No Limiar do Infinito

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CAPÍTULO 5

DETERMINISMO E LIVRE-ARBÍTRIO

Ação e Reação A cada momento o Espírito está fazendo, modificando, renovando o seu destino. Os pensamentos e os atos são-lhe os agentes importantes, responsáveis pelas alterações que lhe cumpre viver no suceder dos dias. Isto, porque, a cada ação corresponde uma reação equivalente.

Não obstante a destinação feliz que a todos está reservada pelas divinas leis, o avançar, estacionar pelo caminho ou atrasar o momento de fruir, de beneficiar-se com a felicidade depende do ser, da sua decisão.

Reservado à glória espiritual — determinismo irreversivel — o ser jornadeia pela senda que melhor lhe apraz desde quando adquiriu o discernimento — livre-arbítrio.

Ninguém que se encontre fadado ao mal, à desgraça. A ingênua concepção em torno dos que foram criados para a desdita não carece de qualquer fundamentação.

A escada evolutiva, na sua inabordável ascensão, sustenta-se nas conquistas pessoais em que o Espírito se firma num degrau de vitória, a fim de poder galgar o próximo, e, assim, sucessivamente. Cada passo dá-lhe mais força e experiência para o cometimento imediato. Cada nova empresa resulta da conquista anterior.

Não retrogradando nunca, porquanto as conquistas são aquisições inalienáveis, que se insculpem no imo, pode, no entanto, estagiar por tempo indefinido em qualquer situação a que se fixa por processos negativos e gravames de que somente se liberará quando se resolva superar o impedimento e ressarcir os males que haja feito.

Pessoas há que se asselvajam de tal forma e de maneira surpressiva, tanto se comprometem com os erros, que parecem haver regredido na escala evolutiva à faixa primeva. Todavia, malgrado a soma de desatinos ou a ocorrência da loucura que delas se apossa, as suas experiências nobres e conquistas não se perdem, impondo-lhes, pelo contrário e graças a isso mesmo, maior soma de responsabilidade, mais severa necessidade redentora, que se exigirá no cadinho do futuro depurador.

Não vemos mães, pais, esposos, filhos duramente espezinhados, triturados no amor por aqueles extremos afetos que lhes avinagram todos os minutos e os cobrem de injúrias em todos os instantes, sem descoroçoarem no devotamento, sem uma palavra de queixa ou censura, antes justificando os que deles escarnecem e trucidam, oferecendo uma paisagem opinativa em torno deles, que não corresponde à verdade? Não encontramos criaturas imobilizadas em longas paralisias, ou carpindo rudes cegueiras, mudezas com o semblante iluminado de doce resignação com que bendizem a dor? Não defrontamos encarcerados, sofrendo penas injustas sem queixumes nem pruridos de autopiedade, em eloquentes posições heroicas? Não admiramos portadores de enfermidades irreversíveis, dolorosas, abertas em chagas purulentas, nauseantes por demorados anos, sem irritação nem revolta?

E que se dizer dos que transitam na miséria econômica ou social, carregando bomhumor e esperança, parecendo felizes? Quantos outros suportando dolorosas injunções de trabalho exaustivo e humilhante, rendendo graças à honra de conseguirem honestamente o magro pão diário? Não há tantos que jornadeiam em soledade asfixiante com a alma a arrebentar de ternura, sedentos de carinho que não encontram, transformando as horas da própria angústia em sorrisos nos lábios alheios?

Eles sentem ou sabem que se estão soerguendo do abismo a que se precipitaram pelo egoísmo, pelo descrédito às soberanas leis, em ansiosa busca de ascensão. No tentame nobre não lhes faltam mãos espirituais generosas que os socorrem, benévolas, em nome do Pai. Tombaram, sim, no entanto se esforçam por evoluir, recuperando o tempo mal aplicado na sanha da loucura.

Vêm viver, em provas difíceis, a pena de redenção, voluntariamente, conscientes do erro e da necessidade de reparação dos débitos.

Há, também, aqueles que expiam em problemas equivalentes, porém, sobchuva de fel e diatribes que exteriorizam, ou açoitados por surda revolta que os amesquinha, conquanto não possam fugir do jugo purificador a que estão submetidos pelas atitudes de grosseria e desacato para com a vida. Evoluem a penosos penates de difícil superação. Tragam a taça referta de ácidos que requeimam o coração e a mente a fogo, de que precisam para o caldeamento dos sentimentos.

Promovem-se, pela dor, naquilo que não souberam ou desdenharam conseguir pelo amor.


O atentado à ordem resulta em desarmonia do equilíbrio que vige em tudo, em toda parte. Quem arbitrariamente desfere golpes contra a ordem sofre-lhe a natural

consequência, e essa é a vergastada da dor, que desperta e corrige, educa e levanta para os tirocínios elevados, os empreendimentos substanciais.

Nunca se faz necessário que alguém se transforme no instrumento da justiça, quando ferido. A opção de fazê-lo acarretar-lhe-á lamentáveis problemas que há de suportar mais tarde.

O mal perpetrado contra alguém não se dirige, apenas, à individualidade almejada, mas ao organismo geral em que aquela se movimenta. O problema passa, então, a pertencer ao grupo afetado. Por essa razão, à vítima sempre cabe à atitude de perdão, porquanto, se revida ao mal que sofreu com outro mal, toma-se agressor, atuando na órbita daquele que o feriu. Todavia, se não perdoa e o seu prejudicador se renovou na prática do bem, já está reparando o mal antes realizado, não se lhe aplicando o impedimento do progresso, porque o desafeto permaneça na teima do desforço pessoal... O ódio que se vote contra outrem não se faz dificuldade ao acesso a escalas superiores por quem lhe padece os petardos.

As ações edificantes, os gestos de renúncia, abnegação, sacrifício e caridade sobrepõem-se aos labores tumultuosos, prejudiciais, viciosos.

O bem é mais importante do que o mal. A luz tem mais poder do que a sombra.

Para as conquistas do Espírito, em cada experiência reencarnatória, são-lhe previstas, em razão das aquisições logradas num como noutro campo do bem ou do mal praticado, determinadas imposições purgadouras, por que deverá passar, a fim de expungir os gravames inditosos que o infelicitaram. Nunca, porém, em caráter absoluto. O determinismo é flexível, com raras exceções, que sempre são examinadas, coordenadas e alteradas pelos responsáveis nos processos reencarnatórios dos que demandam à Terra em aprendizagem edificante, liberadora.

Nos mapas das experiências humanas, graças às mudanças de comportamento dos reencarnados, em decorrência do seu livre-arbítrio, são alterados com assídua frequência, sucessos e socorros, dores e problemas programados, abreviando-se ou concedendo-se moratória a vilegiatura daqueles que se situam num como noutro campo desta ou daquela necessidade...

Jamais olvidar que as leis que regem a vida são de amor, embora a base de justiça que se assenta na misericórdia de Nosso Pai Criador.


O que parece determinismo infeliz e que resulta nas chamadas desgraças terrenas: desastres, desencarnações inesperadas, enfermidades, abandonos, sofrimentos,

pobreza de forma alguma são infortúnios reais, antes processos metodológicos de disciplina moral para os calcetas, os devedores inveterados mediante os quais são advertidos pelas forças superiores, a fim de que se voltem para os deveres nobres e se recomponham perante a consciência e o próximo que espezinham e subalternizam... Os infortúnios são os atos que levam a tais correções e não os medicamentos providenciais para a catarse dos descalabros cometidos, das sandices perpetradas...

Como auxiliares valiosos do livre-arbítrio, possui o homem o discernimento, a razão, a tendência para o bem, a irresistível atração para a felicidade... Contra ele estão o passado espiritual, o atavismo animal, a preferência ao erro, como decorrência do hábito, do comodismo a que se prende... A fim de que não se demore por tempo imensurável no erro, as leis sábias determinam-lhe as experiências dolorosas que funcionam como técnicas de avaliação das conquistas morais para o seu crescimento, sua evolução.

Espírito algum conseguirá marginalizar-se indefinidamente, entregando-se a si mesmo. Quando a sua opção infeliz o embrutece e a vilania o amarfanha, vai alcançado pelos impositivos do progresso, e, através de penosas, santificantes expiações, desenvolve as superiores aptidões inatas com que desdobra as asas da santificação, alçando voo no rumo do progresso.

Redescobre e reencontra o prazer do bem de que se divorciara e anela pela emoção de mais facilmente recuperar-se, do que resultam as comovedoras provações que solicita nas quais se agiganta, ganhando redenção e lecionando coragem aos enfraquecidos na luta, aos combatidos no esforço reabilitador, tal a conscientização de que se faz portador, na ânsia de ser ditoso...

Graças aos esforços despendidos e aos triunfos logrados após as sucessivas provações vitoriosas, granjeia mérito para as tarefas missionárias que o trazem de volta à Terra, que dignifica e abençoa com estoicismos comoventes e abnegações insuperáveis.

Muitos deles não se permitem alegrias enquanto não reconquistam os a quem ofenderam, refazendo o caminho ao seu lado, ofertando-lhes ventura sobre a dor e alegria além do lago das lágrimas. Para tanto mergulham no corpo somático em sublimes anonimatos, dotados de elevados valores que brilham no lodo em que aqueles se movimentam, salvando as antigas vítimas ainda intoxicadas pela revolta e pela vingança.


Somente após alçá-las ao planalto da esperança e resgatar diretamente com elas

os erros, não obstante já se hajam lapidado e enobrecido perante a vida, é que partem noutros rumos...

As provações, portanto, espontaneamente aceitas, representam, conquistas, ajustes entre os Numes Tutelares e os Espíritos que se reencamam, consubstanciadas no livre-arbítrio destes.

As expiações são as terapêuticas cirúrgicas enérgicas, ásperas, impostas pelo determinismo das leis para o bem daqueles que se deixaram colher nas malhas do egoísmo desvairado, das loucuras descabidas, da insensatez demorada.

Justapõem-se, interdependem-se, extrapolam-se num abençoado programa que objetiva a felicidade e a paz dos homens.

Os pensamentos, portanto, os atos, são os agentes responsáveis pelos sucessos e desditas que pesam na consciência de cada criatura.

O que haja acontecido de mal não se encontra consumado, desde quando luze a oportunidade da recuperação.

É verdade que o tempo urge para ser aproveitado e que não volta nas mesmas circunstâncias, com semelhantes requisitos, em iguais condições. Entretanto, o esforço pessoal, aliado ao interesse de edificação íntima, cria os fatores propiciatórios para que, noutro espaço de tempo, se modifiquem as estruturas negativas, se desfaçam as construções prejudiciais, se minimizem as consequências do já feito, produzindo-se os mecanismos favoráveis em prol do que se irá fazer.

Há sempre esperança no céu do homem decidido pela verdade.

Brilha inapagável a luz do bem no zimbório da vida. "— Podeis fazer tudo o que eu faço e muito mais, se quiserdes" — afirmou Jesus.

Embora a destinação de glórias imprevisíveis que estão reservadas a todos, a decisão de fruí-las hoje ou mais tarde dependerá de cada ser nunca esquecendo que o "reino dos céus é tomado de assalto", pertencendo àqueles que se resolvem romper com a indecisão, a incerteza e o comodismo, os quais avançam com intimorato amor, numa livre opção para colimar o determinismo das divinas leis.




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