Vidas Vazias

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CAPÍTULO 1

NOVAMENTE VIDAS VAZIAS

Vive-se a época do ter e do poder, do exibir-se e do desfrutar, sem a consequência da harmonia interior e do enriquecimento espiritual.

Quando Sigmund Freud iniciou as suas pesquisas com pacientes histéricos, especialmente, tornou-se o começo de uma das mais belas e oportunas interpretações da psique humana, dando lugar a uma verdadeira revolução cultural, desmistificando o sexo, suas funções e libertando-o da hipocrisia vitoriana que vigia triunfante.

Foi um período de inesperadas interpretações de transtornos emocionais e somatizações perturbadoras, que puderam ser tratados com cuidado, proporcionando existências menos turbulentas e desastrosas.

Embora a descoberta da libido sexual causasse surpresa e recebesse exagerado significado, facultou mais amplas percepções e entendimento a respeito dos conflitos humanos.

Inevitavelmente, ocorreu um exagero na sua interpretação, principalmente por negar a realidade espiritual da Humanidade.

Logo depois, Alfred Adler, discordando do mestre, iniciou as investigações nos conflitos da inferioridade humana, que culminaram na Psicologia do desenvolvimento individual e, com a cooperação de Karen Horney, formaram a Escola Neofreudiana.

Horney, ademais, discrepou das diferenças da psicologia de mulheres e de homens, afirmada por Freud, e demonstrou que essas disparidades resultam mais de fenômenos sociais e culturais do que da biologia.

Relativamente, ao mesmo tempo, Carl Gustav Jung afirmou que a libido, essa energia psíquica extraordinária, representa todas as forças da vida, e não somente aquelas de natureza sexual. Procurou analisar as marcas antigas impressas no inconsciente e adotou a doutrina dos arquétipos, propiciando vida exuberante a todos aqueles que se encontram em conflitos desnorteantes.

Cada época da Humanidade é assinalada pelas circunstâncias psicologicamente castradoras que respondem por enfermidades somatizadas perversas.

A ciência atual e a tecnologia de ponta proporcionam uma visão quase ilimitada sobre a existência do ser humano e enseja-lhe uma gama de informações que se multiplicam a cada momento, atormentando a cultura hodierna.

O conhecimento rápido e extremamente volumoso quão variado não tem sido digerido de forma adequada, e eis que surgem inquietadores a insatisfação, a frustração, ao lado do medo, da incerteza, do vazio existencial.

Vive-se a época do ter e do poder, do exibir-se e do desfrutar, sem a consequência da harmonia interior e do enriquecimento espiritual.

A aparência substitui a realidade, e o importante não é o ser interior, porém o ego exaltado, que provoca inveja e competição no palco da ilusão.

De certo modo, foram perdidos o sentido existencial, o objetivo da vida, o foco transcendente da autorrealização. Em consequência, aumentam as patologias do comportamento, e o banquete dos mascarados toma aspecto sombrio, quando o álcool, a drogadição e o sexo desvairado passam a enlouquecer os grupos em depressão...

O avanço na direção do abismo na queda pelo suicídio, o abandono de si mesmo ou a violência desgovernada passam a ser a realidade indiscutível do processo de evolução social.

Tudo isso como decorrência do vazio existencial que se apodera do indivíduo, porque não encontra apoio no sentimento de amor que vem desaparecendo a pouco e pouco do seu desenvolvimento moral.


* * *

A ambição pelas coisas de imediato significado tem substituído os valores realmente legítimos da emoção, quais sejam: a prece, a meditação, a solidariedade e o afeto.

Torna-se urgente o impositivo de uma alteração de conduta, buscando-se novos focos de interesse existencial, tais como: a conquista da paz, do trabalho de beneficência, da imortalidade.

O ser humano, graças ao seu instinto gregário, necessita de outrem, que contribui com recursos grandiosos, especialmente na área emocional da afetividade para a identificação de realizações em prol do progresso e do equilíbrio social, econômico, moral e ético.

A fraternidade, ora substituída pelo individualismo, deve ceder o seu direcionamento para o conjunto, o todo, a convivência geral, incluindo a Natureza.

O desrespeito às forças vivas do Universo trabalha a favor da destruição do ser humano mais cedo ou tarde.

É imperioso que se trabalhe através da educação, por todos os meios ao alcance, em favor de objetivos sérios e bem estruturados para a existência.

Uma vida sem um sentido bem delineado, estimulador e doador de energias torna-se apenas um fenômeno vegetativo, que deve ser alterado para a dinâmica da autoconscientização.

Todos anelam e mantêm o desejo de liberdade, que somente adquire significado quando acompanhada pela responsabilidade em relação ao comportamento vivenciado, para que se não converta em libertinagem, conforme sucede neste momento em toda parte da civilização.

Esse desregramento, a leviandade com que são tratadas as questões de alto significado, quando atingem o fundo do poço, abrem espaço para governos arbitrários e cruéis que crucificam os países e os mantêm sob injunções penosas, degradantes.

Desse modo, uma revisão de conceito em torno do existir é fundamental para preencher-se o íntimo de estímulos, mediante labores significativos e que produzam desafios contínuos.

Assim, o amor ao próximo, como decorrência do autoamor, faz-se terapia preventiva e curadora para quaisquer existências vazias, que se consomem na angústia, em sofrimentos indescritíveis.

Buscando-se a compreensão de que o sentido existencial não se constitui de divertimentos ou fanfarronices, constata-se que os ideais do bem são impostergáveis, e ao entregar-se à sua conquista, mediante relacionamentos edificantes, nos quais a fraternidade se responsabilize pela construção do dever, consegue-se a vitória íntima.

Repentinamente, assim procedendo, cada qual que se dedique ao amor, à amizade sem jaça descobrirá que essa é a meta a ser alcançada, e o serviço de auxílio recíproco é o objetivo a que todos se devem dedicar.


* * *

A sociedade moderna tem necessidade de compreender que se renasce no corpo carnal para que seja alcançada a plenitude, e não exclusivamente para as necessidades inferiores, as biológicas, conforme os estudos de Maslow em muito boa elaborada reflexão.

Assim sendo, a educação da libido freudiana, a superação do conflito de inferioridade adleriano, a compreensão profunda das neuroses, conforme Horney, e a iluminação da sombra junguiana ressurgem no conceito kardequiano, quando afirma que: "Fora da caridade não há salvação".

ARQUÉTIPO: Para C. G. Jung (1875-1961), conteúdo imagístico e simbólico do inconsciente coletivo, compartilhado por toda a humanidade.

EGO: O ego é uma instância psíquica, produto das reencarnações, e que, em determinada fase do desenvolvimento humano, corrompe-se pelo excesso de si mesmo, perverte-se à medida que se considera o centro de tudo, aliena-se como se fosse autossuficiente.

GREGÁRIO: Que gosta de ter a companhia de outras pessoas; sociável.

SOMBRA: Segundo Carl Gustav Jung (1875-1961), psicólogo e psiquiatra suíço, o arquétipo que consiste nos instintos animais coletivos.




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