No Limiar do Infinito

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CAPÍTULO 7

IMPOSITIVO DA EVOLUÇÃO

A Dor Regeneradora Ei-la em toda parte, multimilenária operária do progresso.

Ínsita em a natureza universal é a servidora incansável da vida, no incessante trabalho da evolução.

Não obstante anatematizada e perseguida, não cessa o seu labor, prosseguindo infatigável, até lograr o amoldamento de quantos lhe padecem a injunção, desaparecendo e ressurgindo até produzir as metas ideais.

Nos reinos inferiores da vida, sutilmente se manifesta e realiza seu mister. Porque ainda destituídos de sistema nervoso e emocional, os que lhe recebem a ação nesse período sentem, não sofrem.

No entanto, encarregada por Deus para arrancar da ganga a gema e da brutalidade a beleza, produz nos estágios mais avançados da vida, e no homem, em particular, o ministério sagrado da iluminação e da paz.

Destituída hoje das conotações infelizes que a ignorância religiosa no passado lhe atribuiu: castigo, punição, vingança, torna-se, quando compreendida, obreira indispensável da real felicidade humana.

A dor é fenômeno natural da própria vida.

O impositivo biológico estatui que o ser vegetal, animal e hominal, nasce, vive, sente, se desgasta e morre...

O processo de desgaste se faz acompanhar, naturalmente, quando há no ser que se depura sensação e emoção, pelo fenômeno delicado que é a dor. Apesar disso, pode-se dizer que a dor melhor se expressa conforme o grau de sensibilidade de quem lhe sofre a conjuntura, porquanto, é maior ou menor, correção ou bênção, sempre dádiva de Deus, conforme a atitude daquele que lhe experimenta a constrição.


Para uns, a dor física constitui imposição tormentosa que os aflige e desespera; para outros, o descaso pela reflexão, a alienação do discernimento sobre os deveres

morais e sociais transformam-se em fuga agradável que os parece liberar da responsabilidade, permitindo-lhes conduzir-se em desalinho, nunca, porém, impedindo que despertem, mais tarde, a convite da dor.

Nalguns homens, a presença do distúrbio de ordem emocional, sobre as claridades da lucidez, se transforma em tormento de largo porte, que os desgasta, introduzindolhes os aguilhões de padecimentos infinitos nas tecelagens sutis da sensibilidade com que, mesmo afligidos, descobrem os legítimos valores da vida que antes malbarataram.

Nas criaturas espirituais capacitadas para a superação da brutalidade atávica do corpo, a dor tem uma significação moral de grande alcance, que se lhes transforma em emulação para o prosseguimento da luta, a cujo sacrifício se agigantam as estrelas, liberando-se, por fim, da roda das necessidades reencarnatórias inferiores...

Em qualquer posição considerada, a dor preenche a lacuna do amor ausente e desperta para o anseio de ternura.

Aquele que não encontra um motivo de atração para Deus em nome do amor, por falta de sensibilidade nos desvãos do eu personalista em que se demora, fica entregue à catapulta abençoada do sofrimento que o impulsiona na direção que lhe está destinada, mesmo que se obstine por demorar-se longe da verdade.

Por isso a dor não deve ser encarada na condição de punição divina, mas, como um processo normal de evolução, mediante o qual o ser se libera, como a gema que se liberta do envoltório grosseiro aos golpes da lapidação.

Trabalhada, sulcada pelo arado, aturdida pelo adubo, visitada pela semente a terra mais produz. Quanto mais instado pelo sofrimento e adubado pela fé, o homem mais avança, melhor progride.

Ninguém, exceção feita ao Ungido de Deus, conseguiu, na Terra, crescer no rumo divino, sem a contribuição operosa dessa diligente irmã: a agonia, filha da dor.

Mesmo assim, lecionando com humildade e sabedoria a proveitosa mensagem do sofrimento, Jesus experimentou a contingência terrestre do impositivo da dor, sem qualquer queixume ou lamentação, a fim de que o homem não tivesse motivo para se escusar à injunção penosa e necessária quando fatalmente convidado a buscar a vida maior.

Recalcitrar, litigar, arrojar-se no despenhadeiro da revolta, fugir-lhe à presença generosa são meios escusos e mais graves de burlar a vigilância das leis soberanas, algemando-se no impositivo de maior soma de dores.

Aceitar livremente a dor fá-la converter-se em conselheira amiga, que facilmente logra o desiderato, sem maior contribuição de desespero e aflição.

Se revidada, negando-se-lhe guarida, ei-la que torna, que surge de dentro do ser e o domina, produzindo uma subjugação férrea que arrebenta todas as resistências e consegue culminar o objetivo a que se destina, a golpes de maior pujança.

A fim de que seja breve o seu curso na história da evolução do homem, a Divindade concedeu ao Espírito em progresso a sublime dádiva do livre arbítrio, com o qual, amando, pode mais facilmente crescer...

Pela escolha da semeação livremente aceita, programa-se a presença da dor ou do amor em irreversivel colheita posterior.

Se semeia esperança e luz, colhe claridade e bênção; se espalha urzes e espículos, recolhe feridas e aguilhões. Quando ama, a dor se transforma num archote que arde, em forma de ideal íntimo, ao mesmo tempo combustível e chama que vitaliza e aclara o vero querer no rumo para onde segue aquele que a conduz.

Se expulsa o amor das paisagens interiores, ei-la a acolher-se, discreta; o homem a recolhe sem o perceber, porquanto quando o amor se ausenta, a dor se instala.

Assim considerando, toda expressão de sofrimento é contributo da vida a benefício de cada vida.

Aplicada de forma edificante, é tesouro que abastece o porvir; desrespeitada, é falta que produz carência para o amanhã.

O problema da dor é o problema do comportamento do homem.

Na estrutura da evolução, a dor desempenha um papel primacial, sem o qual, lenta, difícil, quase inacessível ficaria a conquista da perfeição na jornada que o ser empreende na busca da plenitude que lhe é a meta final.




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