Autodescobrimento: uma Busca Interior

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CAPÍTULO 4

O INCONSCIENTE E A VIDA

O INCONSCIENTE

Do ponto de vista psicológico, o inconsciente é o conjunto dos processos que agem sobre a conduta, mas escapam à consciência.

Na História podemos encontrar as primeiras noções sobre o inconsciente, detectadas por vários filósofos desde Leibniz a Schopenhauer, tornando-se tema da Ciência somente a partir das admiráveis pesquisas de Charcot, Pierre Janet - na Universidade de Paris —, assim como de Liebault e Bernheim — na de Nancy —, nas suas experiências hipnóticas, tentando encontrar as causas psicológicas para as perturbações fisiológicas.

Com as notáveis contribuições de Freud e, mais tarde, de Jung, entre outros, o inconsciente passou a ser a parte da atividade mental que inclui os desejos e aspirações primitivas ou reprimidas, segundo o mestre de Viena, em razão de não alcançarem a consciência espontaneamente, graças à censura psíquica que bloqueia o conhecimento do ser, mas somente através dos métodos psicoterápicos - revelação dos sonhos, redescobrimento dos fatores conflitivos, dos atos perturbadores e outros - ou dos traumas profundos que afetam o sistema emocional.

Podemos distinguir duas formas de inconsciente: o psíquico ou subcortical e o orgânico ou cortical.

Além dessa visão ou mesmo através dela, Jung concebeu o inconsciente coletivo, que seria uma presença no indivíduo com todas as experiências e elementos mitológicos do grupo social, decorrentes da estrutura hereditária do cérebro humano.

O subconsciente psicológico ou subcortical - fisiológico, instintivo - é automático, inicial, natural, corresponde ao id de Freud e aos arquétipos de Jung, enquanto o orgânico ou cortical responde pelos condicionamentos de Pavlov, pelo polígono de Grasset e os traumas e recalques estudados pela Psicanálise.

Acreditava-se, anteriormente, que o ser subcortical era um amontoado de automatismos sob o direcionamento dos instintos, das necessidades fisiológicas.

A moderna visão da Psicologia Transpessoal, no entanto, demonstra que a consciência cortical não possui espontaneidade, manifestando-se sob as ocorrências do mundo onde se encontra localizada.

Por isso mesmo, esse inconsciente é o Espírito, que se encarrega do controle da inteligência fisiológica e suas memórias - campo perispiritual -, as áreas dos instintos e das emoções, as faculdades e funções paranormais, abrangendo as mediúnicas.

Nesse subcórtex, Jung situou o seu inconsciente coletivo, concedendo-lhe atributos quase divinos.

Modernamente, a Genética descartou a transmissão cromossômica, encarregada dos caracteres adquiridos.

Esse inconsciente coletivo seria, então, o registro mnemónico das reencarnações anteriores de cada ser, que se perde na sua própria historiografia.

Felizmente o ser não tem consciência de todas as ocorrências do córtex, que as registra automaticamente — inconsciente cortical - pois se o conhecera, tenderia sua vida psíquica a um total desequilíbrio.

Necessário, portanto, ao ser humano, saber e recordar, mas, também, desconhecer e olvidar...

Todos os funcionamentos automáticos do organismo dáo-se sem a participação da consciência, o que lhe constitui verdadeira bênção.

Não raro, nessa área, patologicamente podem ocorrer dissociações mórbidas do psiquismo, dando origem às personalidades duplas (secundárias) que, em se tornando conscientes, prevalecem por algum tempo.

Janet pretendia, em equivalente conceito, resumir todas as comunicações mediúnicas, fenômenos dissociativos do psiquismo, considerando-as, por efeito, de natureza patológica.

É, no entanto, nessa área, que se registram as manifestações mediúnicas, igualmente ocorrendo estratificações anímicas, que afloram nos momentos dos transes, às vezes, interferindo e superando os fenômenos de natureza espiritual.


O SUBCONSCIENTE

Consideremos o subconsciente como parte do inconsciente, que pode aflorar à consciência, com os seus conteúdos, alterando o comportamento do indivíduo.

Ele é o arquivo próximo das experiências, portanto, automático, destituído de raciocínio, estático, mantendo fortes vinculações com a personalidade do ser.

É ele que se manifesta nos sonhos, nos distúrbios neuróticos, nos lapsos orais e de escrita - atos falhos - tornando-se, depois de Freud e seus discípulos, mais tarde dissidentes, Jung e Adler, responsável também pela conduta moral e social.

Os pensamentos e atos — logo depois de arquivados no subconsciente — programam as atitudes das pessoas.

Assim, quando se toma conhecimento de tal possibilidade, elegem-se quais aqueles que devem ser acionados - no campo moral e social - para organizar ou reprogramar a existência.


O INCONSCIENTE SAGRADO

À medida que o ser se conscientiza da sua realidade, transfere-se de níveis e patamares da percepção psicológica, para aprofundar buscas e sentir o apelo das possíveis realizações.

Fase a fase, identificando-se com os seus conteúdos psíquicos, a visão dos objetivos íntimos se lhe agiganta e cada conquista faculta-lhe um elenco de entendimentos que fascinam, motivando-o ao avanço e à autopenetração profunda.

Crê-se, com certa lógica, que a aquisição da consciência plena faculte sabedoria imediata, harmonia e certa insensibilidade em relação às emoções.

Fosse assim e condenaríamos o sábio à marginalidade, por não participar, solidário, dos problemas que afligem os demais indivíduos em si mesmos e na sociedade em geral.

A sabedoria resulta da união do conhecimento com o amor, cujos valores tornam o ser tranquilo, não insensível;

afetuoso, não apaixonado.

A perfeita compreensão da finalidade do sofrimento, na lapidação, desenvolvimento e evolução, proporciona-lhe solidarizar-se com equilíbrio, sem compaixão nem exaltação, qual ocorre com um educador acompanhando o esforço e sacrifício do aluno até sua exaustão, se necessário, para a aprendizagem.

Havendo transitado pelo mesmo caminho, ele o bendiz, agradecendo a sua permanência, que propicia a outros candidatos experiências equivalentes.

A visão de humanidade alarga-se e o sentimento de amor desindividualiza-se, para sentir uma imensa gratidão pelos que passaram antes, aqueles que prepararam a senda que ele percorreu; desponta-lhe uma grandiosa complacência pelos que ainda não despertaram no presente, compreendendo-lhes a infância espiritual em que se demoram;

amplia-se a capacidade de auxílio em favor dos que estão empenhados na autoiluminação e, por fim, agiganta-se, afetuoso, em relação ao futuro em que se adentra, mediante as incessantes realizações em que se fixa.

Atingindo os níveis superiores de consciência, nos quais vivência estados alterados, lentamente abre comportas psíquicas que se assinalam por traços dessas percepções até imergir no inconsciente profundo.

Esse inconsciente profundo, porém, que alguns psicólogos transpessoais e mentalistas denominam como sagrado, é depósito das experiências do Espírito eterno, do Eu superior, da realidade única da vida física, da causalidade existencial...

A identificação da consciência com esse Ser profundo proporciona conquistar a lucidez sobre as realizações das reencarnações passadas, num painel de valiosa compreensão de causas e efeitos próximos como remotos.


Diante das possibilidades agigantadas, o indivíduo, lentamente, deixa todos os apegos - remanescentes do ego

— , todos os desejos - reflexos perturbadores do ego -, todas as reações - persistência dominadora do ego...

O Mal e os males não o atingem, porque a sua compreensão do Bem o leva a identificar Deus em tudo, em to dos, amando as mais variadas, ou agressivas, ou persuasivas formas de alcançá-lO.

Essa libertação, essa desidentificação com o ego, inunda-o de equilíbrio e de confiança, sem pressa nos acontecimentos, sem ressentimento nos insucessos.

A dimensão de tempo-espaço cede lugar ao estado de plenitude, no qual a ação contínua, iluminativa, desempenha o papel principal no prosseguimento da evolução.

Abstraindo-se das objetivações e do mundo sensorial pelo desapego, a vida psíquica se lhe irradia generosa, comandando todos os movimentos e ações sob o direcionamento da realidade imortal, que alguns preferem continuar denominando como inconsciente sagrado.

Tornando-se plenamente realizado, sente-se purificado das mazelas, sem ambições, nem tormentos.

Aproximase do estado numinoso. Liberta-se.




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