No Limiar do Infinito

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CAPÍTULO 8

DESPRENDIMENTO PELO SONO

Sonhos — Visitas entre Espíritos Dentre as soberanas concessões que a Divindade faculta ao Espírito reencarnado, na Terra, ressaltam o sono fisiológico reparador e os sonhos, que constituem verdadeiros refrigérios, funcionando como lubrificantes eficientes nas engrenagens da maquinaria física e psíquica. Consequência natural da "lei de trabalho", mediante a qual o Espírito como o corpo se nutrem do indispensável à preservação da vida, conforme os padrões da Natureza, que faz do trabalho uma necessidade, e, quando este alcança o "limite das forças", impõe o repouso, que se toma, igualmente, um direito fundamental.

No quadro estabelecido para as necessidades do repouso, o sono se revela como dos mais úteis reconstituintes, graças à diminuição da atividade das peças orgânicas, que modificam o curso, em decorrência da queda de ação física, que lhes minimiza o desgaste de forças e cujo impositivo de renovação se faz menor. Simultaneamente, faculta aos centros da consciência e depósitos da memória um descanso, em cujo período se recompõem os paineis e se reorganizam os núcleos de coleta de dados excessivamente acionados durante a lucidez. As peças da maquinaria física então se refazem e se reajustam, restabelecendo no metabolismo uma equilibrada troca de energias e de fatores na manutenção da nobre aparelhagem somática, por meio da qual a alma se educa e cresce para as funções que deve desempenhar.

Sendo, de alguma forma, a reencarnação uma espécie de exílio para a alma, exceção feita aos que jazem no letargo da ignorância, e que não se dão conta das múltiplas vicissitudes em que se envolvem, automaticamente renascendo noutro corpo, mesmo quando na condição de missionários do amor, da caridade e da sabedoria, aquela anseia por liberar-se do corpo que a semi-imobiliza, quanto alguém que, sofrendo em algemas, anela pela liberdade dos movimentos com a força relativa aos impedimentos a que se vê constrangido.


Como, porém o Espírito nunca se demora sem agir, quando ocorre o fenômeno do sono e se afrouxam os liames que o prendem ao invólucro corporal, funcionando este sem a necessidade da sua permanência, desloca-se, atraído pelas poderosas correntes

de interese que o prendem às vibrações que cultiva, sendo levado, compulsivamente, aos lugares onde se compraz em permanecer.

Todos os homens sonham, mesmo quando não se recordam ao recobrar a lucidez mental, no ato de despertar. Ninguém suportaria a vilegiatura no corpo, se não fruísse desses interregnos abençoados, nos quais se volvem ao passado, reatando ligações de afetividade, evocando reminiscências queridas, restabelecendo acordos de elevação e liberdade... Outrossim nesses estados retempera-se o ânimo, na comunhão com os Protetores Espirituais que aguardam a criatura no Além, bem como os amores que a seguem com carinho entre as expectativas dos seus triunfos e dos receios de malogros, que tudo fazem por impedir, já que retardariam os cometimentos felizes em tais programações para o futuro.

No estado de repouso físico, o Espírito recobra o controle das potencialidades, podendo, não somente recordar o passado, como algumas vezes, dependendo do seu estado de maior ou menor evolução, penetrar nos arcanos do futuro, graças às percepções que se lhe acentuam, conseguindo adentrar-se na informação dos acontecimentos mais ou menos delineados...

Quem transite em estreito passo ou mergulhado em densa névoa, muito deficiente terá a visão do que se encontra a distância, diferentemente daquele que se movimente no campo largo, em região alta, em dia claro.

O corpo restringe a capacidade de discernimento, na razão da sua própria estrutura. Quanto mais grosseiro em sua função reparadora, menores se fazem as possibilidades de vislumbres para o ser encarcerado.

Outrossim nos desprendimentos naturais e parciais facultados pelo sono, o ser reencarnado se comunica mais facilmente com os Espíritos, dos quais recebe instruções e diretrizes que o auxiliam na escalada evolutiva. Pode melhormente desnudar os problemas e revelar as apreensões angustiantes que o atemorizam, recebendo palavras de conforto e esclarecimento com as quais firma propósitos de ascensão, admitindo de bom grado as rudes provações por conscientizar-se de que, da boa condução delas, pode retirar valioso proveito para si e para aqueles que lhe são o tesouro querido. Participa de reuniões de elevado teor, ouve aulas de cultura nobre, inteira-se de planos superiores que logo mais se corporificarão no mundo, instrui-se em conferências momentosas, em que os temas de atualidade são enfocados sem as paixões de seitas, nem de grupos, de interesses personalistas nem mesquinhos, adestra-se para voos mais altos e difíceis.

Pode-se mesmo asseverar que o sono é uma forma de prelúdio da morte, tal a mobilidade que, conforme a sua condição de desprendimento moral, o Espírito pode desfrutar.

Em contrapartida, os Espíritos mais embrutecidos pelas paixões dissolventes, no estado de emancipação parcial, deixam-se arrastar às regiões inferiores onde fixam os seus ideais mais grosseiros, de que fruem as sensações mais brutalizantes, vivendo as alegrias desordenadas que decorrem dos gozos selvagens ou as apreensões torturantes das falsas necessidades que agasalham com volúpia enlouquecedora. Comumente explorados por outros Espíritos inferiores que se lhes afinizam pelo estreito conúbio das permutas de idiossincrasias infelizes, defrontam-os e receiam-os, transmitindo ao cérebro em forma de sonhos extravagantes, de pesadelos hórridos os receios e fugas que empreendem, em tentativas de se libertarem vãmente dos comparsas desencarnados. A mente é o centro de atração e repulsa que irmana ou desprende aqueles com os quais alguém se afina pelo processo da similitude ou não de cogitações.

A larga faixa dos que se demoram anestesiados pelo imediatismo das expressões sensoriais, com dificuldade recobra a lucidez, demorando-se mergulhados no denso e tóxico vapor que exalam das viciações e vinculações subalternas, padecendo as injunções obsessivas, sem que a consciência registre as lembranças desses encontros espirituais, tal a inconsciência que desses infelizes se apossa, quando adormecem.

Os que vivem submissos aos vícios perturbantes são conduzidos pelos compares desencarnados aos submundos das misérias morais, aos baixos redutos de teor vibratório pestilencial, onde mais se encharcam da psicosfera carregada, que os amolenta e vence, criando neles, fixando ou reacendendo os impulsos que os levam a buscar os seus equivalentes humanos, quando volvem ao corpo. Nesses cometimentos sofrem hipnose bem urdida por aqueles que os dominam e pretendem prosseguir utilizando-se das suas fraquezas de caráter em obsessões formidandas, vampirizações escorchantes e aniquiladoras... Defrontam ali os que lhes são antipáticos, porque o amor como o ódio extrapola-se, dentro do conceito de que "os extremos se tocam no infinito", atraídos pela animosidade que os vitaliza durante as horas de lucidez física.

Tal o comportamento nas atividades físicas, qual seja a ocorrência no desdobramento pelo sono, em razão de os fulcros de interesses conduzirem sempre os que se detêm a construí-los, a lugares em que se estabelecem.


Naturalmente, que, em decorrência do tipo de atividade que o Espírito executa durante o sono, o corpo lhe sofre a influência, deixando de ser, nessas ocasiões, uma

forma de repouso e refazimento, para tornar-se um modo de exaustão e desgaste, considerando que a relativa emancipação da alma não se dando, esta lhe transmite as sensações, emoções, traumatismos e pavores que perturbam a renovação que se buscava.

Há milhões de criaturas que se dizem mais cansadas quando despertam. Isto é perfeitamente razoável, graças ao comportamento vivido no período de desprendimento das amarras orgânicas.

Imprescindível que, precedendo o momento do sono natural, que é de vital importância, o homem se arme dos pensamentos salutares e das disposições superiores que o colocam em faixa vibratória impeditiva aos ataques dos levianos desencarnados, sempre à espreita de ociosos e negligentes quanto eles mesmos e que se comprazem nos intercâmbios prejudiciais de que se nutrem, se divertem e mais se infelicitam. É claro que a melhor e mais eficiente precaução resulta da boa conduta, da vida mental equilibrada, dos propósitos edificantes acalentados. No entanto, absorvido pelos deveres e sucumbido ante as tribulações do cotidiano, restam-lhe os intervalos da oração, das leituras refazentes, das meditações e reflexões renovadoras nas quais se haurem forças para recompor os passos equivocados, recomeçar os serviços interrompidos, dispor-se aos novos empreendimentos de santificação.

Naqueles que se adestram pela vida mental e moral para os problemas do Espírito, a lucidez se faz de tal porte sem jaça, que conseguem, visualizando as ocorrências futuras, guardar a lembrança nítida do estado espiritual e os sucessos ocorridos. João, em Patmos, convocado por Jesus, através do desprendimento pelo sono, anotou a visão dos acontecimentos futuros da Humanidade, mediante os símbolos que lhe foram apresentados, oferecendo aos estudiosos de todos os tempos a insuperável mensagem do Apocalipse.

Os sonhos premonitórios atravessaram os séculos anunciando os fatos porvindouros que os tempos confirmaram sem margem a dúvidas ou equívocos.

José, no Egito, decifrou os sonhos do Faraó, mesmo no cárcere, que prenunciavam abundância e desgraças para o país.

Advertido por um anjo, enquanto dormia e sonhava, José da Galileia conduziu o menino Jesus ao Egito e o trouxe de volta oportunamente, sob a intervenção da mesma veneranda Entidade...

Quantos outros sonhos, précognitivos exuberantes, prenunciando glórias e êxitos, tragédias e horrores!?...

A Grécia já considerava a Terra como sendo "A mãe dos sonhos". Virgílio reportou-se aos sonhos, na Eneida, e chegou a afirmar que os legítimos como os falsos transitavam por duas portas distintas do Hades...

Homero, nos seus poemas, asseverava que os sonhos seriam mensagens de Júpiter.

No Egito antigo afirmava-se que os sonhos procediam de mensagens de Isis e a Babilônia guardou memoráveis páginas em torno dos sonhos premonitórios na epopeia de Gilgamés...

Caldeus e chineses divisavam nas revelações oníricas a interferência dos antepassados...

Ocorre, normalmente, que à visão descortinada, no estado de desprendimento da alma, se somam às imagens arquivadas na memória, produzindo, quando da volta ao corpo, um estado de confusão e desordem que nenhuma lógica apresenta.

Uma metódica disciplina mental logra resultados positivos, impedindo que as coisas do dia a dia interfiram nas paisagens penetradas durante o período dos sonhos.

Daí a ocorrência dos sonhos meramente fisiológicos, em que a supremacia das ideias e fatos arquivados no inconsciente assomam poderosos à consciência, em estados alucinatórios, que, inclusive, atingem a alma, perturbando-a, igualmente. Neste capítulo, podemos incluir os que são de natureza sexual, nos quais, ao império da libido desordenada, se desdobram os núcleos da vontade permissiva e os anseios mal sopitados momentaneamente se fazem realidade na esfera da imaginação...

À Psicologia Experimental, à Fisiologia do sistema nervoso e à Psicanálise tem cabido o estudo dos estados oníricos.

Os filósofos que lhe deram explicação como simulacros produzidos pelo inconsciente que retira as impressões de fatos e objetos existentes, têm-se utilizado do empirismo no estudo dos sonhos.

Entre os mais antigos apologistas dessa ideia, figuram Epicuro e Demócrito que deram as linhas iniciais para os filósofos do futuro, variando de conceito, não, porém, de identidade de pensamento. Foi, no entanto, com Descartes, que os sonhos passaram a ser melhor pesquisados. Hobbes acreditava que eram resultado de estímulos orgânicos que alcançavam o cérebro, mantendo-o em atividade, não obstante o sono...


Os conceitos têm sido múltiplos e de variada gama. A partir de Freud, todavia,

tem-se procurado encontrar os motivos psicológicos, os conflitos íntimos, as tendências que não se expandem como forma de explicação para os sonhos. Através desses, podese fazer uma análise do indivíduo, das suas repressões e conflitos, que em lucidez não exterioriza, por causa da inibição.

Dessa forma, o sonho seria o resultado de um desejo insatisfeito e recalcado.

São conclusões válidas, embora não devam ser levadas a rigor.

Certo é que durante o desprendimento pelo sono físico, muitas almas se intercomunicam, prognosticando acontecimentos que lhes dizem respeito, e, "a posteriori", se confirmam. O mesmo ocorre no momento da desencarnação, quando o paciente, recordando-se de alguém, se projeta pelo espaço numa tentativa de comunicação, que redunda não raro exitosa, através do seu aparecimento àqueles, utilizando-se de sinais vários...

Nem sempre, porém, os sonhos se referem a acontecimentos da vida física, razão por que não se lhes deve atribuir maior importância.

Mais estreitamente vinculados aos compromissos do Espírito, muitas das suas ligações se prendem à vida espiritual, sucedendo que aconteçam na órbita própria, ao invés de no campo das formas.

O esquecimento dos conselhos, advertências, lições que se recebem no estado de sonho, de forma alguma tornam aqueles inúteis, porquanto realizam o seu papel de predispor, harmonizar intimamente, demorar fortalecer a alma para que esta se possa desincumbir com maior segurança dos compromissos assumidos para com a vida.

As múltiplas lições que se fixam no período infantil e adormecem no esquecimento aparente, servem de base para a estruturação do processo educativo. O mesmo fenômeno sucede em relação aos sonhos de que se não recordam os homens. Desempenham seu papel no momento próprio e na finalidade para a qual foram facultados.


Todo estado de semiadormecimento, em que os sentidos físicos se entorpecem, faculta o desprendimento parcial da alma, que muito anseia por arrebentar as cadeias que a algemam ao corpo. Conforme os largos ou estreitos vínculos daquela com este, mais fáceis ou penosos se fazem os processos de emancipação lúcida. Nesses estados intermediários entre a lucidez física e o sono total, a alma vê além do corpo, figurações, paisagens, pessoas que se estampam na tela mental com claridade, bem delineados. É esta uma forma de clarividência em que a alma rompe os liames corporais e percebe

além das constrições físicas. É um momento — prelúdio de sonho.

Graças aos desprendimentos pelo sono nos quais a alma se movimenta com mais facilidade do que no corpo, tem ela uma recordação da sua existência de Espírito e uma prova da sua independência à matéria, em que pode atuar; locomover-se sem a necessidade dos fracos órgãos que lhe emprestam as lerdas atitudes físicas. Durante o sono a vida é mais espiritual do que física, enquanto na vivência da ação corporal invertem-se os valores.

Sendo predominante a vida espiritual, porque preexistente e sobrevivente ao corpo, compete ao homem pensar e agir como se cada momento da sua vida fosse o seu último instante, que merecesse ser aproveitado com sabedoria, a fim de que, na emancipação pelo sono, possa gozar por antecipação do estado que defrontará, quando se libertar em definitivo do envoltório material sob o impositivo da morte física.




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