Garimpo de Amor

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CAPÍTULO 26

Amor e paixão

São essas paixões, filhas do amor, que oferecem os mais belos contributos de arte, de literatura, de ciência...

Nas experiências primeiras do amor, a imaturidade em torno do processo afetivo conduz à paixão.

A opção exacerbada, quase sem lucidez, em torno da pessoa ou do objeto elegido, nesse momento torna-se uma necessidade, sem a qual a vida perde o sentido.

Instalada a paixão, a monoideia em torno do que se aspira transforma a existência em um tormento que somente parece acalmar-se quando se consegue satisfazê-lo.

Da mesma forma, porém, que surge, à semelhança de um incêndio voraz em palha seca, à medida que o combustível desaparece as chamas diminuem até se apagarem, quase não deixando vestígio, exceto em forma de cinzas...

Na afetividade, sucede, com certa frequência, o surgimento da paixão devoradora e afligente. Expressando a sua forma de amor, domina as paisagens da mente e do coração, alterando completamente a conduta e as aspirações idealísticas, que passam a girar em torno daquilo que se convencionou indispensável à vida.

Nesse turbilhão, quase irracional, pergunta-se como tem sido possível viver sem essa presença, como foram insatisfatórios os dias do passado antes desse encontro, como se apresentará o futuro, caso não seja possível tornar a aspiração um fato consumado?!

Certamente não foram vazios os tempos que se foram, porque também possuíram sua beleza própria para aquele momento, sua finalidade que foi realizada, mesmo sem a presença daquilo ou de quem agora se apresenta como essencial. De igual maneira, a atualidade não tem sido tão destituída de significado conforme no momento se tem a impressão, e logicamente o porvir não será tão nebuloso como se supõe, não se concretizando o desejo anelado. É que a paixão cega, tirando o raciocínio em torno da realidade, conduz ao ridículo, em face da perda do senso crítico e da nova dimensão da conduta.

Quando cessa e os escombros permanecem, somente então se verificam a inutilidade e a ilusão de que se revestia, ora totalmente superada e mesmo apresentando lembranças amargas, quando não desesperadoras.

A paixão, quase sempre, resulta de desejossexuais não atendidos, de ambições do ego não equilibrado, de competições inconscientes em vãs tentativas de afirmação da personalidade.

Em alguns casos, é porta de acesso para a futura instalação do amor, porque o sentimento arrebenta as reservas emocionais, desamarra as inibições constrangedoras, e quando acalmada a explosão dos desejos, propicia o surgimento de dúlcidas vibrações do bem-querer, do participar de outras vidas, do prolongar-se na direção de outrem, de envolvimentos afetivos que resultam saudáveis.

Santo Agostinho teve ensejo de enunciar que era apaixonado pelo amor, significando que se lhe houvera doado integralmente, por nele haver encontrado o alimento de que necessitava a sua existência, que passou a circunscrever-se em torno da realização do objetivo de autoiluminação a que se entregou.

Houvera antes experiênciado as paixões devoradoras que o fizeram arder sem realizar-se, o que não sucedeu com o amor sem posse, ao qual ofereceu o restante da sua existência.

É comum encontrar-se essa paixão de natureza transcendental naqueles que se doam para construir novas realidades de beleza e de santificação na Humanidade.

Seria, nesse aspecto, que a paixão resulta do amor em grau de profundidade tão expressivo, que pareceria irracional o comportamento daquele que se deixa arrebatar pelas suas emoções.

Sucede, no entanto, que o ardor pelo fazer, por alcançar a meta ambicionada, faz-se tão veemente, que somente um esforço hercúleo facultará consegui-lo.

Nessa doação e entrega nenhum obstáculo se torna impedimento, porque todos podem ser superados, afastados, vencidos, dependendo da maneira como é visto e considerado. Não poucas vezes, esse impedimento constitui emulação, provocando reações fisiológicas na química do sangue, que se transformam em vitalidade e que promanam da aspiração idealística. É nesse estágio que se veem pigmeus agigantar-se, pessoas frágeis adquirirem resistências incomuns, temperamentos tímidos desenvolverem capacidade incomum de audácia e persistência.

Também, não é possível olvidar que, direcionada em sentido perturbador, alucina e destrói, respondendo por calamidades imprevisíveis, por desastres incalculáveis, por guerras lamentáveis, todos defluentes do egotismo selvagem daqueles que lhe tombam nas urdiduras.

O amor, porque é lúcido e dimensiona todas as suas manifestações, jamais exorbita, engendrando dissabores ou disseminando males que podem afetar o indivíduo ou o grupo social no qual se espraia.

A paixão-amor, que almeja tornar melhores os indivíduos e mais feliz a sociedade, esquece-se de si mesma, a fim de não malbaratar o tempo em superficialidades por conhecer o de que dispõe ante a relatividade, do tempo que lhe está ao alcance.

Fixando a mente no objetivo estabelecido, avança, sem detença, na sua execução, nunca diminuindo o entusiasmo, nem mesmo quando diversos fatores surgem dificultando-lhe a execução. Pelo contrário, nesses impedimentos encontra forças para prosseguir, acreditando-se mesmo estar mais próximo da vitória do que do insucesso.

São essas paixões, filhas do amor, que ofereceram e prosseguem ensejando os mais belos contributos de arte, de poesia, de literatura, de ciência, de tecnologia, de santificação ao mundo, nos quais aqueles que se encarregaram de produzi-los dedicaram a existência sem qualquer hesitação, porque absolutamente conscientes do ministério para o qual vieram à Terra.

Dessa forma, aproximam-se de Deus sem que se afastem dos homens e das mulheres do mundo, aos quais aprendem a servir e a erguer, conduzindo-os com incomum paciência e ternura até os paramos dos ideais que lhes enflorescem as mentes e os corações.

Alguns isolam-se, a princípio, a fim de encontrar-se intimamente, de modo a adquirir forças para a aplicação no investimento que realizam. Excepcionalmente, perdem-se na solidão, na busca da meta que, mais tarde, noutra reencarnação, terão ensejo de aplicar na multidão. Torna-se-lhes um treinamento emocional de que necessitam, autossuperando-se até conseguirem as resistências que não mais se quebrarão nos embates que são travados no século, para que consigam estabelecer as valiosas contribuições de amor, de que ora são portadores.

Os cristãos, evocando Jesus durante a Semana do testemunho, têm afirmado através dos evos que aqueles foram os dias da Sua paixão, do Seu sofrimento, no que têm alguma razão. No entanto, em uma análise mais cuidadosa, pode-se afirmar que a paixão do Amorável Benfeitor não ficou restrita àqueles dias, mas sim que se alonga na direção das criaturas de todos os tempos, algumas ingratas, outras indiferentes, mais outras incapazes de O entenderem em totalidade, mas que Lhe constituem a família que d’Ele necessita e ainda não reconhecem essa realidade.

Por amor-paixão Ele deu a vida, e prossegue, infatigável e confiante como naquela ocasião, ensinando, ajudando e aguardando...




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