CAPÍTULO 22

Humildade Real

Muitos discípulos das várias escolas religiosas da atualidade, vinculadas ao Evangelho, reagem contra qualquer tendência para o retomo da vivência cristã primitiva na simplicidade que caracterizava a vida e o comportamento de Jesus e dos Seus discípulos.

Justificam o luxo e a ritualística dos líderes, dos dogmas e das tradições como sendo de fundamental importância para a atração de novos como para a preservação dos antigos adeptos, que dão expressivo realce à indumentária, ao formalismo, às posturas estudadas, às palavras diplomáticas e aos pensamentos sibilinos de que se fazem instrumentos.

Substituem o conteúdo pela excessiva valorização do continente, perdendo aquele em profundidade o que este adquire em complexidade.

A forma asfixia a essência numa contínua predominância do exterior pelo interior.

Em consequência, esses mesmos condutores das massas religiosas, sentam-se às mesas das negociações políticas e econômicas, perseguindo interesses e disputando posses nem sempre respeitáveis, a que oferecem falsa dignidade através do seu apoio, se resultam benefícios para os seus cargos transitórios e as suas greis enriquecidas.

Alguns outros, na condição de chefes de Estado, vivem abafados nas exigências da etiqueta vazia, igualmente negociando e fazendo concessões, na defesa de ideais patrióticos e injunções, também políticas, com que se mantêm nas altas investiduras mundanas.

A pompa exagerada deles recebe preservação, ao tempo em que apresentam teologias para a solução dos problemas que afetam os pobres em todo o mundo.

Fortunas são investidas no mercado internacional das moedas e das indústrias, algumas das quais fomentam a morte, sob o comando de hábeis financistas e economistas maleáveis que mais aumentam os depósitos guardados ou aplicados em bancos fortes, o que, todavia, não impede malogros periódicos e denúncias estarrecedoras por parte de outros expertos.

Adaptando-se aos vários regimes e negociando com os mais hostis, sobrevivem tais Entidades que se apresentam com capacidade de absorver os modernismos, na sua área renovadora ou manter os dispositivos ancestrais, graças à sua ala ortodoxa.

Todas estas atitudes, dizem, em nome de Deus, do Cristo, e da fé, como se as pesadas sombras da Idade Média ainda não se houvessem dissipado...


* * *

Dando curso ao idealismo messiânico de Jesus, Simão Pedro, que O acompanhou e O negou no momento culminante, jamais se escusava, ou tentou inovar a política do Evangelho que se não submetia à mundana. Pelo contrário, o renovado servidor sempre se desnudava moralmente, relatando a sua dubiedade e encorajando, sem meias palavras, os ouvintes, ao testemunho da própria vida, que ele não tergiversou em dar.

O verbo iluminado e autêntico de Paulo vergastava o erro e invectivava contra o crime, a acomodação, não permitindo alternativas, senão a de seguir o Mestre.

Não negociou com Nero, quando foi falar ao imperador, nem o temeu, conseguindo impressionar o discípulo inescrupuloso do nobre Sêneca.

G porque pão usava de artifícios ném de atavios que agradam os poderosos do mundo, ganhou a vida, perdendo-a sob o fio da espada do legionário encarregado de decepá-la...

A humildade, que dá dimensão da fraqueza humana, é ainda muito esquecida por muitos cristãos modernos, embora excessivamente comentada.

O discípulo de Jesus é Sua carta-viva ao mundo.

Simples e direto, desvestido de aparências e sinuosidades, é exemplo de equilíbrio, em tudo imitando Aquele que lhe é o Modelo perfeito.

Livre dos impositivos e vacuidades temporais, vive, não obstante, no mundo, sem fugir ao compromisso espiritual a que se dedica.

Restaurar a conduta e a vivência cristã primitivas, é possível, desde que se não tergiverse em relação às hábeis manobras dos que vivem do século ou para ele.

A transparente humildade de Jesus exteriorizou-se na imponência do cântico das bem-aventuranças, no meio das multidões aturdidas, na convivência com os amigos de Betânia, no tormento do Getsêmani, no testemunho da cruz e no instante da ascensão.

Sempre o mesmo Amigo de todos, embora o prisioneiro de Deus, a Quem se entregava por inteiro, sem deixar de dar-se, também por inteiro, aos homens, os a quem amava.

Vive, desse modo, todos os teus dias e labores cristãos, sem apartar-te da inteireza moral que a humildade real propicia.

Assim, de acordo com a Doutrina Espírita, não há arrastamento irresistível: o homem pode sempre cerrar ouvidos à voz oculta que lhe fala no íntimo, induzindo-o ao mal, como pode cerrá-los à voz material daquele que lhe fale ostensivamente. Pode-o pela ação da sua vontade, pedir a Deus a força necessária e reclamando, para tal fim, a assistência dos bons Espíritos. " (L. E.)
"... O fardo parece menos pesado, quando se olha para o alto, do que quando se curva para a terra a fronte. " — Um Espírito Amigo. (Havre, 1862.) (Cap. IX, Item 7 do E.)


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