O Despertar do Espírito

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CAPÍTULO 2

O DESPERTAR DO ESPÍRITO

O homem e a mulher da atualidade, após os grandes e inimagináveis voos do conhecimento e da tecnologia debatem-se, surpresos, nas águas turvas da inquietação e do sofrimento, constatando que os milênios de cultura e de civilização que lhes alargaram os horizontes do entendimento não lhes solucionaram os grandes desafios da emoção.

Há uma imensa defasagem entre o homo tecnologicus e o ser espiritual que se apresenta desequipado de recursos para os grandes enfrentamentos propostos pelos mecanismos das suas próprias construções.

A robotização, a globalização, as programações pelos meandros da INTERNET, a desumanização dos sentimentos, objetivando a conquista dos patamares do poder, da glória e do prazer, conspiraram dolorosamente contra o ser essencial, que se reveste da estrutura física, afim de desempenhar o ministério da evolução.

Como efeito inevitável, há glórias da mente e abismos de sombras do sentimento.

O enriquecimento ilícito de uns trabalha em favor do crescimento da miséria de bilhões de criaturas outras que lhes constituem a grande família e permanecem ignoradas.

O gozo ensandecido e desgastante através do sexo desvairado, das drogas aditivas, do álcool degradante, do tabagismo assassino, dos vícios de todo porte enlanguescem os sentimentos ou os açulam absurdamente, consumindo as aspirações do bom, do belo e do nobre, que constituem a essencialidade da existência física.

Automatizado pela mídia que o comanda, oferecendo-lhe o tóxico embriagador para os sentidos, o ser quase não tem tempo ou lucidez para pensar na grandeza de que se constitui, perturbado pelas paixões a que se entrega, e que o devoram.

Na rampa escorregadia da ilusão, vez que outra tenta segurar-se nas bordas do resvaladouro que o arrasta, raramente conseguindo erguer-se, por encontrar-se dependente e fragilizado para os esforços de crescimento íntimo e valorização de si mesmo.

Acostumou-se a crer que as conquistas profundas são secundárias desde que se possua dinheiro, posição social e poder, elementos básicos para a aquisição do prazer, já que a felicidade não lhe vai além de tudo quanto fere os sentidos e os sacia...

Infelizmente, porém, quanto mais sorve o gozo abrasador, mais esfaimado se encontra de alimento que o nutra, auxiliando-o na coordenação dos reais interesses pela vida.

Há um pego quase impreenchível entre aquilo a que aspira e a quota que consegue.

Desamparado interiormente pela fé religiosa, que lhe oferece cerimônias complexas de cunho meramente social, objetivando a promoção do ego em detrimento do Eu profundo, afasta-se do Psiquismo Divino, sua origem e sua meta, tornando-se agnóstico, não obstante formalmente vinculado a uma Doutrina ou seita que lhe ofereça maior contribuição de vaidade ou de recursos transitórios para O Despertar do Espirito a valorização do personalismo.

Enquanto isso, refugiase nos conflitos que evita exteriorizar, dissimulando a realidade em que se debate nas fugas espetaculares do exibicionismo e da luxúria, da soberba e do campeonato da extravagância, constatándo-se irritadiço, insatisfeito e atormentado.

O túnel, pelo qual jornadeia, pejado de sombras e escorregadio, parece-lhe não oferecer alternativa de mudança do comportamento, qual se fosse uma correnteza que o arrasta irresistivelmente no rumo do desconhecido.

O pavor assalta-o, a desconfiança aflige-o, o vazio existencial consome-o...

Nas esferas sócio-econômicas menos privilegiadas, os rescaldos da insensibilidade dos poderosos queimam as carnes das almas necessitadas, nos seres que se alucinam e se atiram uns contra os outros na fúria de conquistar algo para a sobrevivência.

Enquanto nas camadas sociais, ricas e bem nutridas pelo conhecimento e pelo destaque na comunidade, as lutas são travadas à socapa e a hediondez se faz disfarçada mediante sorrisos trabalhados pelas técnicas de comunicação, os pobres enxameiam nos meandros das necessidades imediatas, impossibilitados de ocultarem os estados de miséria em que chafurdam, atacando-se em desespero e partindo para a agressão, para a violência urbana avassaladora.

Os grandes movimentos de massa, invariavelmente repetem o espetáculo romano do circo, oferecendo divertimento e desvio dos objetivos existenciais, como um ópio proporcionador de prazer e esquecimento momentâneos, para um despertar posterior em combustão de maior desespero.

Merece, no entanto, que se recorde, que César oferecia o circo e dava o pão, o que na atualidade se faz diferente, brindando-se apenas o ardor dos desejos, os trejeitos da vulgaridade e nenhum alimento...

O homem e a mulher destes dias estão carentes de amor, de respeito e de dignificação.

Estiolados os seus sentimentos, que se fizeram pastos para a sensualidade, o desperdício e o abandono de si mesmos, buscam aflitos soluções mais compatíveis com a hora grave, reconhecendo a duras penas a equação para a problemática do Espírito que é.

As soluções superficiais não lhes alcançam o emaranhado de inquietações nas quais se debatem, conscientes ou sem lucidez.

A variedade de terapias de ocasião, algumas delas mais preocupadas com os objetivos daqueles que as aplicam - interesses argéntanos e mistificações indisfarçáveis, por lhes faltarem os mínimos recursos técnicos e éticos para exercê-las - facultam o aventureirismo danoso que mais perturba as vítimas que lhes tombam inermes nas condutas espertas.

O ser humano é uma complexidade de valores transcendentes que se mesclam em profundidade, possuindo suas matrizes nas inexauríveis Fontes da Vida Cósmica.

Qualquer tentativa de reduzi-lo aos equipamentos meramente orgânicos sob o controle dos neurônios cerebrais, não atinge os objetivos indispensáveis a uma compreensão da sua realidade.

A análise da sua estrutura no binômio mente-corpo, espírito-matéria, somassignificação, que se constitui um passo avançado na melhor compreensão da sua legitimidade, ainda não logra alcançar os mecanismos encarregados da transmissão das experiências de uma para outra existência física, faltando um elo que responda pelas heranças conflitivas que se desenham nos genes e cromosO Despertar do Espirito somos, programando-lhe atuais e futuros comportamentos como decorrência de vivências hodiernas e de existências anteriores.

Uma visão porém, mais adequada para a sua análise, é a que decorre do ser tridimensional - Energia pensante, psicossoma e soma, ou mais legitimamente Espírito, perispírito e matéria, conforme estabeleceu o insigne Allan Kardec - porquanto transitam de um para outro campo vibratório de estrutura diferenciada as construções mentais, verbais e as ações, insculpindo nos equipamentos orgânicos, emocionais e mentais, os inevitáveis resultados deles decorrentes.

O conhecimento do Espírito como realidade básica da existência orgânica faculta o entendimento dos objetivos que devem ser buscados durante a vilegiatura carnal, etapa necessária ao processo da evolução, por cujo meio desabrocham os germes da sabedoria e do amor nele vigentes.

A tarefa da Psicologia espírita é tornar-se ponte entre os notáveis contributos dos estudos ancestrais dos eminentes psicólogos, oferecendo-lhes uma ponte com o Pensamento espiritista, que ilumina os desvãos e os abismos do inconsciente individual e coletivo, os arquétipos, os impulsos e tendências, os conflitos e tormentos, as aspirações da beleza, do ideal, da busca da plenitude, como decorrência dos logros íntimos de cada ser, na sua larga escalada reencarnacionista.

Felizmente, já brilha uma luz meridiana nas sombras antigas das propostas psicológicas graças ao advento da Quarta Força, que alerta para a compreensão do ser integral.

A descoberta do Espírito alarga os horizontes existenciais, dando-lhes objetividade e funcionalidade, idealismo e libertação dos atavismos da ignorância e da presunção que predominavam nos campos das experiências psíquicas anteriormente vigentes.

Alguém pensou que isto seria uma redescoberta do Espírito.

Pensamos de forma diferente, porque, pela primeira vez, realmente, nos laboratórios de pesquisa e nas terapias eficazes, se utilizam da dimensão eterna do ser, sem preconceito ou ilusão em torno da indestrutibilidade da vida.

Não pretendemos com esta Obra apresentar soluções de emergência para o problema do ser humano ou oferecer novidades, que não existem, segundo pensamos.

O nosso interesse é dar prosseguimento à nossa série de estudos psicológicos à luz do Espiritismo, interessada em contribuir com um grão de mostarda para a equação dos sofrimentos que aturdem e derrotam inumeráveis criaturas colhidas nas malhas dos testemunhos sem preparação moral ou espiritual para vencê-los.

Assim posto, damo-nos por satisfeita, pela desincumbência de um novo trabalho, que esperamos auxilie a alguém em aturdimento ou sem rumo, necessitando de mão amiga para sair do labirinto em que se encontra.


Santo André, 11 de dezembro de 1999.


Joanna de Angelis

Nota da Autora espiritual

Através da presente Obra desejamos homenagear a CONFERÊNCIA ESPÍRITA BRASIL-PORTUGAL, realizada na cidade do Salvador, BA., no período de 16 a 19 de março de 2000, promovida pelas Federação Espírita Brasileira e Federação Espírita Portuguesa e realizada através da Federação Espírita do Estado da Bahia, comemorando os 500 anos do Descobrimento do Brasil.




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