O Despertar do Espírito

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CAPÍTULO 4

AUTO-REALIZAÇÃO

O desafio da auto-realização radica-se no esforço que todos devem empreender mediante o desenvolvimento da vontade, que exerce preponderância em qualquer atividade humana.

Para esse cometimento, torna-se necessário que seja feita uma análise a respeito das circunstâncias e problemáticas que dizem respeito ao ser contemporâneo e aos processos rápidos de transformação e amadurecimento da personalidade.

O homem moderno enfrenta a decadência dos postulados rígidos e absolutos que herdou do passado, em referência aos problemas humanos; a diversidade da conceituação sobre o que é realmente ético em relação com o comportamento psicológico, que abre espaço mental para o entendimento da complexidade dos conflitos e a liberação sexual, arrebentando as velhas comportas da ignorância em torno da sua legitimidade, entre muitos outros fatores, constituem motivações para as fugas espetaculares da realidade, para o surgimento de conturbações profundas que dominam largas faixas da emotividade.

As pressões psicossociais desencadeando heranças genéticas adormecidas, desarticulam a conduta emocional, mesmo quando os padrões convencionais são estabelecidos em nome da ética e da moral.

Os impulsos indomados que predominam em a natureza irrompem com frequência, desestabilizando o sistema nervoso central e comprometendo as estruturas psicológica e física do ser, que estertora entre o desequilíbrio e a aspiração de normalidade.

Herdeiro das próprias realizações armazenadas nas áreas abissais do inconsciente individual como coletivo, não se pode evadir das fixações que lhe estão insculpidas, em razão da anterioridade das existências por onde peregrinou.

Vivências tumultuadas e perturbadoras registraramse na memória extra-cerebral, em forma de culpas e remorsos, de anseios não realizados e de frustrações que ora remanescem gerando distúrbios e inquietações responsáveis pela instabilidade de conduta que abala o sistema emocional.

A busca da harmonia, a integração dos comportamentos díspares em uma unidade bem delineada, são o ideal da psicossíntese.

Conscientizando o Eu profundo a respeito das suas não detectadas possibilidades de crescimento e auto-identificação, torna-se indispensável a aceitação do compromisso de dinamização da vontade, desenvolvendo-lhe os recursos valiosos, que se encontram desconsiderados.

Por outro lado, a canalização correta dos impulsos sexuais, transmudando-os, quando em excesso ou diante de quaisquer impedimentos de realização que plenifique, como processo psicoterapêutico, é essencial para uma existência saudável.

A exceção dos pacientes vitimados por patologias graves, a maioria das ocorrências conflitivas e ameaçadoras pode ser perfeitamente trabalhada com o esforço honesto do indivíduo, e quando se apresentem esses tormentos com mais rigor, a ajuda do terapeuta se torna valiosa, proporcionando o encontro com o equilíbrio.

A problemática mais grave a exteriorizar-se nas condutas conflitivas é a teimosia do paciente em admitir-se necessitado de apoio, dispondo-se naturalmente à conveniente terapia.

O discernimento obnubilado, decorrência natural da patologia existente, faz que seja renitente em aceitar a lógica do tratamento, supondo-se depreciado ou sob perseguição daqueles que não lhe compreendem o mecanismo equivocado de lógica.

A medida mais eficaz, para que se evite o agravamento dos distúrbios psicológicos, encontra-se na constante autoavaliação da conduta, em exame frequente da atitude pessoal em relação ao grupo social no qual se encontra, não se deixando alienar por expressões extravagantes, mediante a própria supervalorização ou a presunção de imbatibilidade.

São muitos os fatores de perturbação que agridem o indivíduo, tais como as constrições emocionais resultantes das aspirações, dos receios e da insegurança, da timidez e outros tantos de natureza psicogênica, que se desenvolvem sorrateiramente nas paisagens da personalidade.

A própria personalidade, não poucas vezes, apresentando-se fragilizada, fragmenta-se e dá surgimento a vários eus que ora se sobrepõem ao ego, ora se caracterizam com identidade dominante.


Subpersonalidades (O problema dos eus)

A psicossíntese refere-se à existência de um eu pessoai e de um Eu superior, em constante luta pelo domínio da personalidade.

O eu pessoal é, muitas vezes, confundido com a personalidade, sendo, ele mesmo, o ponto de autoconsciência pura, conforme o define Roberto Assagioli.

Corresponde ao ego, ao centro da consciência individual, diferindo expressivamente dos conteúdos da própria consciência, tais as sensações, os pensamentos, as emoções e sentimentos.

O Eu superior corresponde ao Espírito, ao Self, também podendo ser denominado como Superconsciente.

O eu pessoal é consciente, não obstante, deixa de ter lucidez quando se adormece, quando se é vítima de um traumatismo craniano e se desfalece, quando se está em transe natural ou sob ação hipnótica ou medicamentosa, reaparecendo quando do retorno à consciência lúcida, que decorre naturalmente de um outro Eu, certamente superior, que rege a organização e a atividade da consciência.


Em realidade, não são dois eus independentes, separados, mas uma só realidade em dois aspectos distintos de apresentação, conforme já houvera identificado o psicólogo americano William James, ao cuidar da análise das subpersonalidades.

* Essas duas expressões psicológicas que se apresentam no indivíduo, quando não unificadas harmonicamente, podem ser fator de fragmentação da personalidade, gerando distúrbios de comportamentos, instabilidade emocional.

O objetivo da psicossíntese é trabalhar pela unificação desses dois eus, produzindo a real identificação do ser O Despertar do Espirito nos objetivos da existência que vivencia.

O eu individual"é resultado das aquisições e experiências do processo existencial com os seus conflitos e aspirações, em luta contínua pela conscientização da realidade.

Essa porém, somente se fará quando o Eu superior seja identificado e decodificada a sua expressão imortal, de essência eterna, que deve ser conscientizada e vivida com harmonia.

Quando se dá essa conjuntura feliz, faz-se indispensável a terapia de assimilação dos conteúdos do eu individual no Eu superior, diluindo fronteiras que pareciam inexpugnáveis e desfazendo barreiras psicológicas, que se transformam numa corrente de energia contínua entre um fluxo e outro, favorecendo a estrutura do ego equilibrado ante o Self consciente.

O Professor Pierre Janet, quando da identificação do subconsciente, nas experiências hipnológicas, realizadas pelo célebre Professor Jean Martin Charcot, em La Bicêtre - Universidade de La Salpetrièrre, em Paris - propôs a existência de personalidades múltiplas ou anômalas, que se encontram adormecidas nesse depósito da memória, e que podem assumir a corporificação quando o paciente se encontre em estado de transe natural ou provocado.

A tese, naquela ocasião, de alguma forma objetivava, também, reduzir os fenômenos mediúnicos intelectuais, a simples automatismos psicológicos resultantes das fixações que se encontram no subconsciente humano.

Essas personalidades secundárias assomariam com frequência, conforme os estados emocionais, dando origem a transtornos de comportamento e mesmo a alucinações psicológicas de natureza psicótica e esquizoide.

Certamente, muitos fenômenos ocorrem nessa área, decorrentes das frustrações e conflitos, favorecendo o surgimento de personificações parasitárias que, não raro, tentam assumir o comando da consciência, estabelecendo controle sobre a personalidade, e que são muito bem estudadas pela Psicologia Espírita, no capítulo referente ao Animismo e suas múltiplas formas de transes.

Na imensa área do ego, surgem as fragmentações das subpersonalidades, que são comportamentos diferentes a se expressar conforme as circunstâncias, apresentando-se com frequência incomum.

Todos os indivíduos, raras as exceções, experimentam esse tipo de conduta, mediante a qual, quando no trabalho se deixam conhecer pelo temperamento explosivo, marcante, dominador e, em particular, são tímidos, mansos e receosos.

As variações são muitas nesse campo das subpersonalidades.

Ademais, no imenso campo dos conflitos, as expressões de inferioridade moral do processo da evolução facultam as manifestações egóicas doentias, como o orgulho, o ciúme, a inveja, o ressentimento, o ódio, a calúnia e muitos outros famanazes, que enceguecem o ego e o atiram nos abismos das alienações.

Ao mesmo tempo, personalidades espirituais, que transitam no mundo fora da matéria, interferem no comportamento humano, submetendo, não poucas vezes, o eu individual a transtornos de natureza obsessiva, não detectados pela Psicologia acadêmica convencional, que os estuda sob aspectos psicopatológicos mais específicos.

Pode parecer, num estudo psicanalítico, que constituem uma variedade expressiva de eus buscando primazia, cujas raízes se encontrariam fixadas no inconsciente, depositário das heranças antropológicas ancestrais, nos acontecimentos perinatais e infantis, na subjugação da mãe castradora, cuja imagem perturbadora continuaria afligindo e induzindo a fugas espetaculares, para que as dores e O Despertar do Espirito os infortúnios antes vivenciados fossem esquecidos.

E evidente que" uma auto análise cuidadosa deva ser realizada pelo paciente, mediante a vontade bem conduzida e estimulada, trabalhando em favor da harmonia entre os valores éticos e o Eu superior, ao mesmo tempo criando reservas psíquicas para impedir moralmente a interferência das mentes liberadas do corpo físico.

Quando porém, o paciente não se sente em condições de realizar o mister, torna-se imprescindível o contributo do terapeuta em psicossíntese para conscientizá-lo, apresentando-lhe programa de disciplina mental e de hábitos saudáveis, de forma que estabeleçam linhas seguras para o comportamento equilibrado.

O ser humano, mediante o Eu superior, transita por inúmeras experiências carnais, entrando e saindo do corpo, na busca da individuação, da plenitude a que se destina, conduzindo os tecidos sutis da realidade que é, todas as realizações e vivências que se acumulam e constróem o inconsciente profundo, de onde emergem também as personalidades que foram vividas e cujas memórias não se encontram diluídas, permanecendo dominadoras, face às ocorrências que, de alguma forma, geraram culpa, harmonia, júbilo, glória e assomam, exigindo atenção.

Nesse imenso oceano - o inconsciente - movem-se os eus que emergem ou submergem, necessitando de anulação e desaparecimento através das luzes do discernimento da consciência do Si.

Na sua imensa complexidade, a individualidade que se expressa através desse Eu superior, enfrenta as experiências das personalidades presentes no eu individual.

Todo um processo terapêutico deve ser tomado em consideração, não se descartando aquele de natureza espiritual, que se responsabiliza pelo grave capítulo das psicopatologias de natureza obsessiva.

Os dias atuais, portadores de pressões tormentosas, são desencadeadores de distúrbios que preponderam com vigor na conduta dos indivíduos, contribuindo decisivamente para a fragmentação da personalidade em expressões de eus conflitantes.

Nessa aparente dicotomia dos dois eus, a ocorrência se dá, porque um não toma conhecimento do outro de forma consciente, podendo mesmo negar-se um ao outro.

O Eu, porém, é único, indivisível, manifestando-se, isto sim, em expressões diferentes de consciência e de auto-realização.

Para o trabalho saudável de integração dessas vertentes do Eu são necessários o trânsito por alguns estágios terapêuticos, quais o conhecimento de si mesmo, da própria personalidade; administração dos vários elementos que constituem essa personalidade; a busca de um centro unificador, para que se dê a realização do verdadeiro Eu mediante a reconstrução da personalidade em volta do recém formado fulcro psicológico.

Como medidas auxiliares e recursos valiosos, devem ser utilizadas a meditação, a visualização terapêutica, a oração - que canaliza forças e energias superiores para o Self-, que contribuirão para a unificação dos eus, a harmonização do indivíduo.


Nota da Autora espiritual Vide o nosso AMOR, IMBATÍVEL AMOR, Cap. Vitória do amor (Amor-perdão) pag. 243. 4" edição da Livraria Espírita Alvorada Editora.


Necessidade da culpa

A culpa sempre se insculpe no inconsciente como uma necessidade de punição, através de cujo mecanismo o ego se liberta do delito.

Originada na conceituação ancestral de pecado - herança atávica do pecado original, que seria a desobediência de Adão e Eva, os arquétipos ancestrais do ser humano.

a respeito da Árvore da sabedoria do Bem e do Mal tem sido, através do processo da evolução, um agente cruel punitivo, que vem desequilibrando o seu mecanismo psicológico.

Desse modo, a consciência de culpa torna-se tortura lúcida ou não para o emocional, gerando tormentos que poderiam ser evitados se outros processos houvessem sido elaborados para facultar a reparação do erro.

Por isso mesmo, ao invés de pecado ou culpa, surge o conceito de responsabilidade, mediante a qual a colheita se deriva da semeadura, sem qualquer expressão castradora do discernimento nem fatalista do sofrimento.

Não obstante a anuência com esse contributo psicoterapêutico valioso, a culpa lúcida, bem absorvida, transforma-se em elemento positivo no que tange ao acontecimento malsucedido.

A simplificação psicológica do ato infeliz, diminuindo-lhe a gravidade e não lhe concedendo o valor que merece - nem mais nem menos do seu conteúdo legítimo pode conduzir à irresponsabilidade, à perda de discernimento dos significados éticos para o comportamento, gerando insensibilidade, desculpismo, falta de esforço para a aquisição do equilíbrio saudável.

Existe a culpa tormentosa, aquela que se mascara e adormece no inconsciente profundo, trabalhando transtornos de consciência, ante a consideração do ato ignominionão digerido.

No entanto, pode-se considerá-la numa outra expressão, que seria uma avaliação oportuna sobre o acontecimento, tornando-se necessidade reparadora, que propele ao aloperdão, como ao autoperdão.

Essa conscientização do gravame equipa os instrumentos morais da personalidade, no Eu superior, para mantêlo vigilante, precatando-o de futuras flutuações comportamentais e deslizes ético-morais.

Por outro lado, desperta a consciência para estar atenta ante as ocorrências nos momentos infelizes, isto é, naqueles, nos quais, o cansaço, o estresse, a saturação, o mal-estar, a irritação estejam instalados no organismo.

Esse é o momento perigoso, a hora errada para tomar decisões, assumir responsabilidades mais graves.

O seu significado terapêutico propõe limites geradores de sensibilidade para perceber, orientar e viver a conduta edificante.

Poderemos encontrar esse tipo de culpa não perturbadora na primeira infância, quando medra a faculdade de discernir nos seus primórdios, favorecendo a criança com a noção do que deve em relação àquilo que não convém ser realizado, mais ou menos a partir dos três anos.

Se o indivíduo não possui interiormente, nele insculpido, um código moral para o comportamento, vagueia entre a irresponsabilidade, as psicopatías pessoais e as sociopatias no grupo no qual se encontra.

A culpa terapêutica evita que o paciente se lhe agarre transformando-a em necessidade de reparação do delito, assim derrapando em situação patológica.

Trata-se apenas de uma plena conscientização de conduta, com vistas à vigilância emocional e racional para os futuros cometimentos.

Identificada, surge o imperativo do autoperdão, através do qual a racionalização do ato abre campo para o entendimento do fato menos feliz, sem punição, nem justificação doentia, mas, simplesmente, digestão psicológica do mesmo.

Após o autoperdão, surgem os valores da reabilitação, que facultam o enfrentamento das consequências desencadeadas pelo ato praticado.

Necessário seja entendido que o autoperdão, de forma alguma anula a responsabilidade do feito perturbador.

Antes faculta avaliação equilibrada da sua dimensão e dos recursos que podem e devem ser movimentados para minimizar-lhe ou anular-lhe as consequências.

Considerada a ação sob a óptica da culpa saudável, não será factível de introjetá-la, evitando que se transforme em algoz interior, que ressurgirá quando menos seja esperado.

Ademais, esse trabalho de identificação da culpa contribuirá para a compreensão da própria fragilidade do ego, dos fatores que o propelem às condutas doentias, assim como à lucidez de como pode auto-amar-se e amar às demais pessoas e expressões vivas da Natureza.

Quando se foge a esse compromisso de avaliação do erro, estagiando-se no patamar transitório da culpa terapêutica, o inconsciente elabora instrumentos punitivos que estabelecem os meios cruéis para a regularização, a recomposição do quadro alterado pelos danos que lhe foram impostos.

Assim trabalhada, a culpa não se converte em ressentimento contra a vítima que foi ferida, nem se traveste de necessidade de serem exteriorizadas a raiva e a animosidade contra as demais pessoas.

Aqueles que se não conscientizam do erro e preferem ignorá-lo, soterram-no no inconsciente, que o devolve de maneira inamistosa, irônica, quase perversa contra tudo e contra todos.

O ato de perdoar não leva, necessariamente, à ideia de anuência com aquilo que fere o estatuto legal e o código moral da vida, mas proporciona a compreensão exata da dimensão do gravame e dos comportamentos a serem adotados para que ele desapareça, devolvendo à vida a harmonia que foi perturbada com aquela atitude.

E inevitável o arrependimento que a culpa proporciona, mas também faculta o sofrimento expiatório em relação ao engano, fase inicial do processo de reparação. Não será necessário que se prolongue por um largo período esse fenômeno emocional, a fim de que não se transforme em masoquismo desnecessário e perturbador, gerando auto compaixão, autopunição.

As fronteiras entre uma culpa lúcida e aqueloutra punitiva são muito sutis, e quando não recebem uma análise honesta, confundem-se em um tumulto entre o desejo de ser livre e de ficar aprisionado até a extinção do mal praticado.

Tem ela o objetivo de proporcionar o exercício da honestidade para com o Si, evitando autojustificação, transferência de responsabilidade, indiferença diante do acontecimento.

O Eu superior é o fiel para delimitar as linhas de comportamento entre uma e outra conduta, por ter um caráter universalista, que trabalha pela harmonia geral.


Encontro com a verdade

O conceito sobre a verdade é rico de propostas relativas.

No entanto, tudo quanto é exato, real e confere com a razão pode ser assim considerado.

Sob o ponto de vista psicológico, seria o saudável comportamental, emocional, proporcionador de bem-estar, de harmonia.

A busca do Self, de alguma forma, redundará no encontro com a verdade, com a Vida no seu sentido mais profundo, com a iluminação, a libertação de todos os atavismos e complexidades perturbadoras.

Para que o encontro seja legítimo, torna-se necessário que sejam elaboradas motivações interiores, assim como instrumentos de utilização e perspectivas de possibilidades.

As condutas alienantes constituem mecanismos de fuga da realidade, portanto, da verdade em si mesma.

Para que haja uma inversão de conduta, torna-se inadiável o processo terapêutico de recomposição da personalidade, mediante reflexão, diálogos, liberação de traumas e conflitos.

Tendo-se por meta o encontro com a verdade, a motivação deverá surgir como primeiro grande passo, a fim de que o paciente se liberte do marasmo, do pessimismo, do autodesamor e da indiferença em relação ao grupo social de que faz parte.

Que contribuição oferece a verdade? Primeiro, a harmonia entre o ego e o Si, gerando bem-estar psicológico, alegria de viver, saúde interior e coragem para novos desafios existenciais.

Face a essas motivações, tornam-se necessários os instrumentos da vontade, da esperança, do valor moral, que se encontram debilitados no mundo interior por falta de vivência e de exercício.

A vontade pode ser exercitada através das análises dos bons frutos que proporciona, diminuindo a área de conflitos e dependências perturbadoras, abrindo espaço para a serenidade, disposição para agir com retidão, relacionamentos agradáveis...

Passo contínuo, o enfrentamento com a esperança da vitória, porquanto cada conquista faculta compreender que a próxima será mais fácil e arrojada, o que se torna realidade, apenas com a perseverança.

O valor moral cresce de acordo com os esforços envidados nas etapas anteriores, fortalecendo a capacidade de luta que se encontrava submersa no oceano da acomodação física e mental.

A grande meta apresenta-se então factível de ser alcançada, e, à medida que vai sendo conseguida, mais fascinante se torna, facultando ampliação de conteúdos e objetivos, que então superam os limites do imediato para atingir a transcendência do ser existencial.

No processo de busca da verdade, a análise e reflexão do comportamento desempenham papéis fundamentais, porque não se pode mascarar a conduta, tornando-a aceita sem que possua caráter legítimo, o que se transforma, normalmente, em transtorno futuro à vista.

A honestidade para consigo impõe consciência de valor real, o que não ocorre quando se age de forma irregular.

Para uma análise coerente de como se vem comportando, o indivíduo deve estar revestido de grande coragem, a fim de poder desmascarar o ego arbitrário, dominador e fátuo, que poucas vezes admite o erro, sendo que se sente credor de toda consideração em detrimento dos outros.

Essa coragem irá relacionar as dificuldades, as imperfeições morais, os deslizes, e como ocorrem os fatores propiciatórios e circunstânciais que trabalham contra a harmonia.

E nesse capítulo que a coragem enfrentará o medo, a humilhação, a queda do orgulho, verificando a insensatez da ilusão em torno da falsa superioridade ou da tormentosa inferioridade, enquanto brilha a ocasião de avaliar-se no seu significado profundo.

Nesse tentame, o lado escuro da personalidade se torna iluminado pela razão e pela possibilidade de crescimento libertador, desde que enfrente o ego, arrancando-o do epicentro do esforço, senão todo o processo sofrerá atraso e complicação negativa.


Abrindo-se ao Eu superior, os conflitos cederão lugar aos sentimentos de beleza, de automisericórdia e auto compaixão, sem o pieguismo mórbido da autopiedade depressiva, enfermiça. Ante esse Self

"não haverá julgamentos tormentosos, impositivos de punição, mas um desnudamento de todos os valores existentes e não considerados.

Esse encontro reconfortante inspira o bem e o ético, o nobre e o fundamental, alterando o quadro de valores humanos individualistas para uma visão mais consentânea com a realidade do grupo social, a princípio, da humanidade em geral, mediatamente.

Enquanto isso ocorre, o próprio ser se eleva emocionalmente e se liberta dos conteúdos extravagantes da ilusão, do ópio autojustificador das condutas experiênciadas.

Na sua condição de Psicoterapeuta Incomum, Jesus enunciou com precisão e sem reservas: - Busca a verdade e a verdade te libertará.

Não se trata de uma verdade religiosa, de uma filiação doutrinária a este ou àquele grupamento de fé, de adesão a um ou a outro partido político, social, de compromisso cultural, filosófico, artístico, mas da verdade que paira acima de todos os limites estabelecidos por grupos e greis, organizações e escolas...

É aquela que permanece soberana, livre de toda e qualquer injunção escravagista, egóica, que proporciona paz interior, acima da transitoriedade conflitiva de expressões, que são válidas em um período e perdem o sentido noutra circunstância.

Faz superar a ansiedade e conduz ao bem-estar contínuo, mesmo que situações difíceis se apresentem.

Nunca se deve pensar que a paz é ausência de atividade ou de desafios.

Trata-se de uma atitude interior ante os acontecimentos, uma forma de ver como transcorrem e nunca uma situação parasitária ou inútil.

Face a essa constatação, trata-se de fuga psicológica e transferência de lutas, quando se tenta buscá-la na índia, ou em Jerusalém, ou em Roma, ou diante deste ou daquele guru.

É um processo pessoal de autodeterminação, de autoesforço, de auto-abnegação, possível de ser conseguido desde que hajam sido investidos empenho, decisão e perseverança.

A verdade compensa, estrutura, proporciona saúde.




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