O Despertar do Espírito

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CAPÍTULO 12

SEM CONFLITOS NEM FOBIAS

O medo da morte, que se encontra ínsito no ser, consciente ou inconscientemente, como mecanismo de preservação da existência física, à medida que lhe ocorre o amadurecimento psicológico cede lugar à confiança na vida.

Avançando de par com o progresso intelectual, o desenvolvimento emocional destrava os elos castradores e limitativos do comportamento, facultando o desabrochar dos legítimos sentimentos humanos, tais a amizade, a fraternidade, a esperança, a confiança, o amor, que facultam o entendimento dos mecanismos existenciais e do crescimento moral.

As amarras com os conflitos afrouxam os seus nós e o ser avança, a princípio timidamente, depois com decisão nos rumos da auto-afirmação, porque aos receios sucede a coragem para a luta, ao sofrimento sobrepõe-se a alegria de viver, à depressão toma lugar a esperança de conquistar tudo quanto aspira, harmonizando-se e alcançando o equilíbrio interior.

Sob o tratamento para a libertação, o antes paciente se transforma em seu próprio psicoterapeuta, que não se nega a ser orientado pelo especialista capaz de facultar-lhe maior e melhor entendimento dos fenômenos que lhe dizem respeito, trabalhando-se com afinco para encontrar a cura real.

O medo da morte pode ter origem na infância. Quando mal informada, a criança experimenta pavor ante o desaparecimento dos seres queridos e, por consequência da sua própria desintegração.

Não absorvido esse temor, mais tarde se transforma em desequilíbrio que gera perturbação e transtorna o comportamento do indivíduo.

A falta de amor na infância é responsável por muitos males que afligem os adultos.

A sobrevivência real de uma pessoa depende dos vínculos amorosos que foram mantidos com aqueles que a cercavam na fase infantil.

Por outro lado, a falta de toque afetivo na criança, embora a assistência com cuidados e técnicas, pode responder por enfermidades graves e mesmo pela morte por anaclisia.

Esse contato é fundamental, porque vitaliza o bebê, faculta-lhe o estímulo para todas as funções orgânicas e psicológicas, dando-lhe segurança.

Quando falta esse acolhimento gratificante, a criança se faz submissa, ora pelo temor, ora se isola, dando curso a um processo de fixação neurótica, face às ameaças e às explosões dos pais inseguros e atormentados, que alternam esse comportamento com expressões de amor-compensação, que não são absorvidas positivamente.

Como resultado dos sofrimentos dessa natureza que são impostos à criança, tem origem o medo da morte ou a sua necessidade como fuga à situação afugente.

Somente rompendo-se em terapia esse medo, através do enfrentamento do problema, é que o paciente consegue compreender o fenômeno biológico sem o receio de extinção da sua realidade.

A vontade de lutar pela vida é o estímulo que conduz à ruptura do medo da morte, quando se encara com naturalidade o desgaste biológico que ocorrerá e a alegria de viver enquanto as possibilidades assim o permitem.

O despertar para objetivos mais elevados do que aqueles imediatistas, auxilia a compreender a funcionalidade existencial e o significado psicológico de se estar vivo, portanto, atuante e útil no contexto do grupo social no qual se movimenta.

A compreensão dos valores existenciais e as possibilidades de utilizá-los a benefício próprio ou de outrem, diminui o medo da morte, porque o tempo desaparece na sua convenção para significar alegria e luta, trabalho e compensação afetiva.

O importante não é viver muito, mas viver significativamente cada momento e a todos os instantes.

A morte, desse modo, não se afigura destruidora, mas uma interrupção momentânea no processo vital que decorre do organismo.


Xenofonte, o trágico grego, narra, que Ciro, o Grande, rei da Pérsia, antes de morrer, dirigiu-se aos seus, despertando-os para a realidade do ser:

—Meus queridos filhos, não creiais, depois que eu vos tiver deixado, que não mais serei alguma coisa e terei desaparecido.

Durante o tempo que eu vivia entre vós todos, não distinguíeis minha alma, porém compreendíeis, através dos meus atos e dos meus gestos, que ela se encontrava em meu corpo.

Ficai certos de sua existência, embora não mais se torne visível...

O verdadeiro sábio, aquele que realizou o sentido existencial em plenitude, morre serenamente, porque entende que a sua experiência teve um começo, um desenvolvimento e é normal que atinja a meta da transferência para outro campo vibratório.

O imaturo, aquele que se deixou conduzir pela futilidade e da vida somente buscou o prazer, é tomado pelo pavor da morte, imaginando a perda dos encantamentos e gozos que mais o fustigaram do que o fizeram repousar.

A morte, assim considerada, conduz o viajante da hospedaria terrestre para o seu lar verdadeiro.


Vitória sobre a morte

Em todo o Universo, o repouso não existe, já que o movimento incessante é a mola central do seu equilíbrio.

Da mesma forma, todos os fenômenos biológicos se encontram em intérmina alteração, através de cujo curso se alternam as moléculas que compõem e desestruturam formas, sem que se extingam.

O aniquilamento é só aparente, porquanto a pobreza dos sentidos materiais impede a sua penetração na complexidade das micropartículas em constante movimentação.

É natural, desse modo, que a morte seja uma realidade no mundo das aparências através de cujo mecanismo a vida estua.

Durante a existência orgânica o Espírito avança a cada momento para o desenlace material, por cujo meio desenvolve todas as aptidões que lhe estão em latência.

E compreensível e necessário que o ser inteligente reserve tempo para a reflexão em torno desse fatalismo inexorável.

Postergar a meditação a seu respeito, por medo ou ilusão materialista, oculta imaturidade psicológica que o tempo descaracterizará.

Não será pelo fato de ignorar-se essa realidade que ela deixará de existir.

Quanto mais se a analise e a compreenda, melhor para a sua superação, tornando-a parte do comportamento de toda hora.

Conflitos de variada ordem conspiram no indivíduo para que evite pensar na morte, gerando indisfarçável fobia sobre a ocorrência de que ninguém se furtará.

Observando-se a Natureza, facilmente se constata a organização que vige "soberana, quando uma forma cede lugar a outra em contínua transformação, mantendo sempre a vida.

Os seres animais e particularmente o humano, vivem o processo transformador de maneira significativa, alterando o conjunto e modificando a aparência, experimentando as alternâncias da saúde e da doença, da infância, da juventude, da maturidade e da velhice, até o momento da cessação dos movimentos e a consequente desorganização celular...

A morte é um suave meio para se adormecer e logo se despertar, cada qual conforme as condições adquiridas na experiência fisiológica precedente a esse momento.

Em todos os tempos, a morte mereceu cuidados e observações, tornando-se razão importante para o pensamento filosófico que, desejando brindar propostas sobre a vida, buscou-a para melhor elucidar os enigmas existenciais.

As revelações espirituais em momentosas comunicações entre os dois mundos - o material e o transcendente - deixaram marcas indeléveis sobre a continuidade do ser espiritual, que arrebataram todos aqueles que privaram do intercâmbio pulsante.

Psicologicamente, a morte parece significar a destruição, o fim, que o ser humano teme como recurso nobre para preservar a jornada física.

Apesar disso, fragilizado e transtornado, não poucas vezes, foge pela falsa passagem do suicídio, em tentativa de apagar a consciência ou de repousar, defrontando-a exuberante, para logo tombar em excruciante alucinação de desespero e frustração...

Ademais, quando a morte passa por um lar, torna-se detestada, por arrebatar o ser loução ou o enfermo querido, ou arrebanhá-lo cruelmente mediante a tragédia de um acidente, de um crime, da hediondez...

Mesmo nesses casos, é a grande libertadora que propõe o descortinar de horizontes felizes ao viajor que, recuperado dos débitos antes contraídos, prepara-se para receber aqueles afetos que virão mais tarde.

A vitória sobre a morte é inevitável, tendo-se em vista o próprio fluxo da vida.

No corpo ou fora dele, o Eu superior continua desempenhando papel relevante na sua historiografia iluminativa.

Pensando-se na morte, ao invés de supô-la como devastação e sombra, deve-se considerá-la como harmonia e luz, que são as naturais consequências da luta evolutiva.

A vitória sobre a morte também se patenteia na alegria de superar-se sofrimento largo e insuportável, sem qualquer chance de recuperação, seja orgânica, mental ou emocional, quando a pessoa está devastada por enfermidades pertinazes e renitentes.

Outrossim, diante da velhice que já atendeu aos compromissos humanos e se deteriora, ante a inclemência dos fenômenos biológicos no seu desgaste ininterrupto, o cessar das turbulências da maquinaria física, abrindo novas portas de realizações e de crescimento espiritual, constitui a verdadeira dádiva da vida, a colheita de frutos sazonados, especialmente se o trânsito ocorreu em clima de dignidade e de elevação.

O desgosto, que toma posse daqueles que se viram defraudados pela perda dos seres queridos, embora traduza afetividade e carinho, também guarda uma alta parcela de egoísmo retentivo, que somente pensa em si, não se dando conta do que representa para o liberto a ruptura dos laços que o mantinham no carro celular em sofrimento prolongado.

Ante os seres limitados desde a infância em paralisias físicas e mentais angustiantes, a morte natural significa conquista de mérito que proporciona felicidade.

Passada a noite de aflição, rompe a madrugada de bênçãos, isso porque todos os conflitos e dores sem termo têm o seu nascedouro nos atos transatos, nos quais, se equivocando, o Espírito armazena o tributo que deve ressarcir em novas experiências evolutivas.

A vida é, dessa forma, um permanente canto de louvor, de amor, de gratidão ao Criador!

Não obstante, organizada sob o ponto de vista de atração molecular, é somente aparência que se desestrutura, retornando à constituição inicial de energia que é, e no caso do ser humano, com a peculiaridade de pensar.

Tudo cessa na sua constituição organizada, para ressurgir em outra expressão igualmente harmônica, dando curso aos nobres objetivos da vida infinita.

O silêncio, portanto, aparentemente tétrico, da sepultura, constitui ausência de percepção para captar as vibrações da fonte causal de onde todos os seres procedem.

Para que a vitória sobre a morte se faça plena, convém pensar-se, expressar-se e agir-se com amor, deixando-se na retaguarda, pelos caminhos percorridos, sinais luminíferos que apontarão a meta gloriosa que espera ser alcançada.

Ante a constatação do fenômeno mortis, é justo que se pense na realidade da vida, avançando com júbilo e sem temor na sua inevitável conquista.

A harmonia psicológica, resultante de amadurecimento espiritual, proporciona a visão otimista da vida sob qualquer aspecto que se apresente, porquanto a sua realidade independe de alguém encontrar-se no corpo ou fora dele, mas essencialmente do seu comportamento e atitude perante si mesmo e a Consciência Cósmica.


Encontro com a saúde

O processo psicoterapêutico que faculta o equilíbrio, auxiliando o paciente a eliminar as enfermidades reais, psicossomáticas, imaginárias ou traumas que se apresentavam perturbadoras leva, inevitavelmente, a comportamento desafiador, qual seja o da identificação das elevadas potencialidades de que dispõe para o enfrentamento com a própria consciência.

Rompendo as algemas que o prendiam aos estados fóbicos e de sofrimentos variados, começa a sentir a claridade abençoada do sol primaveril do auto-encontro e as possibilidades, antes inimaginadas, que lhe estavam ao alcance, enquanto recalcitrava e se atormentava na masmorra do encarceramento pessoal.

A liberdade de pensamento e de ação é conquista lenta, que deve ser demarcada com vitórias sobre as pressões e condicionamentos psicológicos, morais e sociais.

A pouco e pouco, enquanto a consciência desperta para os valores éticos relevantes e a necessidade da plenitude, alteram-se as paisagens antes afugentes, porque há mudança no ângulo de observação dos quadros da vida, que é sempre generosa e rica de dádivas, cabendo a cada ser humano retirar a parte que melhor o atende e o felicita.

A saúde legítima não é algo que se busca fora da própria realidade, qual o medicamento que se encontra numa farmácia aguardando para ser utilizado...

Trata-se de um esforço que o paciente tem o dever de empreender, a fim de alterar o quadro de considerações em torno de si mesmo e dos outros, da Natureza e das suas Leis, de modo a identificar-se com o Eu profundo e avançar no rumo das conquistas íntimas, imponderáveis e valiosas para a sua harmonia.

A ruptura das condições inquietadoras exige decisão e terá que ser feita pelo próprio indivíduo.

O seu psicoterapeuta é alguém que lhe ensina o método, que demitiza os impedimentos, que o conduz ao encontro de todos os recursos que O Despertar do Espirito possui e permanecem esquecidos.

O trabalho, porém, é pessoal e intransferível, exigindo interesse consciente e pleno pela conquista da harmonia, antegozando, passo a passo, a alegria de cada degrau conquistado e daqueles que deverão ser vencidos.

Irrompe no íntimo, nesse cómenos, a alegria de viver, descobrindo-se quanto se é útil ao contexto social, e como é importante a contribuição que se pode oferecer à sociedade, a fim de que outros igualmente encontrem o caminho da autorealização.

Não raro, enfermos com doenças degenerativas como o câncer, a AIDS e outras, desfrutam de imensa alegria por estarem vivos e lutando contra a conjuntura existencial, sem arrefecerem o ânimo, antes confiantes nos resultados saudáveis das terapias médicas especializadas, fruindo em cada momento o máximo das experiências, sem preocupação com o tempo que lhes resta.

Para muitos, tais problemas orgânicos constituíram verdadeiras bênçãos, porque os despertaram para outras realidades mais vigorosas e caras ao sentimento, e que antes ignoravam.

Sem lamentações, enfrentam as injunções penosas com tranquilidade estimulante, desfrutando de estado saudável, enquanto diversas pessoas, catalogadas como sadias, escondem a sua situação em conflitos tormentosos, somatizando distúrbios que as levam a enfermidades injustificáveis, ou cultivam perdas, ausências, necessidades que podem ser facilmente superadas, desde que se resolvam por enfrentar as condições desafiadoras do momento, que sempre cedem lugar a outras de caráter diverso.

A doença somente é impedimento para quem se recusa a alegria de existir e receia enfrentar a conjuntura, que considera limitadora para a sua felicidade.

Pode-se viver com equilíbrio, mesmo que sob algumas limitações, perfeitamente superáveis.

Quando se crê que a enfermidade é uma desgraça, que a tudo impede, ei-la que assim se manifesta, gerando embaraços e até imobilizando o paciente.

Se, no entanto, a visão é otimista e rica de resignação dinâmica, que não se submete ao seu impositivo, mas luta por superá-lo, transforma-se em experiência positiva para que os objetivos existenciais sejam alcançados.

A existência humana é uma sucessão de quadros comportamentais que se alternam incessantemente, proporcionando enriquecimento de experiências a todos quantos se encontrem interessados na construção da sua realidade.

A auto compaixão e a autocomiseração têm que ceder o passo à autoestima, à autovalorização, de forma que todos os investimentos da vida sejam convidados a realizar os papéis para os quais existem nos diversos painéis da vida.

E esse desempenho resulta da contribuição do ser humano, que está sempre convidado a mudanças, crescendo com as conquistas realizadas e encontrando novos campos a joeirar, o que o torna mais digno de viver.

Uma antiga lenda hindu narra que um homem tinha o hábito de conduzir água do poço à casa do amo, carregando dois potes, que atava a uma vara carregada transversalmente sobre os ombros.

Um dos potes, porém, era rachado, o que causava prejuízo, face à água que se perdia no transporte entre a fonte e o domicílio.

Não obstante, o aguadeiro continuava o seu mister sem apresentar qualquer mal-estar.


Sempre quando chegava e ia derramar a água no depósito, percebia que somente conseguira trazer um pote e meio do precioso líquido. Consternado com a situação, o pote rachado, oportunamente, à borda do poço, falou ao carregador:

—Lamento o prejuízo que te proporciono.

Infelizmente, face à minha rachadura, deixo que se perca metade da água que conduzes pelo caminho.

Sinto-me confundido e infeliz.


O modesto carregador, no entanto, respondeu-lhe:

—Não te preocupes com isso. Eu reconheço esse prejuízo; porém, resolvi transformá-lo em lucro.

Vem ver comigo.

Observa que o lado por onde derramas a água está bonito, face às plantas, flores e cores que esplendem.

Muito bem, como eu me dei conta de que irrigavas esse lado da estrada, resolvi semear-lhe flores, e eis o resultado...


O pote rachado, entretanto, redarguiu-lhe:

—Apesar disso, somente conduzes um pote e meio com água ao invés de dois, e isso traz-te dano.

—Enganas-te - ripostou-lhe o aguadeiro -.

Graças à sementeira que fiz e à tua irrigação natural, diariamente ali colho algumas flores e adorno a casa do meu amo, o que muito o alegra e felicita.

E isso devo a ti...

E sempre possível transformar limite em harmonia, falta em completude e ausência em esperança.

Dependendo de cada um, aquilo que é escassez, de alguma forma poderá converter-se em lição de vida, proporcionando equilíbrio e prazer.

A ausência de determinados padrões do que se convencionou chamar saúde total, com habilidade e criatividade se transmuda para utilidade e riqueza emocional.

O encontro com a saúde é fácil, a sua preservação tornase, porém, um grande esforço que necessita ser mantido com espírito jovial e criativo, a fim de que os pequenos acidentes de percurso não se transformem em desequilíbrio e rebeldia.

Um coração jovial e um espírito amável resolvem quaisquer problemas proporcionando saúde e paz, já que o trânsito orgânico se caracterizará sempre por pequenos convites à reflexão e à manutenção dos objetivos abraçados.


Auto-realização e paz

Procurar entender o reservatório do inconsciente humano, em paralelismo com o consciente, que é conforme a capacidade de entendimento de cada um, tem sido a labuta afanosa dos pensadores e estudiosos do ser através dos tempos.

A partir de Leibnitz, com a teoria das mónadas - cuja diferença entre si estava na forma lúcida como cada qual entendia o mundo, desde o estágio mais inconsciente da alma que constituem a matéria, até a suprema mónada, que é a consciência superior e absoluta ou Deus, tem início uma nova formulação do ser.

Essa teoria sofreu alterações nas interpretações do inconsciente conforme cada filósofo, tais Hegel com a sua dialética, Schopenhauer com a sua conceituação de vontade apresentada na teoria do inconsciente absoluto, que se expressa continuamente nos diversos planos da vida, quais o físico, o psíquico e o metafísico, significando a base, a lógica do mundo, a diretriz de segurança, rumo único para desenvolver-se e alcançar a plenitude da consciência ou da salvação e redenção de tudo quanto existe.

Freud, como psiquiatra, melhor do que ninguém se adentrou no profundo do ser, mediante o seu inconsciente, já percebido por Carus e Nietzsche.

Freud, porém, através da psicanálise, conseguiu elaborar um sistema através do qual a consciência se revela somente em uma parte, que se manifesta como deformada da vida psíquica, que somente será desvelada, quando seja possível reunir em um mesmo estudo o inconsciente, o consciente e o subconsciente do ser humano.

O Despertar do Espirito Praticamente todos os fenômenos da vida humana se iniciam e passam pelo inconsciente, onde se encontram as tendências libidinosas, que permanecem esmagadas pelo critério decorrente da censura elaborada e mantida pela consciência.

Prosseguindo nas pesquisas do mestre, Carl G.

Jung concluiu pela realidade do inconsciente coletivo, que reúne todas as realizações e vivências das gerações passadas, incluindo as animais, por onde teria passado o ser humano, apresentando as suas consequências na expressão atual.

Aprofundando-se, porém, a sonda da investigação no abismo do inconsciente humano, as heranças coletivas constituem as experiências individuais das reencarnações anteriores, proporcionando o armazenar das conquistas e prejuízos que permanecem na memória extra-cerebral - no perispírito - , não poucas vezes ressumando em paz, quando saudáveis ou em conflitos, se procedentes de erros e defecções morais.

São esses comportamentos infelizes que geram, na conduta psicológica, os tormentos de difícil compreensão psicanalítica, por transcenderem à atual existência corporal.

Absorvidos pela personalidade, que se apresenta conflitiva, instalam-se e refletem-se na libido - a vigorosa herança dos instintos primários - responsável por inumeráveis distonias, ansiedades e transtornos fóbicos.

Buscar a terapia da autoconsciência constitui o recurso valioso para a aquisição da saúde e da harmonia, que se interdependem.

O Espírito é o arquiteto seguro do próprio destino, por meio das condutas que se impõe.

Refletem-se em cada existência as aquisições saudáveis ou mórbidas, que dão curso ao equilíbrio ou à insanidade.

Castradoras algumas das injunções pretéritas, que o inconsciente exige do indivíduo, aguardam cuidados especiais para serem superadas e diluídas.

Não poucas vezes manifestam-se como rigidez corporal, tensões musculares, como se anéis vigorosos imobilizassem o paciente, que se angustia em processos respiratórios deficientes, entrecortados, inibidos, como resultado de ocorrências perinatais, tormentos experimentados na infância, mas cujas matrizes remontam às existências passadas, desencadeadoras dos mecanismos aflitivos da atualidade...

Em casos dessa natureza, a terapia bioenergética de Reich propicia a libertação dos movimentos, a aceitação do corpo, rompendo os elos retentores e facultando a integração harmônica do ego com o Self, sem prejuízos psicológicos para o ser consciente.

Em outros conflitos mais complexos, nos quais as heranças do inconsciente coletivo são mais constritoras, as propostas freudianas, junguianas, behavioristas oferecem mananciais terapêuticos de resultados eficientes e libertadores.

A realidade, no entanto, é que nesse empreendimento - a busca da auto-realização e da paz -, todos necessitam da experiência e das terapias especializadas, de que se fazem instrumentos os verdadeiros missionários das ciências psíquicas e psicológicas para a saúde e o bem-estar, a paz e a alegria perfeita.

Em qualquer processo, todavia, o ser desempenhará sempre um papel fundamental para a própria recuperação, qual o da autoconsciência, da conquista do Si, para que a saúde real e a paz legítima se lhe instalem nos painéis existenciais, facultando-lhe a alegria plena de viver.

Nem sempre a paz será a placidez das águas tranquilas que, às vezes, repousam sobre decomposição orgânica e morte, qual sucede nas regiões pantanosas...

A paz resulta da consciência sem choque com o inconsciente, que a irriga de ideais superiores e a estimula às realizações enobrecidas.

Não impede que surjam novas refregas, consistindo em equilíbrio perante os desafios e confiança no desempenho das tarefas.

Superando a fase dos conflitos, o indivíduo constata a excelência dos resultados dos esforços envidados, ora manifestando-se como bem-estar.

A marcha da evolução, no entanto, não cessa na autorealização e na paz, que são de momento um clímax, facultando abrirem-se novos painéis de progresso, porque é inestancável a marcha para o infinito.

Nesse processo vitorioso, o Espírito se despe das escamas pesadas do ego, resultantes das reencarnações e consolida o Self, que o alçará às cumeadas dos altiplanos, para levantar voos mais audaciosos na direção de Deus, que o aguarda através dos milênios de evos.

Vencer as sombras densas para alcançar a luz imarcescível; libertar-se das doenças e dos transtornos psicológicos; alargar a percepção da realidade, saindo da estreiteza dos limites em que se encarcera; diluir barreiras do pensamento pessimista em favor do idealismo altruísta - eis a saga esplendorosa que deve ser encetada por todos os seres humanos que nascem como princípio inteligente e atingem a glória solar em êxtase de auto-realização e paz.






FIM





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