O Despertar do Espírito

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CAPÍTULO 8

ENCONTRO COM A HARMONIA

A infância é caracterizada por duas qualidades especiais, que são a inocência e a liberdade.

Embora o Espírito, em si mesmo, tenha experiênciado muitas existências corporais, o estado de infância é de aquisição de conhecimentos, de superação de conflitos antigos, de preparação para o esquecimento.

Nessa fase, em que o processo da reencarnação se faz em maior profundidade, muitas lembranças pairam nebulosas na área do inconsciente, que lentamente se vão apagando, a fim de facultar a aquisição de novos e valiosos recursos para o autocrescimento moral e intelectual.

No período infantil, por isso mesmo, instalam-se os pródromos dos futuros conflitos que aturdem a criatura humana nas diferentes etapas de desenvolvimento psicológico, se a verdadeira afetividade e respeito pelo ser em formação não se fizerem presentes.

Herdeiro das próprias realizações, o Eu superior renasce em conjunturas sociais, econômicas, orgânicas e psíquicas a que faz jus ante os Soberanos Códigos da Divina Justiça, face ao comportamento vivenciado nas reencarnações anteriores.

Desde o momento em que mergulha nos fluidos mais densos do corpo físico, imprimem-se-lhe os impositivos do processo da evolução, dando curso ao restabelecimento do equilíbrio que se descompensou anteriormente.

A pouco e pouco, o encontro ou reencontro com o grupo familiar, no qual deverá construir a harmonia pessoal e a do clã, produz injunções predisponentes ao êxito ou ao fracasso, conforme lhe pesem na consciência os débitos morais pelos quais se sente responsável.

Por isso dispõe de um largo período de infância - o mais longo entre todos os animais - a fim de que se fixem os fatores que se irão transformar em condições próprias da existência corporal.

Quando renasce em ninho de paz, mais facilmente se lhe estruturam as perspectivas de triunfo, face às cargas emocionais de tranquilidade e amor com as quais se robustece, podendo seguir sob amparo e, ao mesmo tempo, liberdade.

Em situações opostas, o martírio se lhe insculpe no inconsciente em expressões de ressentimento e medo, ódio e humilhação, perdendo o sentido elevado da existência, pela qual se desinteressa, fugindo para estados mórbidos da personalidade.

Pais irresponsáveis, perversos e castradores - doentes emocionalmente que são - inseguros de si mesmos, quase sempre descarregam os sentimentos destrutivos nos filhos incapazes de defender-se, traumatizando-os de maneira quase irreversivel.

Agressões verbais e físicas constantes, através de expressões chulas e ofensivas, surras e punições outras por nonadas, bem como violências sexuais, irão constituir o infortúnio existencial daqueles que se lhes tornam vítimas indefesas.

Normalmente, quem assim age, punindo, estuprando, violentando, transfere do seu passado próximo os próprios sofrimentos que lhe pareceram injustos, e os atingiram em represália de outrem, nesse gerando por sua vez medo e rancor, frustração sexual e insegurança.

Torna-se um verdadeiro círculo vicioso de infelicitações.

Não tendo condições psicológicas para enfrentar a fragilidade pessoal interna, faz-se algoz dos filhos, através de cujo comportamento adquire poder - força de dominação - e amor desequilibrado.

A agressão física à criança é também uma forma de estupro sexual, por ocultar um conflito de desejo e de ódio, de necessidade e de desprezo.

A criança - masculina ou feminina - vítimada pela ocorrência do estupro sexual, permanecerá profundamente marcada pelo sentimento de humilhação a que foi submetida, perturbando-se no desenvolvimento da própria sexualidade, que se lhe apresentará como mecanismo afugente, empurrando-a, a partir desse momento e quase sempre, para uma conduta desequilibrada.

A eleição do comportamento sexual torna-se-lhe muito difícil, por não saber discernir qual a opção correta para uma existência saudável, porquanto teve os sentimentos violentados no período mais significativo do desenvolvimento das aptidões que devem manter a harmonia entre a anatomia física e a função psicológica desestabilizada.

Sentindo-se usurpada no seu direito de escolha, anula emocionalmente a função sexual, que lhe causou o tormento, vivendo sem experiênciar o prazer nem a emoção elevada que a comunhão saudável com o seu parceiro deveria proporcionar.

O sentimento de vergonha estará sempre presente, assinalando o seu desenvolvimento e conspirando contra o seu equilíbrio emocional.

Somente através de uma psicoterapia muito cuidadosa, na qual o perdão desempenhará um papel preponderante, essencial, é que se conseguirá restabelecer a integridade do indivíduo, reajustando-lhe a personalidade fissurada pelos golpes das agressões sofridas.

A infância é, sem dúvida, o período experimental para a construção de um comportamento espontâneo, sinalizado pela alegria de viver e pela disposição para crescer, desenvolvendo todos os valores que dormem no âmago do ser.


Conflitos do cotidiano

O conflito pessoal que vem da infância, porque não foi resolvido, se transfere com aspecto fantasmagórico para o relacionamento social, que se torna enfermiço, feito de desconfianças e ressentimentos contra as demais pessoas, para as quais é transferida a imagem do violentador, buscando a vítima, desse modo, fugir de tudo e de todos aqueles que aparentemente podem ameaçar-lhe a integridade física e emocional ferida.

Face ao problema o grupo social assume a aparência do ser odiento que dilacerou sem compaixão os sentimentos puros da criança, inibindo-lhe a liberdade e ameaçando-a, caso viesse a delatar a infâmia de que foi vítima, mesmo sem o desejar fazer.

Outra consequência marcante desse ato ignóbil é o medo da própria sexualidade, de que passa a experimentar vergonha e asco.

Na violação da inocência e da liberdade houve desestruturação do conceito dos valores humanos, que estão aparentemente representados pelos adultos, aqueles que mais facilmente expressam autoridade e comando, direcionaO Despertar do Espirito mento e conduta dos grupos sociais.

A sexualidade natural, harmônica, decorrente de um sentido psicológico maduro, expressa-se também pelo olhar, quando esse é atraído por algo que lhe desperta a sensação ou a emoção.

Quando se padece de inibição, o olhar permanece mortiço e oculto, em razão do paciente associar as novas manifestações do sexo ao insulto de que foi objeto.

Vive-se a hora da explosão sexual sem valor éticomoral na sociedade aturdida.

Exposto de maneira ultrajante, produz sentimentos controvertidos e perturbadores.

O deus sexo vem-se tornando a meta máxima para ser atendida pela criatura, a fim de encontrar-se bem no grupo social.

Somente que destituido de valor emocional, o relacionamento sexual faz-se tão insaciável quanto frustrante em razão dos apelos sensacionalistas e perversos, antes impondo-se pelas imagens visuais e sonoras que a Mídia apresenta como apelos vulgares de erotismo e pornografia.

Incapazes de ultrapassar a barreira da provocação, as vítimas da propaganda chula atormentam-se na ânsia insana de aproveitar o momento e as circunstâncias favoráveis e vulgarizadas, destruindo a família, os sentimentos interiores, para gozarem o máximo, embora o preço exorbitante de desgaste emocional, físico e espiritual que terão de pagar.

A hiperexcitação sexual através dos veículos da Mídia produz danos graves no comportamento, porque as imagens agressivas absorvidas nem sempre podem ser descarregadas de imediato, o que gera inquietude e insatisfação.

Por outro lado, a sociedade padece da imposição das atividades hiperativas, exigindo movimentação incessante, viagens seguidas, negócios sucessivos, variedade de festas ruidosas, exibicionismo contínuo...

As músicas em altos decibéis, as buzinas dos veículos, as propagandas em volume insuportável, os pregões das novidades aturdem, levando os indivíduos a desesperos internos que fazem parte do cotidiano.

A perda do silêncio exterior tornou-se acompanhada da ausência da harmonia interna, e quando se está a sós, necessitando-se de quietação, o hábito mórbido do barulho conduz à busca das músicas bulhentas, das telenovelas, das ginásticas que facultam musculação, dos movimentos sempre para fora, com desprezo do corpo, embora o aparente interesse por ele.

Necessitando-se ter bem assentados os pés no chão, a fim de melhor sentir-se o corpo e a alma, é inevitável que se apresente a urgência do silêncio externo para a viagem interior.

Quando não se logra essa tranquilidade, cria-se um mecanismo de isolamento dos sentidos físicos, que passam a selecionar apenas o que se quer escutar, o que se deseja sentir, o que interessa em participar, logo anulando várias outras funções do corpo que ficam anestesiadas umas e bloqueadas outras.

Os conflitos do cotidiano são decorrência externa dos tormentos interiores do ser humano, que se vê a braços com excessos para os quais não se encontra psicologicamente preparado, exceção feita àqueles que fossilam nas classes menos favorecidas sócio-economicamente, vítimas das injustiças vigentes.

Ao lado do barulho ensurdecedor, dos apelos ao uso do sexo desvairado, se apresentam a violência que estruge volumosa, a sujeira que se acumula em toda parte, as pessoas-objetos-descartáveis, no momento em que tudo é de valor secundário e utilitário, cessando a sua qualidade O Despertar do Espirito quando desaparece o interesse imediato.

Nesse báratro, o ser fragilizado pela perda de contato com o corpo e com o Self, aturdido ante a imperiosa necessidade de manter-se vigilante para não perder o veículo da oportunidade que se apresenta auspiciosa para a conquista das coisas, desfigura o conteúdo da realidade, atirando-se no vazio existencial interior e na aparência que lhe disfarça os sentimentos, robotizando-se, sorrindo para agradar ou mergulhando fundo na depressão.

Por outro lado, esses conflitos do cotidiano induzem ao receio da insanidade, resultado da dissociação entre o corpo e o ego, na perturbação dos sentidos de forma generalizada.

Simultaneamente outros fatores tornam-se responsáveis pela ocorrência dos fenômenos apavorantes, quais o medo da doença, da pobreza, da violência, da morte, que inquietam o paciente e o levam ao sobressalto, efeitos remotos que são dos abusos vividos na infância, que não foram liberados.

Crianças, cujas mães não pararam de reclamar - exigentes e malcriadas -, não poucas vezes tiveram desejos quase incontrolados de esganá-las, a fim de que calassem a boca acusadora, deixando-lhes a mente infantil em paz.

Como consequência do impedimento de realizá-lo, nascelhes no íntimo um sentimento de culpa que permanece afligindo, e que é compensado através da expressão sexual destituída de sentimento de amor, tornando-se uma forma de explosão da raiva contida longamente ou se manifestando por meio da irrupção da ira e da revolta, assim diminuindo-lhes a pressão que experimentam.

No caso de conflitos dessa ordem, a terapia de reconhecer a raiva e exteriorizá-la através do choro profundo, do perdão ao algoz, removendo-a do inconsciente para o corpo que se relaxará, é de grande utilidade, assim contribuindo para um desenvolvimento psicológico maduro e saudável.

Esse medo da loucura trabalha em favor da mesma, afastando o paciente da realidade na qual se encontra e conduzindo-o ao cultivo das expressões que lhe dão aparente normalidade...

De forma equivalente, é o receio de aceitar a convivência com intimidade profunda, porquanto a ocorrência faz recordar o temido espectro de ser controlado pela pessoa com quem vive, fato que traz à mente a imagem dominadora do pai, que se caracterizava como conhecedor seguro dos sentimentos do filho, assustando-o e o ameaçando constantemente.

Há uma dicotomia muito marcante nessa conduta, e que é típica da infância, exteriorizando-se nas emoções de sedução e rejeição, amor e ódio, ou pior, amor e indiferença.

O ódio é uma forma de amor que enlouqueceu, sendo que a morte do sentimento de amor, muito pior do que o ódio, é a referida indiferença.

Uma terapia correta sob assistência de um especialista e o esforço do paciente buscando a libertação do conflito e a reestruturação da personalidade, iniciando pelo perdão ao ofensor e pelo autoperdão, em considerando a impotência ante a circunstância malsã que o atingiu, contribuirão poderosamente para o equilíbrio perdido e o prosseguimento da jornada sem ruptura emocional perturbadora.

A harmonia sempre resulta de uma perfeita identificação entre o ego e o Self que devem conjugar esforços para o bem-estar do ser.

Interagindo reciprocamente em perfeita identificação de propósitos, constróem uma estrutura saudável de personalidade capaz de enfrentar as viO Despertar do Espirito cissitudes e ocorrências desafiadoras do processo de crescimento e amadurecimento pessoal.


O Ser humano perante si mesmo

Para que exista uma alegria expressiva e saudável num comportamento psicológico maduro, torna-se essencial o auto-encontro.

Todas as conquistas do intelecto e mesmo do sentimento que se não integrem no cosmo do ser espiritual, tornam-se adornos da personalidade sem influência profunda na emoção, que pode permanecer com riscos de insegurança ou de crueldade, de medo ou de ressentimento.

Todo conflito não superado, consciente e emocionalmente, ressurge com máscara diversa aprisionado à mesma matriz psicológica.

O inconsciente comanda o eu consciente através de automatismos muito bem elaborados durante todo o percurso sócio-antropológico, permanecendo mais na área do instinto primário repetitivo do que no racional lúcido, bem delineado.

Os automatismos do inconsciente funcionam de tal forma, que se faz necessário racionalizar os atos, a fim de adquirir consciência da própria realidade, em processo do pleno autodescobrimento.

À medida que o ser se compenetra da realidade que é, como Espírito imortal, mais fácil se lhe torna o crescimento intelecto-moral, graças ao qual processa as dificuldades e desafios, empreendendo a inabordável marcha da felicidade.

No vaivém do cotidiano, a preocupação mais destacada diz respeito à identificação de todos aqueles com os quais convive, colocando-se à margem, preferindo, embora inconscientemente, ignorar o Si, não obstante os mecanismos conflitivos que devam ser alterados para um estado de saúde e de harmonia interior, do que decorrerão os equilibrados resultados de um relacionamento harmônico com os grupos familial, social e humano.

Nesse esforço desenvolve-se-lhe o sentimento de amor, que é todo construído através da equilibrada conduta psicológica em relação a si mesmo tanto quanto àqueles que participam do seu convívio.

A observação dos pensamentos habituais, que refletem as fixações do inconsciente, o bom direcionamento deles para mensagens de otimismo e de esperança, de edificação e de progresso, constituem o primeiro passo na experiência nova da evolução, facultando um comportamento consentâneo com as aspirações mantidas, que enseja uma boa estruturação da personalidade.

O ser humano em si mesmo é sempre consequência dos seus atos anteriores.

A cada realização desenvolvida apresentam-se novas propostas que dela resultam, ampliando o campo de crescimento emocional.

Os conflitos, portanto, à medida que vão sendo detectados e vivenciados racionalmente, desaparecem, porque as suas matrizes anteriores deixam de predominar no campo do inconsciente, que se renova diante das recentes diretrizes que direcionam ao arquivamento.

Conceitos, antes não considerados, passam a receber cuidadosa reflexão, face à contribuição que facultam ao auto-esclarecimento, clarificando os tormentosos enigmas do comportamento.

Sem o egocentrismo perturbador, o indivíduo descobre quanto lhe é significativa a existência, investindo, em cada momento, de forma agradável e compensadora, esforços de auto-superação, que se transformam em fonte O Despertar do Espirito geradora de felicidade.

O sentimento de autoestima desabrocha, dando início a sentimentos de alta magnitude, graças aos quais surgem estímulos para amar ao próximo, permitir-lhe perceber a realidade em que se encontra, suas glórias e deficiências, os horizontes da vera fraternidade e dos relacionamentos edificantes responsáveis por uma sociedade realmente harmônica.

Quando o indivíduo pode enfrentar-se com tranquilidade, administrar os valores negativos, estimulando os recursos positivos, sem ressentimentos das ocorrências infelizes nem os júbilos exacerbados, realiza um expressivo labor de psicossíntese, dispondo-se à radical mudança de conceitos perturbadores, para renovar-se com acendrado interesse na eliminação dos conflitos que remanescem teimosos.

O homem e a mulher perante si mesmos, em auto análise enriquecedora, constituem a grande meta da psicoterapia que liberta o paciente de quaisquer condicionamentos atávicos ou recentes, facultando-os caminhar com os próprios pés, para assumirem responsabilidades conscientes em relação aos próprios atos.

Somente, portanto, pelo despertar do Si, através da ruptura da névoa da ignorância e dos conflitos que constituem bengala psicológica para continuar em sofrimento, é que o ser humano se redescobre, desenhando novos mapas de comportamento e emergindo da sombra, assim como desembaraçando-se do cipoal das dificuldades a que se submetia.

E um esforço hercúleo, que se faz compensado pela sensação de liberdade real, de crescimento interno, de visão correta dos fenômenos da existência, alçando-se sem temor a outros empreendimentos, que antes lhe constituíam grande temeridade.

O crescimento interior é, definitivamente, a grande meta a que devem aspirar todos os seres humanos.

As heranças negativas que o agrilhoam aos transtornos psicológicos e sentimentos perturbadores, fazem parte do seu processo evolutivo, mas não devem permanecer enquanto se realiza, lutando pela conquista de mais elevados propósitos de emancipação emocional e espiritual.

Sendo o processo de desenvolvimento antropo-sóciopsicológico muito lento, é no período do discernimento que pode ser ampliado com maior facilidade graças ao contributo da razão que amplia as capacidades de aspirar, de lutar e de nunca ceder ante a comodidade que significa desinteresse pela vida.

A luta que fortalece as resistências emocionais é fenômeno natural, automático da própria máquina orgânica, servindo de emulação para os desafios psicológicos e espirituais.

Graças a esse empreender de novas atividades, sem o abandono dos labores em curso, à capacitação de armazenamento de experiências úteis, ao interesse pelo enfrentamento dos desafios como ocorrências naturais do processus no qual se encontra, a consciência do Si sobressai, superando as constrições antagônicas dos instintos que permaneciam em prevalência na conduta, engrandecendo a criatura e a vida à sua volta.

Normalmente, com a aceitação fatalista e castradora de doutrinas religiosas que dificultaram o crescimento emocional do ser humano, este ainda permanece acreditando que a existência terrena é um fadário que tem de ser conduzido com o apoio da infelicidade, derrapando em masoquismo chão, injustificável.

O ser humano está fadado às estrelas, auto-iluminando-se com o esplendor da sabedoria - amor e conhecimento - de forma a atingir a meta para a qual foi criado: a perfeição!

Não se trata de uma fantasia religiosa ou de uma premissa falsa com caráter ilusório, que o sol da realidade desfaria de imediato.

Mas de um direito que está outorgado pela própria fatalidade existencial.

Neste universo, no qual não existem o repouso, o nada, o estacionamento, por que ao ser humano estariam destinados a destruição, a estagnação, o sofrimento com o caráter mórbido de irremissível, a infelicidade sem termo? Assim fosse, e a vida perderia o seu significado, a sua própria justificação, porque a Causalidade Absoluta que a gerou ter-se-ia utilizado de um instrumento cruel e imperdoável de autoprazer ante a tragédia cotidiana da própria Natureza no seu automático desgaste e incessante transformação.

O sofrimento não faz parte dos Soberanos Códigos da Vida, constituindo-se experiência do mecanismo da evolução, mediante o qual se processam as alterações moleculares das formas transitórias utilizadas pelo princípio inteligente do Universo, que é o Espírito.

Reconhecer a fragilidade em que se apresenta, as múltiplas necessidades, reais ou imaginárias que caracterizam cada qual, os riscos de recidivas em fenômenos perturbadores por preferências da sensação antes que da emoção superior, são reflexos de autoconsciência, de lucidez dos objetivos que devem ser alcançados, diferindo daqueles que estão expostos à facilidade.

Essas conquistas lentas e seguras, que muitas vezes necessitam de auxílio especializado, através de terapeuta competente que seja conhecedor do ser integral, e não apenas das expressões da psique cerebral, fazem parte dos objetivos essenciais, sem os quais a criatura estará sempre a braços com os tormentos que não mais se justificam.

Vive-se a hora dos grandes descobrimentos de fora, e, igualmente, das expressivas realizações interiores.

O desenvolvimento da cultura tem por meta libertar o ser humano de todo o primarismo que lhe permanece infelicitador.

Suas realizações externas impulsionam-no para as conquistas internas, mundo soberano no qual se encontram em abundância os preciosos significados da evolução.


Libertação do Ego

O remanescente dos instintos, dos impulsos do desejo e do prazer, que procedem do Id exteriorizando-se na forma do Ego, permite o controle e a constatação consciente da realidade, como herança dos registros mais profundos da psique.

Obviamente é resultado das experiências multifárias das reencarnações transatas, quando o ser despertava nas formas primitivas, através das quais seriam desenvolvidos os valores e as aptidões que ora lhe constituem os elementos físicos e psíquicos do processo evolutivo.

Face ao imenso período de predominância do instinto como guia do comportamento até o momento em que surgem os pródromos da razão e do discernimento, fixaram-se os caracteres mais fortes das sensações, facultando campo para o poder - predominância sobre os espécimes mais fracos - e o prazer, expresso na volúpia dos desejos automatistas.

Lentamente se foi desenvolvendo o Ego, que passou a ser elemento básico para a sobrevivência consciente do ser, enraizando-se na psique e exteriorizando-se na personalidade onde mantém o seu campo de desenvolvimento.

Como efeito, a astúcia predomina mais do que a inteligência, em razão de expressar os mecanismos do instinto animal de preservação da vida, engendrando os meios de sobrepor-se cada indivíduo sobre o outro, considerando prioriO Despertar do Espirito tários os seus interesses de ordem pessoal, tanto quanto as suas necessidades reais ou apenas imaginárias.

Responde o Ego por incontáveis conflitos e problemas pessoais e sociais, por agir impensadamente, no sentido ético, tendo em vista a autovalorização em detrimento das demais criaturas do círculo no qual se movimenta.

Enquanto atue indiscriminada e dominadoramente, mantém o indivíduo encarcerado nas paixões que lhe predominam em a natureza, demorando-se no estágio da psique embrionária, ao invés de desenvolver as infinitas potencialidades que ela possui, na condição de santuário das energias divinas, que são o reflexo do Criador em germe na criatura.

A inteligência, que procede da Progenitura Espiritual, é semelhante ao sêmen que carrega todos os elementos orgânicos futuros que lhe cumpre desenvolver, desde que haja condições propiciatórias para a fecundação e manifestação das suas potencialidades, atendendo, dessa forma, a uma fatalidade pré-estabelecida, que pode ser considerada como a plenitude de todas as funções e faculdades.

O processo da evolução, facultando o surgimento da inteligência que dimana do Espírito e deverá predominar no comportamento do ser, propõe, inevitavelmente, a superação dos condicionamentos mais primários, que constituem vitórias naturais, e ensejam conquistas mais expressivas na área do psiquismo.

A disciplina mental é indispensável recurso para a desejada ascensão do instinto para a razão, que indica o melhor caminho de crescimento interior, a fim de ser preservada a paz, de vencer os conflitos que remanescem das lutas iniciais ante as forças em desgoverno da Natureza, dos animais predatórios e vorazes, dos demais indivíduos da convivência inicial, enfim, de todos os fatores que geraram medo e encravaram nas profundas camadas da psique a necessidade da autodefesa, da sobrevivência.

O esforço para alcançar mais amplos patamares do psiquismo, superando os anseios-impulsos do poder e do prazer como tornados de secundária importância, irá cooperar para outras experiências na área do Self, rica de compensações emocionais, sem as inquietantes buscas, às quais as ambições do desejo propelem em arrastamentos tormentosos.

Passo a passo, na auto-superação dos desejos infrenes da libido, mesmo que disfarçada sob outras máscaras, como no caso, a posse - para mais prazer -, a renúncia aparente como forma de prazer -, acúmulo de coisas - para desfrutar o prazer -, a solidariedade externa - exacerbação do prazer -, contínuas experiências sexuais - prazer exorbitante - ...

Em cada etapa de renúncia natural, com substituição do tipo de desejos, atendendo ao inconsciente impulso de imortalidade na qual todos se encontram mergulhados, vai-se superando o Ego e abrindo-se espaços para mais elevadas aspirações que enriquecem interior e exteriormente o ser humano, desalgemando-o da canga do primitivismo em que se tem detido.

O Ego, predominando em a natureza humana, utiliza-se de muitos mecanismos para ocultar os seus conflitos, expressando-se como diversos tipos de fuga da realidade, tais a projeção, a compensação, o deslocamento, a introjeção, a racionalização, entre outros mais...

Trata-se de uma exacerbação do Superego, para manter a sua identidade e permanecer soberano, impedindo as manifestações superiores do Self.

A conscientização lúcida desse investimento emocional auxilia na construção de bases mais sólidas para a vontade que se alcandora conquista a conquista, ampliando o campo de possibilidades que proporcionam a real alegria e a legítima felicidade.

Enquanto haja predominância egóica no ser, as suas serão aspirações imediatistas, pertinentes aos instintos primaO Despertar do Espirito rios que mantêm o indivíduo na furna dos mecanismos conflitivos sem coragem de sair da sombra para vir fora da caverna onde se oculta e tem uma visão defeituosa da realidade, que se lhe apresenta como projeções escuras...

Há um incomparável sol de esperanças nos patamares superiores da psique, nos quais se encontram em toda a grandiosidade as legítimas expressões do ser espiritual, aguardando o seu desabrochar.

A psicologia do amor, inaugurada por Jesus Cristo, é a pioneira no processo autotransformador, por ser possuidora dos imprescindíveis tesouros de sublimação dos impulsos primitivos, deixando os grilhões férreos das experiências ancestrais, necessárias para o crescimento interior, mas perturbadoras se ainda permanecem passado o período da sua vigência.

O ser consciente da sua realidade imortal trabalha-se com alegria, limando as arestas do personalismo e do egoísmo, mediante a sua natural substituição pelo altruísmo, pela generosidade e serviço de engrandecimento moral de si mesmo e do seu próximo, o que torna o Evangelho o mais precioso tratado de psicoterapia e de psicossíntese, na sua proposta vibrante de autodescobrimento, de viagem interior, de busca da Realidade, da Unidade...

Iniciado o tentame de superação do Ego, satisfação imensa invade o ser que se sente livre para mais grandiosos desafios, quais sejam a abnegação, o devotamento às causas do humanitarismo, da ciência, da religião, da arte, da tecnologia, sempre tendo em vista os demais seres, sem abandono das próprias aspirações e anseios de harmonia.

Empreendida essa tarefa, que hoje ou mais tarde se apresenta como intransferível, nenhum trauma se manifesta, conflito nenhum se expressa, porque o sentimento de amor inunda todo o campo dos sentimentos e dos pensamentos, propondo sempre mais ação e desprendimento dos impulsos atávicos do passado escravizador.

Toda forma de ascensão exige esforço, que se compensa pelas alegrias das conquistas adquiridas.

No que diz respeito à superação do Ego, entendendo-se como necessária à manifestação do Self, a contribuição da vontade, às vezes difícil, torna-se relevante, porquanto a permanência no estágio do instinto apenas, igualmente produz aflições que não são compensadas nem transformadas em bem-estar, qual ocorre na conquista consciente do Si profundo.

A medida que o ser se desenvolve moralmente, mais se espiritualiza, modificando, inclusive, a constituição molecular da organização física, cujas necessidades se alteram, dando lugar a mais sutis emoções que passam a governar o comportamento, trabalhando as células e o seu cronograma organizacional, que se põe a elaborar equipamentos de acordo com os novos impulsos, ora mais sutis e menos tóxicos, que antes exigiam estruturas mais densas e mesmo grosseiras, tendo-se em vista a indumentária para revestir esse novo ser, aquele que superou o Ego tenaz e dominador.




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