que o diamante alcança após toda a depuração transformadora que sofre no silêncio da sua sutilização molecular, li-bertando-se de toda imperfeição interna por que passa e de toda a ganga que o reveste.
Essa conquista é o imenso desafio da evolução dos seres.
LIBERTAÇÃO PESSOAL
A semelhança de alguém que sobe uma montanha e passa a ter uma visão mais ampla dos horizontes - quanto mais altos, maior a conquista da sua paisagem -, a superação do ego permite uma identificação profunda com o Si, que se desvela, manifestando a sua procedência divina e arrebatadora.
Iniludivelmente, o ser, na sua estrutura real, é psiquismo puro, com imensos cabedais de possibilidades.
A imersão no corpo gera-lhe apegos injustificáveis como mecanismos de segurança, não obstante a transitoriedade dos implementos orgânicos.
O esquecimento ou embotamento da visão espiritual produz-lhe o bloqueio para as aspirações relevantes, retendo-o na ambição desmedida da conquista do prazer, por extensão, de tudo quanto culmina em sensações imediatas.
Durante a juventude, pensa em gozar, porque o corpo é forte e rico de hormônios; na maturidade prossegue com o rigoroso desejo de aproveitar as energias que atingem a plenitude; na velhice faz o quadro depressivo da amargura
—por já não continuar desfrutando dos prazeres sensoriais, ou luta para manter um potencial de energias, que não mais retornam, sejam quais forem os recursos aplicados.
Mesmo quando se lhes dilata a duração - a criança interior permanece viva, subconsciente, iludindo-se -, chega o momento do exaurimento, da interrupção pela morte, do enfrentamento da realidade.
A visão transpessoal conduz à continuação da Vida após a liberação do corpo.
Sem nenhum vínculo com as concepções religiosas e doutrinárias de ontem como de hoje, propõe um ser imortal, cujas evidências se multiplicam nos painéis das suas investigações computadorizadas, apresentando uma preparação psicológica para o enfrentamento dessa realidade que será alcançada fatalmente.
Esse processo de desgaste orgânico inevitável é prenúncio da futura experiência imortalista, que propiciará a cada um o encontro com o que é, e não com o que tem e deixa, com o que pensa, e não com aquilo que gostaria de haver realizado.
Nesse momento, o Eu profundo irrompe, arrebentando as camadas do inconsciente onde se encontrava soterrado
—caso não haja sido liberado de forma lúcida - e estabelece tormentosos conflitos na área do psiquismo ou no complexo espiritual de que se constitui - energia pensante que é.
Como os traumas e perturbações que avassalam a criatura procedem das experiências anteriores - na atual ou noutras reencarnações -, o despertar da consciência do Si, amanhã, decorrerá das formulações pensantes, condutas e ações presentes.
Em a Natureza todos os fenômenos e acontecimentos sucedem normalmente por encadeamento lógico, sem interrupção.
As leis que regem a vida são trabalhadas no equilíbrio. Mesmo o caos, que se apresenta como desordem - por uma visão limitada -, faz parte da harmonia no conteúdo do equilíbrio geral.
A conquista do Si impõe-lhe ruptura de todas as amarras, ampliando-lhe as perspectivas existenciais e as realizações profundas.
Não se creia, porém, que nessa fase de libertação pessoal cesse o processo de busca. Quanto maior for a capacidade de entendimento e de desapego do ser, mais amplas perspectivas de conquistas se lhe desenham atraentes, preenchendo-lhe os espaços dominados e abertos a novas realizações.
A saída dos interesses objetivos enseja o infinito campo do mundo subjetivo, transcendente, a ser penetrada qual afirmava São Boaventura, o Doutor Seráfico, que influenciou muitos místicos medievais, ao anunciar que são três os olhos pelos quais se observa: o da carne, o da razão e o da contemplação.
O primeiro enxerga o mundo material, exterior, as dimensões relativas do tempo e do espaço, os objetos, as coisas, as pessoas, preso às sensações imediatas; o segundo vê a lógica através da arte de filosofar, ampliando as percepções da mente; e o terceiro, que faculta penetrar no mundo oculto, da intuição, das realidades transcendentes, extra físicas.
Essa proposta se ajusta à realidade do ser tridimensional da Codificação Espírita: a carne entra em contato com o mundo físico, o perispírito registra o mundo mental, extrassensorial, e o Espírito sintoniza e se alimenta com a estrutura da realidade causal, onde se originou e para onde retornará.
Assim, a visão carnal detecta alguns contornos do estado objetivo, enquanto que a da razão capta os detalhes que constituem a matéria (átomos, moléculas, partículas, entendendo-lhes o mecanismo) e a da contemplação é transmental, energética na sua plenitude.
Os imperativos da Tecnologia e da Ciência, e as exigências do ego obliteraram, no curso da História, a visão contemplativa, e muitas vezes bloquearam a da razão, detendo o ser apenas na da carne.
A libertação pessoal recupera a percepção profunda, por superação do ego e a dilatação do Self, com o consequente triunfo do Espírito sobre a matéria, sem anular qualquer um dos olhos, facultando-lhes o direcionamento próprio que lhes seja peculiar, conforme a circunstância.
Com essa aquisição, as questões básicas da existência, que a Psicologia procura responder: quem é o homem? De onde vem? Para onde vai?, tornam-se factíveis de elucidação, na perfeita união das correntes psicológicas individualistas do Ocidente e espiritualistas do Oriente...
Nesse sentido, a Doutrina Espírita sintetiza ambas as visões psicológicas, interpretando os enigmas do ser e capacitando-o à superação do ego, na gloriosa conquista do Eu profundo, mediante a libertação pessoal das paixões perturbadoras, anestesiantes, escravizadoras.
Nasce então, nesse momento, o homem pleno, que ruma para o Infinito, imagem e semelhança de Deus.
FIM
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