Setenta Vezes Sete

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CAPÍTULO 9

O PUBLICANO ATRIBULADO

Lucas 19:1-
Os coletores de impostos, chamados publicanos, eram execrados como ladrões e|

traidores, a serviço do dominador romano.

Em suas andanças, houve comovente encontro de Jesus com um deles, de nome Zaqueu.

Não era um simples cobrador de impostos; mas o chefe do serviço em toda a região de Jericó.

Movimentava largas somas de dinheiro, o que fazia com extrema habilidade, aumentando sempre seus patrimônios.

Contudo, como costuma acontecer com aqueles que se dedicam aos bens efêmeros, experimentava permanente tensão.

Quando o dinheiro deixa de ser parte da vida para converter-se em finalidade dela, tudo se complica...

O ouro acumulado era um peso em seu coração...

Pior, pesava-lhe também na consciência.

Nem sempre agira com lisura no trato com os contribuintes.

Não raro, explorara pessoas endividadas que, em desespero, lhe vendiam seus bens por preços irrisórios.

Fazia "negócios da China".

Excelentes para quem compra.

Péssimos para quem vende.

Além do mais, sentia-se incomodado com o desprezo de seus irmãos de raça.


* * *

Ultimamente animara-se ao ouvir falar de um homem chamado Jesus, que andava pela Galileia, dotado de poderes prodigiosos - curava leprosos, levantava paralíticos, acalmava tempestades, ressuscitava mortos...

Sua palavra vibrante era a própria voz do Céu, acalmando inquietações e convocando os homens de boa vontade para a construção do Reino de Deus.

Chamava a todos irmãos, filhos de um pai celeste, que trabalha incessantemente pelo bem de todos, sem preferências, nem preconceitos.

O rico chefe dos publicanos ouvia, maravilhado, aquelas informações.

Emocionara-se com o relato feito por alguém que ouvira Jesus, referente a um filho rebelde que deixara a casa de seu pai e fora para longe, onde dilapidara os bens que recebera por herança.

Arrependido, tornou à casa paterna, onde, não obstante suas defecções, foi recebido com festas.

Sentia-se, ele próprio, o filho pródigo...

Ansiava conversar com Jesus.

Seria o divisor de águas, que imprimiría novo rumo à sua existência.


* * *

Um dia veio alvissareira notícia - o profeta passaria por Jericó.

Animou-se.

Aguardou ansioso, procurando manter-se informado sobre a visita.

Finalmente, chegou o grande dia.

A cidade estava alvoroçada. A multidão comprimia-se na rua principal.

Gente curiosa, gente necessitada, gente doente... Todos queriam ver o Mensageiro, receber benefícios de suas mãos milagrosas...

Zaqueu pensou em enviar um servo ao seu encontro, convidando-o à sua casa.

Não se atreveu.

Não se sentia digno, e tinha dúvidas quanto à receptividade.

Afinal, os profetas eram homens austeros e não gostavam dos ricos.

Certamente não concordaria em visitar um publicano.

Esperaria passarem as manifestações populares.

Depois iria ao seu encontro, rogando-lhe que o recebesse.

Nada o impedia, porém, de juntar-se, naquele momento, ao povo.

De baixa estatura, com tanta gente à sua frente, não via nada.


Procurou, nas proximidades, um sicômoro -

árvore semelhante à figueira.

Alcançou, resoluto, os primeiros galhos e se situou por privilegiado observador.

Emocionado, observou o profeta que se aproximava.

Não teria mais de trinta anos, expressão suave, sorriso fraterno.

Contemplando-o, não teve dúvidas. Aquele homem tinha o remédio para suas angústias.


Para sua surpresa, Jesus parou junto ao sicômoro e lhe disse:

—Zaqueu, desce depressa porque hoje devo hospedar-me em tua casa.

Tomado por incontida emoção, desceu da árvore.

Compreendia agora que o encontro não fora fortuito.

Desde muito estava marcado. O profeta já o conhecia, sabia de suas angústias, tinha algo para lhe dar...

Estava pronto a segui-lo!


* * *

Tão logo chegaram, acompanhados pela multidão, Zaqueu dirigiu-se a Jesus.


A semelhança do discípulo novo que se confessa de público, falou alto e bom som, com a segurança de quem descobriu novos caminhos e a coragem de quem reformula a existência:

—Senhor, darei metade de meus bens aos pobres.

E se algum prejuízo causei a alguém, o compensarei pagando-lhe quatro vezes mais.

O povo murmurava.

Muitos se escandalizavam com a presença do profeta na casa de Zaqueu.

Afinal, tratava-se de um publicano, um traidor...


Mas Jesus, conhecendo bem de perto os humores da multidão, disse:

—Hoje entrou a salvação nesta casa.

Este também é filho de Abraão, pois a missão do Filho do Homem é salvar os que estavam perdidos.


* * *

Este notável episódio evangélico nos faz lembrar que todos temos um encontro marcado com Jesus, guia e modelo da Humanidade, segundo a Doutrina Espírita.


Muitos dizem:

—Já encontrei Jesus, tomei contato com seus ensinamentos, frequento uma igreja cristã...

Será?

Fácil conhecer Jesus; basta 1er o Evangelho.

Encontrá-lo é diferente.

Trata-se de um despertamento, a iluminação a que se referem os mestres hindus; aquele momento solene em que percebemos, em plenitude, o significado de suas lições e nos dispomos a mudar os rumos da existência.

De repente, sentimentos envolvendo ambições, riqueza, conforto e poder perdem a graça.

Interesses imediatistas, vícios e paixões deixam de nos motivar.

Agressividade, irritabilidade, ressentimento e rancor são eliminados, no dicionário de nossas emoções.

Angústias, tristezas, pessimismo e desânimo não encontram mais guarida em nosso coração.

Quando tudo isso acontecer, teremos, finalmente, encontrado Jesus, algo programado pelo Céu desde tempos imemoriais, quando ensaiávamos a razão, egressos da animalidade instintiva.




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Lucas 19:1

E, TENDO Jesus entrado em Jericó, ia passando.

lc 19:1
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Lucas 19:9

E disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão.

lc 19:9
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